Everything Has Changed escrita por Anne Atten


Capítulo 59
Capítulo 59


Notas iniciais do capítulo

Olá, como vocês estão? Agradecendo a Julieta por ter favoritado a fanfic, muito obrigada ♥
Leiam as notas finais por favor, boa leitura :)



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Só digo uma coisa: quem o Thomas acha que é pra falar das minhas pernas!?
Na hora que ele falou aquilo no meu ouvido minha vontade foi de mata-lo, mas eu estava paralisada demais pra fazer alguma coisa. Além de estar sentindo como se o Sol tivesse exatamente em cima da minha cabeça, eu não consegui reagir. Droga de garoto!
Depois ele saiu andando, como ele sempre faz. Como se não tivesse sido nada demais!
A Claire olhou pra mim e riu.
–Precisa de uma água? – brinca ela.
Eu bufo.
–Preciso matar ele, pode ser?
A Claire ri e nós vamos saindo do parque.
–Esse Thomas é um pitéu!
Dessa vez eu que olho pra ela e não consigo em segurar, começo a rir como uma louca e ela franze a testa sem entender.
–O que foi?
Paro por um segundo e me encosto numa árvore, sem conseguir parar de rir.
–Ai, Claire. – continuo rindo e as pessoas que passam ficam olhando pra mim. Vou me recuperando aos poucos e respiro fundo. –Desculpa, mas é que isso foi engraçado.
–O que foi engraçado?
Me seguro pra não rir de novo.
–Você falando “pitéu”. – me desencosto da árvore e voltamos a andar. –Meu pai te ensinou um vocabulário antigo pelo jeito.
Ela solta uma risadinha, parecendo meio sem graça.
–Foi mal.
Dou de ombros.
–Nada demais, é culpa do meu pai mesmo. – digo e ela ri. –Se você quer falar que um cara é bonito, você fala que ele é um gato.
A Claire ri dessa vez.
–Um gato? Que sem noção, ele não tem nada a ver com um felino!
Dou uma risada.
–Pois é.
Nós paramos na calçada pra esperar meu pai, já que ele tem que ir ao supermercado comprar umas coisas pra fazer no jantar de hoje.
–Mas como eu ia dizendo, esse Thomas é um pi... gato. – corrige ela rapidamente. –Eu ia até pedir o número dele, porque nossa, ele é lindo! Imagina um desses na minha escola! Eu ia pirar! – diz ela. –Mas aí eu vi o jeito que vocês dois se olham e vi que tem algo entre vocês dois.
Solto uma risada.
–Ele é só meu amigo.
Ela balança a cabeça em negativa.
–Amigos não se olham daquele jeito, Lydia. Você precisava ver como que vocês ficaram com cara de bobo uma hora lá, fiquei totalmente sobrando.
Decido que estou muito interessada nas pontas dos meus cabelos e começo a mexer nelas.
–Ah nada a ver... – sinto que estou com o rosto corado de vergonha.
A ruiva me dá um empurrãozinho leve.
–Super a ver! E sei lá o que ele disse pra você, mas achei que ia desmaiar menina! – continua ela. –Tá muito na cara que ele gosta de você!
Faço que não com a cabeça.
–Ele não gosta não Claire....
Dessa vez ela me dá um tapa forte no braço.
–Ai!
–Sério, acho que essas suas lentes estão te fazendo mal! Precisa comprar um óculos imediatamente pra enxergar o que até eu, que fiquei menos de cinco minutos perto de vocês dois, já enxerguei! – ela respira fundo. –Vocês são muito fofos juntos!
Faço uma careta e meu pai chega, encerrando esse assunto. Se ele ouvir ela falando do Thomas vai ser bem tenso.
–E aí meninas? O que fizeram?
A Claire olha pra mim com uma carinha de “Hmmm”.
–A gente andou bastante. – falo e decido mudar de assunto. –O que você vai fazer pro jantar?
Meu pai sorri.
–Vou fazer a sua comida favorita.
