Everything Has Changed escrita por Anne Atten


Capítulo 38
Capítulo 38


Notas iniciais do capítulo

Aqui estou eu de volta com mais um capítulo!
Boa leitura :)



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Vou na primeira lixeira que encontro. Definitivamente, não to bem. Minha sorte é que a sacola plástica da lixeira parece ter sido trocada a pouco tempo, por isso aqui não tem muito lixo, porque eu vomitaria mais ainda se visse coisas nojentas. Terminei.
Respiro fundo e me levanto, esse gosto horrível na minha boca de novo. Ando até o bebedouro e bebo água pra caramba.
–É, Lydia, você não devia ter comido daquele jeito. – murmuro e vou em direção da secretaria.
Vejo a telefonista e vou até ela.
–... eu já disse que a Amy não quer receber o senhor! – fala ela parecendo um tanto irritada.
Franzo a testa. A Amy estava meio estranha na segunda feira, eu queria falar com ela, mas no fim acabei não encontrando-a mais tarde e daí nos outros dias ela parecia estar bem.
A moça faz sinal pra eu esperar e bufa.
–Olha, se você quer falar com ela, por que simplesmente não liga pra ela? – pergunta a telefonista. A pessoa do outro lado responde alguma coisa que eu não consigo ouvir. –Ah, ela não quer atender? – mais dois segundos de silêncio. –Escuta, já te ocorreu que ela não quer falar com você? – enquanto a pessoa responde ela tamborila os dedos na mesinha, parecendo impaciente, até que ela tira o telefone da orelha e bate ele com força de volta no gancho.
Fico meio assustada, mas abro um sorrisinho.
–Essas pessoas que não tem semancol! – reclama ela e então bebe um pouco de água de um copo. Tem uma jarra do lado. Ela parece mais calma agora. –Aconteceu alguma coisa?
–Eu to passando mal, minha mãe disse que era pra ligar se eu piorasse. – falo.
A telefonista assente.
–Tudo bem, eu ligo pra ela pra confirmar.
Faço que sim com a cabeça, ela pede o número da minha mãe, eu dou. Elas conversam rapidinho no telefone e a moça,que eu descobri que se chama Kátia por causa do crachá, desliga, só que dessa vez sem bater o telefone.
–Sua mãe disse que vai ligar pra um táxi e você pode ir pra casa.
–Ok, obrigada. – falo e ela sorri. Dou meia volta pra ir embora, mas então me lembro de uma coisa e volto até ela. –Desculpa, mas eu acabei ouvindo a conversa de você e do cara que tava do outro lado da linha.
Ela ri.
–Imagina, não tinha como não ouvir. – rio também.
–Sei que não é da minha conta, mas está tudo bem com a Amy? Eu sou aluna dela e gosto dela, segunda feira ela não parecia bem.
A telefonista encolhe os ombros, parecendo chateada pela minha professora de português.
–Um assunto delicado. A tia dela morreu no sábado, a tia dela que a criou, sabe? – faço que sim com a cabeça. –Então obviamente ela ficou bem chateada. Daí tem esse ex-marido da tia dela que quer tomar a casa dela.
Arregalo os olhos.
–Mas tá tudo bem com a Amy? Ela vai perder a casa?
–Isso, minha filha, eu não sei te informar. Mas eu espero sinceramente que não, a tia dela foi clara no testamento, deixou a casa pra ela. Porém esse tio dela tem grana, daí já viu. E parece que tem alguma coisa envolvida aí, só não sei o que é.
–Mas e os pais da Amy?
–Ela não fala deles, tipo nunca. Acho que morreram ou eu não sei o que foi. – diz ela dando de ombros.
É, acho que já ouvi demais.
–Melhor eu ir pra sala.
Ela concorda levemente com a cabeça e tomo isso como uma sugestão pra eu me retirar. Ela deve ter mais o que fazer do que ficar batendo papo com uma aluna sobre os problemas da professora.
