À Primeira Vista escrita por Sr Castiel


Capítulo 6
Capítulo V - Dylan - Despedido À Primeira Vista




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Capítulo V

Dylan

/Despedido À Primeira Vista/

“... E, quando começou a escurecer, você apontou para o céu e me contou que havia uma estrela para cada coisa que você amava em mim.”

Lauren Oliver – Réquiem p.27

San Diego, Califórnia

Um dia depois

“BEM, É TUDO CULPA SUA.” DYLAN SE LEMBROU. “CULPA DAS ESCOLHAS que você fará em um futuro próximo.” Aquelas palavras vieram à sua mente de súbito. Era como se estivessem ali há um tempo, mas fossem totalmente desconexas. As palavras não vinham com a entonação da voz ou o rosto de quem as tinha dito.

Dylan havia saído de Londres com Alex no dia previsto. Encontraram uma casa perto da praia e se instalaram rapidamente. Eles haviam levado apenas as roupas e pouca coisa pessoal, pois não sabiam por quanto tempo ficariam. Ele gostou do clima da cidade, que era um pouco mais quente que Londres sobretudo no verão e tinha o som das ondas e o cheiro de água salgada sempre no ar... Não seria tão difícil para se acostumarem. Pelo menos não para ele.

No dia em que chegou, ficou em casa o dia todo tentando descobrir uma forma de encontrar Narscisa e Nôah. Alex tinha proposto algumas ideias, mas ainda assim seria difícil saber onde elas moravam.

– Eu poderia tentar entrar nos registros do computador central da cidade, talvez – sugeriu Alex.

– Esse não é o grande problema, Alex – insistiu Dylan, desanimado. – Como vamos fazer quando chegarmos até elas? – Perguntou. Dylan estava pensando como seria quando Narscisa soubesse que eles eram lobos. E o que tinha a ver o sequestro de Sam com as duas vampiras? – Elas são vampiras, cara. Somos inimigos naturais delas...

– Dylan, isso não pode impedir a gente. – Alex também parecia desanimado, mas conseguia disfarçar melhor que Dylan. Sua expressão era mais desapontamento do que frustração.

Dylan ficou imaginando o que Alex pudesse estar pensando. Se quais seriam as dificuldades que teriam e se não estava com medo de não sair vivo no fim das contas.

– Dylan? – Chamou Alex.

– Sim?

– E então? – Perguntou. – O que você acha?

Dylan piscou algumas vezes tentando se lembrar do que o amigo havia dito, mas não conseguiu.

– Desculpe, eu... Eu não ouvi – disse. – Repete, por favor.

– Deixa pra lá! – Ele disse. – Quer comer alguma coisa? Estou indo para a cozinha.

– Não, obrigado.

Dylan estava distraído. Não podia se dar ao luxo de continuar assim. Tinha que se focar no caminho à sua frente; se dispor de metas a seguir; achar seu pai o mais rápido possível.

O garoto ficou o dia todo tentando montar ideias que o ajudassem a falar com as vampiras. Eles não se conheciam e Dylan nunca havia conversado com uma vampira antes. Por que seu pai esconderia que tinha amizade com vampiras? Bem, não faria sentido ele levantar aquele tipo de assunto sem mais nem menos. Outras criaturas, em particular os vampiros, nunca foram assunto de conversa enquanto jantavam; eram sempre discutidos nas reuniões do bando.

Ele foi para o quarto, do qual ainda não havia se acostumado. Não era familiar igual ao que deixara em Londres e não parecia pertencer a ele sendo que não havia nada do que ele gostava ali. Era só a cama, grande como ele gostava; uma estante, agora com os livros do pai; e as portas para o closet e para o banheiro.

Pela janela do quarto, Dylan viu o sol se pondo ao longe no mar. Era uma visão linda que ele não a presenciava há muito tempo. Ele ficou debruçado na janela observando, enquanto o mar engolia o sol completamente lançando um matiz de cores que dançava na água. E ficou pensando como algo tão gigantesco e destrutivo podia ser ao mesmo tempo, belo e gracioso. O mar escondia perigos que ele nem sequer imaginava – ninguém imaginava, na verdade.

Uma lembrança escapou e tomou sua visão antes que ele pudesse impedir.

Era seu aniversário de quinze anos. Estava com seu pai em uma praia no Hawaii. Era a primeira vez ia aos Estados Unidos e nunca havia isto uma praia tão linda como aquela. O sol batia em sua pele, esquentando-a completamente.

– Dylan, você sabe o que o seu nome significa? – Perguntou seu pai.

Eles estavam em silêncio, apenas aproveitando o sol quente e o cheiro de sal e umidade que vinha do mar no ar. Dylan não havia entendido aquela pergunta na época, então limitou-se a balançar a cabeça negativamente.

– Bem, eu já disse que foi sua mãe quem o escolheu – falou. – Ela disse que em uma língua muito antiga que só as bruxas conheciam, Dylan significa aquele que vem do mar.

O garoto não disse nada e Sam esperou um pouco para continuar o raciocínio.

– Quando eu perguntei a ela o que queria dizer com aquilo, ela simplesmente disse que você seria alguém que o mar aceitaria de bom grado. – Sam estava com os olhos cobertos pelo óculos de sol, então Dylan não conseguiu saber o que o pai pensava naquele momento avaliando sua expressão. – Que viria uma época em que o controle do mar se tornaria fácil para você.

Dylan recuou para o presente. Aquela lembrança assaltou sua mente de repente, deixando-o um pouco atordoado. O garoto sempre tivera um certo apreço pelo mar e suas criaturas, mas não entendia quão profundo o significado daquelas palavras poderia ter. Na época, Dylan resolveu que não se preocuparia com tal coisa, e seu pai não voltou a tocar no assunto, então deixou tudo passar.

Dylan sorriu involuntariamente à outra lembrança que lhe veio à mente.

