Vi a caçula Potter passar a mão nos cabelos algumas vezes antes de me encarar com mais agonia do que eu já tinha visto em toda a minha vida. Seus olhos estavam arregalados, obviamente surpresos com a minha pergunta, e sua boca mexia sem emitir nenhum som.

– Foi a muito tempo…. Não importa agora….

– Lily, não tenho tempo para conversa mole. James o odeia por conta de o que aconteceu, e o Parker se recusa a me contar, então cabe a você. – sorri sarcásticamente e ela assentiu, ainda nervosa. – O que realmente aconteceu entre vocês?

– Como eu disse, já foi a um tempo… - ela começou, gaguejando um pouco. – No início do ano passado. Eu era perdidamente apaixonada por ele, sabe, não é tão difícil. Mas ele nunca tinha me dado valor nenhum. Gostar dele já tinha virado rotina, até que ele foi falar comigo…

– Oi… Lily, não é?

– Er… oi! É sim. – eu respondi, visivelmente surpresa.

– Prazer, James Parker. Queria saber… Você gostaria de sair comigo algum dia desses?

E naquele momento, eu cometi o pior erro da minha vida: aceitei.

– Eu era apaixonada por tudo nele, e como toda garota iludida, achei que ele tinha reparado em mim, gostado de mim e que ele me amava também. – os olhos dela foram enchendo de água e a vontade que eu tinha de dar um soco na cara daquele loiro só aumentava. Segurei em seu ombro e fiz sinal para ela continuar, sorrindo amigavelmente. – E então fomos a Hogsmead juntos e foi tudo absolutamente perfeito…

– Então, Lil’s. Me disseram que você tinha uma queda por mim… - o rosto da ruiva ficou vermelho rapidamente, arrancando uma risada do garoto. – É brincadeira! Mas sabe, eu não vou mentir que adoraria que alguém tão adorável e tão bonita tivesse uma queda por mim…

A garota levantou as sombrancelhas e sorriu inocentemente para o loiro. Os olhos azuis se encaravam e ela, pela primeira vez na vida, se sentiu desejada.

– É, talvez eu tenha…

– Talvez eu tenha uma por você também, nesse caso. – e Parker uniu os lábios dos dois em um beijo de tirar o fôlego. O clima em Hogsmead estava frio e, apesar de já estarem entrando na primavera, a neve não tinha derretido completamente, completando o cenário perfeito. – É… - ele disse, colando suas testas – Talvez eu tenha mais do que uma queda por você.

– E eu acreditei nele, Alex. Saímos mais algumas vezes, andávamos juntos, como um verdadeiro casal. Até que um dia ele disse que se eu realmente amasse ele, eu teria que provar. – arregalei os olhos, fechando os punhos para controlar a raiva. Me movi para mais perto da Potter e a abracei de lado, me arrependendo de ter perguntado.

– Pode parar se quiser… Desculpa te fazer falar isso.

– Não, não. – ela secou as lágrimas e sorriu para mim – Eu gosto que você tenha se preocupado e que fique avisada sobre ele. – acenei com a cabeça e ela tomou fôlego, suspirando. – Enfim… Eu amava ele, e tinha pavor de perdê-lo. Achava que ele estava sendo carinhoso, pedindo uma prova de amor, e então fiz o que ele queria. Dormimos juntos e então, no dia seguinte, ele me largou, dizendo que já tinha conseguido o que queria. Foi o pior dia da minha vida, Alex. Eu me sentia suja, usada, tudo ao mesmo tempo. Foi a primeira vez que eu tive o meu coração realmente partido, e eu demorei muito para recuperar-me.

– E NINGUÉM FEZ NADA? LILY!!!

– Lógico que fizeram. James descobriu algumas semanas depois tudo o que tinha acontecido e deu uma surra nele, bem dada. Ficou um mês e meio de detenção, mas quebrou o nariz e a perna do Parker. Desde então, os dois se odeiam mortalmente e Parker se vinga de todas as maneiras possíveis. A pior desde então foi quando ele fez com que mandassem uma carta para mamãe e papai porque acharam que ele tinha roubado uma varinha e um troféu, mas tinha sido o loiro.

– Que canalha! – gritei exasperada e Lily riu amargamente.

– É, ele consegue ser bem convincente quando quer ser o mocinho da história. Mas essa é a verdade, pode confirmar. Parker é um falso, mas não mente sobre isso.

– Ele vai pagar. – respondi para ela, depositando um beijo na sua testa e me retirando da sala.

– Alex, o que você vai fazer?! Alex!!! – ouvi a garota me chamar, mas estava muito centrada em fazer o Parker pagar.

Naquele momento, me senti uma estúpida de não ter confiado no Potter da primeira vez que ele disse que o Parker era um filho da puta. Duvidei dele, achei que era ciúmes bobo e pura competição o que havia entre os dois, enquanto era uma coisa tão séria e tão… Tão ARG! Eu tinha que encontrar os dois James: um, para matar e outro, para me desculpar.

Andei pelos corredores, até ouvir a voz – que agora para mim era nojenta – de James Parker. Segui o barulho até um corredor cheio de gente, onde o mesmo conversava com o Potter. Conversava, ou melhor, discutia algo bobo. Quando cheguei, ambos pararam e me encararam, sorrindo. Ensaiei meu melhor sorriso falso e me virei para o loiro com os punhos cerrados.

Ele cambaleou para traz e levou a mão no nariz quando atingi ele, tropeçando e caindo no chão.

– Isso é pelo o que você fez com a Lily – disse, abaixando pra ficar da altura do rosto dele. O som do meu tapa estalou pelo corredor, chamando certa atenção, mas eu nem liguei. Meus cinco dedos fizeram uma marca vermelha no lado esquerdo de sua face e ele me encarou surpreso. – E isso é por todo o resto.

– Alex! Sobre a Lily, eu posso explicar! Eu mudei! – ele gaguejava e eu ri alto, o encarando.

– Sai da minha frente agora, Parker, se não quiser ficar com a cara marcada do outro lado. – virei meu rosto para o moreno, que por sua vez me encarava também surpreso.

Meus olhos encontraram os dele e ele levantou as sombrancelhas, sorrindo abertamente. Negou com a cabeça duas vezes e então abriu ainda mais o sorriso.

– Desculpa, eu deveria ter confiado em você antes… - fui interrompida por uma risada que eu amava ( não que eu fosse admitir isso alto).

– Morena, depois dessa cena eu te desculpo de qualquer coisa que você tiver feito na sua vida inteira! – ele disse abraçando meus ombros e eu soltei uma longa risada, encostando minha cabeça nele.

– Sr. Potter e Srta. Corner, para a sala da diretora agora! – ouvimos alguém falar e eu encarei James, esperando que ele brigasse comigo, mas ele riu. Riu não, gargalhou, e foi acompanhado por mim enquanto caminhávamos para a sala da Minerva.

É, nunca eu tinha levado uma detenção que tinha valido tanto a pena.