Gina não estava se sentindo muito bem naquele dia. Ela se sentia cansada e febril. Lindsay percebeu o que estava acontecendo e foi conversar com ela.

– Ei! – chamou Lindsay – O que você está sentindo?

– Eu estou muito cansada. – disse ela aos suspiros.

– Enjoada?

– Um pouco.

Lindsay a olhou desconfiadamente.

– Grávida?

Gina arregalou os olhos.

– O que?! Tá louca?! Não posso estar grávida! Tommy e eu... A gente sempre se protege.

– Nunca se sabe ué. A camisinha pode ter furado...

– Vira essa boca pra lá, Lindsay.

– É só um palpite, amiga. Se for menina vai se chamar Lindsay, né?

– Vai trabalhar mulher! – disse Gina, já ficando zangada.

– Ok, Ok... Já fui. – disse ela se afastando.

Gina sabia que era impossível estar grávida, afinal, ela se cuidava com anticoncepcionais, mas... Fazia dois meses que ela não comprava mais esses remédios. Só que, diante dessas crises, eles quase não transavam. E também não estava nem sobrando dinheiro para comprar camisinha.

Não posso estar grávida deve ser só um resfriado ou... Qualquer coisa, menos grávida.

Ela sabia que havia essa possibilidade, mas não queria acreditar nela. Sabia que ela e Tommy não teriam condições de criar um filho naquela fase da vida deles. Mas ela esperaria, e não contaria nada à ele até que tivesse certeza.

Ou não.

...

Tommy já voltara ao seu pequeno lar, feliz, esperançoso e muito sorridente. Ele sentia que sua vida mudaria a partir de agora, graças a Gina.

Ele conseguira quinhentos dólares em um só dia, sem contar a oferta de emprego que recebeu.

Não demorou muito para Gina chegar. Assim que ele ouviu os passos na escada, se posicionou atrás da porta com um buquê de flores em mãos. E quando a porta se abriu, Gina pareceu não entender o que via.

– Oi linda! – disse Tommy sorridente – Comprei pra você.

Gina pegou o buquê. Eram margaridas, suas favoritas. Ela estava sem palavras.

– Tommy... São lindas... – os olhos dela se iluminaram.

– Consegui muito dinheiro hoje. E também uma oferta de emprego.

– Como assim? – um sorriso se formou no rosto cansado de Gina.

– Um cara me chamou para tocar em seu bar hoje a noite, e se eu fizer sucesso, ele vai me contratar pra cantar sempre.

– Tommy... Isso é ótimo!

– Uhum. – assentiu ele - Então se arruma, você vai comigo.

...

O bar era muito bonito: Um lugar bem espaçoso com um minibar em cada lado. Havia varias mesas espalhadas pelo local. Estava lotado.

Tommy aguardava ansiosamente sua vez para subir no palco. Era a primeira vez que ele tocaria com gente desconhecida. É claro que eles ensaiaram algumas musicas antes do show, mas isso não o deixava menos nervoso.

Tommy afinava seu violão pela centésima vez, quando um homem em roupa de garçom subiu no palco e anunciou a atração da noite:

– Senhoras e Senhores! Recebam com muitos aplausos, essa cara que vai botar pra quebrar a noite de vocês: Tommy Watson!

Todos aplaudiram quando ele subiu e se posicionou com o violão na cadeira atrás do microfone. A primeira coisa que ele fez foi localizar Gina na plateia. Ela não tinha muitas opções de roupa, portanto, usou a menos velha que tinha e guardava para ocasiões especiais : Um vestido decotado que se amarrava na nuca de cor verde piscina que refletia na cor azul de seus olhos, e a deixava com um aspecto encantador. Seus cabelos castanhos estavam soltos, formando grandes espirais dos ombros até a cintura. Os olhos dela brilharam quando se encontraram com os de Tommy, e sua boca se moveu para formar uma frase que Tommy interpretou como sendo “Eu te amo”. Ele sorriu para ela, e logo em seguida disse no microfone:

– Boa noite a todos. Agora eu vou cantar uma das minhas musicas favoritas, e também foi a primeira que eu aprendi a tocar.

Logo depois se ouviram batidas de bateria, e uma segunda voz fazendo sons estranhos. E então Tommy se aproximou do microfone e disse em uma voz suave e misteriosa:

– Once upon a time… Not so long ago.

A música começou com umas notas agudas de teclado, e Tommy cantou:

Tommy used to work on the docks

Union´s went on strike

He´s down on his luck...it´s tough, so tough

Gina works the dinner all day

Working for her man, she brings home her pay

For love - for love

She says: We´ve got to hold on to what we´ve got

´Cause it doesn´t makes a difference

If we make it or not

We´ve got each other and that´s a lot

For love - we´ll give it a shot

Gina assistia a tudo com muita empolgação, quando a fraqueza que sentira mais cedo voltara.

Tommy cantava o refrão com todos os sentimentos no palco. A sensação de estar ali era incrível. Ele sentia que poderia ficar ali para sempre, cantando uma musica eterna.

We´re half way there

Livin' On A Prayer

Take my hand- we´ll make it - I swear

Livin' On A Prayer

Gina estava ficando quente. Sentia suas pernas tremendo e suava frio. Enquanto a musica tocava ela tentava se controlar, mas estava ficando cada vez mais difícil fazer isso.

Tommy got his six string in hock

Now he´s holding in what he used

To make it talk - so tough, it´s tough

Gina dreams of running away

When she cries in the night

Tommy whispers: Baby it´s okay, someday

We´ve got to hold on to what we´ve got

´Cause it doesn´t makes a difference

If we make it or not

We´ve got each other and that´s a lot

For love - we´ll give it a shot

No palco, Tommy agia como um verdadeiro astro do Rock. Ele jogava o cabelo pra trás, fazia expressões faciais, tirava e colocava o microfone do pedestal, etc...

Enquanto tocava o solo de guitarra, Gina sentiu o mundo girar em torno de si. Ela se debruçou sobre a mesa como sentisse que fosse cair a qualquer momento. Ninguém pareceu nota-la, nem mesmo Tommy.

E o clímax da musica foi alcançado em gloriosas notas de guitarra. A voz rouca de Tommy agitava a multidão:

We´ve got to hold on ready or not

You live for the fight when it´s all that you´ve got

We´re half way there

Livin' On A Prayer

Take my hand- we´ll make it - I swear

Livin' On A Prayer

Tommy cantou a ultima frase com toda sua força, fazendo a sua plateia vibrar em aplausos e gritos ensurdecedores. E quando seus olhos procuraram os de Gina, a única coisa que encontraram foi um corpo envolvido em um vestido verde piscina desmaiado sobre a mesa do bar.