Capítulo IV

Tive de ficar a olhar para o ar a manhã inteira até ao almoço. A Ginny e a Luna estavam em aulas, Ron provavelmente com a Lavender fazendo não quero saber o quê e Harry “ajudando” Filch a limpar. Acho que é uma espécie de vingança das inúmeras vezes que ele nos apanhou fora da cama.

Ainda não era hora de almoçar e eu já estava esperando à porta do salão. Acreditem ou não, ver o ar a passar dá IMENSA fome. Nem deu tempo de Harry se sentar à mesa, Peeves já lhe perguntava coisas do género «Então, a treinar para dona de casa?».

– Sai, Peeves. – gritou a certa altura, o que fez todo o mundo olhar para a nossa mesa.

– Que irritante – queixou-se Ron. Nem tinha visto que ele ali estava. E bem podia continuar sem saber. Passado pouco tempo levantou-se e saiu (à velocidade que ele come não é de espantar).

– Para onde é que ele vai com tanta pressa? – perguntou Harry, seguindo-o com o olhar – Costuma esperar por nós.

– Ou costumava… - respondi.

– Você anda estranha com ele – reparou Harry. – Que se passa?

– Vejamos… Imagina que te convidam para o baile e depois, passado um tempo resolvem ir com outra pessoa porque resolveu voltar a andar com ela.

– Ah… Ele te convidou e depois desconvidou?

– Basicamente, sim. E além disso não estou propriamente a ver com quem vá agora. Talvez acabe por nem ir.

– Eu também não tenho par, quer dizer, não quero ir com aquelas minhas “fãs” – revirou os olhos com esta última palavra – Na verdade até tenho medo que elas coloquem uma poção de amor em alguma coisa que eu beba.

– Não se preocupe, a Ginny arrancava-lhes a cabeça.

– Você quer ir comigo? Como amigos?

– Onde é que eu já ouvi isso… Claro – respondi sorrindo. – Mas assim quem fica sem cabeça sou eu.

– Sem problema, se for preciso eu explico tudo… Se ainda for a tempo de te encontrar com algo por cima dos ombros…

– Então… Fica combinado! Agora tenho de ir para a maldita reunião para a organização do baile. Até depois!

POV Ron

A Mione anda estranha, não faço ideia porquê. Quanto ao Harry poucas vezes o vejo. Está sempre prestando serviços aqui e acolá. Comecei namorando com a Lavender de novo, e ela lá me obrigou a ir com ela ao baile… Acho que não tarda nada a Hermione vai me matar. Já da outra vez a convidei em última opção, agora a deixo a olhar para as moscas. Espero que ela arranje alguém… Melhor que eu. Apesar de queres estar com a Lavender ela parece uma lapa, nunca me deixa sozinho um segundo que seja, por isso a solução que arranjei foi ir assistir aos treinos de Quidditch. Ela não tem paciência e acaba por ir procurar as amigas. Mal acabei de almoçar fui para a sala comum para ter alguma paz, e, felizmente não estava lá ninguém. Uma meia hora depois apareceu Harry, completamente desfeito.

– Então, as fãs são assim tão ferozes? – perguntei, imitando um gato deitando as garras de fora com a mão.

– Nem me fale – ele se jogou numa cadeira – “Harry, não consigo achar minha sala”, “Harry, você me pode ajudar a encontrar a casa de banho?”, “Harry, eu sei que já te pediram a mesma coisa 50 vezes, mas me dá um autógrafo?”.

– Então eu mal tenho que fazer. Fico aqui sentado que nem minha tia quando passa o natal lá em casa.

– Imagino.

– Imagina? Você nem a conhece, Harry!

– Por isso mesmo, estou a imaginar, NÃO a visualizar.

– Ah… Faz sentido.

– Nossas conversas são tão normais.

– É.

– Agora um assunto mais sério.

– O quê?

– Você trocou mesmo a Mione pela Lavender?

– S-s-sim, porquê? Ela me obrigou… Agora estamos juntos de novo, era estranho.

– E você não queria ir com a Hermione? – perguntou ele, me olhando sem piscar.

– Hmmm… - seguiu-se de silêncio. Fiquei olhando para o chão até dizer – Sou um completo idiota. Sou capaz de dizer um “Não” à Hermione, mas à Lavender não.

– Talvez seja o medo de ela te estrangular. – disse Harry muito sério.

