À Primeira Vista escrita por Sr Castiel


Capítulo 4
Capítulo III - Dylan - Decidido


Notas iniciais do capítulo

Voltei com mais um capítulo!
Bem, pessoal, esse segue o padrão do anterior. Tem uma parte de um livro que Dylan lê que está em itálico para vocês entenderem. E, também em itálico está um sonho que ele tem quase no final.

Espero que gostem pessoal! E vocês sabem, deixem comentários, divulguem e obrigado!



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Capítulo III

Dylan

/Decidido/

“Existem noites em que os lobos ficam em silêncio e apenas a lua uiva.”

George Carllin

Londres, Uma semana depois

DYLAN ESTAVA SE LEMBRANDO DO quanto seu pai pareceu bem diferente na última semana antes de ser levado.

Estava sempre aéreo. Nunca prestava atenção às reuniões do bando. Pedia para as patrulhas serem feitas ao dia e nunca à noite... Que nenhum lobo se transformasse quando não estivesse cumprindo algum serviço oficial...

O garoto ficou imaginando o que seu pai estaria escondendo. Como ele havia descoberto que estavam atrás dele... à espreita; só esperando um momento de fraqueza para pegá-lo sem que o outros sequer percebessem. Sam ficava mais tempo no jardim, pensativo na maior parte das vezes... Era quase como se estivesse tentando absorver tudo antes que partisse.

Dylan se lembrava de ter perguntado a seu pai se estava tudo bem numa manhã poucas semanas antes. Esperava uma resposta simples, evasiva, que não dissesse muito o verdadeiro motivo de sua inquietação, mas Sam tinha respondido:

– Está sim, Dylan. – Sua voz estava, como sempre, muito controlada. Sam nunca saía fora de controle, era incrível, até mesmo para um líder como ele. – Só estava admirando e pensando na vida – continuou –, no quanto somos pequenos em comparação a todas as forças e artifícios à nossa volta. Mas te digo uma coisa, existem três forças que são como imãs com polaridades invertidos; tentam se chocar, ficarem próximas, tentam trabalhar em harmonia, e não conseguem. É da natureza delas viverem solitárias. São as três: o amor – o mais forte, tenebroso e perigoso dentre elas; obriga-nos a fazer coisas lindas e perversas dependendo das circunstâncias. A segunda é o ódio, totalmente oposta à primeira força, mas mais parecida do que pensamos ser possível. Se não houvesse o ódio não existiria amor para se sentir, ninguém saberia que o ódio é a versão triste e feia do amor. Ele é a força traiçoeira e ardilosa, capaz dos maiores e mais terríveis feitos... E a terceira é o destino. – Com isso ele deu um suspiro, como se não quisesse dar uma notícia ruim a quem já enfrentava situações difíceis, mas não sabia como dizer a verdade sem distorcê-la com eufemismos. – Dentre as três, poderia ser descrito como um velho de milhões de anos, encapuzado e vestido de preto, com as mãos negras e magras pelo sofrimento; não o sofrimento causado a ele, mas causado por ele. Como se as barreiras do tempo e espaço colidissem entre mundos, exigindo que a força regente que é o destino esteja sempre por perto para fazer seu trabalhado sujo. Dentre as três, o destino é um ser controlador, faz cair montanhas, eleva abismos, destrói cidades, países inteiros, isso com o leve farfalhar da sua capa negra. Ele pode não ser o mais forte ou o mais ardiloso, mas tem controle absoluto sobre as outras duas forças, o que o torna invulnerável. As outras não podem se voltar contra seu mestre, não conseguem... o destino trabalha desde a aurora dos tempos e vai continuar trabalhando até o fim destes. Mesmo que alguns não acreditem que ele exista, mesmo que outros o confunda com o acaso, tudo o que se faz, tudo o que é erguido e manipulado, tudo é controlado pelos cordões nas mãos do destino. E no fim ele vai ganhar. Porque o amor não poderá ser destruído, mas ficará paralisado no coração de todos que já o sentiram. O ódio... bem, o ódio será corrompido pela própria arrogância, ganancia de poder, de sempre querer ganhar, e com isso não vai haver mais porquê sentir tal coisa. Mas o destino vai continuar intacto, esperando uma nova raça nascer para poder ser controlada por ele como fez com a humana e com a sobrenatural.

Dylan não entendeu onde ele quis chegar com todas aquelas palavras. Sentiu até certa tristeza escapar de sua voz enquanto falava, mas não foi adiante. Apenas assentiu e não perguntou mais sobre aquilo. E tudo acabou sendo esquecido pelos dois que não tocaram mais no assunto.

Por que ele não lutou? Dylan se perguntava. Por que não chamou o bando para ajudá-lo? Eram perguntas que ele não conseguia nenhuma resposta plausível, nem mesmo estimativas conseguiam saciá-lo.

Ele andava de um lado a outro. Procurou pistas em toda a casa, mas estava tudo intacto, não achou nada. Mas naquele momento, sem nenhuma pista, ele fez uma promessa a si mesmo: Iria trazê-lo de volta, não importava como. Agiria contra tudo o que aprendeu ou com tudo o que aprendeu. Faria qualquer coisa.

