The Blue River Camp escrita por Gaby Molina


Capítulo 6
Foi um Conselho?


Notas iniciais do capítulo

E ai pessoal?



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Thomas

"When I learned I had a sister
I pretended to hate her
I'd seen it on tv
I knew exactly what to do" - I Love You, Said The Whale

Com três batidas no microfone o silêncio se instalou no ginásio. O diretor de esportes sorriu em cima do palco e olhou para um papel amassado na mão dele.

– A primeira atividade do acampamento abriu muito bem a temporada. - Ele começou a dizer. - Se vocês gostaram dessa brincadeira com certeza vocês vão amar as que estão por vir; caso contrário, se ferraram porque agora estão presos aqui por uma semana. - Pausa. - Eu vou pedir para que os times tomem suas posições nos respectivos lugares.

Eu marchei ao lado do meu amigo John, que por sorte caíra no mesmo time que eu, para o lugar da Monarquia Parlamentar.

– Acho que vou lá pra frente. - Eu disse. - Onde os outros senadores estão.

– Vai lá, cara, depois a gente se fala. - Ele falou tentando imitar meu sotaque. - Vê se não faz merda, quero ganhar do Jake esse ano.

– Não gosto quando vocês tentam imitar meu sotaque. Vocês nao conseguem chegar ao padrão charmosos, porque eu sou negro e britânico, ou seja, pinto grande e um sotaque foda. Valeu, falou. - Sai de lá com um sorriso no rosto. Cheguei lá na frente e cumprimentei os outros quatro senadores.

– Vão divulgar os pontos. - Carol disse. Ela tinha um cabelo castanho escuro com as pontas pintadas de verdes e olhos azuis, além de um sorriso bem branco, resumindo o exemplo de garota branca ideal.

– Você tem alguma ideia de quantos pontos a gente fez?

– Acho que foi uns 30 pontos, o problema é que capturaram um dos nossos senadores, acho que foi o Geroge, e ele vale como um líder.

– Será que tem chance de a gente ganhar?

– Sei lá, acho que em segundo lugar.

Justamente quando ela terminou de falar, o diretor bateu novamente no microfone e tudo ficou em silêncio. Pareciam até britânicos, fazendo silêncio na hora certa.

– Com os times no lugar certo vou começar a falar a pontuação de cada time. Anarquia ficou com os gloriosos e surpreendentes dois pontos. - Varias pessoas do lado esquerdo do ginásio começaram a gritar e fazer uma baderna digna de punks americanos. - Silêncio, por favor. - O diretor gritou e novamento no ginásio só se escutava o som do rio descendo. - Continuando. Monarquia ficou com 15 pontos, Monarquia Parlamentar ficou com 30 pontos e por último Democracia ficou com 45 pontos.

Do nosso lado direito todos os participantes da Democracia começaram a pular e gritar, pareciam fãs do One Direction quando eles olham com cara de nojo para elas.

– Pelo menos ficamos em segundo. - Eu disse sorrindo para ninguém em especial.

– Verdade. - Carol concordou comigo, sem nenhum sentimento em sua voz, como se não ligasse se tínhamos ganhado ou perdido.

– O primeiro lugar ganha 15 pontos, o segundo 10, o terceiro 5 e o último 0. Para ver como a pontuação foi julgada é só ir ali na parede. - Ele disse apontando para um lugar perto da cesta de basquete. - Muito obrigado, vocês podem ir embora, só estejam no refeitório daqui uma hora.

O diretor desceu do palco e foi conversar com os monitores que estavam perto da saída do ginásio. Eu dei tchau para os outros senadores e fui procurar Jake para parabenizá-lo. Eu encontrei-o com uma menina saindo do ginásio. Ela estava vestindo uma regata com a estampa escrita ‘AM’, um shorts jeans rasgado e Vans azul, o que achei estranho, né, usar Vans para uma atividade esportiva.

– E aí, branquelo, parabéns pela vitória. - Eu disse abordando Jake. Um sorriso apareceu no rosto pálido dele.

– Valeu, negro. Então, ficou tristinho porque eu ganhei essa porra?

– Não, ainda tem o resto da semana, tira o sorrisinho da cara, porque vocês já perderam, porque eu sou muito foda. Então, em que quarto você ficou?

– No chalé phi, um que parece um Y, e você?

– No Ômega.

– Licença. - Disse a menina que estava nos acompanhando.

