Caminhos Traçados escrita por RQLMS


Capítulo 1
Despedida de casa


Notas iniciais do capítulo

Oii, gente! :)
É a minha primeira fic, então peguem leve comigo, ok?



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As gotas de chuva escorregavam lentamente pelo vidro da janela. Do outro lado a paisagem era acalentadora, enormes árvores alaranjadas contrastavam com o céu azulado-escuro.  E pensar que durante os próximos 365 dias eu não teria mais essa visão... Aquela era minha zona de conforto, era o que via desde que nasci. 

Meu nome é Fernanda Collins e atualmente me encontro com uma profunda ansiedade. Daquelas que embrulham sua barriga, tiram sua fome e aceleram seu coração, sabe? Estou prestes a mudar para uma cidade que é tão longe do meu lar, e tudo está ficando aqui... minha mãe, minha melhor amiga, minha escola, meu curso de violino e até mesmo Jasmyn, a vizinha que toda noite canta aquela mesma música "Ain't No Sunshine". É como se um pedaço de Fernanda estivesse indo embora e outro ficando. Só uma parte de mim efetivamente vai.

— Filha? Isabel tá subindo! - gritou minha mãe de dentro da cozinha.

Pude ouvir passos nas escadas se aproximando do meu quarto.

— Oi 

— Oi - respondi baixinho, olhando a loira adentrar meu quarto.

— Ainda triste? - questionou incrédula.

— Tô com um mau pressentimento. 

— Fernanda Collins! - ralhou ela - Pode tratar de se animar, você vai para um colégio melhor, conceituado e que com certeza vai te colocar na disputa por alguma faculdade melhor que a do distrito! Fora o fato de que vai conhecer gente nova...

— Agora que minha ficha tem caído - confessei - Desde que soube que ganhei a bolsa de estudos, não tinha ficado tão real quanto está agora. Não sei como vou sobreviver sozinha.

— Fê! - ralhou novamente - Você tá igualzinha aquelas adolescentes privilegiadas e reclamonas! Por acaso nasceu grudada com alguém? 

Sorri. Isabel era muito mais desapegada do que eu. Eu era o coração e ela a razão, sempre foi assim. 

— É que vou sentir falta daqui - falei me sentando na cama.

— Vou sentir sua falta - ela declarou - Mas nós duas sabemos que você precisa deixar esse lugar... Lá você vai crescer. 

Assenti me inclinando para abraçá-la. Isabel foi o sinônimo de família para mim desde a infância, muitas vezes planejamos morar fora da nossa cidade, fazer faculdade e ter uma situação financeira melhor do que a tínhamos, mas a realidade pesou a medida que fomos crescendo. É difícil que duas meninas do interior consigam competir por uma universidade da Ivy League com qualquer aluno oriundo dos colégios de elite de uma capital. 

A oportunidade que eu estava tendo de estudar em um desses colégios era uma conquista não apenas minha, mas dela também. Afinal, sonhamos juntas.

— Você nunca vai estar sozinha - ela sussurrou, apertando o abraço. - Dou uma semana até você já estar apaixonada por algum gatinho rico de lá. 

— Você sabe que não vai ser fácil assim

— Ave maria, Fernanda - ela disse revirando os olhos - Você virou praticamente assexual depois daquele dia. 

Gargalhei lembrando de um fatídico acontecimento no baile de verão do 6° ano. Essas piadas internas nunca iriam morrer. 

— Mas relaxa, vou anotar o contato de vários riquinhos pra você - pisquei.

— Filha, 10 minutos para o táxi chegar! - gritou minha mãe.

— Vamos? - Isabel sorriu.

Desci as escadas e já encontrei minha mãe com um lanche nas mãos. Sorri amarelo pensando se realmente seria uma boa ideia levar algo para comer. Do jeito que meu estômago estava era capaz de eu acabar vomitando em algum outro passageiro no avião.

— Pega, filha - falou me entregando um potinho azul com dois sanduíches e um refrigerante

— Te amo, mãe.

— Fernanda, se cuide por favor! - advertiu já fazendo cara de preocupação - Sempre ligue para mim, se algo acontecer com você eu nem sei o que vai ser da minha vida, nem sei o que eu sou capaz de fazer e...

— Mãe, vai ficar tudo bem! Já tivemos essa conversa antes, eu já decorei todo o discurso.

Eu e a minha mãe moramos sozinhas desde os meus 2 anos. Tudo o que eu sei sobre o cara que me colocou no mundo é que ele simplesmente sumiu do mapa depois de uma discussão com ela. Minha mãe segurou as rédeas desde então, me educou, alimentou, abrigou, amou...

Abraçei-a aproveitando nossos últimos minutos juntas e ainda ouvindo seus sermões. Penso que até disso vou sentir falta...