Dylan estava deitado em uma espreguiçadeira branca em frente à enorme piscina que brilhava com a luz do sol absorvendo faíscas de luz e transformando-as em reflexo. Há dias ele não dormia direito, acordando de pesadelos seguidos numa mesma noite. Sentia-se cansado quase o tempo todo por ficar muito tempo acordado e duas vezes havia acordado no chão do quarto e da sala, sem saber como havia ido parar ali. A exaustão chegou ao ponto de derrubá-lo e na terceira vez que acordou Alex estava ao lado dele, esperando que voltasse a si. O amigo ficara muito preocupado quando Dylan não atendeu à porta e resolveu entrar mesmo assim sendo que sabia onde ficava a chave reserva. Achara Dylan no corredor que levava ao quarto, caído pouco antes da porta. Alex o fez prometer que descansaria dali para frente, tentaria dormir o máximo possível, mas ele não conseguia.

Os pesadelos eram frequentes e ele acordava arfando e as vezes cheio de suor frio. Não demorava muito para conseguir voltar a dormir, mas era sempre a mesma coisa. Dormir, acordar assustado, dormir de novo, tentar não dormir mais, mas sucumbir ao sono logo em seguida.

Era uma sexta feira e ele havia planejado ir para os Estados Unidos no dia seguinte. Ainda não havia falado com Alex o que estava planejando, mas o amigo não demoraria a ligar. E ele só queria descansar um pouco antes de escolher as palavras certas para falar com o Will que estava indo; não seria nada fácil.

Dylan vestia apenas uma bermuda de tecido leve azul e sentia o ardor do sol entrando em sua pele. Um guarda sol grande foi colocado estrategicamente do lado direito da espreguiçadeira para cobrir apenas seu rosto. Estava mais relaxado e mais descansado que no dia anterior, mas ainda assim sentia certo peso sobre os ombros. Os músculos expostos ao sol estavam tensos como sempre acontecia quando ele ia para alguma missão com o bando.

Ao lado, numa mesinha baixa de madeira, seu celular começou a tocar. Dylan o pegou e ao olhar para a tela, o nome de Alex aparecia, insistente. Ele deslizou o dedo na tela e atendeu.

– Sim, Alex? – Perguntou. Sua voz beirava à impaciência.

Alex ainda insistia em querer ir com ele, mas Dylan se mantinha firme em não deixá-lo ir. Depois de pensar um pouco, chegou à conclusão que era perigoso demais, mesmo admitindo precisar do amigo. Ele sabia que não conseguiria evitar por muito tempo aquela conversa de dizer um “não” definitivo, mas precisava fazê-lo. Deixou tudo ir longe demais.

– Você está bem? – Perguntou. Dylan sabia que aquela não era a pergunta que ele queria fazer.

– Sim. – Respondeu. – Estou mais descansado, obrigado. Tudo certo com você, também?

– Está sim, obrigado. – Aquela conversa estava muito estranha aos ouvidos de Dylan. Superficial demais. Alex era mais que um irmão para ele; eles conversavam sobre qualquer coisa a qualquer hora. – Você... – ele hesitou um pouco. Depois recomeçou. – Você já sabe quando vai... hmm... você sabe... – Dylan escutou o amigo dando um longo suspiro no outro lado e depois voltar a dizer: – Você já marcou a sua viagem?

Dylan havia fechado os olhos sem perceber. Ele sabia que Alex entendia o quanto seria perigoso para os dois irem e que entendia seu ponto de vista. Mas ainda assim continuava insistindo. Era quase palpável o quanto Alex se preocupava com Dylan, sempre tirando o amigo de encrencas e ajudando-o em qualquer situação.

– Sim, Alex – disse, abrindo os olhos e tentando manter a voz firme, neutra. – Vou amanhã. Só estou esperando até hoje à noite para conversar com o Will. Já adiei isso por tempo demais.

– Ah! – Falou Alex, com desanimo. Com certeza ele havia notado que Dylan não o incluiu quando disse que já sabia a quando iria. – Hmmm... é isso... deixa para lá.

Dylan podia sentir a frustração por trás da voz de Alex, como uma névoa espessa e impenetrável. Se conhecia Alex, este ainda não havia desistido. Só estava dando um tempo. Alex era assim, sabia como agir em situações diferentes, ganhar quando era preciso. Ele sempre apresentava seus argumentos, depois fingia desistir, mas só para a pessoa relaxar e ele dar o xeque-mate.

– Alex – Dylan chamou, notando o silêncio que se instalara. Ele sabia que perderia a disputa. Contra Alex era sempre assim; não tinha como ganhar daquele cara.

– O que é? – Perguntou, ainda desanimado.

– Eu vou pensar, tudo bem? – Declarou. – Prometo. – Dylan nem sabia para onde ia. Já tinha ido aos Estados Unidos uma vez com o pai, precisamente em San Diego, há muito tempo, mas foi numa época onde as coisas se resolviam facilmente. Uma época distante e remota, que pensando melhor, Dylan tinha certa dúvida se tudo havia mesmo acontecido do jeito que se lembrava. Ele não tinha ideia o que daria ou não daria certo. Estava com mais medo do que gostaria de admitir. – É sério – falou quando o amigo soltou um muxoxo de impaciência. – Vou mesmo pensar.

– Já ouvi isso antes, Dylan. – O amigo disse, a voz quase um sussurro. – Sei que você não quer que eu vá. Sei o motivo. Mas pense melhor. Você está correndo os mesmos riscos indo sozinho que eu correria se fosse com você. Talvez até mais, sendo que juntos teríamos mais chances contra qualquer um que lutássemos...

