A sombra das borboletas escrita por Lay


Capítulo 1
Meu mundo fica vazio


Notas iniciais do capítulo

Se leram a sinopse, boa leitura. Mais uma vez: vocês sãos esta fanfic. E eu a faço por isso.



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Prólogo

Orléans, França

— Oh Lacy, querida, você está linda! – disse uatma voz feminina por trás do espelho.

Ela virou-se e sorriu. Realmente não estava nada mal. O vestido que escolheu a fizera ficar com uma postura bem mais séria. Os cabelos loiros presos em um coque alto com algum brilho em spray cinza. E ainda tinha a maquiagem, que deixava aqueles olhos cada vez mais azuis.

— Mamãe... Eu já estava descendo. O Dan já chegou? — perguntou ansiosa.

A mãe fez que não com a cabeça.

— Ele disse pra você ligar o seu celular. Ligou para o fixo lá do trabalho mas não pôde falar muito, acho que você deveria retornar uma ligação. Parecia sério.

— Ok. Eu volto num segundo.

Ela desceu as escadas para as portas dos fundos. Agarrou o celular e discou o contato de emergência. Chamou algumas vezes. Então finalmente um cara atendeu.

— Alô? – disse uma voz do outro lado da linha.

— Hmm, amor? – perguntou ela.

Houve um chiado. Pareciam ter desligado, mas o contador mostrava: 00:15 segundos. Deveria ser uma interferência na operadora, ou Dan atendeu sem querer. Resolveu desligar e tentar de novo, quando uma voz a chamou de súbito:

— Lacy, Lacy! Olha escuta. O que eu tenho pra falar é rápido, então escuta com atenção, amor. Eu acho que... – um barulho de carro dava pra se ouvir, parecia estar em alguma rua movimentada – preciso que venha até aqui. Eu não tou legal. Por favor.

A voz estava meio grave. Mas era o mesmo Dan que conhecia. Carente, instável. E alguma coisa em suas palavras denunciava um desespero que não se podia falar por ali. Lacy congelou.

Onde... você está? – disse baixinho.

— Em casa. Venha o mais rápido que puder, e venha sozinha. Eu preciso te contar algumas coisas. E, acredite, você precisa saber. – disse calmamente, depois desligou.

Agora o único barulho era o da festa de 16 anos, na casa de trás. Olhou para lá, depois fechou os olhos. Verificou a chave na bolsa e saiu andando, em direção à garagem.

***

Naquela hora de início de noite as ruas estavam cobertas de neve. O asfalto jazia escorregadio e mais escuro que de costume. O inverno não dava nenhum sinal de que iria cessar tão cedo e isso só fazia o monte de gelo aumentar gradativamente. Alguns flocos caiam no para-brisa do Impala 2012 de Lacy, e derretiam logo em seguida. Alguns trabalhadores e operários de máquinas bloqueavam uma das passagens duplas da avenida. Estavam fazendo uma escavação por conta de um cano estourado. Pediram para maneirar na velocidade por conta da neve. Lacy estava tentando se esquentar de várias formas dentro do carro, mas seria necessário no mínimo três casacos. E quanto mais tarde ia ficando mais o frio aumentava.

Por pouco o tempo congelou o pensamento dela. Mas estava concentrada demais para teorias naquele momento. Virou o carro para a direita parando em frente a uma Igreja Judeia. A França estava cheia delas. Um morador de rua a observava do outro lado da escadaria, tentando dormir enrolado em alguns lençóis velhos. Quando saiu do carro não demorou muito para seus dedos começarem a adormecer e perder a sensibilidade. Ativou o alarme e apertou o passo até o casarão de cabeça baixa.

Quando chegou junto à entrada na faixada percebeu a porta escorada. Nenhum alarme soava. E parecia que a porta da frente estava aberta, mas nada de luzes no corredor. O jardim estava apagado e meio sem vida. Ela sentiu o estômago se revirar. Estava com medo agora. O telefonema não foi direto, e ela ficou preocupada com Dan. Além disso, nenhuma janela estava aberta ou com luzes acessas. Nenhum sinal dele. A casa está um breu.