–Lasanha? – pergunto quase babando. Faz séculos que não como a lasanha do meu pai!
É tipo a melhor lasanha do universo (não deixem minha mãe saber que eu falei isso se não eu apanho)!
E bom, faz bastante tempo que não como porque ele se mudou e tudo mais.
–Isso mesmo. – responde ele. –Ainda é sua comida favorita?
–É sim.
–Ai se minha mãe soubesse que eu to comendo coisa que engorda, ela me matava. – diz a Claire e ela e meu pai riem.
Torço o nariz, essa tal de Sophie tem nome de fresca e parece ser fresca mesmo.
Logo eu entro na conversa de novo, dessa vez falando do meu teatro. Chegamos no supermercado e eu e a Claire vamos comprar queijo e presunto, enquanto meu pai vai comprar a massa e pegar tomates pra fazer o molho.
O mais louco desse jantar é que vai ser no apartamento do meu pai, só que ele também chamou minha mãe. Tá legal que eles já se separaram faz anos, mas eu se fosse ela não aceitaria. Porque deve ser estranho.
Eu disse pra ela se ela se sentiria a vontade e ela disse que sim, já que ela e o meu pai já se resolveram há muito tempo e agora são amigos. Esse jantar é meio um pedido de desculpas dele por ter falado que minha mãe não me criou direito quando ele me viu quase beijando o Thomas.
Passamos tudo no caixa, meu pai paga e vamos pro carro.
–Sua mãe só chega que horas mesmo?
–Oito. – respondo.
Meu pai não faz nem ideia do motivo do porquê ela está chegando mais tarde. Tudo bem que ela ganhou um aumento, mas continua voltando mais tarde pra casa porque assim dá pra fazer mais coisas por lá, não precisa ter tanta pressa.
Mas o chefe dela já disse que a partir da semana que vem volta o mesmo horário. Coisas de adulto, nunca entendo isso. Estava fixo em um horário, mudaram pra outro, que ficou fixo, e agora mudam de novo?
Eu que não vou reclamar, é bom ficar com a minha mãe por perto.
Meu pai para na frente do prédio e se vira pra mim.
–São sete horas, eu vou fazer o jantar e aí vocês vão pra lá quando sua mãe chegar.
Assinto.
–Quer descer Claire?
–Obrigada pelo convite, mas eu vou pro apartamento, tenho que me arrumar. – fala ela e eu desço do carro, dando tchau pros dois.
O porteiro logo me vê e abre o portãozinho.
–Oi. – cumprimento-o ao passar por ele e vou na direção do elevador.
O que eu mais quero agora é tomar um banho, lavar o cabelo e...
Quase tenho um ataque do coração quando sinto alguém me puxando pelo pulso. Penso em gritar, sei lá, vai que é um ladrão, mas logo vejo quem é. Thomas. E isso não ajuda nem um pouco, porque apesar de tudo esse infeliz é capaz de fazer com que as minhas pernas fiquem bambas e com que meu coração bater mais forte.
Eu acho que se ele não tivesse me puxado pela cintura e estivesse me segurando eu estaria caindo no chão. Que braços fortes...
Ele então me inclina e aproxima o rosto do meu, fazendo com que eu quase morra. Depois ele me puxa de volta e fica falando um monte de baboseira. Como se eu fosse acreditar!
O problema é que ele insiste em ficar sussurrando no meu ouvido e isso meio que faz eu ficar arrepiada e com vontade de beijá-lo. Odeio ter essa vontade, eu devia ter vontade de dar uma voadora nele e não de beijar essa boca tão boa...
Ele diz que sente minha falta, eu discuto e ele me puxa ainda mais, me fazendo engolir em seco. Essa não. Perto desse jeito eu não consigo pensar direito. Meu cérebro pifa.
Nossos olhares se encontram e eu me sinto paralisada mais uma vez, me sinto presa a esses olhos castanhos, nesse rosto. Não consigo desviar o olhar e o jeito que ele me olha me faz ficar sem saber o que dizer.