– Alex, você não está entendendo. Eu quero, sim, que você vá. Muito. – Dylan se levantou, olhando para a água cristalina da piscina. – Mas tenho medo de arrastar você para a morte junto comigo. Alex, existe uma razão para os vampiros serem nossos inimigos naturais. Você sabe qual é a pior arma que eles têm contra a nossa espécie?

– Eu... – Alex começou.

– O sangue que corre nas veias dos vampiros é um veneno para nós. – Dylan o interrompeu. – A mordida deles em qualquer um de nós, sela a nossa forma lupina para sempre. Com uma mordida de um maldito vampiro, perdemos completamente a nossa humanidade. Você sabe o que isso significa? Arriscaria a sua vida por uma coisa que eu poderia resolver sozinho...

– Não, você não pode. – Alex falou. Dessa vez, sua voz assumiu um tom áspero, quase de raiva. – Sabe que não pode.

– Alex, eu disse que ia pensar e eu vou. Hoje à noite te dou uma resposta concreta. – Decidiu Dylan, com autoridade na voz.

Um suspiro de derrota foi sua resposta.

– Ah vamos! – Ele falou. – Será que ainda posso pedir uma ajuda ao meu melhor amigo?

A resposta não veio tão rápida e com tanto ânimo quanto Dylan esperava, mas Alex não recusaria ajudá-lo.

– É... – gaguejou ele. – Você sabe que pode.

– Então melhore esse humor – pediu Dylan. – Eu já disse que vou pensar. Não disse?

– É só que... – Interveio ele e Dylan achou que teria mais uma rodada de insistência. Mas o amigo disse: - Tudo bem, acredito em você. Mas fala aí qual a missão.

– Eu preciso conversar com o Will. Já passou da hora como eu disse...

– Eu sei. Mas, Dylan, como você conseguiu esconder isso dele por toda essa semana? Ele é o segundo líder da matilha, deve ter aparecido por aí algumas vezes...

– E apareceu. Deve ter vindo aqui pelo menos umas cinquenta vezes essa semana. Quando o interfone tocava, eu já sabia quem era e nem se quer respirava para ele não saber que havia alguém em casa. Sabe como ele é impaciente, desistiu rápido. Não consegui entender porque ele não insistiu, mas agradeci aos céus por isso. Ficou sabendo alguma coisa sobre o resto do bando?

– Segundo meu pai, o Will está escondendo alguma coisa dos outros. Não aparece muito e quando aparece sai rápido. Não fica até o final das reuniões. Não entendi, mas meu pai disse que ele parecia cansado ou triste. Mas não aconteceu nada de mais, até onde eu sei. Nenhum ataque essa semana. Fiz apenas duas patrulhas, sendo que eu estava escalado para fazer cinco e todas à noite. Eles insistiram para que eu fizessem só duas e ao dia.

Dylan ficou preso em casa a semana inteira e não soube nada do que estava acontecendo na matilha. Ele se sentiu culpado por não ter tomado a frente do bando na ausência do pai. Deveria estar dando as ordens que Sam havia pedido que desse e não se esconder como estava fazendo.

– Alex... – começou ele. Só agora ele sentia o peso da responsabilidade que estava em seus ombros. – Você acha que eu deveria ficar mais um tempo e tentar organizar o bando? Você sabe... Meu pai se foi e...

– Ele não deixou a responsabilidade da matilha para você. – Interrompeu Alex completando a frase de Dylan. – Pediu para você conversar com o Will porque ele, sim, sabe o que fazer quando seu pai não está. Dylan, ele te deu uma missão muito maior do que cuidar de um bando... E a gen... Você vai conseguir. Tenho certeza que vai.

– Obrigado, Alex – falou Dylan. Ele se sentia grato pelo amigo conseguir tirar aquele peso de seus ombros com tão poucas palavras. Era estranho como só mais motivos apareciam para Dylan ter que levar Alex consigo. Como se o destino estivesse rindo dele por não conseguir sozinho. – Mas hoje à noite, se você puder vir, será de grande ajuda.

– Tudo bem. Estarei aí hoje.

– Obrigado, Alex – disse. – E quando você chegar aqui, estarei com a resposta que você precisa.

– Por nada. Até mais tarde. – E desligou.

Dylan percebeu que o sol estava quente demais para continuar fora de casa e resolveu entrar. Enquanto andava em direção à porta que dava para a cozinha da casa, olhou no visor do celular e viu que já marcavam quase duas da tarde. Quando abriu a porta, uma lufada de ar frio, vinda do ar condicionado, o recebeu. Ele sentia sua pele febril por causa da exposição ao sol e o choque térmico poderia ter causado mal a qualquer ser humano, mas ele não sentiu sequer uma vertigem. O ar frio ajudava a clarear seus pensamentos e ele percebeu o quanto estava com fome.

No decorrer dos dias, quando Dylan sentia fome, ia à geladeira e pega qualquer coisa. Mas não estava acostumado àquilo. Sempre tinha alguma coisa pronta para ele comer quando seu pai estava em casa. Sam era ótimo na cozinha, assim como em tudo o que fazia.