– Não é altura, Harry…

– Ok, ok… Então, o que você vai fazer?

– Acho que não tenho lata de lhe pedir que vá comigo de novo. Vou parecer um idiota ainda maior. Ela já vai com alguém, certo?

– Sim. Vai comigo. Vamos tipo o par forever alone – ele revirou os olhos.

– Ah… Ok.

– Algum problema? – perguntou.

– Nada. Por falar nisso, você já pensou em arranjar uma coruja nova? Dá sempre jeito… Depois do que aconteceu à Hedwig… - tentei desviar a conversa.

– Sim, quando for à Diagon Alley. Os Orientadores pelo menos têm permissão para sair quando querem.

– Ao menos isso – suspirei.

– Olá – Hermione entrou na sala nesse preciso momento.

– Oi – respondi

– Oi, Mione.

– Então, como vai a organização? – perguntei.

Ela olhou através de mim como se eu não existisse e começou a falar com Harry sobre o que estavam planeando.

– Mereço… - murmurei de que maneira a que apenas eu ouvisse.

*

Já estava a ficar tarde e eu ainda andava pelos corredores. Não sei bem o que querem que façamos. Vigiar. Vigiar o quê? A gata do Filch a tratar da higiene? Sentei-me nas escadas que iam dar ao 5º andar e esperei que acabasse o turno. Ainda faltava cerca de uma hora, até que ouvi um barulho vindo do outro lado. Me levantei com a varinha na mão à espera de a qualquer momento acontecer alguma coisa. Gritos? Coisas caindo ao chão? Nada. Imaginação, talvez. Mesmo assim fui verificar. Comecei andando, no escuro, olhando pelas portas das salas vazias. Estava distraído olhando numa sala de arrumações e choquei com algo. Ou melhor, alguém, porque deu um pequeno grito.

– Quem está aí? – perguntei.

– Eu e meu primo gnomo, Gilberto – ouvi uma voz num tom irónico que eu bem conhecia.

– Hermione? O que você faz aqui?

– O mesmo que você.

– Esperando que o turno acabe?

– Não, vigiando.

– Mas afinal o que raio querem que vigiemos?

Ela encolheu os ombros – Não sei.

Ficámos olhando um para o outro que nem idiotas. Até como que por impulso, me aproximei dela. Fui me aproximando cada vez mais… Era a minha chance…

“O que você está fazendo Ron? Você está com a Lavender!”

Agora não, consciência.

O que você está fazendo é errado.

– Acho que… Vou andando para aquele corredor, não está ninguém vigiando lá. – interrompeu ela. Interromper, bem a discussão era mental, mas mesmo assim.

– Ok. Eu fico por aqui – respondi, corado. Ouvi ela murmurar a palavra “aliens”. De certeza que tem passado muito tempo com a Luna.

*

[POV Hermione]

– Era muito mais fácil se nos tivessem chamado para organizar o baile de Halloween ou Natal. Pelo menos sabíamos o tipo de decorações que usaríamos – era a quinta vez que Malfoy dizia a mesma coisa na mesma reunião.

– E era muito mais fácil se você se parasse de queixar e nos ajudasse – disse Catherine.

– Eu ajudo quando tiver ideias.

– Muito bem, luzes… Isso dava um ar de natal, não é? – perguntei.

– Está fora… Acho que vamos ter de nos contentar com velas e toalhas de mesa – disse Edward.

– Parece que sim. Quanto à comida? – Malfoy tentava participar.

– Você não nos esteve a ouvir pois não? – gritou Catherine.

– Nem por isso. E então…?

Entreguei-lhe uma lista.

– Está aí. Os elfos levam para o salão no dia.

– Ah… Você não acha que eles podem partir um braço ou a cabeça?

– Se há alguém que eu queria que partisse a cabeça era você – resmungou Edward, suficientemente alto para Malfoy ouvir.

– Repita isso de novo! – ameaçou.

– Eu disse que se há alguém….

– CHEGA! Parecem duas galinhas! – interrompeu Catherine. Tinha ar de quem os ia atirar pela janela fora.

Eles pararam, mas da maneira de que olhavam um para o outro, parecia que estavam a lançar Avada Kedavras um ao outro mentalmente.

– Já são quase horas da minha vigia pelos corredores! – disse de repente Catherine. Tenho de ir. Amanhã, à mesma hora?

– Sim.