Estava um pouco mais velho. Era sua primeira missão para o bando e sairia com Alex e Will para uma vigia de rotina. Ele se lembrava de, antes de se transformar, uma pergunta saltar de sua boca sem que pudesse controlá-la.

– Quantas vezes você já ficou frente a frente com a morte, Will? – Dylan não sabia como aquela pergunta surgiu tão de repente em sua mente, escapando de seus lábios. Eles ainda não haviam se transformado, estavam aguardando os poucos minutos que ainda faltavam para a meia noite. Era mais fácil passar pelas ruas sem serem percebidos quando não havia tantas pessoas passando. Depois de alguns minutos, antes que Will tivesse respondido, Dylan percebeu que não se arrependia de fazer a pergunta. Era um risco enorme ser um lobo e ele tinha a responsabilidade de proteger pessoas dos perigos sobrenaturais agora, tinha que saber das estatísticas.

– Dizem que quando você está perto da morte, garoto, – respondeu ele, com um leve sorriso nos lábios, os olhos brilhando, como se se lembrasse das muitas vezes em que ficou entre a vida e a morte, – você vê sua vida inteira passar na sua frente como em um filme. Não sei se isso é verdade, mas prefiro acreditar que seja. – Ele parou de falar um momento, fechando os olhos e o sorriso ficando mais pronunciado no rosto até que se transformasse em uma gargalhada contida. Depois continuou: – Eu nunca vi minha vida passar na minha frente como num filme. Mas foram muitas vezes, se é o que quer saber. Nunca parei para contar quantas, é claro. Quando você se transforma pela primeira vez, não tem mais escolha ou qualquer tipo de controle pelo seu destino. Talvez humanos consigam mudar o rumo de suas vidas fazendo escolhas certas ou erradas, mas nós não. Temos o intuito de salvar inocentes e esse sempre será o que se espera de nós. É como se assinássemos, involuntariamente, um contrato com nosso sangue e o papel deste acordo fosse nossa pele depois da transformação. Não existe muitos de nós por aí e eu acredito que somos escolhidos a dedo pelo destino para fazermos o que sabemos que deve ser feito.

Dylan não esperava aquele discurso, – na verdade, nunca esperou um discurso vindo de Will. Ele sempre fora um homem de poucas palavras, mas quando se tratava de ensinar ele era bom em fazê-lo.

Ficou impressionado quando se deu conta do porquê daquela memória vir à tona exatamente naquele dia. Era o dia que começara com as buscas, mesmo que não oficialmente.

“Bem, é tudo culpa sua.” Veio mais uma vez aquela sentença à sua cabeça. “Culpa das escolhas que você fará em um futuro próximo.” Ele não se lembrava de onde a ouvira. Um sonho, talvez? Mas tinha certeza que era importante ao ponto de ser comparada com uma ameaça de morte. E, depois, mais uma, que martelou em seu cérebro como se quisesse se fixar ali como num quadro de avisos. “Você vê sua vida inteira passar na sua frente como em um filme.” O que poderia significar aquela enxurrada de lembranças que Dylan estava tendo logo depois de ter decidido ir à San Diego atrás de respostas que o levariam ao pai?

– Dylan? – Alex estava à porta do seu quarto, uma expressão confusa no rosto. O garoto mal se dera conta que o sol já tinha se posto completamente e ele esperava que a lua aparecesse, mas nada de acontecer. A noite estava escura e as ruas do lado de fora da casa pareciam mais desertas do que deveriam.

Dylan se virou, encarando Alex, tentando saber o que estava preocupando o amigo naquele momento.

– Você está bem? – Perguntou Alex, antes que pudesse fazê-lo.

– Sim, talvez só um pouco cansado da viagem e da mudança de fuso-horário. – Respondeu, sentindo, pela primeira vez, vontade de ir para a cama e dormir com a certeza que o cansaço que sentia não deixaria os pesadelos aparecerem. – E você? – Perguntou, com esperança que o amigo dissesse o que estaria pensando. Mas surpreendeu-se quando sua expressão se suavizou ao ouvir Dylan dizer que estava bem. Aparentemente Alex só estava preocupado com ele, afinal, como sempre acontecia.

– Estou sim – respondeu, entrando no quarto e sentando-se na cama. – Você parece mesmo cansado – ele disse, estreitando os olhos mais uma vez, os vincos na testa se aprofundando. – Quer que eu prepare alguma coisa que o ajude a dormir?

– Não, obrigado – disse, e estava sendo sincero. Sentia-se grato por ter alguém que se preocupasse com ele. – Estou sentindo como se estivesse acordado por três dias inteiros, sem parar um minuto para descansar. Acho que serei capaz de dormir pelo menos uma noite como estava acostumado a fazer antes de o meu... – Dylan hesitou, mas logo completou a frase com um sorriso fraco: – Bem, depois que tudo aconteceu.

Alex assentiu. Ele não pareceu convencido, mas não insistiu no assunto. O amigo não entendia pelo que Dylan estava passando, mas tentava da melhor forma possível, o eu já era mais do que Dylan podia pedir.

– Eu vou sair – declarou Alex, se levantando e indo em direção à porta. – Correr um pouco, ir à praia, dar uma olhada ao redor. Tem certeza que quer ficar aí?

– Tenho sim, Alex. Obrigado. – Ele respondeu, sentindo a culpa fazendo com que ficasse envergonhado. Dylan entendia que Alex só estava querendo ajudá-lo, e sentia-se realmente grato por isso, mas ainda assim estava completamente cansado. Queria apenas descansar e encarar o que viesse pela frente em seguida. – Vou tomar um banho frio e depois ir para a cama.

– Tudo bem, – disse o amigo. – Vou levar o celular. Pode me ligar se precisar de qualquer coisa.

– Obrigado, Alex. – Dylan disse, assentindo uma vez. O amigo já ia saindo do quarto quando Dylan o chamou de novo. – Eu estou mesmo bem, Alex, de verdade.

