Meu nome não é Kyle escrita por Garoto de All Star


Capítulo 1
Prólogo - Don't let the water hold me down




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É sempre assim que começa... A visão a minha frente é distorcida, turva, como se houvesse uma nuvem presa dentro da minha cabeça, não consigo ver nada claramente. Então me dou conta que estou abaixo d'água, completamente submerso em um lugar que não reconheço, em parte porque mal consigo abrir os olhos, em parte porque não me lembro onde é. Luto com todas as forças mas não consigo alcançar a superfície, em um breve momento em que consigo focar, vejo o quão pequenos são meus braços, e minhas pernas, já que não consigo alcançar o fundo também. O pânico toma conta de mim, mas vai embora tão rapidamente quanto chegou, então tudo que resta é a paz, sinto a água entrar pela minha boca, o ar fugir pelas minhas narinas, consigo sentir o ar escapando em forma de bolhas. É quando finalmente paro de lutar que sinto alguém me puxar, me puxar pelos cabelos, quando chego a superfície eu acordo.

Eu realmente acredito nos sonhos, eu não sou um cara supersticioso, nem acredito em presságio, premonições, destino ou cosmos, seja lá como chamem, mas acredito na mente humana e seus mistérios. Tem muita coisa interessante sobre o nosso cérebro se realmente formos pesquisar, então acredito que nosso subconsciente nos envie mensagens, o sonho pode ser um dos meios. É com esse pensamento que acordei as 2:45 da manhã de Segunda, desde sempre me lembro deste sonho, é um sonho recorrente que eu tenho, ás vezes eu acho que não é um sonho e sim uma memória reprimida.

Minha mãe, Prudence , diz que nunca ocorreu nenhum acidente comigo envolvendo piscina, ou banheira, ou o mar. Ela pensa que eu devo ter visto isso em um filme e acabei ficando impressionado. Sabe, eu nem sei porque eu tô pensando nisso agora, eu não ligo tanto mais pra isso, já me acostumei, sei que essa sensação ruim do sonho vai embora tão de repente quanto chega. Mas o fato é que não consigo dormir mais.

Me levanto da cama, ajeitando a cueca samba-canção de listras verticais brancas e azul-claras, enrolo o cobertor no corpo e ao redor da cabeça como uma muçulmana e me sento em frente ao meu computador. Eu tinha prometido pra mim mesmo que ia largar o facebook, depois que uma das meninas da minha turma de cálculo postou: ''Vou ao banheiro, volto já'' como se eu fosse obrigado a saber, mas dei mais uma chance pra rede social assim que entrou na nossa turma, um menino lindo vindo de Atlanta, que eu passei a Stalkear.

Chad Wayland é o nome dele, cabelos loiros levemente bagunçados, sardas em torno do nariz e olhos azuis. Eu não sei porque mas quando ele disse que era de Atlanta, logo me remeteu a Atlantida, aquele continente perdido, então depois disso passei a imagina-lo segurando um tridente, em uma espécie de versão NSFW do aquaman, e aquilo me deixou bem animado. Porque eu não posso sonhar uma nova versão daquele sonho? uma em que Chad Wayland me salva do afogamento e me leva pra praia, como naquele filme preto e branco ''A um passo da eternidade''?

Jude Miller é meu nome, e o nome no meu perfil também ,passo os olhos rápidamente pelo feed de noticia, alguns cliques a diante e já estou no perfil dele, tenho dúvidas de como ele conseguiu aquele bronzeado lindo, levando em conta que em Atlanta não tem praia. Vejo algumas fotos tiradas em Tybee Island e sacio minha curiosidade, vejo também que ele tem um irmão mais velho e muito mais bonito chamado Bruce, o mesmo cabelo loiro desarrumado, os mesmos olhos azuis, só que em um corpo melhor e mais definido e de brinde uma tribal que vai da cintura, passando pelo quadril e indo até o inicio da coxa, mas que na foto esta coberta pela sunga vermelha.

Eu quase clico pra adiciona-lo aos amigos, Chad, não o Bruce. Mas então me dou conta que ia dar muito na cara mandar convite aquela hora da madrugada, ou ele pensaria que eu sou viciado em internet (o que é quase uma verdade, eu disse quase) que não durmo e fico a noite toda fazendo sabe-se lá o que, ou ele poderia pensar que fico revirando o perfil dele (uma verdade) é o que acontece, mas ele não precisa saber. Ou na pior das hipóteses ele pode pensar que eu sou gay (uma verdade absoluta).

Não eu não tenho vergonha de ser gay, algumas pessoas já sabem, como a minha melhor amiga Joan, e minha mãe. Mas a grande verdade é que na minha escola não temos gays, quer dizer, gays existem em todo o lugar. Mas quero dizer que não temos gays assumidos, e eu não quero ser o primeiro. Muitos meninos dão bandeira, e acabam presos dentro do armário, não o da vida, mas o escaninho do corredor, ou acabam com a mochila cheia de papel higiênico, às vezes usado. Valentões também existem em todo lugar, mas não precisam se esconder como os gays, e eu não sou exatamente do tipo atlético pra poder me defender, apesar de alguns gomos da minha barriga se sobressaírem.

Por fim decido que a coisa toda é bem melhor na minha imaginação, e não mando convite algum, é sempre mais seguro permanecer na minha. Eu nunca namorei ninguém, nem menino ou menina, só deixei de ser boca virgem graças a Joan, quando tínhamos 11 anos ela me beijou uma vez, isso claro, antes de ela começar a beijar a outro amigo nosso chamado Ben, que foi embora e a deixou arrasada. Ao contrário de mim, Joan não é lésbica, o que torna a vida amorosa dela mais movimentada que a minha. Quase uma hora depois, o cansaço vai me dominando outra vez, e logo após uma longa bocejada me atiro na cama novamente, o sono vem aos poucos enquanto fito a foto minha e da minha mãe no criado mudo. Então antes que me dê conta caio no sono.


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