Vejo-o morder os lábios e olhar pra minha boca, isso faz com que eu sinta como se meu coração fosse sair pela boca. O Thomas volta a olhar pra mim e quando vejo estou olhando para os seus lábios. Sinto o rosto esquentar e me obrigo a olhar pro rosto dele.
O garoto leva uma mão pro meu rosto e acaricia-o. Ao sentir o toque dele eu acabo fechando os olhos. Não consigo mais pensar em nada, só quero ficar assim com ele pra sempre. Na verdade quero ficar mais perto dele.
Totalmente zonza por estar perto do Thomas, eu nem percebo quando me inclino pra frente e encosto os nossos narizes.
Fico nervosa, com as palmas das mãos soando e com um frio na barriga que sinto toda vez que estou assim com ele.
Tudo que eu mais quero nesse momento é que ele me beije, eu não consigo pensar em mais nada a não ser na minha vontade louca de sentir sua boca na minha.
Quando sinto que ele vai finalmente me beijar, ele afasta nossos rostos. Sem conseguir me conter, olho indignada pra ele.
O Thomas segura a minha cintura com as duas mãos e sorri.
–Sabia que queria me beijar também.
Acho que estou muito vermelha, quase engasgo com minha própria saliva, mas dou uma risada de deboche.
–Que? Ficou louco? Eu não! – antes que eu perca a cabeça, consigo me solta dele e ele me puxa mais uma vez.
–Não pode fugir pra sempre, Lydia. Isso não vai ficar assim. – então ele me solta e aproxima o rosto do meu, me dando um beijo no canto da minha boca.
Quase tenho um infarto e ele entra no elevador, me deixando parada com a mão no coração, como se isso fosse acalmar meus batimentos.
A primeira coisa que eu faço ao chegar em casa é tomar um banho bem frio. Foi minha pior decisão, porque assim que a água fria bate na minha pele começo a tremer de frio, mas como a preguiça comanda continuo tomando meu banho desse jeito.
Me seco, coloco uma calça jeans, blusa e casaco. Como lavei o cabelo aproveito e seco-o, então pego o meu celular, clicando no grupo com as meninas.
Eu: olaaaaaaaaaaaa
Jane: oi!
Eu: como vc tá? Sumida você!
Jane: sou nada, eu só não pude mandar mensagem ontem haha
Lembro que a Kriss disse que ela estava meio estranha, preciso descobrir o que é.
Eu: hmmm entendi
Eu: qual a chance de vocês virem no meu teatro dia 20 de setembro?
Jane: depende, tá meio complicado aqui em casa com a minha mãe e tal...
Então tem haver com a mãe dela!
Eu: tá tudo bem aí?
Jane: é... tá indo...
Jane: mas que peça é? A Clarisse vai?
Mudando de assunto. É, ela ta fugindo do assunto. Espero que ela venha pra cá aí eu obrigo ela a falar.
Eu: acho que sim, se ela vier vocês duas podem vir junto!
Kriss: ótima ideia!
Jane: Kriss brotando kkkkkk
Eu: exato asomasoams
–Lydia, cheguei! – ouço minha mãe gritar da sala e em pouco tempo ela está no meu quarto. –Que horas você disse que a gente ia?
–Sei lá, umas nove horas pra dar tempo de você se arrumar. – respondo dando de ombros.
Ela bufa.
–O que eu mais queria agora era tomar um banho e dormir... Mas compromissos são compromissos!
Reviro os olhos.
–Eu disse que você não era obrigada a ir! – falo alto já que ela saiu do meu quarto, mas com isso ela volta e se encosta da porta.
–Não estou indo porque me senti obrigada, estou indo porque eu quero ir. – ela dá uma piscadinha e eu rio, então ela vai pro quarto dela se arrumar.
Kriss: Lydiaaaaaaa, você não sabe o que aconteceu entre a Jane e o Oliver!
Jane: CALA A BOCA
Kriss: ele fica TODO DIA no pé dela sabia!