O amigo assentiu e saiu. Dylan ouviu o clique suave da porta de entrada da casa sendo fechada e as chaves girando na fechadura enquanto Alex a trancava.

Ele sabia que não havia mentido para o amigo. Alex conhecia a história. O garoto só se sentia exaurido das forças que julgava ter pouco mais de uma semana atrás, fora isso, senti-se bem. Bem até onde se podia suportar. Bem até no limite do possível. Bem até onde alguém que havia perdido o pai e estava caminhando para algo desconhecido e com obstáculos incertos podia estar.

E, naquele momento, Dylan percebeu que só não queria preocupar o amigo. Desde que seu pai se fora, algo dentro dele havia se estilhaçado. Como uma cúpula cristalina de proteção que sempre carregara, mas nunca soube que estava ali. E, depois de se quebrar, revelava um relógio que fazia um tique-taque infernal o tempo todo dentro de sua cabeça, como se quisesse lembrá-lo que ele estava sozinho. Mais sozinho do que poderia imaginar. Que não poderia pedir ajuda, mesmo que a conseguisse por certo tempo. O que aconteceria com ele no final, seria pior do que...

Dylan se levantou. Não quis completar aquele pensamento. Tudo aquilo estava ficando mórbido demais. Ele esvaziou a mente de tudo e foi para o banheiro. Não queria ficar acordado por muito mais tempo. Precisava apenas de um bom descanso.

*

Ele não podia estar mais enganado, pois o sonho veio diferente dessa vez.

Dylan estava na forma de lobo e corria muito. Ele conseguia ver o que estava à sua volta só quando se concentrava. Sua velocidade atingia níveis impossíveis.

Ele não sabia para onde corria e nem por quê. Apenas continuava como se fugisse de algo que quisesse roubar-lhe a alma do corpo. O medo o assolava por dentro, tão intenso que parecia querer devorar cada um de seus órgãos.

O garoto teve medo de começar a se desintegrar, tal era a velocidade que corria. Duvidava que qualquer humano pudesse vê-lo correndo na forma de lobo. Não ficou preocupado com qualquer obstáculo que pudesse não conseguir se desviar; tinha certeza que transpassaria qualquer coisa à sua frente.

Dylan, de repente, estacou. Estava em um campo aberto de terra, poucas pessoas estavam à vista, mas ele não se preocupou com isso. Seus instintos gritavam em seus ouvidos que deveria continuar correndo, mas ele não conseguiu. Algo chamou sua atenção, impedindo que conseguisse dar qualquer ordem aos membros para continuar fugindo.

A alguns quilômetros à frente uma espécie de barreira transparente se erguia desde o chão e ganhava altura numa velocidade espantosa. Dylan tinha certeza que não conseguiria atravessá-la. Era diferente, emanava uma energia diferente.

Talvez ele conseguisse passar pela barreira na forma humana. O pensamento veio tão rápido que ele se assustou por não esquecê-lo.

Ele se concentrou, tentando mudar de forma; buscando dentro de si, seu lado humano. Mas alguma coisa estava errada. Não tinha nada. Dylan não conseguia voltar à forma humana. Era como se sua humanidade tivesse sido apagada de dentro dele. Sem deixar qualquer vestígio. Sentia sua mente se cansando; ele arfava pelo esforço.

Olhando de um lado a outro, Dylan percebeu que não se lembrava do que havia acontecido antes. Por que ele estava correndo? Mais importante: de quem? Onde estava minutos antes de começar a correr? Onde vivera sua vida toda? Conhecia alguém?

Tudo o que conseguia se lembrar era...

*

A luz do sol atravessava a janela do seu quarto, iluminando todo o cômodo e ferindo os olhos de Dylan.

O garoto passou a mão no rosto para espantar o sono. Apesar de ter sonhado, – e se lembrar de tudo –, o garoto sentia descansado. Sentia os ombros mais relaxados que o normal; não tinha mais a tensão nos braços e pernas. Até respirava melhor, percebeu.

Ele saiu da cama e foi para o banheiro. Depois de tomar um banho, conferiu o celular e viu que já havia passado do meio dia. Dylan saiu do quarto, já vestido, e foi procurar Alex.

– Alex? – Chamou.

– Cozinha – gritou o amigo.

Dylan percorreu o corredor e chegou à cozinha.

Alex estava atrás do balcão de mármore, fazendo, pelo que parecia, o almoço. Tinha vegetais espalhados e alguns dentro de vasilhas; havia panelas soltando vapor em cima do fogão; a porta da geladeira aberta e tinha coisas caídas no chão.

– Não estava esperando o café na cama, estava? – Perguntou Alex.

– Claro que não, eu...

– Muito bem – interrompeu ele. – Vejo que você está mais disposto do que ontem. Feche a porta da geladeira, por favor. Pegue aqueles vegetais, pique eles e coloque dentro da outra vasilha, junto com os outros. Ah!, e lave as mãos antes de tudo.

Dylan levantou uma sobrancelha e deu um sorriso. Caminhou até onde Alex estava e foi para a pia lavar as mãos, como ele havia pedido.

– Acordou animado hoje, foi? – Perguntou Dylan, enquanto pegava uma faca numa gaveta.

– Não – respondeu Alex sem tirar os olhos do que estava fazendo. – Acordei como em qualquer outro dia.

– Bem, de qualquer forma, não dispensaria o café na cama. – Falou Dylan, brincando.

– No catálogo em cima da mesa tem os números de pessoas que fazem isso – disse Alex, com sarcasmo. – Se contratar alguém para cuidar da cozinha e ainda te levar o café na cama, não me importo.

Os dois começaram a rir e Dylan jogou um pedaço de tomate em Alex, mas o amigo não revidou.

– Sem guerra de comida, Dylan. – Alex disse, mas não serio o suficiente para convencer Dylan que não havia gostado.

