Everything Has Changed escrita por Anne Atten


Capítulo 21
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Eu quero pedir para que não me matem ao lerem o final desse capítulo, só isso.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/528071/chapter/21

Fico no corredor enquanto vejo Thomas se afastar e fico me perguntando qual o meu problema. Por que eu fui atrás dele? Ok, eu disse que eu não mudei, mas eu sei que bem no fundo alguma coisa mudou. Mas o que? Não sei, não sei mesmo o que mudou. Talvez a cor do meu rosto, deve estar super vermelho.
–Lydia! – grita a Katherin do fim do corredor.
–Ai que susto, menina! – grito de volta.
Ela ri e se aproxima de mim, até que chega ao meu lado.
–Lydia, você tá vermelha. – comenta ela e então coloca a mão na minha testa. –Você tá quente.
Solto uma risada.
–Fica tranquila, eu não to doente.
–Eu sei. – diz ela e solta um sorrisinho. –Fico apenas me perguntando o que aconteceu pra você estar vermelha desse jeito... – diz ela e faz um cara de “hmmmmmmmm”
Dou um tapa em seu braço.
–Não é nada do que você tá pensando.
Ela levanta os braços.
–Mas eu não to pensando nada!
Reviro os olhos.
–Já que eu sei que você vai continuar insistindo, melhor eu contar logo. Eu e o Thomas...
Mas a loira doida me interrompe e solta um grito que eu acho que dá pra ouvir lá da esquina.
–VOCÊS SE BEIJARAM? – ela grita.
–Não! – grito de volta, mas não tão alto quanto o grito dela. –Quando você vai entender que nós dois não temos absolutamente nada? Eu hein, Katherin! – ela ia falar, mas eu não dou tempo. –Eu fui atrás dele, perguntei por que ele tava me ignorando, nós fizemos as pazes e fim.
Ela levanta uma sobrancelha.
–E por que ele tava te ignorando?
“Porque eu não quero me machucar”, ouço a voz de Thomas novamente. Não sei ao certo o que significou isso, mas a Katherin pode distorcer as coisas e vou ser zoada eternamente.
–Ele só disse que achou que eu não queria falar com ele. – não é bem a verdade, mas também não é mentira.
Ela solta um suspiro contrariado.
–Só isso?
Faço que sim com a cabeça. Nós duas andamos em direção a saída e vejo que a minha mãe já chegou. Dou um aceno para a Katherin e me apresso em entrar no carro. A minha mãe não parece muito contente.
–Aonde você tava? – pergunta ela.
Fecho a porta e ela começa a dirigir.
–Falando com a Katherin e o Thomas. – falo dando de ombros.
Ela dá uma olhadinha rápida em mim e abre um sorrisinho.
–Lá vem... – murmuro.
–O que você tava falando com o Thomas?
Se eu disser a verdade, que ele tava me ignorando e eu fui atrás, ela com certeza vai falar que eu estou gostando dele e eu já estou cansada de ouvir isso.
–A gente tem que estudar matemática, esqueceu? Acho hoje ele não pode.
Ela faz que sim com a cabeça e volta a olhar para a frente. Que bom que ela não insistiu no assunto. Não é que eu minta para a minha mãe, na verdade eu conto praticamente tudo pra ela, mas o que aconteceu hoje foi meio estranho e não to afim de falar isso com ela. Chegamos no restaurante e entramos. Pego macarrão e peço uma coca-cola. Sento-me na mesa e fico esperando a minha mãe chegar.
Ela senta-se na minha frente e começamos a comer, então o celular dela começa a tocar e ela atende.
–Alô? – ela ouve alguma coisa então arregala os olhos. –Tem certeza, Cláudia?
Cláudia é a irmã mais velha da minha mãe.
–Quando isso? – pergunta ela chocada. –Tá tudo bem aí? – minha tia fala alguma coisa. –Estou realmente assustada. Tenho medo do que ele possa fazer.
Do que ela tá falando?
–Obrigada por avisar, Cláudia. Qualquer coisa me liga, hein? – fala ela e desliga o telefone, então me encara. Eu estou super curiosa. -Sabe o seu tio, o Arnaldo?
Faço que sim com cabeça, Arnaldo é o irmão mais novo da minha mãe, ele tem uns trinta anos e é um traficante, além disso é ladrão. Tirando disso, até que eu gosto dele. Quando eu era criança ele vivia fugindo da polícia e ele sempre dava uns trocados pra mim. Depois ele foi evoluindo, criou uma quadrilha, depois matou todos pra ficar com o dinheiro que eles tinham conseguido, daí ele foi preso. Isso faz mais ou menos dois anos. Quando isso aconteceu, eu fiquei com muito medo dele, obviamente. Ele nunca tinha nos feito nada de ruim, mas também eu até então nunca tive conhecimento que ele tinha matado alguém e esse fato me assustou demais.