– Desculpas por te ignorar, senhorita, é que eu me empolguei aqui na conversa. Prazer, Thomas. - Eu disse levantando minha mão para ela.

– Prazer, Lucy.

– Vi que você gosta de Arctic Monkeys.

– Claro, tipo, Arctic Monkeys é vida.

– Sabia que estou gostando de você?

– Valeu. - Ela disse sorrindo. - Olha, eu tenho que ir para o meu chalé rápido, não estou af im de ficar escutando as garotas falarem merda de como não existe nenhum Nash Grier no acampamento.

– Vai lá, a gente se vê no jantar? - Eu disse piscando.

– Tchau, Jake. Tchau, Thomas. - Ela disse se afastando para os chalés femininos.

– Você tem que parar de piscar para qualquer garota por aí. Você tem namorada, se esqueceu? - Jake disse depois da gente atravessar a ponte que liga os dois lados do acampamento.

– Verdade, mas ela não veio, e dois, ela está em Londres, então... - Coloquei meu dedo indicador nos lábios para ele ficar em silêncio. - Vou para o meu quarto, depois a gente se fala.

— Ok, até mais. Na hora do jantar te apresento para os meus colegas de quarto. Só para te avisar, todos eles são virgens, então... - Ele fez uma cara de merda e depois riu. - Até mais.

– Até. - Ele disse se afastando para o chalé Delta. Eu caminhei já analisando a fila para o banheiro, chegando à conclusão que estava grande, então iria esperar umas meia hora para ir tomar banho.

Os chalés masculinos estavam divididos em Phi, Khi, Psi e Ômega. Eles formavam uma meia lua e nas pontas ficava o banheiro. Havia caminhos de pedra para cada um dos chalés e vários postes de luz antigos para iluminar o lugar durante a noite. Em frente a todos os dormitórios tinha uma varanda que podia servir de varal para colocar as toalhas ou qualquer outra coisa.

Subi as escadas da varanda e entrei no quarto sentando na minha cama, que, como na maioria dos acampamentos, era um beliche. Meus colegas de quarto ainda não haviam chegado ou estavam no banheiro. Deitei no coxão e fiquei encarando as tábuas que sustentavam a cama de cima por um tempo. Acho que se passaram uns cinco minutos até dois garotos entrarem no quarto.

— Então cara, foi muito foda a parte que eu te empurrei colina abaixo. Tipo, você parecia uma bola, tipo, você já é gordo e ainda me deixa fazer. - Um cara muito branco, com cabelos claros e olhos azuis disse, enquanto comia um Kit Kat.

— Vai se fuder, a próxima vez que você fizer isso vou pular em cima de você. - O mais gordinho disse. - Mas sabe o que é pior? - O outro menino balançou a cabeça para os lados como resposta, enquanto procurava um perfume. - Você usando seus poderes de rei, se podemos chamar assim. Porque,convenhamos, você continua a mesma bostinha, para fazer com que a garota britânica ficasse mais perto de você para ver se sai alguma coisa.

— Como você percebeu?

— Assim, você é péssimo para esconder qualquer coisa, que nem quando você fala que não tem dinheiro, mas todo mundo sabe que você tem.

– Vejo aqui que já temos um pombinho no acampamento. - Eu disse me intrometendo na conversa deles. - Acho que você vai precisar de alguém mais experiente para poder te ajudar, alguém que conquiste qualquer garota. - Apontei para o menino magro. - Eu; mas antes me descreva essa garota.

– Oi, prazer Matthew. - Ele acenou. - Então, resumindo, ela tem a pele escura, mais ou menos da mesma cor que a sua, tem cabelos encaracolados e escuros e olhos cor de mel. - Ele disse suspirando no final, parecia um bicha descrevendo o James Franco.

— Primeira dica, Matthew, para com essa coisa de "Princesa linda", segunda dica, tente conhecer melhor a garota. Tipo, você falou com ela e essas coisas ou só ficou com o olhar?

— A gente conversou um pouco, mas nem deu para falar com ela direito. - O menino apaixonado disse com o tom da sua voz meio desanimado.

— Então vai lá e fala com ela, porra. Mudando de assunto, que horas são? Preciso ir tomar banho. São seis horas, você tem trinta minutos. Acho melhor você ir rápido.