Enquanto vou pra sala me sinto mal pela Amy. Deve ter alguma coisa que os pais dela fizeram pra ela nunca falar deles, e não acho que tenha sido coisa boa, a tia que ela gostava morreu e agora o tio quer tomar a casa dela. Não deve estar sendo nada fácil.
Meus pensamentos são interrompidos quando entro de volta na sala. Todos os alunos presentes voltam-se para mim, principalmente os alunos de outra escola, já que não estão fazendo prova. Minhas bochechas esquentam um pouco e vou até a aplicadora de provas.
–Desculpa sair sem pedir permissão, mas eu to passando mal. – ela assente com a cabeça. –Já pedi permissão pra ir embora, só vim pegar o material.
–Tudo bem, melhoras.
–Obrigada. – falo e vou até a minha mesa.
Katherin me olha com a testa franzida e eu apenas encolho os ombros enquanto guardo o material na bolsa. Dou um aceno pra ela, pego a prova de História e entrego pra aplicadora.
–Vou poder fazer segunda chamada da de Geografia? – pergunto meio preocupada. Já rodei na prova de matemática, não posso nessa também.
–Sim, já que tem que interrompê-la por conta de estar passando mal. – diz ela com um dar de ombros.
Assinto e quando volto pra secretaria, o táxi já está me esperando lá fora. Em pouco tempo ele chega no prédio, desço e vou até o elevador.
Vejo que minha mãe está me ligando.
Lydia, já chegou em casa?
Saio do elevador.
–Acabei de chegar, literalmente. – falo enquanto procuro as chaves pra abrir o apartamento.
Toma bastante água e ponha o que tiver que colocar pra fora.
Nojento, eu sei. Mas é a vida.
–Se você não melhorar até de tarde vou te levar no hospital.
Odeio hospitais. Quando eu tenho que ir, eu vou, mas não é como se eu ficasse feliz de entrar no hospital. Na verdade, só teve uma vez que fiquei feliz ao entrar em um. Foi quando tava super calor na rua, daí eu entrei lá porque tinha que fazer uma chapa de alguma coisa e o ar condicionado estava ligado. Foi muito bom.
Fecho a porta de casa e tomo bastante água, como minha mãe mesma disse pra eu fazer. Decido sair um pouco do meu quarto e vou pra sacada. Fico observando a vista e lembro daquele dia que eu vi o Thomas entrando no prédio e achei que ele estava mesmo me perseguindo. Rio com essa lembrança, fui tão idiota aquela hora.
Fico mais um tempo do lado de fora e vou pro quarto. Olho nos meus contatos, quase ninguém online por causa da escola. Fico só ouvindo música até que recebo uma mensagem. Sem querer eu acabo ficando ansiosa e na hora que vejo de quem é a mensagem, fico um pouco decepcionada.
Não que eu não goste da Katherin, mas sei lá, esperava que fosse outra pessoa.
Katherin: O que aconteceu pra você sair hoje mais cedo?
Eu: passei mal
Katherin: :/
Katherin: mas você tá melhor?
Eu: não vomitei mais kkkkk
Katherin: kkkk vou tomar isso como um “sim, estou melhor”
Eu: o que você tá fazendo?
Katherin: sabe aquela menina, a Mary Ann?
Eu: aham
Katherin: ela tá sentada comigo
Eu: ela parece ser legal
Continuamos conversando até que recebo outra mensagem. Dessa vez é o Peter.
Peter: fiquei sabendo que foi embora, não aguentou a prova?
Faço uma careta, rindo.
Eu: eu iria muito bem, mas infelizmente passei mal
Peter: to sabendo, a Amanda espalhou que você saiu correndo como uma condenada da sala
Fico irritada. Odeio essa menina.
Eu: to pouco me lixando, amanhã não vão mais se lembrar disso
Peter: verdade
Peter: eu ia falar com você no intervalo, mas você meio que sumiu
Limpo os meus óculos com a barra da camiseta e coloco-os de volta.
Eu: no que você se meteu agora, Peter?
Peter: o que você acha que eu sou? Aoskapskapks
Eu: sei lá, vai que você bebeu demais e agora tá de ressaca e ninguém pode saber?