–Ele fugiu da cadeia. – diz minha mãe chocada.
Dessa vez eu arregalo os olhos.
–Como? Quando!?
–Sua tia disse que ele fugiu hoje de madrugada. – diz ela aflita. –O que tem na cabeça do Arnaldo?
–Não sei... – respondo nervosa. –Você acha que ele pode fazer alguma coisa ruim pra gente?
–Acredito que não, Lydia. Meu irmão pode ser tudo, mas nunca fez mal a ninguém da família. – diz ela. –Mas que bom que a Cláudia avisou, assim a gente toma cuidado.
–Cuidado com o que? – pergunto. –Eu to ficando com medo já.
–Fica tranquila, Lydia, ele já deve estar bem longe nesse momento. E repito: tenho certeza que ele não faria nada de mal a nós duas.
Espero sinceramente que ela esteja certa.
–Agora vamos que eu tenho que trabalhar. – diz ela já se levantando.
Ela me deixa em casa e vai para o seu trabalho. Entro no elevador e então, acabo clicando no quinto andar, pra poder falar com o Thomas se a gente vai ou não estudar hoje. Mas então lembro de hoje mais cedo e clico repetidas vezes no botão do terceiro andar. Eu não quero ver ele de novo hoje, eu to envergonhada com o que aconteceu. O elevador não me obedece e eu decido que não irá fazer mal nenhum se eu chegar no quinto andar e descer de novo. Não terei que ver ele de novo, certo? Errado. A porta do elevador se abre e dou de cara com ninguém menos que o Thomas. Saio do elevador.
Bufo. Qual o problema do mundo?
Thomas levanta uma sobrancelha, surpreso.
–Você por aqui? – pergunta ele casualmente.
Minhas bochechas esquentam só de lembrar do abraço.
–Ahn, eu vim perguntar se a gente vai estudar matemática hoje ou não. – falo dando de ombros.
Ele abre um sorrisinho.
–Eu tava justamente indo falar com você sobre isso. – diz ele e então fica sério. –E sobre o que aconteceu hoje de manhã.
Engulo em seco.
–Então... a gente vai estudar hoje ou não? – pergunto fingindo não ter ouvido a segunda parte do que ele falou.
–Lydia, não sei se você ouviu, mas eu...
–Você tava indo me procurar pra falar comigo se a gente ia estudar hoje ou não. – interrompo-o. –Pra ser sincera, eu não tenho todo o tempo do mundo pra você pensar. Vamos estudar ou não?
Fico torcendo internamente pra ele não insistir no assunto anterior. Ele respira fundo.
–Ok, mas eu só posso às três horas. – diz ele. –Tá bom pra você? Eu passo lá na sua casa.
–Beleza. – sem esperar uma resposta, entro de novo no elevador e clico no meu andar.
Chego em casa, tranco a porta por precaução e vou para o meu quarto. Coloco a mochila em cima da cadeira e me jogo na cama. Falo com Kriss e Jane enquanto ouço músicas, então vou para o banheiro tomar um banho, já que é quase duas e meia e vou ir estudar às três.
Termino de me vestir e então, ouço alguém tocar a campainha. Levanto uma sobrancelha. Será que é o Thomas? Deve estar adiantado.
–Já vou. – grito da sala e começo a procurar as chaves.
Onde será que elas se meteram? A campainha toca de novo.
–Já vou, Thomas! – grito irritada. Esse povo não sabe esperar não?
Acho as chaves em cima da mesa da cozinha e abro a porta de casa.
–Não sei quem é o tal Thomas, mas não sou eu. – diz meu tio Arnaldo e abre um sorriso.
Meu coração acelera. Como que ele sabe onde eu e minha mãe estamos morando? Então forço um sorriso, ele tá sozinho, tudo está bem.
–Não vai dar boas vindas?
Então dois caras aparecem ao seu lado. Agora sim a coisa tá feia pro meu lado.
–Oi, tio. Só fiquei... surpresa de você aparecer assim tão de repente. – falo medindo as minhas palavras.
–Menina bonita, hein chefe. – diz um cara que está ao seu lado.
Engulo em seco. Meu tio vira-se para o cara com um olhar mortal.
–Não encostem um dedo na minha sobrinha e nem na minha irmã. – diz ele.
O homem assente e abaixa a cabeça.
–Não vai nos chamar para entrar?