Kriss: ELE HOJE CHEGOU PERTO DELA, FALOU ALGO NO OUVIDO DELA E A JANE FICOU TÃO VERMELHA QUE ACHEI QUE ELA IA EXPLODIR!
Jane: EU TO PENSANDO SERIAMENTE EM IR ATÉ A SUA CASA
Kriss: EU JÁ TE DISSE QUE NÃO SOU SUAS NEGA, ENTÃO NÃO GRITA COMIGO!
Jane: GRITO
Kriss: VOCÊ TÁ QUE NEM A LYDIA!!! NEGANDO OS FATOS!
Dou risada com todas as mensagens e decido encher a Jane também, já que ela já me encheu muito por causa do Thomas.
Lydia: é Kriss, sabe o que ela tá fazendo?
Lydia: NEGANDO AS APARÊNCIAS, DISFARÇANDO AS EVIDÊNCIAAAAAAAAS
Kriss: MAS PRA QUE FICAR FINGINDO SE NÃO PODE ENGANAR SEU CORAÇÃAAAAAO
Eu já ia falar “você sabe que ama ele”, mas a Jane foi mais rápida.
Jane: EU SEI QUE NÃO AMO ELE!
Talvez por eu ter probleminhas, eu me jogo na cama e começo a rir que nem um esquilo. Se é que esquilos riem!
Minha mãe brota no quarto e franze a testa ao me ver desse jeito.
–Sabe, as vezes eu me pergunto qual seu problema. – ri ela e me sento, passando as mãos nos cabelos.
Dou uma reparada na aparência da minha mãe. A minha mãe tem cabelos castanhos, assim como os meus e o cabelo dela é liso, mas um pouco ondulado de vez em quando.
Ela está usando uma calça jeans, uma sapatilha e um sobretudo cinza muito bonito. E ela está muito bonita.
–Uau, dona Eloisa! – faço graça e vou até ela. –Passou até perfume!
–Larga de ser boba, menina! – diz ela já me puxando pra fora. –Vamos logo, que amanhã eu trabalho cedinho e você tem escola.
A minha mãe tem muita coisa parecida comigo, tanto na aparência como atitude. Dou tchau pras meninas e guardo o celular no bolso.
Nós duas entramos no carro e logo ligo o rádio.
–Então, como foi o dia hoje? Acho que teve que ver o Thomas na escola, não teve? – faço uma careta e assinto. –Nem tivemos tempo de conversar na hora do almoço. Conte-me tudo.
Então conto pra minha mãe que o Thomas ficou me enchendo nas aulas e ainda por cima sentou do meu lado da aula de Filosofia.
Minha mãe ri.
–Ele é insuportável, mãe!
–É nada, ele é uma gracinha. – diz ela me olhando com reprovação. –Vai falar com o menino, Lydia! Larga de ser tonta!
–Ei!
–Isso mesmo, tonta. – repete ela. –Sou sua mãe, posso te chamar disso. – bufo. –Sério, o Thomas está indo atrás de você, mas ele uma hora cansa, sabia? Não digo de você, mas ele pode achar que você não tá nem aí pra ele.
Dou uma risada.
–Mas eu não estou mesmo! Eu odeio ele!
–Odeia nada. – responde ela sem tirar os olhos do horizonte, seguindo o caminho que meu pai explicou pra ela. –Eu to falando sério, deviam conversar.
Olho indignada pra ela.
–Não foi você que disse pra eu fazer o que eu quisesse sobre isso? Que era só não me magoar? Então!
Ela me dá um tapa leve na perna.
–Mas você está se magoando! – olho pra ela sem entender. –Acha que não vi o quanto você mudou? Você fica olhando pro nada, come menos, tá desse jeito é porque está se magoando! Então melhor resolver esse assunto logo com o Thomas.
Ok, desisto da vida. Se nem ela me entende fica complicado. Será que ninguém entende que o Thomas só brincou comigo esse tempo todo?