Peter: claro, bebi demais kkkkkkk
Peter: mas enfim, a parada é séria
Olho pra cima e respiro fundo.
Eu: fala
Peter: o encontro com a Katherin é daqui dois dias, ainda não sei o que fazer! To ficando desesperado!
Dou risada.
Eu: e você vem perguntar pra mim? Não sou nenhuma conselheira amorosa, Peter, e pra sua informação, nunca tive um encontro.
Peter: ta, mas você uma garota
Eu: não me diga!
Peter: vai me ajudar ou não?
Só me meto em roubada, viu.
Eu: tá, eu ajudo. Mas não faço ideia do que você pode fazer.
Peter: onde você gostaria de ser eu primeiro encontro?
Paro pra pensar e penso em coisas bem clichês, que eu teria vergonha de falar, e obviamente não falo pro Peter, mesmo que ele seja meu amigo.
Eu: pensei numas coisas bem lixo
Peter: qual é, só me ajuda!
Eu: seguinte, por que você não faz uma coisa que você gosta de fazer? Que não seja jogar vídeo game, por favor. Isso é um encontro não uma batalha pra ver quem joga melhor.
Peter: só isso?
Reviro os olhos.
Eu: te dei uma sugestão, agora aprimora ela
Peter: tá bom, tá bom...
Peter: obrigado e melhoras.
Eu: de nada e obrigada
Peter: tenho que voltar pra aula
Eu: ok
Jane a Kriss depois veem e falam comigo. Eu estou muito animada pra amanhã, finalmente vou revê-las! Durante o restante da manhã só me sinto um pouco enjoada, mas não é tão ruim. Minha mãe me liga no horário do almoço.
–Oi, filha. Tá melhor?
Sim, não to mais tão enjoada.
–Vamos almoçar.
–Mas eu tava passando mal...
–Simplesmente não pode ficar sem comer, menina! – fala ela. –Já to quase no prédio, desce pra gente ir almoçar. É só comer uma coisa mais leve. O que não pode é ficar de barriga vazia!
Tá bom. – resmungo, nada afim de sair da minha cama.
Comeu alguma coisa de manhã? – pergunta ela.
–Não.
Então por isso mesmo tem que almoçar. Vai descendo que to perto de casa.
Desligo o celular e me levanto da cama com preguiça. Troco a blusa e desço até o térreo. Vou até o portão e vejo minha mãe chegando. Entro no carro e logo chegamos no restaurante.
Pego peixe, arroz e tomate. Peço uma água e encontro uma mesa pra nós sentarmos. Minha mãe senta-se na minha frente.
–Isso aí, não exagerou, mas também não vai comer que nem um passarinho.
Reviro os olhos.
–Eu não tava comendo que nem um passarinho.
–Não, imagine... – diz ela e toma um pouco do suco. –Você disse que tinha que comprar o presente da Jane. Pensei de irmos depois do teatro, é o único horário que eu vou poder.
–Por mim tudo bem. Podemos ir no shopping. – falo. –E se der, eu gostaria de comprar uma roupa nova pra mim também.
Por mais que minha mãe tenha recebido o aumento, que é bom, não estamos comprando muito.
–Mas só se der. – repito. –Se não der, tudo bem. Posso usar outra roupa.
–Não, tudo bem. Você escolhe um vestido ou algum conjunto, só não escolhe alguma coisa com um preço absurdo.
Abro um sorriso.
–Pode deixar. É só pra usar caso a gente vá sair.
A Jane disse que ia chamar eu, a Kriss, algumas pessoas da escola e família. Vai ter um almoço na sexta com a família dela, vai ser churrasco. As pessoas da escola que ela chamar irão pra lá também. Eu devo chegar de tarde, então talvez eu nem veja o povo lá. Ela disse que vai acabar seis horas o churrasco e depois iremos sair pra ir no shopping da cidade vizinha. Ainda não sei o que vamos fazer lá. E no sábado talvez a gente saia pra algum lugar também.
