Odeie o fato de como aquele dia foi o começo de quando as coisas comeram a realmente acabar. Princesa passava quase todos os dias no hospital por causa da dor, lá eles poderiam conte-la. Ela também passava a maior parte do tempo dormindo, tanto é que meus dias se resumiam em ficar sentado na poltrona ao seu lado enquanto dormia.

Não foram dias fáceis, em alguns deles, eles nem me deixavam entrar no quarto, esse eram os piores, eu não parava de pensar que esses dias colocariam um fim na vida dela.

Foram assim, três semanas que acabaram comigo, com John e com Clary também. Mike, Sam, Kevin, Tim, Will, todos eles vieram visitá-la, mas ninguém consegue ficar por muito tempo. Eu os entendo.

Agora estou sentado na poltrona segurando sua mão enquanto seu pequeno corpo sobe e desce com sua respiração lenta por estar dormindo. Um enfermeiro chega e injeta os remédios no soro.

Odeio o modo como eles olham para ela: com pena.

– Para de olhar pra ela assim - eu digo baixo.

– Desculpe?

– Só... pare de olhar para ela com pena, ela odeia isso.

Ele para por um minuto depois volta a fazer o que estava fazendo.

...

– Hey, oi - digo ao ver seus olhos abrindo.

– Oi - ela diz com um sorriso fraco - Que horas são ?

– Dez... da noite.

– Ah. Jay, sabe que não tem que ter sempre alguém aqui não é ?

– Eu sei, mas não gosto de te deixar sozinha.

Ela sorri de novo, dessa vez com os olhos fechados. Ela não vai demorar pra dormir de novo.

– Eu queria que você não tivesse que passar por isso - seus olhos continuam fechados.

– Eu é que queria que você não tivesse que passar por isso.

– Mas agora eu não tenho escolha, eu... eu não vou te mandar embora, mas vou entender se você quiser ir. Não tem que passar por isso...

– Eu não quero ir embora.

– Eu queria que quisesse.

– Desculpa, princesa, mas você me transformou num cara mole.

Dá uma uma risada curta e cansada, dorme poucos minutos depois.

...

– John - digo ao entrar no quarto.

– Garoto.

– Oi - Princesa diz animada.

– Oi, Princesa - digo.

Não lembro da ultima vez que a vi tão bem assim, e isso me deixa feliz. John sai do quarto nos deixando a sós.

– Tenho uma coisa pra você - ela diz quando eu me sento.

– Me mostre - sorrio.

Ela puxa um envelope de debaixo do travesseiro e me entrega, levanto uma sobrancelha então coloco os dedos por dentro da aba do envelope lacrado.

– Não! - ela tira meus dedos - Ainda não.

– Quando eu vou poder abrir?

– Você vai saber.

Ela me dá seu sorriso mais aberto, o meu preferido.

Como senti falta disso.

Quando John voltou, fui embora sem abrir o envelope.

...

Queria poder dizer que por algum milagre Elizabeth Wright foi curada. Mas ela não foi.

Ela morreu pouco menos de uma semana depois.

John estava sentado no chão na porta do quarto, segurando os joelhos, nesse momento, eu percebi que meu mundo tinha acabado.