– Tudo bem. O que temos para hoje? – Dylan perguntou.

– Eu vou à prefeitura, disfarçado de algum agente especial para tentar verificar os registros de pessoas que moram aqui nos últimos dezoito anos. – Falou Alex. – Tentei fazer isso pelo meu computador, mas pelo que parece o sistema da cidade é mais protegido do que deveria. Não é tão difícil conseguir entrar, mas demoraria um tempo que não dispomos...

– Espera – pediu, Dylan. – Você vai à prefeitura como um agente do governo? – Perguntou, sua testa se vincando. – Ficou doido, Alex? Qual a desculpa que vai usar?

– Tem ocorrido assassinatos progressivos na cidade há uns três meses. – Respondeu Alex. Seu tom era sério, não parecia a Dylan que estava brincando. – São mortes que a polícia local não consegue encontrar um culpado, nunca chegam a uma conclusão. Não vai ser difícil fazê-los acreditar que o governo quer investigar mais a fundo, não é?

– Alex, eu não acho que seja uma boa ideia. – Retrucou Dylan.

– Bem, eu não conheço nenhuma outra forma mais rápida de chegarmos às vampiras. – Ele disse. Não pareceu ofendido ou mesmo com raiva. Sabia que Dylan só estava preocupado de não dar certo. – Vai ser fácil, Dylan. Vou entrar com a desculpa de precisar verificar se existe alguma conexão entre as vítimas, depois dou outra desculpa e falo que meu superior me mandou sair do caso. Mas vou precisar que você fique com o celular. Raramente acontece, mas talvez eles queiram ligar para saber se eu estou mesmo nesse caso, então darei um número de telefone a eles. Vou te dar o chip novo antes de eu sair e algumas instruções de como falar. Não se preocupe, dará tudo certo.

– Sabe, – Dylan falou, – se eu fosse algum agente do FBI, contrataria você. Não sei como ainda não o encontraram. – Alex riu, mas não disse nada. – Quer que eu vá com você?

– Não – Alex respondeu imediatamente. – Não há necessidade. Além disso, só consegui arranjar um distintivo falso, então vai ter que ficar de fora dessa vez...

– Distintivo falso? – Perguntou Dylan, largando a faca na bancada e encarando Alex.

– Dylan, você não achou que eu ia despreparado, não é? – Alex perguntou, parecia um pouco impaciente. – Bem, eu vim com você para ajudar.

– Mas, Alex... – O garoto fechou os olhos e balançou a cabeça. – Não, não vou perguntar. Não quero saber onde você achou o tal distintivo.

– Tem certeza? – Perguntou Alex – Não tenho nenhum problema em te contar.

– Não, não precisa. Só me dê o chip e me fale exatamente o que tenho que fazer.

– Dylan, eu só quero ajudar. – Alex disse, olhando para o amigo. – Nós chegamos ontem, e talvez consigamos encontrar quem a gente procura hoje ainda...

– Alex, não estou criticando – interrompeu Dylan. – Só estou preocupado de que alguma coisa dê errado...

– Vai dar tudo certo – Alex afirmou. – Qualquer coisa, eu te ligo. Prometo.

Dylan não insistiu mais no assunto. Ele sabia que Alex estava fazendo mais por Sam do que Dylan pudesse pensar em fazer. Dylan precisava pensar em alguma coisa que fizesse alguma diferença. Não podia mais ficar descansando. Seu pai não podia esperar.

Os garotos almoçaram e, em seguida, limparam toda a bagunça que haviam feito. Alex foi se preparar para ir à prefeitura colocar seu plano em prática enquanto Dylan terminava de limpar sua parte. Quando Dylan acabou, Alex foi para a sala onde Alex estava e parou na porta com os olhos arregalados.

Alex estava usando um terno. Dylan não entendia o motivo, mas imaginou que os agente especiais do governo usavam ternos quando iam para alguma missão – talvez isso os diferenciasse dos demais policiais locais. Ele olhou para Dylan, levantando uma sobrancelha e guardando alguma coisa no bolso.

– O que? – Perguntou o amigo, revirando os olhos.

– Nada! – Dylan disse, levantando as mãos em um gesto de rendição.

– Tudo bem, – Alex começou – você precisa se manter firme quanto a convencer qualquer pessoa que ligue perguntando se estou no caso. – Ele fez uma pausa, tirou alguma coisa do bolso e jogou para Dylan, que pegou no ar rapidamente. – Coloque esse chip no seu celular e fique com ele sempre perto de você. Você não precisará falar muito, só o necessário para me dar acesso livre sem que eles fiquem desconfiados. Pense que você é meu superior.

– Entendi. – Falou Dylan. – Mais alguma coisa que eu deva saber?

– Não, – respondeu Alex enquanto ajeitava a gravata mais uma vez –, acho que é só isso.

O amigo se encaminhou para a porta e parou antes de fechá-la.

– Deseje-me sorte.

– Boa sorte, Alex. – Dylan revirou os olhos, tirando o chip de dentro do plástico e inserindo-o no celular.

E voltou para o quarto, decidido a pensar no que poderia fazer para ajudar na busca. Mas não era fácil. Ele estava completamente cego quanto a informações. Talvez ele conseguisse fazer alguma coisa quando Alex voltasse... O amigo não poderia demorar, não é mesmo?

Errado. Dylan estava completamente errado nisso.

Depois de mais de uma hora ter passado e Alex não ter dado nenhuma notícia, Dylan já havia tentado fazer de tudo, mas sempre acabava com o celular na mão, olhando a tela e esperando que este tocasse. Mas não aconteceu.

O garoto olhou para a janela e viu o quanto um pouco de sol poderia lhe fazer bem depois de ficar trancado em casa o dia todo. E decidiu ir à praia.