Desde o dia que eu o conheci ele beijou três garotas na minha frente: a Amanda, a Laura e essa água de salsicha da Ashley. E eu nem o conheço tanto, faz pouco tempo! Não sei nada sobre ele, não vou perder tempo com algum idiota!
Um idiota que beija bem, admito, mas mesmo assim!
–Vira pra direita. – falo vendo que minha mãe já ia virar pra esquerda.
Chegamos no hotel que meu pai está e ela estaciona o carro.
–Nenhuma palavra sobre o Thomas, por favor. – falo antes de descer.
–Nenhuma malcriação, por favor. – responde ela no mesmo tom e descemos.
O porteiro, que agora me vê todo dia praticamente, abre o portãozinho e nós duas entramos.
–Vou avisar o senhor Andrew que vocês estão subindo.
Minha mãe pelo visto passou no supermercado e comprou um vinho, segundo ela não é educado chegar na casa dos outros de mão vazias se você vai lá pra comer.
–Podem subir. – avisa o moço pouco tempo depois e nós vamos pelo elevador.
Chegamos no quarto andar e assim que saímos a Claire já está na porta.
O engraçado é que eu meio que odeio a mãe dela mesmo antes de conhecer, mas ela parece ir com a cara da minha mãe. Bizarro.
–Olá! – diz ela e me dá um abraço rápido, logo indo pra minha mãe.
–Boa noite. – fala a minha mãe.
Engraçado também é minha mãe ir com a cara da Claire. Se bem que não teria porque ela não gostar dela.
Nós duas entramos no apartamento que os dois estão instalados.
–Tá quase pronto. – diz meu pai quando chegamos na cozinha. Ele se vira pra nós dois e sorri. –Nossa, as duas estão bonitas.
Vou até ele e dou um beijo na sua bochecha.
–Que cheiro ótimo! – falo com sinceridade. Essa lasanha é simplesmente divina!
–Ei, Eloisa, quer me ajudar a preparar a sobremesa?
Minha mãe assente.
–Se tiver um avental.
Ele joga um pra ela e ela tira o sobretudo, colocando o avental. É estranho ver eles assim, como se fossem amigos. Na verdade, na minha cabeça isso me lembra quando eu era pequena e eles eram casados e eram assim. Viviam nessa harmonia.
–Lydia, vem aqui. – chama a Claire me tirando dos meus devaneios.
Meu pai sorri e bagunça meus cabelos, reviro os olhos e vou com a Claire pro quarto dela. Está mais organizado do que da última vez.
Me sento na beirada da cama dela e ela se senta ao meu lado, pegando o computador. Vejo que o Skype está ligado.
–Tá falando com quem? – pergunto.
A Claire sorri.
–Vou falar com meu irmão.
Fico corada ao lembrar que ela mandou uma foto minha pra ele.
–Ah, não. Pode parar de graça!
–Não é graça não! – diz ela. –Sério, ele só quer falar com você.
Ah, piorou ainda mais! Ele quer falar comigo!
Vejo uma fotinho do irmão dela e de repente é a cara dele que aparece, com um sorriso. E que sorriso bonito.
Fico meio sem graça.
–Salut soeur!
Tá, que droga é essa? Olho pra Claire confusa e ela ri. Então o Luca parece notar que eu estou aqui e olha diretamente pra mim. Os olhos dele são verdes, parecidos com o da Claire.
Ele abre um sorriso.
–Olá, Lydia. – o jeito que ele fala é meio engraçado e acabo rindo. –Falo mal esta língua.
A Claire ri.
–O Luca não teve tempo pra aprender direito, por causa da faculdade.
–Ele começou a faculdade quando? – pergunto pra Claire.
–Esse é o segundo ano dele.
–Ele faz faculdade do que?
–Arquitetura.
–Nossa, interessante. – falo com sinceridade. –Quantos anos ele tem?
A Claire abre a boca pra responder, mas é interrompida.
–Estou aqui! – reclama o Luca e nós dois olhamos pra tela. –Eu tenho 19 anos e você?
–Dezesseis. – respondo. –Você fala inglês?