Cada detalhe dos dias que passara sem seu pai parecia aumentar a vontade de tê-lo por perto. Ele só queria esquecer tudo aquilo e voltar no tempo, impedir que tudo acontecesse para aproveitar cada momento que tinha com a pessoa mais importante da sua vida. Abriria mão de tudo só para ter ele de volta, ali, perto, cuidando dele, vendo-o fazer as coisas de modo errado e corrigi-lo para depois tentar de novo e errar de novo. Enquanto Sam estava por perto, Dylan não se importava tanto, não tinha tanto medo, sabia que ele sempre o ajudaria quando precisasse, sempre estaria ali para protegê-lo, ensiná-lo e confortá-lo.

A falta que Sam fazia a Dylan era tão grande que este parecia notar sua presença em cada parte da casa em que olhava. Em seu lugar atrás do balcão preparando alguma coisa para eles comerem; em sua postura de pai ou de líder da matilha para ensiná-lo a controlar seus novos poderes; nas vezes em que Dylan se sentia triste e ele sempre tinha algo bom e engraçado para fazê-lo se sentir melhor, como as histórias que tinha sobre sua mãe...

Dylan sentia seus nervos em frangalhos. Não estava a fim de lutar, mas precisava. Não queria sofrer, mas sabia ser inevitável. Não queria se distanciar de seus amigos na matilha, mas tinha que fazê-lo. Ele se lembrou de seu pai ensinando duas coisas; uma à matilha e outra, na mesma noite, quando estavam à sós em casa, à ele.

– O lobo agora faz parte de vocês. É como um membro, mas sem nenhum jeito de arrancá-lo ou separá-lo de vocês. Assim, como cada um de nós aqui, ele também tem necessidades. Vocês não podem ficar sem a transformação por muito tempo, seus corpos vão começar a sentir falta dela se vier a acontecer. Vocês precisam da transformação regularmente!

Todos ficaram muito quietos depois daquele pronunciamento. Seu pai havia falado de um dos efeitos colaterais de ser uma criatura sobrenatural. Assim como todas as criaturas sobrenaturais também tinham seus efeitos colaterais, como os vampiros que não podiam viver sem sangue, etc.

Dylan nunca havia experimentado nenhum daqueles sintomas de não se transformar, mas começava a acontecer e ficou preocupado. Sentia seu corpo doer, os ataques de exaustão eram mais frequentes. Isso porque tinha quase uma semana que não se transformava, e se seu pai não conseguisse mais se transformar onde estivesse?

– A falta da transformação, acaba com a nossa forma humana, sendo que estamos ligados ao sobrenatural apenas pela nossa forma de lobo. Somos como uma gangorra, em que nossa parte humana fica em uma ponta e a nossa mortalidade na outra. A única coisa que nos torna imortais, que nos dá o equilíbrio de que precisamos, é o lobo, que fica no meio. Muitas civilizações de lobos antigas, depois de viverem por tanto tempo cumprindo seus deveres como guardiões, já cansados do tempo e de tudo à volta, paravam se transformar, ocasionando, finalmente, a morte deles.

Os lobos não eram totalmente imortais, eles sabiam disso. O tempo não tinha poder sobre eles e nem qualquer doença ou feridas no corpo. Mas até o mais forte deles poderia cair em batalha. Dylan se recusava em pensar que o pai havia morrido sendo que ele mesmo dissera que precisavam dele vivo. Mas ainda assim, temia que a falta da transformação o matasse. Nada indicava que o inimigo soubesse dessa necessidade de seu pai...

Mas tirou logo esse pensamento da cabeça. Se a pessoa que o pagou precisava de Sam vivo, nada aconteceria com ele. Sam era uma peça valiosa para quem o sequestrou.

Depois de saírem da reunião, seu pai havia chamado Dylan para conversar sobre uma coisa séria. O garoto não sabia o que seu pai queria, mas não se preocupou, apenas ouviu.

– Filho, às vezes precisamos nos distanciar da dor e do que achamos ser bom para nós. Às vezes, precisamos nos distanciar do conforto de nossas casas, deixar o que é fácil de lado e lutar pelo que é certo. Sempre chega a hora de escolhermos pelo que queremos lutar nessa vida, seja a família, um amor, um amigo... Mas para alguns é sempre mais difícil, sempre mais doloroso, mas também é sempre mais recompensador. Quando chegar a sua hora, não se detenha a coisas que te farão hesitar, que te farão desistir, faça o que for preciso, mesmo que a sua vida dependa disso.

Dylan havia perguntado ao pai o que ele queria dizer com aquilo, mas ele só sorriu e disse que para tudo a seu tempo. Explicou ao filho que talvez as coisas viessem a se complicar no futuro, que não sabia o que iria acontecer. Mas que não ficasse com medo do fim, pois para haver felicidade, o fim precisa acontecer, de uma forma ou de outra. E ele guardou aquelas palavras para se lembrar delas quando chegasse a hora.

Dylan estava sentado em um dos bancos agora comendo um sanduiche que havia feito com coisas que achou na geladeira e tomando um suco que já não estava mais tão gostoso assim.

Quando acabou de comer, lavou tudo e deixou impecavelmente limpo como seu pai gostava que ficasse. Depois correu para o seu quarto e foi tomar um banho. A água o fez se sentir melhor e quando saiu do banheiro, vestiu uma roupa leve e foi para o escritório de seu pai.

