À Primeira Vista escrita por Sr Castiel


Capítulo 8
Capítulo VII - Dylan - Sonhado Em Segredo


Notas iniciais do capítulo

Bem, gente, demorei, mas voltei...
Só peço que tenham um pouquinho de paciência porque meu note estragou e tal... Não tem mouse pra fazer nada, mas ainda consigo mexer um pouco... E tenho estado um pouco ocupado, então, desculpem...
E já sabem, comentem, divulguem, blá, blá, blá...



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Capítulo VII

Dylan

/Sonhado Em Segredo/

“O destino tem duas maneiras de nos destruir: recusando nossos desejos, ou satisfazendo-os.”

Henri Frederic Amiel

Recapitulando

____________________________________

DYLAN CHEGOU EM CASA MINUTOS DEPOIS DE ATRAVESSAR A CERCA tentando encontrar a garota que saíra correndo ao menos para perguntar seu nome; afinal de contas ela o salvara.

Mas ele começava a desconfiar que não era por exatamente aquele motivo que queria encontrá-la de novo. Ela havia despertado alguma coisa dentro dele, algo que nem sabia que estava lá. Todas as vezes que tentava se lembrar dela, aqueles olhos cinzentos vinham primeiro à mente, depois os outros detalhes. Dylan reconheceu que o fato de apenas vê-la e ainda tê-la ajudado a se livrar daquela vampira louca, foi suficiente para fazê-lo esquecer completamente do episódio com o Sr. Fênix na praia. Toda a raiva que sentia havia sido diluída quando pulou a cerca e correu em direção à sua nova casa.

Ele balançou a cabeça para afastar aqueles pensamentos. Tinha que se focar em uma coisa de cada vez; e ainda estava curioso com o que havia acontecido na prefeitura com Alex. Antes de entrar, Dylan conferiu o celular uma última vez, sentindo-se culpado por ter esquecido completamente do que deveria fazer. Não havia chamadas perdidas e o alivio o consumiu, fazendo com que o súbito acesso de culpa que havia surgido naquele momento se tornasse nada além de uma lembrança.

Alex estava à mesa da cozinha quando Dylan chegou. Havia um copo com água ao lado de vários papeis que o garoto conferia meticulosamente. Ele já tinha tirado o terno e agora vestia as roupas casuais como Dylan estava acostumado a vê-lo.

– Dylan. – Cumprimentou o amigo sem tirar os olhos dos papeis.

– Deu tudo certo, Alex? – Perguntou Dylan.

– Eu diria que certo não é o suficiente para descrever a situação – Alex o respondeu, mas estava sério. Não parecia querer comemorar a possível vitória. – Tem duas Narscisa na cidade, mas apenas uma com uma filha chamada Nôah. Não há nada no registro delas a não ser o colégio em que Nôah vem estudando por alguns anos.

– Estamos com sorte, então? – Perguntou Dylan, querendo ser otimista.

– Nem tanto Dylan – respondeu Alex.

Dylan estreitou os olhos, tentando ver o que Alex tanto procurava naqueles papeis se tinha dito que sua missão teve êxito. Ele se aproximou do amigo para ver melhor o que o incomodava daquele jeito.

– Quer ajuda, Alex? – Perguntou Dylan ficando de frente para ele ainda em pé.

O garoto notou que no meio de tantos papeis haviam algumas fotos estranhas; como as que são tiradas por legistas na cena de um crime. Alguns estavam deformados e todos tinham muito sangue os cobrindo.

– Eu já terminei, obrigado. – Respondeu Alex. Ele havia separado algumas fotos, colocando papeis atrás, depois colocou-os um em cima do outro, formando uma pequena pilha. – Dê uma olhada nesse material e me diga o que parece para você.

Alex levantou os olhos. Era a primeira vez que olhava para o amigo desde que este havia chegado. Seus olhos estavam distantes, mas se estreitavam levemente nos cantos, sugerindo que Alex estava preocupado e queria esconder isso de Dylan. Mas há muito tempo ele soube como reconhecer algumas expressões do amigo, coisas que ele queria esconder, mas não conseguia por completo. Não de Dylan. Ele conhecia Alex bem demais.