Ela afastou aquele pensamento da cabeça e seguiu adiante, indo em direção à varanda branca, pela escada de poucos degraus que levava até lá dentro. De perto viu que havia, sim, uma luz. Um pequeno feixe na sala de estar, como uma vela.

Lacy encostou-se na parede procurando por algum interruptor de energia mas não achou nenhum. Pensou em usar a luminosidade da tela do celular para clarear o cômodo. E se alguém estiver aqui? Se, realmente, eu não estiver sozinha? Não seria uma escolha interessante mandar um raio de luz como ponto de referência.

Controlou a respiração e andou até lá batendo em um ou outro móvel. Era a luz de uma lanterna. Amarelada e fraca. E estava apontada para um objeto coberto por panos vermelhos que perecia sentado em uma cadeira rústica de madeira.
Mas que diabos está acontecendo?

Então a luz tremeluziu, lançando sombras para todas as paredes e fazendo um reflexo na janela. O objeto se mexeu?

Ai. Meu. Deus.
Aquilo vermelho ali é sangue!

A mão de Dan apareceu por baixo da vermelhidão, pingando. Estava tão pálido que fez o corpo de Lacy doer todo. Ele apontou para trás. Para trás de Lacy. Não deu tempo de virar para ver o que era.

Um saco preto surgiu de sabe-se lá onde para engolir toda a visão daquele terror. Suas pernas fraquejaram e ela desmoronou nas mãos de alguém.

O mundo inteiro escureceu, e ela ficou perdida naquele céu sem estrelas.

***

Lacy Lafleur se sentia um cadáver, totalmente sem vida quando acordou.

Estava gripada, e a cabeça doía desde o pescoço até a boca. Não parecia machucada, e também não estava mais vendada. O espaço à sua volta era pequeno. Muito pequeno. Havia uma porta militar com uma placa que dizia:
"Ambiente de temperatura controlada, mantenha a porta fechada."

Ótimo. Já deveria estar ali dentro há algum tempo. Forçou a mão, mas estavam presas por cordas com nós bem dados. Seu cabelo estava sujo. Ao lado oposto dela, no meio da ponta esquerda tinha uma caixa gigante com cerca de 1,86 metros. Caberia Lacy ali, e uns três palmos. Era estreita, preta e meio opaca. Não dava para se ter uma visão do seu interior, mas uma pequena rampa fora feita especialmente para ela, que levava até uma janelinha pequena na parte superior. Alguém recentemente subira ali já que se podiam ver algumas marcas de bota enlameada que desapareciam do caminho até a porta. Lacy ouviu passos lá fora, e notou alguns canos que transportavam um líquido para dentro do caixote. Era um som de água, que quebrava o silêncio de lá dentro.

Ainda podia escutar alguém então começou a gritar por socorro. Quando cansou, a garganta estava seca e os passos cessaram. A maçaneta da porta girou 360º. Um cara, da mesma idade de Dan, surgiu. Tinha mais ou menos 17 anos, e media cerca de 1,75. Seus olhos eram amarelos. Os músculos se definiam na blusa clara o que demonstrava força. Ele estava mexendo em algumas engrenagens com uma chave inglesa.

Ele tinha uma tatuagem que ia desde a clavícula direita até a esquerda. Estava em um código estranho, que Lacy nunca tinha visto, mas entendeu: "Assim na terra como no céu."

Que raio de lugar é esse?

—Você fica linda quando dorme – ele disse, virando.

Seus olhos... ela o conhecia. Mas é como se não lembrasse. Havia algo no seus olhos tão familiar quando Dan. Mas sua memória pesquisou no sistema todo e deu erro. Como se fossem bolsos vazios. Ela percebeu que estava o encarando e desviou o olhar. Por uma faísca de segundos sentiu-se bem com o seu olhar em cima dela.

— Porque está fazendo isso? Cadê o Daniel??– disse ela — Eu faço tudo o que você quiser, por favor, não encoste mais nele – falou e sentiu os olhos pesarem com as lágrimas.