Sam havia pedido para Dylan ler seus livros para conseguir informações, mas até então não tinha pegado nenhum. Dylan sabia que seu pai mantinha seus livros mais antigos guardados no escritório, mas nunca dera muita atenção a eles.

O escritório era pequeno e havia apenas algumas poltronas e uma mesa grande de madeira com um computador em cima. Atrás, havia uma estante de madeira fixada à parede com os livros e Dylan pegou um aleatório. Era encapado em couro e a capa era totalmente lisa.

Dylan saiu do escritório e voltou ao quarto. Deitou-se na cama e o abriu. A primeira capa estava escrita à mão numa letra grossa e grande como um título: O Veneno da Fênix. Embaixo do título, com a mesma letra, mas bem menor, lia-se: Por Steve Crowle.

O garoto se sobressaltou ao ver seu sobrenome escrito naquele livro. Ele não conhecia nenhum Steve, mas cogitou a ideia de ser algum parente distante. E, do mesmo modo que Sam assinava, uma lua crescente estava embaixo da assinatura, selando-a.

Dylan virou mais uma página e, escrito em tinta preta e caligrafia de máquina de escrever antiga, estava:

Introdução.

A MALDIÇÃO DA LUA ETERNA.

Em todos os aspectos, depois de se separar do sol, a lua tentou se vingar de alguma forma, mas nunca conseguiu. Mas depois, tomada de puro ódio e fúria, voltou-se contra seus filhos, lançando uma maldição.

“Quando libertarem a maldição posta na fênix e ela for isenta de seu ciclo de vida e morte, a própria fênix lançará ao mundo sua fúria.”

Os filhos do sol e da lua nunca poderão conviver em paz. Sempre haverá guerra entre os povos, e quando o sacrifício de um dos filhos da lua for feito, esta lançará sua vingança contra todos na maldita Terra. A lua se tornará negra e cobrirá o sol para sempre.

Não se sabe ao certo quando a maldição virá a se cumprir, mas que fiquem avisados: sem luz não haverá vida. As plantas morrerão e o tão precioso ar se esvairá, logo em seguida a raça humana não mais vai existir. A vingança da lua estará completa quando os filhos do sol não tiverem mais com o que se alimentar e sucumbirão para sempre, morrendo aos olhos do pai que nada poderá fazer para salvá-los.

Dylan parou de ler. Que loucura toda era aquela? Por que seu pai guardava os livros de ficção junto com os que pedira a Dylan para ler? A não ser que estes não fossem ficção.

Ele colocou o livro na mesinha do lado. Era coisa demais para sua cabeça processar. Não queria mais tanta loucura por perto. Queria esvaziar a mente de tudo o que estava acontecendo naquele momento.

Suas pálpebras começaram a pesar e ele sentiu o cansaço tomar conta de si como nenhuma vez naquela semana. Dylan não resistiu, apenas se entregou ao sono. E o sonho veio diferente dessa vez.

Dylan estava sentado na areia da praia. Não havia ninguém ali e um vento frio soprava, arrepiando os pelos de seus braços. Era estranho porque ainda era verão e ele não conseguia reconhecer aquela praia.

Ele sentia uma estranha energia vinda de algum lugar e se levantou, olhando para os lados, tentando descobrir o que estava acontecendo. A cena que Dylan viu era puro horror.

Vampiros estavam abaixados no chão e entre eles haviam corpos humanos, alguns ainda vivos, de onde abriram buracos com a boca nos pescoços e nos pulsos e sugavam o sangue sem se preocupar com nada à volta, como se não notassem a presença de Dylan.

Um sentimento de puro nojo e repulsa partiu do garoto, fazendo com que seu estômago reagisse imediatamente e a náusea o tomasse por completo. Dylan se controlou e conseguiu se recompor, ainda sem acreditar no que estava vendo. A fileira de corpos parecia interminável, alguns gritavam de dor, outros sussurravam coisas inaudíveis, outros até se contorciam ao saber que estava chegando a sua vez de ser o prato do dia.

Ele afastou alguns passos, tentando calcular a vantagem que teria contra os quatro se lutasse sozinho e percebeu que não teria muita chance. As pessoas no chão não pareciam ter sido vítimas dos vampiros inicialmente, a maioria tinha cortes e escoriações maiores, outras apresentavam marcas de queimaduras horrendas, como se fossem soldados em uma guerra há muito perdida.

Dylan começou a pensar se realmente devia tentar lutar contra os vampiros para salvar aquelas pessoas, mas depois chegou à terrível conclusão que ele estaria salvando apenas o sangue delas. Todas elas já estavam condenadas à mortes bem antes de ele ter chegado ali.

– Bem, isso é verdade! – Disse uma voz atrás dele. – Você não conseguirá salvá-las. Não literalmente.

Ele se virou e se deparou com a coisa mais estranha que já havia visto. Um homem pairava no ar poucos metros acima de Dylan e este começou a duvidar de sua sanidade mental. Quando começara a ver anjos, mesmo?, se perguntou. O homem era alto, tanto quanto Dylan; tinha a pele clara e os olhos muito verdes; cabelos castanhos claros quase louros e um sorriso satisfeito fazia com que mostrasse seus dentes brancos como a neve. Asas enormes, – poderiam ter quase um metro e meio de comprimento –, com penas também grandes de um tom quase branco pendiam de suas costas, fazendo com que facilmente ficasse parado no ar.