Descemos com as malas e conversamos até o táxi chegar, o que na minha opinião foi o momento mais doloroso. Despedi-me dela e de Isabel e dei uma última olhada para a frente da minha casa, avistando o pé de acerolas que eu brevemente me recordo de ter plantando quando era pequena. Os frutos já caíam na grama e eu quase podia sentir o gosto do costumeiro suco só de olhar aquilo. 

***

Sentei-me em um banquinho após fazer o check-in, com os fones em volume estridente no ouvido. Cada chamada de vôo que passava no visor fazia meu estômago revirar, ansioso por ser o meu.

— E então?

Arregalei os olhos notando a presença de um rapaz ao meu lado. Ele me fitava divertido com os olhos mais azuis que eu já tinha visto. Os cabelos negros caiam-lhe levemente no rosto.

— Oi? - sorri sem graça.

— Por que uma moça bonita está sozinha? 

Arqueei a sobrancelha. Quem no século 21 ainda aborda uma mulher desse jeito?

— Vou viajar - falei virando o rosto e ele abriu um sorriso irônico.

— Presumo que por estar em um aeroporto você vai fazer isso mesmo.

— Então porque perguntou?

Ele sorriu novamente.

— Não está mais aqui quem perguntou! - disse levantando as mãos.

Desviei o olhar do rapaz e tentei me concentrar no visor novamente, mas a inquietação dele ao meu lado acabou me fazendo rir. 

— Posso perguntar outra coisa, então?

— Pode - falei tirando o fone de ouvido.

— Qual seu nome? 

— Fernanda

Ele arregalou os olhos levemente mas logo sorriu.

— Fernanda... - sussurrou mais pra si do que pra mim - Bonito nome para uma garota bonita. 

— Mas todo mundo chama de Fê.

— Então vou chamar de Nanda.

Franzi meu cenho. Normalmente eu não me sentia confortável com aproximações repentinas, mas talvez o rapaz só fosse extrovertido em excesso.

— É mais legal - ele disse e eu dei de ombros.

— E o seu nome? 

— Harry.

Tentei formular um apelido para Harry mas tudo consegui foi “Ha” ou “Ry" e eu definitivamente não o chamaria assim. Acabei ficando em silêncio.

Ele ficou inquieto novamente e pigarreou.

— Então, Nanda, o que você tá ouvindo?

Sorri.

— Numb.

— Coincidência? - ele sorriu abrindo o zíper da jaqueta de couro que usava e deixando a mostra uma blusa preta na qual estava escrito Linkin Park. Alarguei mais meu sorriso.

— Não acredito em coincidências.

— Nem eu, Nanda - o celular do garoto vibrou, tomando sua atenção — Preciso ir - disse aproximando-se de mim e depositando um beijo em minha bochecha. - Eu realmente espero te ver novamente.

— Tchau... - falei quase sem reação. Esse povo da capital age mesmo como se já conhecesse qualquer pessoa na rua...

Depois de alguns minutos chamaram meu vôo e a última coisa que lembro foi tampar bem os ouvidos na hora da decolagem. Devo ter adormecido rápido porque quando recobrei a consciência uma aeromoça me sacudia.

— Moça? Nós já chegamos ao destinho.

— Ela não tá e eu não sei que horas volta, não enche o saco.

— O que?

Arregalei os olhos encarando a mulher.

— Queira se retirar da aeronave, por favor - bufou.

Rapidamente deixei o avião e segui para o aeroporto. Até que foi fácil localizar minha mala e pedir um táxi. Tudo era bem sinalizado ali, mas o enorme trânsito de pessoas ainda me intimidava.

Foram só alguns minutos dentro do carro e logo me deparei com dois portões de ferro imponentes, sustentando uma águia prateada em cada extremidade e com um nome em seu centro: Internato Saint Louise. Ali estava meu novo lar.

O taxista trocou algumas palavras com o segurança do colégio e logo esse acionou uma mulher alta de cabelos loiros. Ela vestia algo que eu identifiquei como a farda do colégio, porém sua camisa tinha um corte de decote vulgar ao extremo.

Ela abriu um sorriso enorme ao me ver.

— Fernanda? - perguntou me puxando para um abraço e quase senti meu rosto ser afundado em seus peitos - Sou a diretora - ela falou enquanto se afastava de mim. — Bem vinda, fofa. Ansiosa para mostrar a escola, mas primeiro deixa que o Ben cuida dessas malas aí - falou me arrastando pátio adentro - Vou te levar pra conhecer sua colega de quarto e seu dormitório.

Quem diabos era Ben? 

— Com essa cara aí você tá precisando dar um sono mesmo, Deus me livre.

— Senhora?

— Brincadeira, fofa, relaxa aí, descontrai.

Sorri sem graça encarando a mulher. Deus abençoe meu ano letivo...

 

 


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Notas finais do capítulo

Esse primeiro capítulo foi apenas para situar um pouco na história da Fernanda. Comentários? :)))