Quando Dylan fez menção de se sentar e pegar os papeis, Alex se levantou, empurrando Dylan para trás. Dylan conseguiu se equilibrar e continuou de pé, olhando, perplexo, para Alex. O amigo agora deu a volta por trás de Dylan, olhando-o desconfiado.

– Mas o que diabos... – Dylan começou a falar, mas Alex o interrompeu.

– Isso é sangue, Dylan? – Perguntou, a voz subindo uma oitava.

– O quê? – Perguntou Dylan. – Onde...? – Ele olhou para o próprio corpo procurando o que Alex estava falando. Uma pequena mancha, quase imperceptível, de sangue sujava seu flanco. Estava seco. Ele se lembrava de ter conferido sua aparência depois que pulou a cerca, mas não havia notado aquilo. Será que alguém na rua havia visto?

– O que aconteceu, Dylan? – Alex perguntou.

Dylan o olhou, tentando parecer calmo ao dar a notícia.

– Encontrei três vampiras... – disse Dylan.

– O quê? – Perguntou Alex, a perplexidade distorcendo seu rosto. – Como assim?

Dylan lhe contou a história. Começou quando foi à praia e encontrou o Sr. Fênix ameaçando sua vida se não desistisse do plano. Falou sobre como o homem era poderoso e assustador, mesmo para ele; e seus poderes sobre o tempo e como ele havia parado sua transformação sem que Dylan nada pudesse fazer para detê-lo. E depois passou para as vampiras, que as havia encontrado na clareira quando procurava um lugar para poder ficar sozinho enquanto estivesse na forma de lobo. Não falou o que aconteceu exatamente sobre a garota vampira que o havia curado. Ele não queria esconder nada de Alex, mas precisava entender o que exatamente havia acontecido entre eles para conversar com o amigo sobre o assunto. Falou que a garota havia fugido depois que ele a ajudara matar a última vampira, mas que tudo estava bem.

– Está tudo bem? – Alex se sentou de novo. O garoto fechou os olhos, tentando se acalmar. Dylan conseguia ouvir seus batimentos cardíacos cada vez mais acelerados. – Dylan, a pessoa que foi atrás de seu pai, e, devo ressaltar, conseguiu pegá-lo, veio atrás de você também. Como pode estar tudo bem?

– Eu só quis dizer que não fui seguido, Alex – retrucou Dylan. – Eu não estaria aqui se soubesse que eles poderiam vir atrás de mim.

Alex soltou um suspiro baixo e abafado, como se tentasse explicar algo a uma criança teimosa.

– Dylan, eu não quis dizer isso – Alex falou, encarando o amigo. – Mas você não acha que se ele conseguiu te encontrar na praia, e, como você disse, sabia que você viria para San Diego, não acharia também ser possível que ele saiba exatamente onde nós estamos nesse exato momento?

Algumas vezes Dylan odiava a capacidade de Alex pensar demais e chegar a conclusões tão rápido. Mas não podia negar que Alex estava certo. Ele só não entendia o porquê de o Fênix não os atacar já que eles estavam ali para frustrar seus planos.

– Eu sei... É só que...

– Mas espera – interrompeu Alex. – Você disse fênix?

– Exatamente – respondeu Dylan. – E, Alex, eu não acredito que ele estivesse mentindo. Eu conheço as fênix só por livros de ficção e elas não se transformam em homens. São pássaros o tempo todo. Mas ele emanava um poder muito grande e antigo... Ele era assustador. E aquela pena que foi deixada na sala da minha casa lá em Londres... não tenho mais dúvidas que veio das asas dele.

– Essas penas são, como seu pai disse na carta, uma arma letal para homens-lobo. Imagina duas asas cheias delas. – Falou ele. Dylan quase podia ouvir as engrenagens na cabeça do amigo girando, enlouquecidas atrás de alguma resposta. – E ele ainda pode parar o tempo. – Alex parou de falar por um momento, olhando Dylan nos olhos pela segunda vez, mas foi diferente. Dylan imaginou que aquele olhar fosse o de uma pessoa que plantaria uma bomba em algum lugar para matar muitas pessoas e, antes da detonação, já em local seguro, olharia uma última vez para o que se transformaria em cinzas. – Não estou querendo desanimar ninguém, mas na minha opinião estamos condenados se for ele mesmo quem precisamos enfrentar.