O homem pareceu notar a expressão de confusão e descrença no rosto de Dylan, pois o sorriso se alargou e suas bochechas ruborizaram minimamente, mas apenas por tempo suficiente para Dylan registrar aqueles movimentos. Logo ficou sério e nenhum traço de rubor ou humor pareceu ter estado ali há poucos segundos.

– Não, eu não sou um anjo... – Começou ele, mas Dylan o interrompeu.

– Quem é você? – Perguntou.

O homem pareceu ofendido. Ele desceu ao chão, pousando lentamente como se tivesse todo o tempo do mundo.

– Pelo jeito você também não tem modos, não é mesmo, garoto? – A pergunta foi retórica, mas Dylan quase não conteve a vontade de respondê-la. – Não importa quem eu sou. – Continuou ele, parecendo ter esquecido o que o garoto havia feito. – Não por enquanto. Mas temos uma coisa para resolvermos aqui, não temos? – Com um gesto de cabeça ele apontou a Dylan o show de horror que ainda acontecia atrás dele.

Dylan se virou novamente, encarando. Sem que ele percebesse, o homem foi parar ao seu lado, balançando a cabeça em negativa como se não concebesse o que estava vendo.

– O que aconteceu aqui? – A pergunta escapou de seus lábios antes que pudesse evitar, mas não se arrependeu. Queria desesperadamente saber o que havia acontecido àquelas pessoas.

– Bem, é tudo sua culpa. – Respondeu o homem com naturalidade e levantando as duas mãos em um gesto de rendição. – Culpa das escolhas que você fará em um futuro próximo.

Dylan sentiu um nó de raiva se formar em seu peito. Como aquele homem que nem o conhecia podia acusá-lo de algo como aquilo? Ele respirou fundo e esperou um pouco, dando chance ao homem de se explicar. Mas este não percebeu que ele queria uma explicação por tal acusação, então perguntou:

– Minha culpa? – Sua voz saiu controlada aos seus ouvidos e sentiu alívio por estar conseguindo se conter. – Como isso pode ser minha culpa?

– Muito bem – disse ele, acenando displicentemente com as mãos. Parecia estar em uma peça de teatro barata, tal forçados eram seus movimentos com as mãos. – Você tomará um caminho difícil e tortuoso a partir de amanhã, Dylan. Um caminho que não terá volta e acredite em mim, você vai querer voltar, mas vai perceber que não terá mais jeito, infelizmente. O que estou proporcionando a você, é uma dádiva, mesmo eu percebendo, com tristeza, que você não a está recebendo como deve. – Ele juntou as mãos e mais uma vez balançou a cabeça em negativa como se estivesse vendo algo errado, torto, disforme; continuava a olhar para frente, não olhou nos olhos de Dylan nem uma vez desde que recomeçara a falar. – Isso tudo é uma visão do futuro. Bem, não exatamente, porque acontecerá mortes em larga escala. Isso à sua frente é uma pequena parte das consequências de suas escolhas.

Dylan olhava para o perfil do homem ao seu lado, sua boca ligeiramente aberta, horrorizado com tais palavras. Este continuava olhando para frente, mas agora ele balançava o corpo para frente e para trás como se tentasse se divertir.

– Está dizendo que você causará isso a eles se eu fizer o que devo fazer? – Perguntou Dylan. Sua voz pareceu tremer um pouco por conta do acesso de raiva.

– Mas é claro que não, garoto! – Ele respondeu, levando uma mão ao peito, enquanto uma expressão de espanto se instalava em seu rosto. – Eu não teria coragem para fazer tal coisa, e não poderia nem se quisesse. – E revirou os olhos duas vezes. – Provavelmente morreria antes de tentar.

– Então... – Dylan ainda estava confuso. Queria respostas e não as estava conseguindo. Parecia que só mais perguntas se instalavam em seu cérebro, somando-se às outras tantas que já existiam.

O homem se virou para ele de repente, sobressaltando-o. Dessa vez, ele o encarou, olhando bem fundo de seus olhos, tentando passar uma mensagem que ele jamais esqueceria.

– O recado está dado. – Sua voz saiu firme assim como seu rosto estava naquele momento, sem deixar nenhum traço de diversão. – Você sabe o que tem que fazer para evitar isso. Você é um lobo, um guardião. Não vai querer que isso aconteça. Pense, Dylan, em milhares de corpos como esse, largados no chão, e os vampiros, seus inimigos, fazendo a festa enquanto você tem um destino inevitável e solitário.

A imagem que se instaurou fez Dylan quase gritar de raiva para que parasse. Os corpos ao seu redor se multiplicaram, amontoados uns encima dos outros, sangue escorrendo de cortes profundos e queimaduras além das chances de serem tratadas. Milhões de mortos à sua volta, os que estavam próximos se arrastavam até onde Dylan estava, gritando e implorando a ele por ajuda, puxando-o para perto com aquelas mãos mutiladas e cheias e sangue...

– Acorde, garoto, você sabe o que deve fazer! – O homem falou, mas sua boca mexeu sem emitir qualquer som. A voz que escutou foi de outra pessoa.

– Dylan, acorde! – Ele sentiu alguém o balançando. Até que acordou, um grito preso na garganta, que doía. Ele havia gritado enquanto dormia. – Dylan?