Em poucos minutos Dylan já estava pronto para sair, então trancou a porta atrás de si, conferiu uma última vez se o celular estava no bolso e saiu para a rua em direção à praia que já dava para ser vista a certa distância.

Dylan não sabia o que o fez escolher uma casa perto da praia. A consultora de imóveis havia lhe oferecido casas bem menores e com preços melhores, mas quando viu uma perto da praia, não pensou duas vezes. Não se arrependeu, é claro. O mar o mantinha mais calmo e o fazia pensar com mais clareza. Talvez o mar o ajudasse com as respostas que ainda não tinha.

O garoto chegou na areia da praia, sentindo-a quente mesmo sob as sandálias nos pés. O sol incidia sobre a água e a areia, mas já não tão intenso. Algumas pessoas estavam sob barracas; outras tomavam sol deitadas em cadeiras reclináveis; crianças brincavam na areia fazendo castelos ou correndo umas atrás das outras. Dylan se surpreendeu com a naturalidade daquele dia: pessoas aproveitando a vida enquanto outras tinham o pai sequestrado sem nenhuma pista de onde começar a procurar.

Ele resolveu que não iria se queixar. Só queria esvaziar a mente e tentar pensar em um bom plano.

O garoto andou um pouco procurando um lugar bom onde pudesse ficar. Escolheu um lugar mais longe das crianças, queria se concentrar apenas no barulho das ondas.

Só de estar ali, já se sentiu melhor do que estava há semanas atrás. Algumas gaivotas voavam sobre as águas e cantavam seu coro de grasnidos; as ondas não estavam muito agitadas e batiam na areia e voltavam com grande rapidez e agilidade...

– Eu sabia que você viria, sabe? – Perguntou uma voz atrás dele. Ele a reconheceu, mas não conseguiu se lembrar de onde. Tinha certeza que já a tinha ouvido em algum lugar.

Ao seu lado, labaredas azuis surgiram no ar e, de repente, sumiram, deixando, em seu lugar, um homem com grandes asas brancas. Dylan havia posto o braço sobre os olhos; um mero reflexo do corpo contra o perigo iminente que o homem trazia consigo. O garoto se levantou, estreitando os olhos, sentindo sua pulsação se acelerar consideravelmente e seus sentidos se aguçarem de imediato.

Dylan não teve coragem de falar nada. Seus instintos gritavam perigo como se dentro daquele homem estivesse uma bomba nuclear prestes a estourar.

O homem à sua frente – que Dylan podia jurar já tê-lo visto em algum lugar –, estava parado, em pé, encarando-o como se o garoto fosse uma peça de arte que talvez valesse a pena comprar. Tinha cabelos claros e olhos verdes profundos. Era tão alto quanto Dylan e tinha músculos definidos. Sua postura era como a de um rei: irreverente e confiante, como se tivesse certeza de cada passo que daria. Estava sem camisa e vestia uma calça preta e botas também pretas. As asas nas costas eram enormes e imponentes; as penas grandes eram totalmente brancas e Dylan se espantou quando percebeu o óbvio.

– Você não pode me atacar, garoto – disse o homem antes que Dylan pensasse em realmente fazê-lo. – Não seria tolo o bastante para isso.

– Não está preocupado com o que os humanos podem pensar ao ver você? – Perguntou Dylan, a raiva crescente no peito.

– Olhe ao seu redor e veja quem vai pensar o que – falou o homem, sem sair do lugar ou mexer um milímetro sequer.

Dylan olhou. Seu coração quase parou quando percebeu do que o homem falava. Tudo estava parado. Todas as pessoas que estavam no seu alcance de visão haviam parado. Todas. Sem exceção. Ele não entendia o que estava acontecendo, mas o tempo parecia ter congelado como na tela de uma televisão. Se aquele homem estava mesmo fazendo aquilo, Dylan não poderia pensar em sequer querer lutar contra ele. Um movimento em falso e ele morreria ou desapareceria sem deixar vestígios como havia acontecido com seu pai.

– O que você fez com eles? – O garoto tentou não parecer com raiva quando falou.

– Por que você se preocupa? – O homem perguntou. – Não tenho que falar o porquê de eu fazer o que faço.

– Mas...

– Eles vão voltar ao normal, se é isso que quer saber. – O homem parecia impaciente a ponto de colocar fogo em cada pessoa naquela praia só para ter algo interessante para ver.

– Quem é você? O que você quer? – As perguntas saltaram da boca de Dylan e este se arrependeu por tê-las feito. Os olhos do sujeito à sua frente pareceram faiscar com tal interrogatório.

– São muitas perguntas – ele disse. Sua voz parecia calma e suave. Calma demais e Dylan não achou que fosse um bom sinal. – Vamos fazer um acordo: você responde algumas perguntas minhas e eu respondo algumas suas, tudo bem? Então comecemos.

O homem respondeu a própria pergunta, como se não se importasse se Dylan concordaria ou não com o acordo.

Se alguma vez Dylan pensou que estar perto de vampiros fosse a coisa mais perigosa que faria na vida, estava completamente enganado. Aquele homem, apesar de não demonstrar na aparência, emanava certo respeito e medo que o deixavam inquieto. Uma aura de poder o cobria completamente, como se fosse intocável.

– Eu sou uma criatura muito confundida com os anjos do céu, mas posso afirmar que de angelical eu não tenho nada. – O homem disse, como se já tivesse respondido aquela pergunta várias vezes naquele mesmo dia. – Sou uma fênix. Quase igual às criaturas descritas nas histórias mitológicas, mas um pouco diferente.

– Eu sou... – Começou Dylan, mas o homem levantou uma mão para interrompê-lo.

– Eu sei quem você é, Dylan. – Ele disse. – Sei tudo sobre você e o seu pai...

– E eu sei que você o sequestrou. – Retrucou Dylan, o ódio corrompendo e dando plena firmeza à voz.