Acabamos de almoçar e voltamos pra casa. Hoje não vou no inglês, porque minha mãe disse que eu posso piorar de novo. Sento-me na mesa, chega de descanso. Abro o celular e pergunto pra Katherin quais são as tarefas. Ela me passa todas que tem, me manda fotos do caderno dela do que os professores passaram de matéria hoje e ainda fala dos alunos novos. Ela disse que pelo o que viu hoje, tem bastante gente simpática, mas tem alguns nariz em pé. Agradeço-a por ter passado as páginas dos deveres e começo a fazê-los.
Quando estou quase acabando, meu celular começa a vibrar alertando que alguém está me ligando. Quase caio pra trás, é o Thomas. Meu coração dispara e dou um tapa na minha testa. Respiro fundo e atendo.
Oi, Lydia.
A pessoa some por dias e depois chega com um “Oi, Lydia?”.
–Oi. – respondo secamente.
Desculpa não ter falado com você antes.
–Tudo bem, devia estar bem ocupado paquerando aquela garota que tava com você na foto. – respondo.
Ele ri.
A Ana? Ela é minha prima.
–Ah. – falo bem sem graça e mais uma vez, ele ri.
Mas enfim, tudo bom com você?
–Passei mal de madrugada e de manhã também. – falo dando de ombros.
É alguma coisa grave? – pergunta ele.
–Nah, eu comi muito e to começando a desconfiar que tinha alguma coisa estragada no hot dog ou no yakisoba. – falo pensativa. Só pode ser isso. Mesmo que eu tenha comido demais, isso não justifica o meu estômago sofrendo desse jeito. –Só pode ter sido isso.
–Por um acaso o hot dog é do parque?
Levanto uma sobrancelha, um pouco espantada.
–Como adivinhou?
Acontece que eu já passei mal por causa daquele hot dog. – fala ele e dou risada. –Fui até parar no hospital, nunca mais comi.
Eu também não comeria mais se fosse você. – falo e ele ri. –Mas e você? Tá bem?
–Sim, os dias aqui foram bons.
–Imagino... – era pra eu ter falado isso comigo mesma, mas acabou saindo em voz alta. Meu rosto esquenta.
Como assim?
–Quero dizer, você tá aí, longe daqui, longe da escola, longe de todos os seus colegas irritantes. Deve estar sendo bem legal aí. – falo e penso em mais uma coisa. –Além do mais, a garota da foto pode até ser sua prima, mas é bonita. – não precisava ser isso também. Que raiva de mim mesma, olha as coisas que eu falo!
Bom, sobre o que você falou ali sobre estar longe da minha cidade eu até que concordo. É bom tirar um tempo livre e também ficar longe de umas pessoas. – diz ele. –Mas por outro lado, você está errada.
Franzo a testa.
–Por que?
–Porque tem gente daí que eu estou sentindo falta.
Fico quieta, sem saber o que falar. Então lembro de uma coisa.
–Ah, você tá sabendo das competições entre as escolas? – solto uma risada. –Claro que tá sabendo, tá na escola faz tempo. Mas enfim, uma das escolas foi hoje, mas nem tive tempo de conhecer, porque eu tive que ir embora.
Sei sim. Vai participar de alguma coisa?
–Ah, eu pensei em natação, ping pong e corrida. Vou fazer os testes. – falo dando de ombros. –Você vai fazer alguma coisa?
Uns anos atrás eu fazia basquete, mas daí eu parei.
–Por que você parou? – pergunto curiosa.
Ouço-o suspirar.
Porque foi num jogo da escola de basquete que eu estava jogando que pela primeira vez eu vi o meu pai ter um ataque, daí fiquei meio com trauma disso.
Engulo em seco e me xingo. Parabéns, Lydia, olha a pergunta que você faz!
–Sinto muito, eu não sabia...
Tá tudo bem, sério. Já faz tempo. – diz ele.
–Mas escuta, eu acho que você deveria tentar. Mesmo que tenha esse trauma. Você devia ser bom.
Falei isso porque uma vez o Peter me disse que jogava basquete com o Thomas e que o enxerido era o melhor do time.
