Prólogo - G H O S T L Y

Segurei o envelope, trêmula.
“Para Srta. Alexandra Chang Corner.
De Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts”

Hogwarts? Mas que diabos era isso? Alguma pegadinha, com certeza. Porém... Porque minha mãe esconderia isso no fundo dessa gaveta? Precisava tirar essa história á limpo. Abri a suposta carta, grudando meus olhos nas palavras.


“Cara Srta. Alexandra,
É com prazer que anunciamos que a senhorita foi aceita na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts.
O ano letivo começará no dia 1° de setembro. Esperamos ansiosamente sua resposta positiva”.

Corri os olhos pela assinatura. Minerva Mcgonall. Por Deus, quem era essa mulher? Engoli em seco me sentando na cama, procurando a data daquela maldita carta. 15 de julho de ... Aquilo era de seis anos atrás?!?! Seis anos! O que era aquilo? Porque eu seria aceita em uma suposta escola de magia?


-O que você está fazendo aqui, Alex? – Dei um pulo na cama. Virei minha cabeça com os olhos arregalados, dando de cara com uma Cho Chang não muito feliz. Gaguejei por alguns segundos, antes dela arrancar a carta amassada de minha mão com uma aparência furiosa, mas logo seu rosto asiático perdeu cor ao ver do que realmente se tratava. –O... O que você está fazendo com isso?!?!


–É verdade? Isso... Existe?-Olhei fundo naqueles olhos puxados procurando alguma verdade em si.


–Você não pode ficar fuçando nas minhas coisas, Alexandra! –Ralhou nervosa, mas sem negar a veracidade da carta. – O que entende com “não mexa na minha gaveta”, menina estúpida?!?


-Isso é verdade ou não? – Perguntei sentindo o sangue chegar á minha cabeça. Se ela negasse, tudo estaria resolvido.


-...É verdade, Alex.


-O que? – Minha voz falhou por um momento. – Como... COMO PODE ME ESCONDER ISSO? POR SEIS ANOS? – Minha garganta doeu. – Eu... Você é uma bruxa?!?! – Gritei me lembrando dos meus não tão felizes dezesseis anos de minha vida.

Dei um passo pra trás, esperando sua reação.
Tantos atos que eu cometi que eram inexplicáveis, tantas brigas, tantos segredos que minha mãe e meu pai tentaram esconder enquanto eu sofria sem saber o que realmente era verdade. Eu sempre era a estranha. A garota isolada que sempre se preocupou demais com a opinião alheia. Com a tristeza e raiva guardadas dentro de mim, havia horas que coisas aconteciam. Coisas ruins, que deveriam estar trancados em meus pensamentos.


–Eu não queria que você entrasse nesse mundo maldito! – Sua voz se elevou, como se tivesse razão. – E NÃO QUERO!


-Como não? – Questionei-a sentindo o sarcasmo escorrer de minhas palavras, como todas as vezes que eu falava com ela. – Não quer que eu seja normal, igual aos outros? Talvez lá seja meu lugar! Eu estaria muito mais feliz em um lugar onde eu me encaixasse!!


-Você não vai para Hogwarts. – Disse, segurando meus pulsos com força.

Aquela ira que eu sempre via quando criança em seus olhos negros, iguais aos meus, sempre me assustou. Mas agora não. Encarei seus olhos desafiadamente, puxando meus braços de volta. Peguei a carta caída no chão, passando por ela e trombando com seu ombro. Quando cheguei á porta, consegui coragem de olhar para trás.


–É o que veremos.

♥

Raiva. Não podia sentir nada mais do que raiva. Aquela mulher tinha escondido a verdade sobre mim. Eu tinha o direito de saber quem realmente eu era. Quem eu sou, me corrigi internamente dando um sorriso dolorido. Eu tenho que descobrir o que realmente é essa escola, esse mundo. Eu tenho que descobrir do que eu sou realmente capaz.


Desci as escadas lentamente, tentando fazer o mínimo de barulho possível. Cho deve ter achado que eu já tinha ido embora. Fique tranquila. Daqui á pouco eu já vou.
Olhei para a porta de seu quarto, e corri para o escritório de meu pai. Ela quase nunca entrava ali, então seria um ótimo lugar. Peguei um papel qualquer e uma caneta, logo escrevendo com tanta rapidez que quase doeu os dedos.


“Pai,


Fui atrás da verdade sobre mim. Fui atrás daquilo que vocês sempre esconderam de mim. 


Não se preocupe comigo, estarei bem. Você sabe que sei me virar.


Com amor,
Alex.”

Deixei o bilhete cair em cima de sua mesa organizadamente feita, saindo de lá. Voltei para o pé da escada, onde eu havia feito uma mochila. Peguei novamente a carta dobrada no bolso da minha calça, olhando em volta. Dei um suspiro, sorrindo para o nada. É, era hora de mudar.


Fechei a porta de casa, sem olhar para trás. Fui atravessando os quarteirões das ruas movimentadas de Londres, indo em direção á estação de trem. Eu estava partindo com um único objetivo em mente: descobrir o que era Hogwarts, e o porquê dela não querer que eu fosse para lá. 
Engoli em seco, olhando para o pilar no meio das plataformas 9 e 10. Olhei para o papel novamente, segurando firmemente a alça de minha mochila. Atravessar a barreira mágica da plataforma 9 ¾. Dei um sorriso tranquilo, finalmente olhando para trás.


Pois é, mamãe. Você já deveria ter imaginado que eu não te obedeceria.