A primeira aula depois de sua breve – não tão breve – conversa com Violet foi a de Defesa Contra as Artes das Trevas. Sonserina estava lá, logo Malfoy também.

Corine sentou-se sozinha, próxima a mesa onde o garoto loiro encontrava-se. Pensou em sorrir, mas logo pensou em quão estúpida pareceria.

Snape iniciou a aula falando sobre feitiços mudos, perguntando a classe sobre quais as vantagens do mesmo. Procurou mãos levantadas e a única que encontrou foi a de Hermione Granger, mas não pareceu muito feliz com aquilo.

Logo, todos os alunos estavam a tentar enfeitiçar uns aos outros e proteger-se ao mesmo tempo. Corine evitou participar da aula, procurando sentar o mais afastado possível dos colegas.

Draco permanecia próximo, o bastante para que pudesse chamá-lo sem que os outros alunos a ouvissem. Por um momento pareceu não ser real, mas Malfoy prendeu seu olhar no de Corine, sustentando-o por um longo tempo, sem sorrir, sem nenhum outro movimento. Apenas um olhar que a principio não parecia promissor.

Mas logo a atenção de ambos foi voltada para frente da sala por culpa de um estrondo. O protego que Potter usara para proteger-se do feitiço mudo de Snape fora forte o bastante para derrubá-lo no chão com um estrondo. Aquilo era, provavelmente, um presente ao professor que ainda guardava sua antipatia pelo Eleito – assim que o chamara quando o repreendeu – e o deu como agradecimento uma detenção.

Quando tomos começaram a se retirar da sala, Corine demorou-se em seus livros e em enrolar seus pergaminhos na esperança de trocar algumas palavras com Malfoy antes de se retirar. Ele ainda se encontrava na sala, batendo sua varinha nervosamente na mesa escura.

– Vi que não participou hoje, senhorita Gouldfye – Snape falou em seu tom severo habitual, ainda de costas mexendo em seus papéis sob a mesa.

– Penso que não conseguiria repelir encantamento algum hoje, senhor – respondeu Corine já colocando seus livros em baixo de seu braço direito, preparando-se para sair.

– Não tão rápido – falou Snape sugerindo um sorriso em seus lábios quando a garota virou-se para o arco em pedra que dava saída para as escadas – Tenho certeza que tem condições suficientes. Malfoy...

O garoto foi puxado de seus pensamentos, virando então sua atenção para o professor que tinha a mão estendida em direção a ele, como se o chamasse.

– Ajude-me em uma lição. Tente enfeitiçar sua colega, tenho certeza absoluta que ela saberá como poupar-se de seu encantamento.

Malfoy sorriu de canto, levantando-se e alisando suas vestes e em seguida buscou a varinha dentro das mesmas, esperando Corine. Seus olhos faiscaram.

– Eu não... – começou a garota, olhando para Snape e depois para Draco.

– Não discuta – a voz do professor era seca.

Quando a garota parou a frente de seu oponente encarou-o nos olhos, sem desviar. Levantou sua varinha, preparando-se para o ataque. Quando o encantamento foi-lhe direcionado, Corine pode se defender por um longo momento, mas o garoto foi mais a fundo, profundamente em sua mente e logo memórias de um passado, de uma Corine infantil, rindo com os pais, seus rostos vieram em sua mente. Lembrou-se exatamente de como ficara chorando em seu dormitório durante o Baile de Inverno, enquanto seus amigos riam e dançavam no Salão Principal.

– Pare imediatamente, Draco – ordenou o professor, olhando-o de cima.

Agora só existia uma garota fraca, ajoelhada no chão de pedra da sala com os olhos fixos em Malfoy, em uma conversa silenciosa.

– Poderemos trabalhar nisso – Snape fez um gesto e ambos foram dispensados da sala.

Sem mais nenhuma palavra, ela abandonou a sala seguida por seu oponente. Ela não possuía ideia de como conseguia entrar em sua mente, despertar memórias e fazê-la sentir-se fraca.

– Como você se atreve? – virou-se para Draco. Seus cabelos estavam perfeitamente penteados e seus olhos estavam casados.

– Não me atrevi a nada – respondeu, sorrindo e passando por ela, continuando a falar – Você me deixou entrar, pedia para que eu entrasse.

– Você não tem o direito de entrar na mente das pessoas assim! É... É péssimo.

Isso fora lhe soar mais infantil mais tarde, quando pensara no que havia acontecido em seu dormitório.

– Corine – a voz de Draco Malfoy tinha tom de deboche. Ele se virou e veio em direção à garota, parando a centímetros dela. Seu tom fez com que um arrepio passasse por toda sua espinha – Você não acha que estou mais em sua mente do que imagina?

**

Corine Gouldfye estava sentada em um dos bancos de pedra perto do gramado com Grace, que estava agitada e prendendo risinhos.

– Ai, meu Deus Corine! Ele gosta de você.

– Não gosta não – rebateu a garota, sem sorrir.

– Você é tão pessimista. Deveria imaginar como seria a vida de vocês! Seus filhos, sua casa. Isso é tão excitante.

– Deveria trabalhar com Rita Skeeter, pois começa a criar um enorme talento para ficção.

– Porque está tão chateada? – Grace a olhava sem graça.

– Ele entrou na minha mente, Grace. Não se faz isso, nem com alguém próximo a você. O pior de tudo é que eu não consigo me defender. Tem algo... Alguma coisa nele que me fraqueja.

– Deve ser sua obsessão doentia por ele.

– Pode ser – ela suspirou e o viu. Draco estava com seus amigos habituais olhando-a. Dessa vez ela não sustentou seu olhar e logo virou o rosto, mudando de assunto – Temos aulas de Poções.

– Eu tenho Herbologia – Grace Fitz fez uma careta e jogou sua cabeça para trás, fitando o céu que hoje estava azul – Tentáculos Venenosos são meus favoritos.

– Garanto que são – respondeu com um sorriso – Não olhe agora. Draco, ele está olhando pra cá ainda?

– Não, ele está conversando com Crabbe – respondeu, encarando Malfoy.

Corine podia sentir seu olhar sobre ela, por mais que ele não estivesse olhando. Era como se ele ainda estivesse em sua mente, como se estivesse pronto para puxar suas memórias como brinquedos velhos em um baú.

– Acabou nosso tempo. Vamos brincar de mestre de poções por algumas horas – bufando, levantou-se e se dirigiu para a sala onde teria aula sozinha.