Eu poderia fechar a porta na cara dele, mas aí seria pior. Sei que ele teria meios de entrar a força na minha casa. Abro mais a porta e faço sinal para eles entrarem.
–Esse é o Carlão, - diz ele apontando pra o cara que falou que eu sou bonita. – e esse é o Machado. – e aponta pro outro homem.
Tio Arnaldo fica observando a casa. Fico parada na porta, meu coração prestes a sair pela boca. Começo a rezar mentalmente e então ele vira-se para mim.
–Cadê sua mãe? – pergunta meu tio.
Estou meio desligada e não entendo o que ele disse direito.
–Hein?
–O chefe perguntou cadê a sua mãe. – fala o Machado. Sinto um frio na espinha ao tomar consciência de que esses caras fariam o que meu tio pedisse. Se meu tio pedisse para atirarem em mim, eles não hesitariam.
–Ela tá no trabalho. – respondo de forma breve sem ousar olhá-los.
–Que horas ela volta? – pergunta o meu tio.
–Umas cinco horas... – respondo baixinho, intimidada pelos dois homens.
Meu tio parece perceber que eu estou com medo, porque olha para os dois homens.
–Saiam daqui. – diz ele. –Vão lá para baixo.
–Mas... – começa o Carlão.
Meu tio apenas encara-o e os dois se retiram da minha casa. Sinto um alívio, mas meu tio ainda está aqui.
–Eu nunca faria mal a vocês. – diz ele. –Fique tranquila.
Não respondo.
–É sério, Lydia. Alguma vez eu fiz alguma coisa ruim pra você, pra sua mãe, ou pra qualquer um da família? – faço que não com a cabeça. –Então acredite em mim. Se eu matei muitos? Matei, matei e mataria de novo se tentassem me destronar. – diz ele.
–Como assim “destronar”? – pergunto confusa.
–Sabe os caras da quadrilha que eu matei? Eles queriam me matar, Lydia. Eu descobri e acabei com todos, não dava mais pra confiar neles. – diz Arnaldo. –Mas por nenhum segundo eu pensei em machucar você ou a sua mãe.
–E esses dois? O tal Carlão e o Machado? Pareciam prestes a me matar.
Ele solta uma risada.
–Os dois me obedecem desde que fugimos da cadeia, porque fui eu quem fiz o plano de fuga. Infelizmente perdemos um cara, o José. Esse cara era inocente. – diz meu tio.
–O que aconteceu com ele pra ele não estar aqui com vocês?
–Ele não tava acostumado com fuga, então a gente foi escalar o muro do presídio e ele acabou caindo pra trás e morrendo. – diz ele dando de ombros, como se isso fosse super normal. –Acontece.
Fico sem falar nada por um minuto ou dois.
–Tio, o que veio fazer aqui? A casa da tia Cláudia era muito mais próxima do presídio.
–Exatamente por isso que não fui pra lá! – diz ele e então abre um sorriso de lado. –Aprenda uma coisa com o seu tio: nunca fique perto do lugar da fuga.
Não tenho certeza se quero aprender alguma coisa com o Arnaldo, mas o que ele disse é verdade. O primeiro lugar que iriam procurá-lo seria na casa da tia Cláudia.
–Como que você sabia onde que eu tava morando? – pergunto, mas logo acrescento. –Esquece, prefiro nem saber.
Ele solta uma risada e então ouço o som da campainha. Ele saca uma arma e eu gelo com isso.
–Tio, é meu colega, o Thomas. – falo calmamente. –Eu tenho que estudar com ele. – respiro fundo. –Não atira nele, ele não sabe de nada, eu juro.
Meu tio parece pensar um pouco, mas então guarda a arma na parte de dentro do casaco. Suspiro em alívio.
–Eu vou com ele e volto umas quatro e meia, não precisa se preocupar, ele não vai ficar sabendo de nada.
–Bom mesmo, porque se ele ficar sabendo... – ele então ele faz um sinal de arma com os dedos e aponta para a própria cabeça.
Engulo em seco.
–Ele não vai ficar sabendo de nada, eu juro. – falo de novo. –Acho melhor você se esconder no quarto, caso ele queira entrar.
Tio Arnaldo entra no meu quarto, pego meu material e volto para a sala. Passo a mão nos cabelos e respiro fundo. Não posso parecer nervosa, porque se o Thomas desconfiar do que tá acontecendo...
Abro a porta.
–Achei que não ia abrir mais. – fala ele.
Reviro os olhos.
–Lydia, você tá bem? – pergunta ele. –Você tá pálida.
–Eu to ótima. – falo e tranco a porta.
