Maldição do Fogo escrita por Mary


Capítulo 7
Liza - Apresento-lhes o pior ladrão de beijos da noite


Notas iniciais do capítulo

Música do capítulo: http://www.youtube.com/watch?v=nkqVm5aiC28 (All Of The Stars - Ed Sheeran)



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Estava de olhos fechados, sentada, com o calor do sol e o vento frio batendo no seu rosto. Quando os abriu, viu-se de frente com um penhasco, os pés balançando sobre o fundo que era incapaz de ser visto. Seu coração deu um salto, e ela recuou, tentando se afastar. Mas parecia estar grudada no chão.

O que quer que estivesse lá embaixo, era frio e escuro. Ouvia vozes de gemidos e lamentos, e percebeu que aquele era um local de extremo perigo e sofrimento. Sentiu um arrepio percorrer sua nuca e sua respiração começou a acelerar. Talvez fosse a maneira como seu coração batia rapidamente e o tom das vozes que sussurravam na sua mente e suas palavras.

Uma outra voz – já familiar – falou na sua cabeça. Não prestou atenção no que dizia, mas aquilo lhe dava calafrios.

No entanto, mesmo assim, uma parte lhe chamou a atenção.

Lá embaixo, há um rio. Nele corre as desesperanças e tristezas. Ele a fará querer cair, e isso te derrubará. Mas eu sou mais forte que ele. Nem os olimpianos são capazes de derrotá-lo completamente. Junte-se a mim, Elizabeth, e eu a torno deusa. Obedeça às minhas instruções, e eu lhe concederei poderes. Vai recusar a imortalidade?

***

Liza levantou tão rapidamente que bateu a cabeça na cama de cima com força. Estava suando frio, seu coração batia aceleradamente, suas mãos tremiam demais. Esfregou a testa, sentindo um calo se formando por ali. Começou a sentir uma dor aguda naquela região, mas permaneceu sentada.

Depois de certo tempo, olhou ao seu redor e percebeu que ainda estava escuro. Respirou fundo algumas vezes e resolveu deitar para voltar a dormir mais um pouco, mas ouviu um barulho fraco e agudo.

Sua cabeça virou-se para todos os lados, procurando a fonte do som com dificuldade. Desistiu e tentou deitar mais uma vez.

Contudo, com aquele barulho tão próximo, não pôde relaxar. Sentou-se mais uma vez e ergueu a cortina da janela ao lado da sua beliche, assustando-se ainda mais.

A sombra de Randy estava ali.

Liza sobressaltou-se e começou a chorar silenciosamente. Ele estava pedindo que ela saísse, mas a garota o encarou um pouco até decidir parar de ser tão chata e colocar um casaco e uma calça jeans por cima do pijama e sair devagar pela porta do chalé.

O encontrou do lado de fora, ao lado da porta, com o cabelo bagunçado e uma expressão de sono no rosto. Mesmo assim, encontrou aquele seu sorriso branco que tanto amou desde que o vira pela primeira vez ao chegar no acampamento.

Randy estava com uma mochila na mão e seus olhos brilhavam tanto que ela não conseguia acreditar no que via. Ele deixou a mochila no chão sem fazer barulho algum e puxou a cintura de Liza para mais perto. Encostou a boca na sua bochecha e sussurrou ao seu ouvido:

– Já arrumei suas coisas. Agora vá se aprontar direito por favor.

Sem dizer uma única palavra, Liza voltou para dentro e pegou uma blusa do acampamento. Entrou no banheiro e a vestiu rápido. Embainhou suas adagas e pegou o arco e a aljava de flechas que Gabe lhe havia entregado. Aproveitou para pegar mais dois jeans e mais três blusas e, devagar, saiu de novo.

Ele a puxou para longe do chalé, devagar, e entrelaçou seus dedos. Caminharam lentamente, sem demonstrar ter rumo algum, respirando juntos o ar gelado da noite.

Mesmo tendo apenas uns dias no CHB, Liza já entendia porque não era normal encontrar campistas vagando pelos campos à noite. Já lhe contaram que, se as harpias os encontrassem, os devorariam sem dó nem piedade. Certa vez, não há muito tempo, um certo filho de Hermes, querendo dar em cima de uma filha de Éolo durante a noite acordou com o rosto todo arranhado.