Além de conseguir me comunicar direito com ele, eu ainda estaria treinando meu inglês.
O Luca abre um sorriso torto que tenho certeza que muita garota morreria se tivesse no meu lugar.
–Of course!
E então começamos a conversar em inglês. Fico impressionada, acho que ele é fluente em inglês.
Tem uma hora que ele fala que a Claire fala tanto de mim que ele até queria falar um pouco comigo, pra ver se eu era legal mesmo e que ele concordava com a irmã dele.
A Claire parece saber falar também e começa a falar com ele nessa língua, pra não precisar ficar traduzindo depois pra mim.
Fico escutando os dois conversarem e não me meto, parece que eles não tem muito tempo de conversar já que ele está na faculdade e tudo mais.
Minha mãe bate no batente da porta.
–O jantar está pronto. – ela avisa e se retira.
–A gente tem que ir. – fala a Claire em português. –Au revoir!
Dou um pequeno aceno pra ele, já que como disse, mal falei com o garoto e fiquei meio sem graça tipo o tempo todo.
–Au revoir! – diz ele. Que sotaque perfeito, gente do céu. O Luca então olha pra mim. –Tchau, gostei de falar com você.
O português dele é meio embaralhado e pausado, mas até que ele consegue falar direitinho. Abro um sorrisinho.
–Também gostei de falar com você.
A Claire dá um tchauzinho e desliga a ligação.
–Viu, não morreu fazendo isso.
Me levanto e vou pra sala, onde tem uma mesa que está toda arrumada. Meu pai coloca a lasanha em cima do descanso de mesa e nos sentamos. Me sento do lado da minha mãe.
–Falando com quem? – pergunta minha mãe.
A Claire responde por mim.
–Com o meu irmão, o Luca.
–Ah, ele que está na faculdade? - pergunta minha mãe.
Franzo a testa. Então ela também sabe da existência do Luca? Escondeu mais coisas de mim do que eu imaginava.
–É sim. – responde a Claire.
Depois de descobrir que até do Luca minha mãe sabia, fico me sentindo meio chateada com ela, com meu pai, tudo de novo, por terem escondido essas coisas de mim.
Fico quieta na maior parte do jantar e devo admitir que mesmo estando um pouco aborrecida, essa lasanha está maravilhosa como sempre.
Nós terminamos de jantar e meu pai pega os petit gateau pra gente. Termino de comer a sobremesa e empurro o prato pra frente, colocando as mãos no colo.
Minha mãe olha pra mim.
–Tá quieta hoje.
Abro um sorrisinho.
–Só to um pouco cansada.
Meu pai olha o relógio.
–Nossa, já são onze horas. Nem vi o tempo passar!
Ah, ótimo. Ok, onze horas não é tarde, mas pra quem tem que acordar seis e meia é meio tenso.
–Quer que eu ajude a lavar a louça? – oferece minha mãe.
Meu pai nega com a cabeça.
–Imagina, é minha convidada.
Então minha mãe se levanta e me levanto também. A Claire e o meu pai fazem o mesmo.
–Obrigada pelo jantar, Andrew. Estava ótimo. – diz minha mãe pra ele. –Boa noite pra vocês dois.
Dou um abraço no meu pai, um tchau pra Claire e eu e minha mãe vamos pra casa. O que eu mais quero fazer agora é me jogar na cama e dormir profundamente até o mundo acabar.
Infelizmente minha mãe não pensa o mesmo, já que me acorda de manhã e eu sou obrigada a ir tomar um banho. Me arrumo bem lentamente e tomo meu café da manhã, arrumando meu material como se fosse uma lesma.
Coloco meu All Star preto e sem falar nada, acompanho minha mãe até o carro. Ela me deixa na escola e respiro fundo, me preparando pra mais um dia nessa prisão.
Esbarro sem querer numas pessoas e os xingo mentalmente, pra que a pressa nessa hora da manhã? Começo a subir as escadas enquanto olho no meu caderno pra dar uma última revisada na matéria da prova quando sinto que trombei com alguém.