–Sem querer me gabar, mas eu era muito bom. – sorrio pelo modo que ele falou. –Mas acho que to meio enferrujado.
–Thomas, você vai participar sim desse jogo nem que eu tenha que te arrastar pra lá.
Ele ri.
–Pra que tudo isso?
–Porque eu quero te ajudar. – faço uma careta. –Sei que não é bem o meu forte te ajudar, mas sim, eu quero que supere esse trauma.
–E me tacando no meio do jogo vai me ajudar no que? Vou levar uma bolada na cara no máximo. – ele continua rindo.
Acho que vou me arrepender depois do que vou falar, mas vou falar do mesmo jeito.
–Claro que não. Eu vou te ajudar a treinar.
Espera, você o que? – ele tosse. É, parece que realmente eu devo parecer um monstro. –Tá brincando, né?
–Não. Por que é tão difícil você aceitar a ideia que eu quero te ajudar? – pergunto no mínimo ofendida. –Se te xingo, me julgam, se ajudo, me julgam também?
Ele ri mais uma vez e em pouco tempo para.
Não to te julgando, só acho estranho você querer me ajudar.
O fato é que agora eu sei que ele tem trauma disso por causa do pai dele e só parou por causa disso. Ele devia gostar bastante. Pode até não ser da minha conta, mas eu quero ajudá-lo a superar isso.
–Você tem um trauma, eu quero te ajudar a acabar com esse trauma, entende? É só isso. Se não quiser aceitar minha ajuda, tudo bem!
Eu agradeço, mas não sei não. Deve ter gente lá que praticou nesses dois anos em que eu parei, e é uma competição. Só os melhores participam.
Reviro os olhos.
–Eu sei que funciona assim, mas olha, eu farei o meu máximo.
Mas a questão é, você acredita em mim? Acredita que eu possa voltar a ficar bom?
Claro que eu acredito! – falo isso meio no impulso, mas com sinceridade, porque eu realmente acho que é só ele voltar a treinar que vai ficar bom de novo. Meu rosto esquenta por ter falado isso.
Ouço-o sorrir.
Então eu topo ter você como minha treinadora.
Sorrio.
–Ótimo, de verdade, vou fazer o que puder pra te ajudar.
–Eu sei, mas não se sinta mal se eu não conseguir, tá bom?
Você vai conseguir. – falo com convicção e ele ri.
Vejo o horário e olho pra meus cadernos em cima da mesa. Tem muita coisa pra eu passar a limpo ainda do que os professores deram hoje e também as tarefas.
–Tom, tenho que desligar. – falo chateada. Queria que ele estivesse aqui comigo. Bato na minha testa. Por mim ele que fique lá por mais um ano, não to nem aí não! Puff, até parece!
Você me chamou de Tom? – pergunta ele e aposto que ele está sorrindo. Meu rosto esquenta. –Ninguém nunca me chama de Tom, to me sentindo especial.
–Mas você é especial. – pera o que? Falei isso totalmente sem pensar, pra deixar claro! –Quero dizer, tem um problema mental especial. – me apresso a acrescentar.
Ele ri.
Tem razão, minha loucura chama-se Lydia Miller. É uma coisa bem rara, sabe. – meu rosto todo esquenta. -Já ouviu falar desse problema? Ela vai te contaminar no instante em que você olhar pra ela.
Não, nunca ouvi não. – falo um pouco nervosa. –Vou desligar, tchau.
Levo minhas mãos pro meu rosto e vejo que esquentou mesmo. Meu coração também não bate normalmente. Bufo com irritação.
No instante em que eu desligo a ligação, sinto um vazio. Isso só pode ser fome. Vou até a cozinha e abro o armário, tem aquele cereal Nescau Ball. Não vou comer muito, porque não quero passar mal de novo, mas parece que se eu não comer alguma coisa esse vazio não vai me deixar.
Pego um pote, colher e o leite. Coloco o leite, o cereal e depois guardo. Vou pro quarto comendo isso e quando acabo, a droga do vazio ainda não passou.
Ok, daqui a pouco passa essa coisa esquisita.