****

Depois de tomar um banho rápido, voltei de toalha e cueca para o quarto. Todos os moradores do chalé estavam lá. Matthew e seu amigo gordo, um garoto com o rosto cheio de espinhas e cabelos escuros, que parecia um Hobbit de tão pequeno, gordo e um roqueiro que estava com o cabelo já no ombro, aquelas pessoas que vão namorar aos 30 anos porque a mãe o obrigou a sair de casa.

Cumprimentei a todos e sentei na beira da minha cama procurando alguma calça jeans na bolsa. Depois de fazer uma bagunça na minha mala eu encontrei o tão procurado item.

— É, eu acho que vou lá pegar uma mesa para a gente no refeitório. - Disse o gordinho descendo da cama de cima da minha.

— Até mais, gordinho. - Eu disse enquanto colocava uma camiseta branca com gola V.

— Ei, o gordinho tem nome, ok. - Disse Matthew, bem quando eu estava começando a criar simpatia por ele.

— Ok.

O gordinho foi embora e o silêncio se instalou no quarto. Como não estava com saco para puxar conversa eu decidi ir logo para o refeitório, encontrar o Jake e ver se conseguia alegrar mais esse começo de noite.

A noite estava fresca e com muitas estrelas no céu, seria aquela noite perfeita para se deitar no chão e ficar olhando para cima. A lua refletia no lago onde o rio desembocava parecendo cena de filme, tenho certeza que uma garota devia estar sonhando em estar em uma canoa com o príncipe dela e eles se beijando à luz da lua, bem clichê.

Entrei no refeitório, que já estava meio barulhento, e fiquei nas pontas dos pés para tentar encontrar Jake ou John, mas os dois não estavam lá dentro. O refeitório era cortado por um corredor, paralelamente a ele estavam distribuídas mesas retangulares com 8 lugares. A cozinha ficava no final do corredor, junto com um balcão onde os acampantes pegariam sua comida.

Eu caminhei para o lado de fora e encontrei Jake e John. Novamente a garota de hoje à tarde, acho que o nome dela era Lucy, estava acompanhando-os. Os três estavam sentados num banco na varanda do refeitório olhando para o lago, enquanto conversavam algo que eu não consegui entender.

— E aí. - Eu disse cumprimentando o pessoal. - Que vocês estão falando?

— Estávamos comparando GoT com os livros, e chegamos à conclusão que são dois universos diferentes. - A única garota do grupo disse. - Porque a série coloca pontos que não existem nos livros e sendo assim os fatos ocorrem em tempos e dimensões diferentes.

— Não conhecia esse seu lado nerd, Jake. — Eu disse com uma voz sarcástica. — Continuando. Espero que vocês possam me ajudar pelo inferno que essa semana talvez seja. Porque meu quarto está cheio de menininhos de 14 anos se achando avassaladores de novinhas ou o novo o Justin Bieber antes das drogas, sabe? Tipo “Não fale isso, você pode ferir o sentimentos dele.” Eu vou ferir sua cara, ô, vadio. — Todos continuaram me encarando,esperando por mais, mas eu apenas fiquei quieto. — Terminei; podem fazer os seus comentários.

— Está um cheiro bom de comida, né? — A menina de olhos verdes disse.

— Na verdade. Sabe o que é pior? — Eu disse ignorando ela. — Tem um garoto que está afim da minha irmã.

— Mas sua irmã não é lésbica? — John perguntou.

— Sim, mas eu não vou falar nada. Quero que todos se fodam. — Eu gritei, algumas meninas que estavam passando me olharam com um olhar tipo “Aqui não é a Africa para você fazer isso”, então eu encarei com minha cara de “Vou comer você viva e depois te estuprar morta.". Elas desviaram e apertaram o passo para o refeitório. — Sabe que a branquela estava certa, vamos comer que a fome bateu.

— Ei, me senti ofendida.

— Se acostuma; vai ser assim para pior. — John disse. — Vai, levanta logo, Jake, estou com fome pra caralho.

— Por quê? — Fiquei encarando ele por alguns segundos. — Vocês deviam se alimentar da minha gostosura, porque eu sou tipo um modelo da Calvin Klein não descoberto.

— Ok, anda. — Jake falou levantnado a bunda do banco. — Quero pegar uma mesa legal.

Nós três caminhamos para a entrada lateral do refeitório, que estava quase cheio. Sendo assim só conseguimos uma mesa longe da janela, mas isso não importa. O que realmente importa e a comida.


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