– Não é educado interromper as pessoas desse jeito, Dylan, e você já o fez duas vezes. – O homem disse, como se lamentasse uma morte.

– Você não negou. – Dylan não se importou com a repreensão.

– Não tenho porquê fazê-lo.

Dylan respirou fundo. Ele sentia tamanho ódio daquele homem que não se importaria em tentar matá-lo ali, mesmo sabendo que não conseguiria.

O garoto começou a tremer violentamente. O mundo pareceu girar à sua volta e ele sentiu a forma de lobo começando a transpor a barreira, como uma represa cheia de mais. Ele tentou se controlar, mas não conseguiria mais. O lobo que estava dentro dele tinha total controle de seus movimentos naquele momento.

Mas algo deu errado. Não conseguiu, no último segundo, mudar de forma. Ele sentiu-se ser erguido no ar, mas não conseguia mexer um músculo sequer. Naquele estado de plena fúria, Dylan não conseguiria parar a transformação, mas aquele homem havia conseguido.

– Lobos jovens e seus acessos de raiva – desdenhou o homem. – Você precisa se acalmar, Dylan. Não tem que se esforçar tanto, só quero conversar com você.

O garoto respirou fundo. Sentia os batimentos cardíacos mais calmos, mas a raiva ainda o tomava por dentro.

– Eu já estou bem, pode me soltar. – Pediu.

– Tudo bem – o homem respondeu.

Dylan pousou levemente na areia e conseguiu se manter de pé. Seu lobo estava pronto para irromper a qualquer momento, mas o controlou. Tinha que saber o que aquele homem queria.

– Sei que seu pai deixou instruções claras a você antes de... partir – começou a dizer, por fim. – Sei que você deve encontrar uma vampira que vai ajudá-lo de alguma forma. Estou certo?

– Sim.

– E por que ainda está aqui? – Ele perguntou, como se a resposta não fosse óbvia. – Você não sabe quais os danos que uma vampira pode causa a um homem lobo?

Dylan sentiu gosto de sangue na boca e percebeu que mordia a língua. Ele respirou fundo antes de responder:

– Preciso encontrar meu pai – disse. – Não estou pensando no que pode ou não acontecer. Senão estaria em Londres agora.

O homem começou a rir. Dylan estreitou os olhos, tentando entender o motivo.

– Do que está rindo? – A pergunta saiu entre os dentes.

Dylan tinha as mãos serradas ao lado do corpo e sua expressão era de total descrença com a cena à sua frente.

– Desculpe – pediu o homem, tentando parar de rir. – É a sua coragem que me encanta. Estou neste mundo a tempo suficiente para saber que esta é uma qualidade rara e, na minha opinião, muito tola. Pessoas se enfrentam por motivos banais. Coisas que não sejam do seu próprio interesse, sempre brigando por interesses alheios.

Ele já tinha parado de rir, mas ainda tinha lágrimas em seus olhos.

O homem pegou um celular do bolso, tocou na tela e balançou a cabeça negativamente.

– Bem, já está tarde e eu não posso ficar mais. – Ele disse, já totalmente recuperado do ataque de risos que dera há poucos minutos. – Então vou ir direto ao ponto.

– Já ia pedir que fizesse isso. – Dylan falou. Ele já estava cansado daquela conversa.

– Muito bem. Você vai ficar longe de Nôah, Dylan. Não vai encontrar Narscisa. Elas não o ajudarão do jeito que você precisa. Vai ficar longe especificamente de Nôah, entendeu. – Dylan notava a urgência na voz do homem, como se estivesse desesperado. – Seu pai está bem. Desista dessa loucura, garoto. Vá viver sua vida. A razão de eu estar aqui é para pedir para não interferir nos meus planos. Isso tudo está além da sua compreensão.

Mais labaredas azuladas. Uma luz intensa que obrigou Dylan a fechar os olhos e o homem desapareceu. Tudo ao redor tinha voltado ao normal. As pessoas continuavam a fazer o que estavam fazendo.

Dylan olhou para o sol e viu que este estava quase se pondo. Ele não queria mais aproveitar aquele dia como havia planejado. Seu celular não havia tocado, o que queria dizer que Alex não estava precisando dele.

O garoto soltou um grito de frustração. Algumas pessoas olharam para ele, mas voltaram aos afazeres em seguida. Dylan saiu correndo por onde tinha vindo. Ele sabia que Alex teria ligado se tivesse chegado em casa, então se desviou da rua que levava à casa e pegou o calçadão onde ainda tinha poucas pessoas correndo.

Ele não conhecia a cidade, mas queria apenas ir para algum lugar onde pudesse esquecer aquele episódio com o homem com asas.

Dylan não prestou atenção aonde estava indo, apenas seguiu em frente. Notou que não havia mais casas para onde estava indo e o calçadão havia acabado. Agora ele andava na rua, mas não tinhas pessoas naquela área da cidade. Alguns prédios do outro lado da rua se erguiam em estado de decadência. Dylan diminuiu a velocidade. Além dos prédios, o sol incidia em uma grade que separava a parte urbana da cidade do que parecia ser uma pequena floresta. Ele não pensou duas vezes: olhou para os lados e não viu ninguém por perto.

Dylan se concentrou, deixando a parte lobo se interpor à parte humana. Logo um lobo de um metro e meio de altura corria em direção à grade e pulou-a sem problemas.

Assim que entrou na floresta, Dylan começou a ouvir um barulho estranho, algo como uma sucção e gritos vindo de algum lugar mais à frente. Ele correu entre as árvores em direção ao som, mas não na velocidade que queria, pois estas cresciam muito juntas.

Ele não fazia barulho e ouvia os sons da floresta perfeitamente. O cheiro de sangue atingiu seu nariz antes que ele chegasse perto de onde vinha os gritos. Não era sangue fresco, mas ainda assim não tinha muitos dias.