– Muito animador – comentou Dylan. Mas o garoto sabia que Alex só estava sendo realista quanto à situação que eles se encontravam. – E por consequências a essas circunstancias você sabe o que devemos fazer, não é?

– Temos muitas coisas em pauta, Dylan, mas ao que você se refere exatamente?

– Precisamos agilizar todo esse processo. – Respondeu Dylan. – Encontrar essas duas vampiras é a nossa prioridade agora. Temos que encontrar meu pai o mais rápido possível. E, acima de qualquer coisa, precisamos saber qual a ligação do meu pai com elas.

Alex pegou os papeis em cima da mesa e os entregou a Dylan, empurrando-os para o amigo.

– Parece que os vampiros estão ligados a muitas questões nesta cidade – ele falou. – Enquanto eu pesquisava sobre as duas vampiras, encontrei outras coisas que me chamaram atenção. Só temos que descobrir o porquê de tudo isso estar acontecendo logo aqui.

Não tinha muita coisa. Alex tinha separado tudo como se fossem vários casos diferentes.

Dylan pegou o primeiro e olhou a primeira folha, que continha os dados pessoais de um homem chamado Richard Audrey; tinha feito cinquenta anos recentemente, três filhos, divorciado, hipoteca em dia, entre outras coisas. Nas duas páginas anexadas à primeira haviam imagens das diferentes partes do corpo do senhor Richard; em algumas o sangue prevalecia, não dando para distinguir nada, mas outras estavam mais nítidas: a garganta parecia dilacerada, assim como o pulso. Na última folha estavam os registros sobre a morte do homem: havia morrido há poucas semanas, a alegação da causa mortis era ataque de animal devido às marcas encontradas no corpo e grande perda de sangue.

Ele passou pelas outras folhas, todas as mortes com alegações de ataques de animais. Depois de ver uma por uma, Dylan tentou observar todas juntas para ver se havia algum padrão que conectasse as vítimas, mas não encontrou nenhum. Observou todas as informações atentamente, mas eram apenas mortes aleatórias, ao que parecia. A única coisa que conectava as vítimas era a causa mortis: sempre ataque de animal e grande perda de sangue e, nas imagens, partes do corpo dilaceradas, principalmente o pescoço e os pulsos.

– Que animal foi esse, Dylan? – Perguntou Alex com sarcasmo.

Uma única palavra veio à mente de Dylan, causando-lhe calafrios.

– Vampiro.

– Exatamente – falou Alex, encarando o amigo. – E quem nós temos que encontrar? Mais vampiros.

– Alex, você não acha que essas vampiras que precisamos entrar em contato também estão fazendo isso, acha? – Perguntou Dylan. – Quero dizer, eu sei que a necessidade de sangue dos vampiros é em mesma proporção que a nossa de nos transformarmos regularmente, mas meu pai não me mandaria contatar duas vampiras que fazem isso com humanos.

Dylan se viu vagando mais uma vez até a clareira quando a garota vampira tinha achado que ele a mataria. Ele viu o medo nos olhos daquela garota enquanto ela declarava que não lutaria contra ele. Sabia que se quisesse, mesmo machucado, poderia matá-la ali mesmo, mas não conseguiu. Seu senso de justiça nunca o deixaria cometer uma atrocidade daquelas contra alguém que fosse ou estivesse incapaz de se defender.

– Confesso que não sei, Dylan, mas concordo com você – declarou ele –, quero dizer, não acho que Sam tenha nos mandado para o ninho de vampiras sanguinárias. Mas de qualquer forma precisaremos ter cuidado.

– A polícia notificou essas mortes como ataques de animal, mas isso não vai continuar como está, não é mesmo? – Dylan falou. – Quero dizer, o Conselho da Ordem Sobrenatural vai intervir.

– Esse é o problema, Dylan – Alex falou, soando mais cansado que o normal. Era como se tentasse chegar a uma resposta que simplesmente não existia. – Esses casos que eu trouxe não são os únicos. Devem ter pelo menos mais trinta parecidos com esses registrados. Já era para o Conselho ter mandado alguém para tomar alguma decisão. Qualquer criatura sobrenatural que souber desses crimes, sabe que não foi nenhum animal quem fez isso. São vampiros rebeldes. Eu perguntei a alguns funcionários da prefeitura e eles disseram que isso nunca havia acontecido antes.

