Julgamento escrita por Luc


Capítulo 14
Sangue e Água


Notas iniciais do capítulo

Perdoem a demora. Ando desencorajada, triste... O ócio me pegou de jeito, mas não foi tão criativo, haha
Por favor, comentem! Isso encoraja bastante.



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Era manhã quando Lexi levantou-se e olhou pela janela. O sol estava nascendo preguiçosamente, uma névoa matinal se erguia por entre as casas. Ela puxou as cortinas para impedir que a luminosidade acordasse Markus, que dormia numa pose desleixada na cadeira. Seu cantil de metal estava frouxo em sua mão, que pousava em seu colo e sua cabeça deitava em seu ombro. Ela foi até a cama e puxou a manta para então estendê-la sobre Markus, não antes de retirar o cantil de sua mão. Ela gostaria de pô-lo na cama, mas não tinha força nos braços ou coragem para acordá-lo.

Ela saiu do quarto, indo até a beirada do corrimão. Ela desceu as escadas chamando por Mabruke.

– Mabruke!

Ele saiu da cozinha apressadamente, indo até a escada.

– Senhora, precisa de ajuda para descer? - ele já estendia suas mãos a ela.

Ela sacudiu a cabeça. Descendo até ficar a altura do homem.

– Não, eu estou melhor. Mas preciso que diga às criadas para prepararem um banho. Eu necessito demais de um banho.

Ele assentiu e foi em direção à cozinha. Ela subiu a escadas sofridamente, ainda sentindo o peso da Sessão nas pernas.

Ela entrou novamente no quarto, observando Markus ainda dormindo. Ela foi até o canto e começou a desfazer o restante dos laços no vestido. Markus havia destruído o vestido e o corselet, mas a camisola por baixo permaneceu, intacta. Ela desfez os laços, não esperando pela camareira para ajudá-la. Suspeitou que a mulher sequer entrasse com a presença de Markus no quarto, mesmo com ele adormecido. Ele causava certo medo nas pessoas. Mas não em Lexi.

Ela olhou por cima do ombro, certificando-se de que ele ainda dormia, e então retirou o vestido, o tecido deslizando por seus ombros, quadris e então pelas pernas, somente a camisola permanecendo. Ela deixou o vestido onde estava, no chão, e então foi até a porta no extremo direito do recinto, que ligava o quarto ao banheiro mais próximo.

Lá haviam três criadas preparando o banho, enchendo a banheira de cobre com jarros de água quente. Uma delas largou o jarro no chão e foi até Lexi para retirar-lhe a camisola. Ela estendeu os braços e deixou a criada fazer o trabalho.

– Obrigada. – ela agradeceu enquanto a criada sorria e partia para desfazer os nós em seus cabelos ruivos.

– A senhorita está bem? Ficamos preocupadas. – uma das criadas, a mais nova, perguntou sem olhar nos olhos da ruiva.

– Estou. Não há necessidade de se preocupar. Depois de um banho estarei completamente revigorada. – a empregada mais nova, Christina, assentiu.

Depois de cheia, a banheira fumegava. Todas saíram para que Lexi entrasse na água. Ela deixou que suas pernas entrassem devagar, mas mesmo assim sua pele ficou arrepiada com a mudança de temperatura. Ela entrou na banheira, encostando sua nuca na beira de cobre, onde uma toalha dobrada serviu-lhe de encosto enquanto fechava os olhos.

Ela sentiu as lágrimas escaparem de seus olhos, mas não emitiu um único som. Ela permaneceu em silêncio, ouvindo as notas que a água emitia na banheira, o eco nas paredes... E ela imaginou ouvir as lágrimas encontrando a água na banheira. Ela tentou buscar a origem da angústia que lhe escapava os olhos.

Ela queria retornar ao passado. Ela queria voltar para sua casa, de muito tempo atrás. Ela queria ser a pessoa de quem os outros cuidariam, não a pessoa que cuidaria dos outros. Ela estava cansada. Ela queria se sentir pequena de novo. Frágil. Porque, de fato, ela era frágil em algum lugar-tenente de si. Mas a vida havia ajudado-a a criar calos. Sua passagem pelo mundo criou camadas ao redor dela. Material quase indestrutível, mas que pelas rachaduras escapavam lágrimas de solidão.