Alex havia parado de balançá-lo percebendo que estava acordado. Ele sentiu o amigo sentado ao seu lado na cama, parecendo assustado. Ele também se sentou, notando a luz do quarto acesa.

– Você está bem? – Perguntou Alex, colocando uma mão sobre o ombro de Dylan e levantando as sobrancelhas, – o gesto típico de preocupação que Dylan já conhecia.

Dylan assentiu, tentando se levantar e se sentido um pouco tonto. Alex o ajudou a se levantar, dando apoio quando ele se desequilibrou.

– Acho que foi só um sonh... um pesadelo – respondeu Dylan, recobrando o equilíbrio e passando a mão no rosto para espantar o sono. Ele se lembrava de apenas fragmentos do sonho que teve; corpos espalhados no chão, uma voz dizendo que ele seria o culpado... As poucas coisas que se lembrava, já começavam a sumir, como se vazassem por um ralo e desaparecessem sem chance de voltar.

– Um pesadelo? – Alex perguntou, alarmado. – Dylan quando eu cheguei na esquina, comecei a escutar seu gritos. Há quanto tempo isso está acontecendo?

– Começou essa semana, eu acho... – Ele respondeu, deixando o amigo no quarto e indo ao banheiro. Foi até a pia e passou um pouco de água no rosto. Seus pensamentos clarearam, mas as poucas lembranças que tinha do que havia sonhado, se esvaíram, sem deixar um resquício. Dylan voltou com uma toalha na mão enxugando o rosto. Alex continuava a olhá-lo com a mesma expressão de preocupação. – Estou bem agora, Alex. Estou acordado, não estou?

– Na verdade eu não sei nem se eu estou acordado – respondeu ele, em sua voz um tom sombrio. – Tenho cogitado a ideia de estar dormindo e vivendo um pesadelo ininterrupto a todo momento desde que tudo começou a acontecer.

– Então é melhor a gente acordar, – disse Dylan, depois de um bocejo. – A vida segue com ou sem a gente, mesmo que estejamos presos dentro de nossos pesadelos.

– E por falar em pesadelos... – Começou Alex, meio com vergonha.

– Fale logo, Alex. – Pediu Dylan com um gesto de impaciência.

– Bem, quando eu estava chegando, o Will já estava lá fora e você começou a gritar e ele ficou muito preocupado. – Explicou ele rapidamente. – Mas eu disse que conseguiria entrar na casa, mas que ele teria que me deixar achá-lo sozinho. Bem, ele concordou e está nos esperando na sala agora com uma explicação.

Dylan soltou um suspiro alto. Por ter dormido tanto e perdido a noção da hora, não conseguiu pensar em como conversar com o Will e muito menos o que diria a Alex sobre a viagem.

– Bem, vamos lá então, – disse, indo em direção à porta, mas Alex o puxou antes que saísse do quarto.

– Dylan eu sei que tem muita coisa acontecendo e você não deve estar bem por causa dos pesadelos e... Você já tem uma resposta?

– Alex, – Dylan se sobressaltou quando percebeu que já tinha uma resposta para dar ao amigo, o que o fez se perguntar por que havia adiado tanto sendo uma pergunta tão fácil de ser respondida, mas disse apenas: – vamos conversar com o Will primeiro.

Alex franziu a boca até esta parecer apenas uma linha em seu rosto e assentiu, saindo do quarto e atravessando o corredor em direção à sala.

Antes que Dylan chegasse, Will já começou a dizer:

– Sabe, isso aqui cheira pior que um esgoto de cidade grande. – Sua voz era grave e retumbava nas paredes, quase como se quisesse atravessá-las impondo medo e autoridade em tudo que a escutasse. – Eu já deveria saber que vocês estavam juntos nisso. Dei uma semana a você, Dylan, quando percebi que algo estava errado. Esperei que viesse a mim e contasse tudo, mas você não o fez. Agora chegou a hora. Garotos, sem truques dessa vez, podem abrir essas malditas bocas e contar tudo agora! – Exigiu ele, por fim, olhando-os diretamente nos olhos.

Will era um homem alto, mais alto que Dylan, tinha a pele morena e o cabelo negro cortado bem curto. Seus olhos eram castanhos quase da cor de café torrado. Vestia negro da cabeça aos pés e parecia emanar uma eletricidade de todo o corpo, sem saber que o fazia. Seus olhos brilhavam com uma luz estranhamente calma e perigosa, ainda esperando que os garotos começassem a falar.

Dylan se postou ao lado de Alex com a expressão inflexível e o corpo totalmente ereto, pronto para qualquer coisa que acontecesse.

– Sam! – Gritou Will, com impaciência. Ele não parecia querer esperar muito pela explicação. – Eu não consigo sentir sua presença, mas eu sei que você consegue escondê-la. Não me faça ir e te arrastar até aí, seu cachorro imundo! Deixando as obrigações do bando com seu próprio filho? Que tipo de homem você é?

– Will, meu pai não está aqui. – Interveio Dylan. Ele ficou pensando o que os vizinhos estariam achando dos gritos que começaram com Dylan enquanto sonhava e agora Will, gritando a plenos pulmões.