– Estava pensando a mesma coisa. – Falou Dylan, desconfiado. – Isso está muito estranho. Mas...

A expressão em seu rosto mudou de desconfiança para medo. Alex notou no mesmo momento e perguntou:

– O que é, Dylan? – Alex estava preocupado. Seus ombros estavam tensos, como se esperasse uma notícia ruim que Dylan tinha esquecido de dar.

– Alex, você acha que devemos sair daqui já que o Fênix sabe onde nós estamos? – Poderia ser uma tentativa em vão, mas Dylan queria colocar Alex em segurança acima de tudo. Não suportaria perder o amigo também. – Quero dizer, nós podemos estar sempre mudando para que seja mais difícil de ele nos rastrear...

– Dylan, não acho que devemos nos preocupar com isso – Alex falou. A expressão de calma votando para seu rosto, tranquilizando Dylan. Dylan confiava em Alex cegamente, mais do que em si mesmo em alguns casos. Sabia que o amigo faria a coisa certa quanto a protegê-los de qualquer ameaça da forma mais lógica possível. – Ele saberia onde nos encontrar mesmo que fossemos morar em cavernas ou no deserto. Se ele realmente não quisesse que nós viéssemos para cá, não teria deixado a gente entrar no avião que nos trouxe. Posso até arriscar um palpite dizendo que ele tem planos para nós aqui... para você, talvez, mas como nós estamos juntos nessa, imagino que o que acontecer com você também irá acontecer comigo.

Dylan ficou feliz em ouvir aquilo. Ele sabia que Alex estaria do seu lado, independentemente da situação, mas ouvir aquelas palavras vindas diretamente do amigo tornava tudo mais real. Ele só não gostou da última parte, mas mesmo querendo manter o amigo longe de problemas, Dylan também sabia que Alex estaria com ele até o fim de tudo. Mesmo que esse fim só trouxesse morte e sofrimento. Ele afastou aqueles pensamentos da cabeça. Não podia ficar pensando sobre aquilo sempre, mesmo que não conseguisse evitar. Acabaria enlouquecendo e tinha que se manter firme até que tudo acabasse.

– Dylan, eu matriculei a gente em um colégio daqui, o mesmo que a tal Nôah está matriculada, na verdade – Alex falou, parecendo resignado. – Eu sei que a nossa prioridade é sobreviver e achar seu pai... hmm, não necessariamente nessa ordem... O que eu quero dizer é que precisamos terminar nosso último semestre, de qualquer forma.

Dylan deu um sorriso. Em meio a tanta coisa, ainda havia pessoas normais tendo vidas normais no mundo. Sem se preocupar com destinos incertos e um louco com asas ameaçando acabar com a felicidade de qualquer um que atrapalhe seus planos. Era ironia demais.

– Também está pensando o mesmo que eu? – Perguntou Alex.

– Que é muita ironia tentar ser normal em meio a tanta coisa ruim acontecendo? – Completou Dylan. Os dois começaram a rir, mas não achavam graça realmente naquilo. – Mórbido demais, Alex.

– Concordo – falou. – E eu já sei o que vai ser bom para a gente descontrair um pouco.

– Descontrair? – Perguntou Dylan. – Não estávamos falando sobre foco na missão agora mesmo?

– Não somos robôs, Dylan – respondeu Alex. – Precisamos nos divertir um pouco. Já ouviu falar sobre “aproveitar a vida ao máximo”?

– Hippie demais! – Desdenhou Dylan, mas riu do próprio comentário. – Vai, fala aí. O que vai ser nossa descontração?

– Um luau – falou Alex, parecendo animado. – Quando fechei nossa matricula, recebi um e-mail na mesma hora de algo sobre uma comemoração do último semestre antes da faculdade... E, bem, confirmei nossa presença. – Alex pareceu perceber o desanimo de Dylan, mas continuou mesmo assim. – Enfim, vai acontecer amanhã à noite para a nossa turma em uma praia aqui perto.

– E você vai? – Perguntou Dylan.

Nós vamos, nem que eu tenha que te amarrar – Ele respondeu, olhando para Dylan e desafiando-o a discordar. Ele não o fez.

– Tudo bem, Alex – falou, desanimado. – Eu vou ao luau com você.