Eu sou a pessoa mais lesada do mundo, não é possível.
Meu lindo caderno voa pro chão e o garoto vira pra mim. Só podia ser o Thomas, sempre o Thomas!
Ele se abaixa pra me ajudar a pegar os papéis que se espalharam e puxo o caderno rapidamente, sem querer que nossas mãos se toquem como aconteceu ontem na aula de filosofia.
O Thomas recolhe os papéis e me entrega.
–Você tá bem? – pergunta ele, acho que se referindo à minha pequena queda.
Na hora que ele olha pra mim me lembro da tarde ontem. Me lembro de quando ele elogiou minhas pernas e sinto meu rosto esquentar violentamente. Ai caramba, ele precisa mesmo ter falado aquilo? E por que eu to lembrando disso agora? Eu nem pensei nisso pelo resto do dia ontem!
Não sei se ele pensou a mesma coisa que eu, porque o olhar dele cai nas minhas pernas por um segundo e ele dá uma risadinha ao me encarar de novo.
–Pena que na escola não dá pra vir de shorts.
Dou um tapa nele, sem conseguir me conter.
–Larga de ser tarado, garoto! Eu hein, quem te deu o direito de olhar nas minhas pernas? – pergunto já estressada.
Nisso o Peter, que estava descendo da escada, se junta a nós.
–Opa, to interrompendo uma discussão?
O Thomas olha pra ele sem parar de rir.
–A Lydia tá brava, como sempre.
Reviro os olhos.
–Mas é claro! Você é um tarado, fica falando das minhas pernas!
O Peter olha pra mim e pro Thomas e ri.
–Ê Thomas! – diz ele e o Thomas dá um empurrão nele, fazendo com que ele saia rindo da escadaria.
–Me desculpa se eu tenho olhos. – diz o garoto.
Apenas bufo.
–Não sei nem porque to perdendo meu tempo falando com você! – e antes que ele fale alguma coisa, eu volto a subir as escadas rapidamente, assim ele não me alcança já que está usando as muletas.
Peço pra Katherin mudar de lugar comigo, porque quanto mais longe eu ficar do Thomas, melhor vai ser pra mim. Assim esqueço desse infeliz mais rápido.
Tenho uma linda manhã, só que não, e saio pra almoçar com a minha mãe, como sempre.
–Ah, sim. – diz ela com o telefone no ouvido e fecha o carro. –Que horas? – a pessoa do outro lado responde. –Ok, então. Marcado! – e desliga.
–Quem é?
Minha mãe me reprova com o olhar.
–Nossa, que enxerida.
Acabo lembrando do Thomas, já que o chamo de enxerido. Me xingo por lembrar dele.
–Mas é o Leo.
Levanto a sobrancelha.
–Quem é Leo?
Ela guarda a chave na bolsa.
–Sabe aquele moço que a gente encontrou quando saímos do salão?
Forço a memória e me lembro. Eu e a Katherin até damos uma zoada na minha mãe, lembro que ele chamou ela de Elô e tudo mais.
–O loiro de olhos verdes bonitão? – pergunto.
Minha mãe ri, mas assente.
–Ele me chamou pra tomar um café no sábado, nada dem...
Antes que ela termine já dei um mega abraço nela, assustando as pessoas com meu ato repentino.
Me afasto dela e minha mãe me olha com a testa franzida.
–Ele é perfeito pra você!
–Larga de ser boba menina. – diz ela. –Estamos saindo como amigos, acho que o maior assunto vai ser sobre nosso filhos.
Faço uma careta.
–Fala sério, mãe. Vai num encontro pra falar de filho?
Ela ignora meu comentário e pegamos a comida.

Depois de passar a tarde na escola eu e a Katherin vamos pro teatro correndo como sempre. O Thomas deve ter ido com a mãe dele, eu sei lá. Não fiquei esperando ele pra descobrir.
O Ronaldo está falando com alguém no telefone e manda a gente se posicionar no teatro pra começarmos assim que ele terminar a chamada.