– Eu sabia que vocês dois estavam juntos, tramando alguma coisa como sempre. – O homem disse, se levantando do sofá e olhando de um lado a outro, como se Sam fosse atravessar uma parede e dizer que era só brincadeira. – Eu já sabia. Não sou idiota. Mas eu esperei a semana toda para que alguém, qualquer um de vocês, me contassem qualquer coisa, mas ninguém veio. Ninguém. Seu pai não mostrou aquele maldito focinho de cachorro quando eu mais precisava dele... Sam, – falou Will mais alto –, se for um dos seus joguinhos, saiba que quando encontrá-lo, vou deixar mais do que uma cicatriz nesse seu rosto podre. Está me ouvindo?

– Will, – chamou Dylan com mais confiança desta vez –, meu pai não está aqui. Ele precisou fazer uma viagem urgente e não teve tempo para avisar ninguém. E me deu ordens para contar isso a você apenas uma semana depois que tivesse ido. Você vai ficar encarregado da matilha enquanto ele não volta.

– Sam saiu e não disse nada? – Perguntou Will, incrédulo.

– Exatamente – Dylan respondeu. – Você mais do que ninguém conhece meu pai. Sabe que ele faz primeiro e diz os motivos depois. E Alex e eu vamos viajar também, estamos partindo amanhã.

Dylan não olhou para Alex, mas conseguiu, mesmo sem ver, notar o quanto aquilo o abalou. Mas logo se recompôs. Não podiam deixar que Will percebesse as falhas e as mentiras que foram ditas ali.

– Vocês também? – Ele perguntou. – Seu pai sabe, Dylan? E o seu, Alex? Eu não acredito que eles concordaram com isso. O líder da matilha e mais dois membros estão saindo. O bando ficará desfalcado. Por quanto tempo?

– Nossa viagem está agendada antes de o meu pai sair. – Dylan respondeu. – Ele sabe que vamos. Ainda não sabemos por quanto tempo, mas avisamos assim que soubermos.

– Tudo bem, mas agora a pergunta de um milhão: para onde Sam foi? – Will pronunciou cada uma das quatro últimas palavras bem lentamente e cada uma foi uma tortura aos ouvidos de Dylan.

Alex percebeu rápido a reação de Dylan às palavras de Will e logo disse:

– O Sam não disse para onde ia, Will, sinto muito. – Sua voz estava em um tom neutro, descontraído, quase de descaso, como se não se importasse com tudo aquilo.

– Eu vou embora! – Gritou Will, sobressaltando Dylan. – Isso aqui vai virar um caos e se puder, avise ao seu pai, Dylan. Quando eu o encontrar vou dar um chute no traseiro daquele porco tão forte que ele vai demorar dias para voltar a andar. – Ele andou devagar até a porta, os garotos acompanhando-o a poucos passos de distância.

Dylan ficou boquiaberto. Achou que Will quebraria metade da casa quando descobrisse que seu pai havia supostamente viajado sem lhe avisar nada.

– É isso? – Perguntou. – Não vai quebrar nada?

– Dylan... – Chamou Alex.

Will se virou e lançou um olhar mortífero aos garotos antes de se virar novamente. Ele correu até a entrada e deu um pulo, lançando-se no ar como se não pesasse mais que uma pena e irrompeu em um lobo com pelo prateado. O lobo deu outro pulo e passou por cima da grade do portão com extrema facilidade. Depois se voltou para os garotos, seus olhos estampando uma tristeza quase insana e uivou, olhando para cima, onde a lua brilhava no céu. E desapareceu na escuridão da rua.

– Dylan, meu pai me contou porque Will está agindo estranho ultimamente. – Alex disse, a expressão séria. – Ele tem tido alguns problemas com a mulher dentro de casa. Você conhece o temperamento dele e com essa coisa toda do lobo, fica pior, como se a raiva o dominasse completamente às vezes. Ruth disse que se ele não melhorasse, iria embora e levaria o pequeno Miguel com eles. Você sabe o quanto Will ama aqueles dois e não é culpa dele esses ataques...

– Eu... eu não sabia. – Dylan sentia a culpa dominando-o por dentro. – Vou me desculpar.

Dylan correu até a porta de entrada e a fechou, colocando a chave no bolso.

– Nos vemos amanhã? – Perguntou.

– Sim, eu acho. – Respondeu Alex, meio confuso. – Você realmente quer que eu vá?

– Você sabe que sim, Alex. – Dylan disse, segurando no ombro do amigo. – Vou sempre precisar de você. Dylan correu para o portão e Alex o acompanhou. – Partiremos amanhã. Acha que vai ter problema com seus pais?

– Não, eu me viro. – Respondeu.

– Ótimo! Esteja aqui cedo, vou reservar as passagens. Diga a seu pai que Will vai explicar tudo em uma reunião amanhã.

– Até amanhã, então. – Gritou Dylan antes de sair correndo pela rua, tentando seguir o cheiro do novo líder da matilha que ele deixaria para trás.

Aquele pensamento atravessou Dylan como uma adaga afiada. Era tanta coisa para ele sentir falta. Tantos motivos para não ir e mais tantos outros para ir. Mas agora era tarde, estava tudo indo bem. Quando chegasse a hora, iriam enfrentar um destino desconhecido que poderia levar os dois a caminhos de sofrimento desesperador e talvez morte certa. Mas sua meta estava traçada: Encontraria seu pai.


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