– Isso que eu queria ouvir – respondeu Alex, levantando-se da cadeira. – Bem, se você ao menos tivesse conseguido o telefone da garota que encontrou mais cedo, teria alguém para levar, não é mesmo?

Dylan ficou sem fala. Por que Alex brincaria com uma coisa daquelas?

– O quê? – Perguntou, fingindo não ter entendido.

– Você me ouviu, Dylan – o amigo respondeu, indo até a geladeira e pegando mais água. – Quer água?

– Não, obrigado. – Respondeu Dylan virando o corpo na cadeira e olhando para Alex. – O que você quer dizer, Alex?

– Quero dizer que eu não sou tão burro quanto pareço, Dylan. Vi algo diferente em seus olhos quando você falou dessa garota. – Ele respondeu, como se fosse óbvio.

– Viu o que? Foi na parte branca, preta ou azul? – Dylan notou o sarcasmo na própria voz, mas não se importou. Não entendia como Alex percebeu o quanto aquela garota mexera com ele e queria desviar o assunto de alguma forma.

– Dylan, você não me engana, conheço você há dezenove anos – Alex disse, fazendo uma pausa e esvaziando o copo d’água. – Percebi certo esforço na sua voz quando você falou dela, como se quisesse esconder alguma coisa. E seus olhos ficaram... não sei... de um jeito estranho. – O amigo olhou para Dylan, que havia levantado uma sobrancelha tentando saber onde ele chegaria com aquele papo e pigarreou uma vez, um pouco constrangido. – Tudo bem! – Rendeu-se Alex. – Eu não sou um expert nesse assunto. Mas preciso conversar com você a respeito de alguém como você querer conhecer uma vampira?

– Não, papai – respondeu Dylan, se levantando e colocando a cadeira no lugar. – E eu não disse que quero conhecer nenhuma vampira.

– Não precisou, não é mesmo? – Alex falou aquilo em tom de brincadeira, mas logo sua expressão tornou-se séria. Estou falando sério, Dylan – interveio Alex antes que ele pudesse reagir com mais algum comentário. – Entendo que a gente não escolhe...

– Estou bem, Alex – Dylan disse, interrompendo-o. – Também entendo. Quero dizer, estou aqui com um único objetivo em mente... Isso não vai acontecer. Confie em mim.

– Está bem. Mas se precisar conversar sobre qualquer coisa, pode falar... Você sabe disso.

– Sei sim, Alex. E obrigado. Agora eu vejo que não fiz má coisa em trazê-lo.

– Eu sei, – respondeu Alex. – Você estaria perdido aqui sem mim, blá, blá, blá...

– Não abuse – brincou Dylan. – Estou indo tomar um banho, mas qualquer coisa vou estar no meu quarto. Quero ler um pouco dos livros do papai.

– Vai lá. Vou analisar essas mortes mais uma vez... Tenho certeza que estou deixando alguma coisa passar.

Dylan assentiu e foi para o quarto. Ele duvidava que qualquer um daqueles livros fossem capaz de ajudá-los nas buscas, mas não podia parar de lê-los. Eram histórias ficcionais mais estranhas que o normal, – se é que tinha alguma coisa normal em ficção. Havia muito assunto diferente, muitas histórias que ligavam os lobos desde sua origem até seus inimigos, batalhas sangrentas por poder, espécies de criaturas sobrenaturais que Dylan nunca havia ouvido falar como os Acânos e Apílas.

Ele foi tomar um banho, pensando em como havia deixado passar aquela mancha de sangue em seu corpo. Ele sabia o que sangue de vampiro podia causar a um homem-lobo, mas não estava muito preocupado com aquilo por mais incrível que pudesse parecer. E naquele momento, Dylan se lembrou de uma história que seu pai havia contado uma vez sobre a origem dos homens-lobo e vampiros e como as duas espécies haviam se tornado inimigas.

– O sangue dos vampiros é a chave para selar a nossa transformação como vocês bem sabem, mas é necessário todo um ritual para isso acontecer. – Sam dizia, há quase um ano atrás, algum tempo depois de Dylan descobrir sobre o mundo sobrenatural que o cercava. – Agindo sozinho no nosso organismo, o sangue deles é um veneno. Corrói cada hemácia da nossa constituição sanguínea, matando-nos lentamente e, algumas vezes, sem que percebamos; quando notamos nosso erro, é tarde demais para voltar atrás. E fiquem avisados, principalmente os mais jovens, em um combate contra vampiros, nunca deixe a guarda de vocês baixa. A mordida deles é fatal para nós. Mata instantaneamente. Os filhos do Sol e da Lua nunca viveram em paz.