Decido fazer as minhas tarefas e fazer as coisas da escola e quando termino, o vazio ainda tá aqui.
Minha mãe me falou pra ligar pro táxi pra ir pro teatro e eu faço isso. Corre tudo bem no ensaio, tirando o Bernardo, porque eu odeio ele. Quando minha mãe me busca pra ir no shopping, o vazio ainda não passou. Isso começa a me incomodar.
Compro uma blusa de lã verde não muito grossa pra mim, e um CD do Renato Russo pra Jane, já que ela gosta, mas não tem nenhum CD.
Voltamos pra casa depois de tomarmos um sorvete, já que nenhuma de nós duas está sem fome. Arrumo minha mala e ainda sinto o vazio. Ô droga!
Volto pra cozinha e pego uma maçã. Maçã sempre mata a minha fome. Fico desapontada quando termino de comê-la e ainda não me livrei do vazio. Isso não é fome, mas também não faço ideia do que seja.
Bufo em frustração. Qual o meu problema? Num dia to me sentindo um balão, no outro, to sentindo um vazio que eu não sei o que é. Isso é bem sem sentido.
Decido ir falar com a minha mãe. Ainda é dez horas, sei que ela está acordada. Bato na porta e entro no quarto.
–Oi. – fala ela. Sento-me ao lado dela na cama e ela me olha preocupada. –Você piorou?
Faço que não com a cabeça.
–O que aconteceu então?
–Mãe, eu não sei. Eu só estou sentindo esse vazio estranho. – falo meio sem conseguir explicar. –Eu sei, é sem sentido.
Ela sorri.
–Não é não, querida. Você está se sentindo assim por algum motivo.
–Mas eu já comi, até maçã eu comi! Comi Nescau Ball e maçã, isso sempre me sustenta. E eu nem tava com fome direito! – falo frustrada. –Se não é fome, não vejo outra explicação.
Minha mãe segura a minha mão e levanto uma sobrancelha, sem entender.
–Lydia, esse vazio nem sempre é fome.
–Nossa, então me explica o que é porque eu já to achando que tenho algum problema! – resmungo.
Ela abre um sorriso.
–Esse vazio também pode ser por você estar gostando de alguém e sem essa pessoa, você sente esse vazio.
–Mãe, eu não gosto de ninguém. – afirmo quase rindo. Olha as ideias da pessoa!
Ela revira os olhos.
–Não mesmo, Lydia? Ou você só tem medo de admitir?
Solto uma risada fraca.
–Por que eu teria medo de admitir que gosto de alguém? – pergunto por algum motivo começando a ficar meio nervosa.
–Lydia, você é você. – diz ela e ri. –Não explicou muito, mas às vezes a gente tem medo de gostar de alguém por alguns motivos.
–Quais seriam eles?
–Você pode ter medo de não ser correspondida, mas se for a pessoa que eu estou pensando você não tem motivos pra duvidar. – diz ela sem dar mais explicação sobre esse motivo. –Ou pode ser por medo mesmo, medo de se machucar. Ou até mesmo ser muito orgulhosa pra admitir seus sentimentos.
Engulo em seco.
–Mãe, eu não... – mas não consigo terminar a frase, estaria mentindo, mais uma vez. Olho pra ela desesperada. –Mãe, arranca esse vazio de mim agora!
Ela ri.
–Eu não posso, querida. Só quem você está gostando pode.
–Mas... mas, isso não é justo! Eu não escolhi gostar de alguém! – protesto.
–A gente não escolhe quando vai gostar de alguém. – diz ela e me levanto.
–Acho melhor eu ficar sozinha um pouco, pra pensar. – falo assustada com a minha descoberta.
Vou pro meu quarto e fico parada perto da cama, tentando raciocinar direito. Acho que vou me jogar da sacada. Eu gosto do Thomas. Ai não. Me jogo de barriga na cama e afundo a cabeça no travesseiro. Eu gosto do enxerido e não é só como amigo.


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Notas finais do capítulo

ALELUIA ELA ADMITIU! CADÊ OS FOGOS DE ARTIFICIO?
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