Havia anos que alguém não cuidava dela do jeito que Markus cuidou hoje. Anos desde que alguém a segurou como uma criança. E ela se sentiu ambígua com a situação. Ela se sentiu vulnerável. Terrivelmente vulnerável. Mas ao mesmo tempo ela se sentiu... Querida, talvez?

Sim. Por um breve momento, ela se sentiu pequena, como uma criança, quase. E foi... Quente, acolhedor. Como a água da banheira.

Ela levantou a mão da água. A maioria não notaria, mas toda vez que ela olhava para as mãos, ela notava os calos nas juntas dos dedos. E se depender dela, os outros não notariam. Aquilo dava uma pista sobre seu passado. Uma das poucas pistas que ela não eliminara. Mas a falta de lembranças objetificadas a fazia se sentir um tanto... Sozinha. Não havia fotos, desenhos, cartas... Nada que a fizesse companhia na solidão do presente.

Ela levou a mão até o rosto, onde as lágrimas ainda caiam. E então uma gota mais pesada que as outras encontrou a água na banheira. Ela inclinou seu queixo para baixo, analisando o líquido escuro que se espalhava pela banheira. Ela, tolamente, tentou capturar a substância estranha com as mãos. Mas então ela notou que aquilo não era completamente escuro. Era vermelho.

Ela sentiu então que esse líquido escorria de sua narina direita. Ela sentiu o cheiro metálico e salgado. Ela passou os dedos acima do lábio superior, onde sentia o líquido escorrer. E então ela observou a coloração. De fato, era sangue.

Ela virou-se para o espelho posicionado na parede ao lado da banheira, encarando seu reflexo. Seus olhos estavam levemente arregalados, o sangue lhe escorrendo a narina e acima dos lábios.

De certa maneira, era uma visão bela. O pânico nos olhos de uma mulher que tinha vermelho em seus cabelos e o sangue que agora pingava de seus rosto. Ela parecia tragicamente bela, dessa maneira. Ela passou a língua em seu lábio inferior, sentindo o gosto do metálico. E então recostou-se novamente, mas escorregou pela borda da banheira, procurando afundar na água para encontrar aquele abraço quente que ela ansiava. Logo ela teria que voltar ao abraço gelado da realidade, mas não agora. Agora ela se banharia na quentura de seu próprio sangue misturado com a água. O abraço incomum da morte e a vida. Sangue e água.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que é meio chato pedir isso, mas seria legal receber uma confirmação de que alguém lê isso, sabe? HAHAHA Comentem, isso me encoraja bastante. Boas vibes!

Apêndice de personagens:
Lexi Smartchild { LÉ-quici } (Luiza Sampaio) - Habilidades reveladas: Empatia, capacidade de ler ou sentir sentimentos e emoções.
Markus Cooper {MAR-cus} (Marco Costa) - Habilidades reveladas: Indução a Necrose, capacidade de matar células de seres vivos.
Alicia Alexander {A-LI-cia} (Ana Araújo) - Habilidades reveladas: Precognição artística, capacidade de recriar artisticamente qualquer evento futuro.
Fabian Montgomery {FA-bi-an} (Filipe Muliterno) - Habilidades reveladas: Persuasão Sobrenatural, Habilidade de convencer ou obrigar as pessoas a fazer o que se pede usando a voz.
Genevieve Finley {Ge-ne-VI-ve} (Giovanna Franchini) - Habilidades reveladas: nenhuma.
Mabruke {MAH-bru-que} (Original) - Habilidades reveladas: não tem habilidades sobrenaturais.
Martha Moreton {MAR-ta} (?) - Habilidades reveladas: nenhuma.
O Doutor (?) - Habilidades reveladas: nenhuma.
Genesis Pettigrew {GÊ-ne-zis} (?) - Habilidades reveladas: nenhuma.
Dr. Farrell { FÉ-ruél} (?) - Habilidades reveladas: nenhuma.
Fordel Coe {FAOR-del} (?) - Habilidades reveladas: nenhuma.
Maireni Pearse {Mai-RÊ-ni} (?) - Habilidades reveladas: nenhuma.



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