– Mas se nós, supostamente, somos filhos da Lua e os vampiros, do Sol, e, considerando que algumas histórias contam que eles eram amantes, por que somos inimigos? – Alex sempre fazia as perguntas mais difíceis de serem respondidas. Sempre fora o lobo mais centrado em qualquer tarefa que colocavam na sua frente.

– É uma ótima pergunta, Alex – elogiou Sam. – O Sol e a Lua, na nossa crença, eram sim, amantes. Mas como sabemos, eles não conseguiam se encontrar muito, não é mesmo?

– Eclipses – afirmou Alex. – No mínimo dois ao ano e no máximo, sete. Dois lunares e cinco solares ou três lunares e quatro solares. Se a história fosse mesmo real, o Sol e a Lua se encontravam no máximo sete dias em todo o ano.

– Exatamente, – confirmou Sam –, os eclipses eram as únicas vezes em que a Lua e o Sol se encontravam. E nesse meio tempo, eis que surge um homem que é transformado em lobo por uma bruxa, por ter matado sua família. Como vingança ela o amaldiçoou. O lobo ficou tão triste por viver sozinho que começou a caminhar em busca de companhia até que chegou no deserto onde não havia nada e nem ninguém. Ali, ele uivou para a Lua, chorando, arrependido pelo que havia feito. A Lua nunca vivia sozinha, é claro, havia muitas constelações ao seu redor, dando beleza ao céu à noite e não deixando que ela ficasse tão solitária na ausência do Sol.

“E, como se o destino quisesse rir das circunstancias perfeitas em que o mundo se encontrava, a Lua notou toda a tristeza que o lobo sentia estando sozinho e se compadeceu do pobre animal. Ela fez, com sua luz, uma passarela solida até a Terra para que o lobo pudesse passar e não mais ficar sozinho. Por noites seguidas isso aconteceu, o lobo ia até a Lua e quando o Sol estava perto de nascer a leste, ele voltava pelo mesmo caminho. O lobo contou à Lua sua história, que não queria ter matado aquelas pessoas, mas que não tinha tido escolha, fora pago para fazê-lo e estava desesperado por dinheiro, mas a bruxa ficou enfurecida e fez com que ele fosse um lobo tão solitário quanto ela seria dali por diante.

“Eles se apaixonaram perdidamente. A Lua tinha em mente o quanto o Sol podia ser perigoso quando enfrentado, mas não conseguia se controlar quando estava perto do seu amante solitário. O lobo, da mesma forma, cedeu ao amor que sentia pela Lua, não sentindo-se mais tão sozinho, e, agora, feliz.

“A partir daquele momento, o lobo começou a notar que algo diferente acontecia com a Lua. Ela estava crescendo, ficando cada vez maior. Por nove noites e oito dias a Lua cresceu, percebendo que uma vida estava crescendo dentro de si e seu marido, o Sol, vinha visitá-la naquela noite. O lobo não quis se afastar de sua amada, sendo que o Sol colocaria toda a culpa nela, descontando sua raiva na prole que ia nascer. Perto de o Sol chegar, a Lua pediu para o lobo se esconder até que seu marido tivesse ido embora, ela temia pela vida dele, mas ele não quis.

“O Sol chegou naquela noite para começar o espetáculo do eclipse. Imponente e perigoso. Quando ele notou que a Lua estava diferente... grávida, por assim dizer, soube na mesma hora de sua traição. Tinha muito tempo que eles não se encontravam, portanto, a prole não podia ser dele.

“O lobo apareceu e o sol ficou furioso. A Lua estava quase pronta para que seu filho nascesse, mas não podia deixar que isso acontecesse enquanto o Sol estivesse ali. Tinha que proteger o lobo e seu filho. O Sol começou a se preparar para destruir aqueles que o traíram, mas a Lua, mais rápida, e, por estar à noite, pouco mais poderosa, fez a passarela para que o lobo fugisse para a Terra, lugar onde o Sol não tinha nenhum poder à noite. O lobo, vendo que não tinha escolha, correu por sua vida em direção ao local seguro se arrependendo de cada passo que dava para longe de sua amada. Mesmo o Sol não estando com tanto poder, a tempestade solar se formou, abrindo grandes crateras na passarela onde o lobo passava, e, quando este já estava na metade do caminho, o Sol conseguiu acertá-lo, matando-o imediatamente.