Poucos metros de onde Dylan estava, abria-se uma clareira não muito grande. Duas mulheres pareciam estar discutindo do outro lado. Dylan não entendeu o que aconteceu, então resolveu esperar para ver o que acontecia.

Uma delas, a mais velha, ao que parecia, pegou a outra pela manga da camisa e arrastou até o meio da clareira perto de uma cratera não muito funda. Ele não estava prestando atenção e se surpreendeu quando outra mulher apareceu entre as árvores. Os pelos da nuca de Dylan se eriçaram assim que a viu e, imediatamente soube que eram vampiras.

As três discutiam a respeito de outra mulher que havia desaparecido e Dylan percebeu que a mais nova do grupo – mesmo ele não tendo visto o rosto da garota, dava para notar que ela não era tão mais velha que as outras – era a culpada. Ele conseguiu distinguir alguns nomes enquanto as duas discutiam. A vampira mais nova ainda não havia dito seu nome, mas a outra, sim. May. E a que havia desaparecido, chamava-se Isally. A vampira que estava mais afastada se chamava Ruby.

Dylan deu um passo atrás, por puro instinto, quando Ruby, mandou que May soltasse a mais jovem e começou a caminhar em direção a elas. O mato, que chegava aos seus tornozelos, começou a se desintegrar enquanto ela passava.

Depois daquele movimento, tudo aconteceu muito rápido. A garota mais jovem se ajoelhou e Dylan sentiu um leve tremor no chão. Mais duas crateras, pouco maiores que a primeira se abriu abaixo dos pés de May e Ruby. Dylan não conseguia acreditar no que estava vendo. Como alguém podia ter controle sobre a terra?

A garota que controlava as crateras, fez com que raízes impedissem que as duas vampiras conseguissem se movimentar, tornando mais fácil afundá-las. Foi quando o barulho de sucção começou de novo, mas dessa vez mais alto.

Ruby estava lutando contra as raízes, que derretiam mais a cada segundo, mas outras tomavam seu lugar. May já tinha metade do corpo embaixo da terra e já não lutava mais. Dylan se lembrou que os poderes extras que alguns vampiros tinham, eram limitados; tomava muita energia usá-los. A garota não parecia que aguentaria muito mais, e Dylan sentiu que tinha que ajudar.

Ele se concentrou e voltou à forma humana. Não queria distrair a garota. Ela estaria com problemas caso isso acontecesse.

Dylan saiu de entre as árvores e viu que era tarde demais quanto a não querer distrai-la. Os olhos dela se desviaram da tarefa e encontraram os dele.

Foi como se todo o oxigênio à sua volta tivesse se esvaído. Seu corpo se retesou completamente. Não se sentiu capaz de dar mais um passo sequer.

Cinzas. Eram a cor deles.

Os olhos dela eram cinza tempestade. Ele nunca havia visto aquela cor em qualquer outro lugar. Era única.

Dylan se viu atraído a onde ela estava. Sentiu que queria estar perto dela. Mais do que gostaria de admitir naquele momento.

Mas era besteira. Ele nem a conhecia...

Mas não importava, importava? Tudo o que ele queria naquele momento, era nunca parar de olhar para ela.

Havia algo que ele devia fazer... ele não se lembrava, mas tinha que fazer...

E ele se sentiu puxado para a realidade quando tudo saiu pior do que imaginava. Aquela breve distração que havia ocasionado, fez com que a garota não mais conseguisse controlar seus poderes. Ruby, que estava afundando no buraco, conseguiu se libertar das raízes que a prendia e, com um único pulo, atingiu a garota na cabeça.

A garota voou três metros e caiu no chão, parecendo desacordada. Dylan conseguia ouvir seu coração batendo e sentiu alivio por isso. Mas não esperou que algo mais acontecesse. Com um pulo, transformou-se em lobo e partiu em direção à vampira que se preparava para o próximo ataque.

Mas Dylan não deu a chance. Em menos de um segundo estava em cima dela, atingindo-a com suas garras. Ele sentiu quando o sangue espirrou para todos os lados, inclusive nele mesmo, mas não se importou. Ela ainda conseguia lutar.

O ferimento da vampira se curava rapidamente. Suas mãos se enchiam de um liquido branco que soltava uma fumaça estranha e quando o liquido pingou no chão, tudo que estava ao redor começou a se desintegrar.

– O que um homem-lobo está fazendo aqui? – A vampira perguntou. Estava enfurecida. Ao seu redor uma poça de ácido se juntava, respondendo ao seu comando.

Dylan a encarou nos olhos. Ele não queria entrar em contato com o poder dela. Começou a se afastar a passos lentos.

– Não adianta correr. – Ela disse, soltando uma gargalhada desvairada. – Já matei muitos da sua espécie sem fazer qualquer esforço.

Ela levantou a mão direita e um jato de ácido saiu acertando o flanco de Dylan enquanto ele tentava desviar. Um uivo escapou de sua boca enquanto uma dor insuportável se instalava em todo o seu corpo. Dylan tentou correr, mas era como se suas pernas estivessem paralisadas com a dor.

Ele estava sentindo a vampira se aproximar. Seus olhos estavam fechados por conta da dor.

Dylan sentia sua transformação sair fora de controle. Tentou se controlar para não se deixar voltar à forma humana. Não queria ver o tamanho do estrago que havia em seu corpo. Ele sabia que estava se curando, mas também sabia que demoraria alguns minutos para voltar a lutar.

Um baque surdo atrás de si fez com que ele abrisse seus olhos e olhasse na direção de onde o som veio.

A garota que estava no chão havia se levantado e estava atrás da vampira, que ainda tinha um pouco de ácido pingando das mãos deixando um rastro atrás de si. Uma estaca se projetava das costas dela, pouco abaixo do coração, pingando sangue. Ruby caiu de joelhos, rolando de lado. Estava morta. A garota também caiu de joelhos, mas parecia bem.