Mas não era essa sensação de “contra as regras” que a fazia sentir-se tão bem naquele momento. Era o fato de Randy estar ao seu lado, acariciando as costas da sua mão com o polegar. Aquilo a deixava mais confortável de certa forma. E, mesmo que fosse filha de Apolo e preferisse muito mais o dia à noite, ali era diferente. O seu anel a fazia acreditar que o dia pudesse surgir a qualquer momento. E ele podia.

Por um tempo, não se importou com o lugar para onde Randy a levava. Mas depois percebeu que estavam já próximos ao bosque, e ir até lá já era perigoso, principalmente naquela hora da madrugada.

Pareciam estar longe de quaisquer outros seres habitantes dali, mas ela permanecia preocupada. Mesmo estando com Randy e os dois estarem armados em boas condições, eram apenas semideuses e qualquer problema poderia aparecer naquela hora.

Quando passaram ao lado das primeiras árvores daquela área, Liza sentiu um calafrio na espinha. Ouviu alguns sussurros ao longe, mas não pareciam em nada com a voz fria e aguda que tanto conversava com ela.

Não muito para dentro do bosque, Randy parou em frente a uma árvore grande e com aparência antiga. Prendeu a mochila nas costas e soltou a mão de Liza para poder começar a escalar. Quando percebeu que era seguro subir, estendeu a mão para ajudá-la a erguer-se também, mas a garota recusou. Escalaram juntos, mas sem tocarem um ao outro.

Ao estarem à altura de um galho não muito alto e bem grande e forte, pararam e nele se sentaram, lado a lado. E viu que o sol estava a nascer na linha do horizonte que tocava a água, e o céu já começava a clarear. Talvez não fosse mais tão cedo quanto imaginava. Liza começou a balançar os pés sobre o fundo, e lembrou-se do seu pesadelo.

Agora começava a parecer mais real. Mesmo de mãos dadas com Randy, não tinha mais aquela sensação de conforto e paz. Tudo ao seu redor estava escuro. Ela não estava nem um pouco próxima do chão. Seu coração começou a acelerar.

E então passou a pensar naquela mulher que vestia-se de negro e prata e que tanto a perseguia e falava em sua mente. E na oferta tentadora que lhe havia feito, oferecendo-lhe poderes e a imortalidade. Mas não pôde esquecer de que ela estava prestes a destruir todos os seus amigos e coisas de mais valiosas que possuía.

E notou que, se cooperasse com aquela mulher, não poderia ter mais momentos como o que se passava naquele instante. Não teria mais Acampamento Meio-Sangue, nem um Olimpo, nem Randy, nem...

De repente, seu medo transformou-se em raiva, e pareceu deixá-la transparente. Notando a tensão da garota, o outro passou o braço por cima dos seus ombros e a puxou para um abraço apertado, deixando-a deitar a cabeça em seu ombro.

– Não se preocupe, Sunshine – ele disse, baixo o suficiente para não estar sussurrando – Todos nós temos que passar por isso. É um dos desafios de sermos semideuses.

– Sim, eu sei – ela respondeu – Mas acho que está tudo muito arriscado.

– Ei, eu ainda estou aqui. Sou filho de Hermes, tenho muitas coisas pra roubar ainda antes de morrer.

– Tipo o quê?

– Tipo – ele olhou bem no fundo dos olhos dela – Um beijo.

– Mas acho que você não vai conseguir.

– Por quê?

– Porque eu sou filha de Apolo. E você não vai me alcançar mais.

Saiu do lugar onde estava sentada e começou a descer a árvore. Quando estava a uns três metros de distância do chão, pulou e começou a correr para longe do bosque, com Randy em seu encalço.

Quando finalmente decidiu desistir, já estava no pinheiro de Thalia, ofegando e suando. Jogou-se na grama e o garoto caiu por cima dela, deixando a mochila cair na grama.

Seus rostos estavam a centímetros de distância, e ela pôde perceber que havia perdido. Ele estava prestes a beijá-la, e não podia impedir isso.

Talvez nem quisesse.

Ao virar a cabeça em direção à praia, Liza viu Virginia correndo até eles, com o rosto molhado e demonstrando preocupação. Randy distraiu-se e ela saiu por debaixo dele, pegando a mochila e sentando-se ao lado do dragão que começava a despertar.


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Notas finais do capítulo

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