“Aquela foi a noite mais escura que já se teve registro em toda a história da humanidade. A Lua ficou tão triste pela morte do lobo, que apagou seu brilho por completo, cegando por um momento todos que estivessem na Terra, – segundo a lenda, é por esse motivo que os eclipses são tão escuros, a Lua se lembra daquele dia terrível em que perdeu seu amante. Ela se preparou para o golpe, sabia que o Sol ainda tinha certo tempo no céu naquela noite e ele o usaria para se vingar, mas se assustou quando o Sol soltou uma ‘gargalhada’ maligna. O Sol lançou uma maldição ao filho da Lua: qualquer de seus filhos seria trancafiado na forma de lobo para sempre pelo poder contido no sangue dos filhos do Sol. Tal lobo seria mais solitário do qualquer outro. Nunca conseguiria achar um bando.

“Depois que o Sol se foi, a Lua deixou que seu filho nascesse. Ela se assustou quando percebeu que ele era humano, como devia ser o pai antes da maldição da bruxa. A decisão mais difícil veio quando ela notou que seria perigoso criar seu filho ali, onde o Sol voltaria algum dia e talvez se vingaria ele mesmo mais uma vez. Então ela fez um esforço para que a criança fosse levada à Terra, para uma mulher bondosa que cuidasse de seu filho.

“Quando o filho da Lua veio a completar dezessete anos, ele teve o primeiro contato com o mundo sobrenatural. Sem ainda saber que podia assumir a forma de lobo, dada a herança deixada pelo pai morto há muito tempo, uma criatura estranha veio lhe visitar. O nome da criatura era Apíla. Ele falou da maldição que o Sol havia lançado em todos da sua espécie, que ele teria que ter cuidado com seus filhos dali para frente. O Apíla explicou a ele toda a sua história e que ele teria três grandes responsabilidades no mundo sobrenatural. A primeira: o lobo deveria dar continuidade à sua espécie. Fazer um grande bando e ensinar aos mais novos todas as regras do mundo sobrenatural. A segunda: o lobo tinha o dever de proteger os humanos dos filhos do Sol, que eram conhecidos por vampiros naquele mundo. Eles não eram tão maus, mas ás vezes passavam dos limites. A terceira: ele, unicamente, seria abençoado com o poder da morte. Com o tempo, ele entenderia o que aquele poder significava e como controlá-lo. Raramente, descendentes daquele lobo teriam aquele poder, mas o legado da morte permaneceria em algumas gerações. Mas uma prole só herdaria aquele poder quando tempos difíceis estivessem à espreita.”

Dylan se lembrava de cada palavra que seu pai havia dito enquanto contava a história. Especialmente ele, ficou fascinado em saber que haviam lendas especificas de onde vinha seu poder. Até que se lembrou de ter achado um livro contendo aquela história e se perguntou se seu pai memorizara cada uma delas, como um dever de manter a tradição sobre o bando sempre intacta. Mas se Dylan não conseguia tirar aquela vampira da cabeça, não queria dizer que ele estaria quebrando a tradição do bando? Vampiros e homens-lobo não conviviam em paz, não é mesmo? Estaria Dylan... Não! Gritou ele dentro de sua cabeça. Não podia se permitir pensar sobre aquelas coisas. Não quando seu pai estava em perigo...

Dylan resolveu tentar deixar de entender por um momento. Preferiu tomar um banho e esquecer tudo.

O garoto ficou lendo quase a noite toda, mas o sono não demorou a vir. Não notou o quanto estava cansado pela luta contra as vampiras. Mas os sonhos não o deixaram em paz nem naquela noite que parecia tranquila.

*

Dylan sonhou de um modo estranho daquela vez.

Ele era um espectador do seu próprio sonho. Via tudo o que acontecia dentro dele mesmo, mas não conseguia controlar seus movimentos e nem se lembrar como tudo aquilo começou.