Dylan voltou à forma humana. O ferimento tomava toda a sua barriga e parte das costas, mas o processo de cura já estava agindo. Ele se obrigou a levantar e ir em direção à garota, que agora estava sentada, respirando lentamente. Ela parecia exausta.

– Você está bem? – Perguntou Dylan.

– Ande logo com isso – ela disse. Algumas lágrimas saíram de seus olhos. Dylan não entendeu o que ela queria dizer. – Não vou lutar contra você.

– Desculpe, mas eu não entendi – ele disse, estreitando os olhos.

– Me mate de uma vez. – Ela disse. Sua voz não tinha raiva, apenas cansaço.

– E por que eu faria isso?

– Bem, eu sou uma vampira – explicou ela. – Isso não te diz nada?

Dylan revirou os olhos.

– Nós não matamos todas as vampiras que vemos. – Ele disse. Quando chegou perto dela, sentou-se no chão ao seu lado. Ele sentia como se seu corpo tivesse sido passado por um moedor de carne. – E eu vi o que aconteceu. Elas te atacaram primeiro. – A garota levou a mão à cabeça e fez uma careta de dor. – Você está bem? Pode se deitar, vou tentar fazer alguma coisa e prometo não machucar você.

Dylan nunca seria capaz de machucá-la. Ele só queria que ela estivesse bem.

– Se eu estou bem? – Ela perguntou. – Jura que é com isso que está preocupado? Você quem tomou um banho de ácido, não eu.

– Já vai se curar. Eu... – Ele tentou dizer, mas ela o interrompeu com um aceno da mão.

– Deite-se você. – Ela pediu. – Vai demorar mais do que o normal porque gastei toda a minha energia me livrando daquelas loucas. Mas eu consigo acelerar o processo de cura. – Apenas pela voz Dylan percebeu que ela não aceitaria um não como resposta.

Depois de ver o que aquela garota podia fazer, Dylan não duvidava que ela podia curá-lo. Então se deitou no chão, de lado, virado para ela.

Em uma parte remota da mente, ele percebeu que, desde que abrira os olhos, não havia olhado para outro lugar que não fosse o rosto daquela garota. Era como se ela fosse uma espécie de imã superpoderoso que o atraía mesmo contra a própria vontade.

A garota se posicionou ao lado de Dylan, fechando os olhos. Quando ela levou as mãos em direção à sua barriga, ele segurou suas mãos e ela, imediatamente, abriu os olhos.

– Como posso saber que você não vai me matar? – Perguntou ele. Um leve sorriso se projetava de seus lábios. Ele não sabia como aquilo aconteceu.

– Você confia em mim? – Ela perguntou.

A testa de Dylan se vincou. Que tipo de pergunta era aquela? Como ele podia confiar naquela garota sendo que, pela ordem natural, eram inimigos mortais? Como ele podia confiar nela, sendo que havia acabado de conhecê-la?

Mas ele se surpreendeu quando a resposta escapou de seus lábios sem suas ordens.

– Sim.

Ela fechou os olhos mais uma vez e repousou suas mãos no abdome de Dylan. Ele sentiu uma energia estranha vindo dela, mas estava fraca. Suas mãos eram macias e quentes.

– Não está dando certo – ela se lamentou. – Usei muita energia...

– Ei! – Dylan chamou. E se assustou quando viu que suas mãos estavam no rosto dela, erguendo-o para que seus olhos se encontrassem de novo. Com o polegar, suavemente ele limpou os resquícios de lágrima que ainda estavam em seu rosto. – Não tem problema. Eu vou me curar, só vai demorar um pouco mais que o normal... Não precisa...

A garota pegou a mão dele que ainda estava em seu rosto e, por um momento, Dylan se xingou mentalmente por ter se deixado levar, segurou-a firme, depois disse:

– Acho que posso fazer uma coisa. – Ela disse. – Você confia em mim?

Mais uma vez aquela pergunta. E, com ela, a resposta mais óbvia que ele podia dar a ela e a si mesmo.

Ele assentiu uma vez sem ousar desviar seus olhos dos dela.

– Nunca tentei isso antes e não sei se vai dar certo – ela disse. Seu rosto estava tomado de preocupação. – Vou tentar juntar a sua energia com o que ainda resta da minha para poder curar você, está pronto?

– Estou – ele respondeu.

A garota segurou as mãos de Dylan e colocou-as sobre as suas que estavam sobre o ferimento. De repente, uma luz verde intensa iluminou tudo à volta deles. Dylan não sabia o que estava acontecendo, mas quando olhou para o ferimento, este já quase não existia. A dor havia sumido. Em menos de um minuto, Dylan estava novo em folha.

– O que... – Ele começou.

– É bom saber que vocês não matam todas as vampiras que veem – ela disse, com um sorriso nos lábios.

Ela era linda.

– Mas nós também não matamos todos os seres humanos que vemos – continuou, e deu uma piscadela.

A garota se levantou e foi para o outro lado da clareira, onde tinha uma pequena bolsa caída. De dentro da bolsa, ela pegou um celular e disse:

– Oito chamadas perdidas. – Foi quase um sussurro, mas suficientemente alto para Dylan conseguir escutar.

– Obrigado! – Dylan gritou enquanto se levantava e batia a poeira da roupa.

– Você fica me devendo – ela disse. – Agora eu preciso ir. Minha mãe vai colocar todo o estado em alerta vermelho se eu não der notícia.

– E essa é a parte que você vai embora – Dylan disse, baixinho.

Ela o olhou, o queixo erguido e disse:

– Acha que eu vou ficar aqui contando estrelas? – Ela perguntou, com sarcasmo. – E a propósito, seus olhos... Ah! Deixa para lá. – E saiu correndo.

Dylan fez menção de ir atrás dela, mas parou, enquanto dizia para si mesmo:

– Espera... Você não disse seu nome. – Mas ela já tinha ido.


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