Ele me olha meio desconfiado, mas felizmente não pergunta mais nada. Entramos no elevador e logo estamos no térreo.
Vejo o Carlão e o Machado sentados no banco.
–Engraçado, nunca vi esses caras aqui antes. – comenta o enxerido.
Dou de ombros, tentando parecer confortável.
–Devem ser parentes de alguém, eu sei lá. – falo. –Vamos logo, não posso demorar.
Ele abre um sorrisinho.
–Sempre delicada. – debocha ele.
Os capangas me olham e vou atrás de Thomas até a garagem. As palmas das minhas mãos estão suando e seco-as na calça jeans.
Thomas pega a bicicleta e nós saímos do prédio. Antes de subir ele me encara.
–Aconteceu alguma coisa? – pergunta Thomas.
–Eu já disse que não! – respondo meio ríspida.
Ele só assente parecendo um pouco chateado por eu ter falado desse jeito, afinal ele só tá preocupado. Mas eu não posso falar pra ele do tio Arnaldo, nem do Carlão e muito menos do Machado.

Eu e Thomas chegamos no prédio e ele pedala até a garagem. Desço da bicicleta e ele também.
–Tchau. – falo e me apresso em entrar no elevador.
Thomas não pode nem sonhar que tem alguma coisa errada, se bem que acho que ele sabe que algo está acontecendo. Quando estávamos estudando, ele toda hora ficava me olhando como se perguntasse o que tá havendo, mas eu apenas o ignorava.
Quando a porta do elevador está quase se fechando, vejo o Thomas sorrir.
–Vamos ver quem chega primeiro? – e ele começa a subir as escadas correndo.
Não. Ele não pode ir pro terceiro andar. Tento gritar pra ele não ir, mas a porta do elevador se fecha e começa a subir. Eu vou matar esse elevador! Sei que não é possível, mas eu dou um jeito.
A porta se abre e vejo o Thomas na frente da porta de casa.
–Cheguei primeiro. – diz ele ofegante.
Reviro os olhos e puxo-o pelo pulso para longe da porta. Ele parece surpreso com a ação. Tiro minha mão do seu pulso imediatamente.

–Vai pra sua casa. – falo. –Você tem que ir.
–Lydia, eu sei que tá acontecendo alguma coisa. Você estava aérea hoje, eu te fiz perguntas e você respondia no automático. Foi até menos grossa comigo, parecia mais com medo do que grossa. – fala ele. –Alguma coisa tá acontecendo, não adianta negar.
Engulo em seco.
–Eu já te respondi milhares de vezes: não tá acontecendo nada! E eu fui menos grossa com você, porque hoje eu to legal. – falo e forço um sorriso. –Mas não se acostuma.
Ele faz que não com a cabeça e então olha pra porta.
–Tem alguém ali dentro?
–Não! – grito e ele me olha desconfiado. –Quero dizer, não. Só se minha mãe voltou.
–Lydia...
–Você tá me deixando nos nervos! – falo estressada. –Não tem ninguém ali e não tem nada acontecendo!
Mas é evidente que tem alguém só pelo modo que eu respondi.
Antes que eu possa impedi-lo, ele bate na porta de casa. Tio Arnaldo abre a porta e então olha Thomas. Thomas mal tem tempo de reagir antes que o meu tio puxe a arma e aponte para ele. Meu coração acelera.
–Não faz isso! – grito e corro até eles. –Não atira!
–Q-quem é esse cara? – pergunta Thomas assustado.
–Eu vou matar você se não calar a boca. – diz o meu tio. Carlão e Machado já estão atrás dele. –O que eu te avisei, Lydia? Eu avisei pra você que ninguém podia saber!
–Ele não sabia. – falo quase chorando. –Pelo amor de Deus, não mata ele. Você disse que não ia fazer mal nenhum!
–Eu disse que não ia fazer mal pra família, não pra um adolescente que nunca vi na vida!
Eu preciso agir, e rápido. Fico na frente do Thomas e meu tio me olha sem entender.
–Se quiser matar o Thomas, vai ter que me matar primeiro.
Se eu tiver sorte, tio Arnaldo vai deixar ele ir. Ele mesmo disse que não mataria ninguém da família. Espero que ele tenha falado a verdade.
Ouvimos o plingue do elevador.
–O que que tá acontecendo aqui? - pergunta a minha mãe.
Eu quase suspiro em alívio por ela estar aqui. Ela parece perceber o que há de errado.
–A-Arnaldo, larga essa arma. - diz ela nervosa. -Larga essa arma.
Fecho os olhos com força torcendo para que ele obedeça sua irmã mais velha.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!