No sonho, Dylan estava na cozinha de uma casa que não conhecia. Ao longe, ele conseguia ouvir o barulho do mar e o cheiro da água salgada, mas estava mais distante que o normal. Ele vestia roupas brancas e segurava um jaleco também branco e uma pasta nas mãos. Sentia-se estranhamente feliz naquele momento, como se não tivesse preocupações maiores do que o trabalho. Ele olhou pela janela, vendo que o sol tinha nascido há poucas horas e depois conferiu o relógio; marcavam 7:00 horas da manhã.

– Vamos crianças! O café está pronto! – Gritou uma voz feminina em algum lugar da casa. Dylan conhecia aquela voz tão bem que ficou surpreso quando a mulher apareceu na porta da cozinha, sorrindo lindamente, como se fosse a pessoa mais feliz do mundo. Involuntariamente, Dylan retribuiu aquele sorriso.

Ela era linda. Cabelos castanhos e olhos cinza tempestade. Tinha lá seus trinta e cinco anos, mas ainda assim não parecia ter mais que vinte. Ela tentava disfarçar algumas pequenas linhas de expressão que começaram a aparecer nos cantos dos olhos com maquiagem. Sempre dizia que não queria envelhecer, mas Dylan lhe garantia que ela sempre seria a mesma para ele. Linda como sempre fora. Aquelas pequenas rugas indicavam que ela sorria muito e Dylan estava feliz por isso. Ele sentia-se com sorte por ter conseguido encontrá-la, sua incontestável alma-gêmea.

– Bom dia, querida – cumprimentou Dylan.

– Bom dia, amor – ela disse, ainda sorrindo. Ela veio até Dylan e lhe deu um beijo apaixonado, fazendo com que um calor agradável se espalhasse por todo seu corpo como sempre acontecia.

Momentos depois, duas crianças irromperam pela porta da cozinha correndo em direção aos pais, sorrindo e apostando quem chegava primeiro. Chegaram juntas e abraçaram os pais e Dylan pegou as duas no colo e, depois de enchê-las de beijos, colocou cada uma em seu lugar na mesa de café da manhã.

Era um garoto e uma garota. O garoto tinha os olhos da mãe e os cabelos de Dylan, oito anos de idade e era charmoso como o pai. A menina, com os olhos do pai e os cabelos da mãe, tinha seis anos, mas se portava com a imponência da mãe. Um calor ardia em seu peito e Dylan entendeu que os amava; todos eles. Ele foi se sentar em seu lugar com sua mulher ao seu lado.

O Dylan que observava o sonho dentro dele mesmo, começava a perceber o que estava acontecendo. Ele não era uma criatura sobrenatural ali; era apenas humano. Todos eles. Só humanos, com problemas humanos para resolver, vivendo felizes... A mulher ao seu lado era... Era a garota que ele encontrara na clareira... O que ela fazia ali? E, mais importante, o que ela fazia em seu sonho como sua esposa?

Os sons à sua volta tornaram-se confusos, como se fossem ditos de muito longe, mas que ainda assim reverberassem nas paredes à sua volta. Seu corpo respondia aos sons, como se conseguisse ouvi-los perfeitamente... seu eu do sonho sorria e falava, respondendo aos outros... A imagem ficou borrada e Dylan se viu tirado daquele sonho. Um verdadeiro sonho para ele.

*

Ele acordou, assustado, no meio da noite. A luz da lua entrava por sua janela aberta. Apesar de não estar sentindo calor, Dylan estava coberto de suor frio. O sonho voltou à sua mente e, mais uma vez, naquele dia, ele se sentiu triste.

E, pela primeira vez em toda a sua vida, Dylan sentiu uma vontade insana de ser humano. Com aquele pensamento, ele voltou a dormir, tentando não pensar em nada para não sonhar com nada.


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Notas finais do capítulo

Eu nem sei quem ainda acompanha meu livro, mas muito obrigado a vocês... Espero que gostem muito mesmo... Resolvi fazer uma trilha sonora para o livro e vocês vão poder conferi-la ao final de cada capítulo aqui mesmo... São músicas que me inspiraram a escrever o capítulo e tal...
1 - Daniel In The Den - Bastille (https://www.youtube.com/watch?v=yC_T-KdWCiI)
2 - Things We Lost In The Fire - Bastille (https://www.youtube.com/watch?v=MGR4U7W1dZU)



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