Ele desliga o telefone e assim começamos um longo ensaio, vamos ficar até tarde mais uma vez.
Quando dá sete horas ele finalmente nos dá um intervalo e solto um suspiro de alívio, preciso de água imediatamente.
A Katherin se junta a mim e lembro de uma coisa.
–Conseguiu falar com o Peter ontem?
Ela nega com a cabeça.
–Ele disse que tinha que estudar muito pra prova que tivemos hoje e eu também tinha, então marcamos pra hoje, mas aí o Ronaldo disse que vamos ter que ficar até tarde mais uma vez... Então marcamos pra amanhã.
–Caramba, parece até um sinal pra não se falarem, é a terceira vez que dá errado.
Ela concorda com a cabeça e eu pego a maçã que eu trouxe, dando uma mordida nela. O nosso intervalo vai ser de vinte minutos, depois teremos mais um de cinco minutos só pra beber água.
Termino de comer, bebo água e fico conversando com a Katherin até sermos chamados todos de novo.
O Ronaldo grita tanto comigo e com o Thomas que eu acho que meus tímpanos vão estourar. Vai desde “falem mais alto” até “mais romance!”. Quando são oito e meia estou pronta pra desabar no chão.
O Ronaldo bufa.
–Quer saber? Parem de novo, bebam água, lavem o rosto! Onde está a emoção? – grita ele e olho pra baixo. Odeio que gritem comigo.
Bebo um pouco de água e volto pro palco, não querendo que ele me xingue mais ainda.
–E aí, doce? – ouço uma voz e me viro.
Reviro os olhos, é o mala do Bernardo.
–Tá falando comigo?
–Claro. – responde ele com um sorriso. –Com quem mais eu conversaria?
–Ah, sei lá. – faço uma cara pensativa e abro um sorriso cínico. –Quem sabe com as paredes? Porque nenhuma pessoa quer te ouvir.
O Bernardo dá uma risadinha.
–Acha que eu me esqueci do dia que você me deu um tapa no rosto?
Dou risada da lembrança, ele tentou me beijar e eu dei um tapa super forte no rosto dele. Foi ótimo.
–Nem ligo pro que você lembra ou deixa de lembrar. – digo dando de ombros e me viro pra sair daqui, mas ele puxa meu pulso me fazendo ficar frente a frente com ele.
Bufo.
–Me solta.
O Bernardo apenas me puxa pra ele.
–Só depois disso.
Eu já ia perguntar “disso o que?”, mas ele nem deu tempo. Apenas me puxou pra mais perto ainda, segurou meu rosto com uma mão e pressionou a boca na minha.
Fico com os olhos arregalados e sem reação. Esse imbecil tá me beijando?
Depois de uns segundos sem reação, finalmente empurro-o fortemente pra longe de mim e passo a mão na boca, com nojo.
O Bernardo se afasta rindo.
–Não ouse encostar em mim de novo! – grito.
A maioria das pessoas já está aqui e começam a assoviar, nos zoando. Era só o que me faltava!
Que beijo horrível, to com uma vontade enorme de vomitar, na moral. Eu já odeio esse cara, parece que cada dia mais ele consegue fazer com que meu ódio aumente.
Olho pra trás e vejo uma pessoa saindo do teatro. Mas não uma pessoa qualquer e sim o garoto que me deu o meu primeiro beijo e que faz meu coração parecer sambar só de olhar pra ele. É o garoto que elogiou minhas pernas, que me chama de linda e que tem os melhores lábios do mundo...


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Notas finais do capítulo

Se esse beijo vai fazer um estrago? Com certeza muahahaha ~risada maligna~
Eu queria dar dois recados. Primeiro quero agradecer todo mundo que respondeu como imaginam os personagens, foi legal a diversidade da imaginação de vocês!
E segundo que eu irei viajar na semana que vem, não sei se vou conseguir postar nessa semana, então se eu sumir é isso.
O que acharam do capítulo?