Houve um silêncio comprido. As águas dos canos deslizavam e caiam naquela caixa. O cômodo mais se parecia com uma espécie de sala de tortura naquele momento – canos circulando as paredes, luzes frias e calculadas, barulho do vento que vinha das brechas da porta. No entanto se concentrou em algo que estava ali o tempo todo e ela não havia dado atenção. Ao seu lado uma pilha de roupas estava jogada no chão. Blusa social preta com as mangas curtas, sapato marrom de camurça, um cinto preto, um relógio, o colar... aquele que ela compro para Dan no ano novo.

— O que aconteceu aqui? – gritou Lacy.

O cara sorriu no canto dos lábios e olhou para a caixa.

— Você não quer acordá-lo, certo? – perguntou ele.

Mas ela não viu ele por perto. Ele não estava ali, não naquela sala. Talvez se gritasse mais ele acordaria, ou não. Tudo o que tinha ali era um painel de controle para os canos, e a caixa perturbadora. Pareciam caixas onde defuntos sem importância eram velados, ou somente enterrados.

— Ele está dentro? – perguntou ela sentindo-se claustrofóbica. — Você vai matá-lo! – gritou.

— Não. Não vou. Não enquanto você estiver aqui. – falou ele — Digamos que o Dan me deve uma conversa. E você é meu melhor argumento.

Dan estava numa escuridão sem fim. Perdido na consciência que vinha e voltava. Não sentia frio nem calor. Nem dor, nem calmaria. Estava dormente, meio imóvel e respirava com mais facilidade que o normal. O ar entrava e enchia seus pulmões calmamente. Então sentiu vibrações que não identificava. Vozes. Estavam distantes mas eram conhecidas. Seu peito de apertou. Ela. Não podia ser.

Quando abriu os olhos não enxergou nada. Por lógica estava em um cubo grande, em pé. Água jorrava de um cano pequeno embaixo dos seus joelhos e o volume já chegava na sua nuca, mas não sentia frio. Está na minha temperatura.

Ele começou a socar as paredes escuras e gritar para que deixasse Lacy em paz. As vozes ficaram mais nítidas, e ele a escutou chorando. O pânico tomou conta de si, e ele parou de bater.

Já se passaram quase 13 minutos desde que Lacy contava. Ele deveria estar se afogando. Então as batidas pararam de repente.

— Ele vai sufocar! – disse ela.

— Você deveria se preocupar com você mesma, garota. – ele disse olhando para as engrenagens – Você não está na parte rasa da piscina.

Com que deveria se preocupar? Esse maníaco teria feito alguma coisa...?

Ela procurou no corpo todo examinando cada detalhe para ver se tinha alguma coisa fora do lugar.
Ele pareceu achar graça.

— O que você fez comigo?! – perguntou.

— Feliz aniversário, Lacy. – disse ele sorrindo.

A pele de Lacy formigava. De repente sua mente sofreu um curto. Várias informações entraram em confronto com os espaços dentro de sua cabeça. Um frio na nuca fazia seus pelos se enrijecerem. Ela fechou os olhos e foi absorvendo tudo o que entrava lá dentro. Seus pensamentos estavam à mil por segundo. As perguntas mais estranhas se respondiam. O seu coração parecia preenchido, de novo. É porque na verdade ela tinha a sensação de já saber de tudo que estava sendo vivido ali. Era como se estivesse voltando para casa, depois de uma vida inteira fora. Várias imagens de Dan surgiam. Momentos felizes com ele. As brigas. Tudo isso junto. Ela pousou a cabeça na palma das mãos e olhou para o cara na sua frente.

Ela o conhecia. Não imaginava como aquilo estava acontecendo, nem porque se lembrou disso agora, mas tinha a intuição de ter de confiar em si. Era tudo o que podia fazer.

O seu passado, uma parte dele, estava de volta. E alguém deveria ter apagado mas não lembrava dessa parte.

— Agora você vai ter de me contar tudo. Sabe que me deve isso. – disse ele.

***


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Notas finais do capítulo

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