–every, merda! Sai logo! – ele gritou mais irritado. – porra! A gente já fez isso antes, não precisa ser diferente agora. – continuei calada. Meus olhos já estavam mais acostumados com a escuridão e eu conseguia enxergar algumas sombras, nada mais que isso. – every, eu estou pedindo pela ultima vez. – eu ouvi seus passos, mas ele estava do outro lado do quarto.

Droga! Eu tenho que sair daqui, já estou ficando louca! Me arrastei um pouco e apertei os olhos para conseguir enxergar melhor, mas não deu em nada. Ouvi novamente seus passos e percebi que ele estava mais próximo do que eu imaginava, me mexi um pouco mais e esbarrei meu ombro na quina do guarda roupa, acabei soltando um gemido de dor, só percebi meu erro ao sentir sua mão em meus cabelos.

Ele me jogou no chão e eu gritei, consegui soltar o aperto em meus cabelos e corri até a parede mais próxima, mas percebi que poderia fazer melhor. Comecei a tatear a parede e a sentir tudo o que estava ao meu alcance, percebi que estava próxima a uma cômoda, e que em cima dela tinham vários perfumes, entre eles um desodorante. Peguei-o e ao fazer isso, acabei esbarrando em um vidro de perfume que caiu de lado, fazendo um barulho alto.

Bryan veio novamente pra cima de mim, mas dessa vez estava preparada. Certifiquei-me de que o spray estava apontado pra direção certa e mirei em seu olho, apertando o botão logo em seguida, bryan caiu de joelhos e gritou de dor, aproveitei o momento de fraqueza e lhe dei um chute nas costelas, ele caiu deitado no chão, ainda gemendo de dor, chutei mais uma vez suas costas e corri, ele ainda estava caído, procurei desesperadamente por um interruptor e por fim o encontrei, apertei-o, mas a lâmpada devia estar queimada, pois nada aconteceu, de longe ainda podia ver sua sombra no chão, e ele deu uma gargalhada que me fez arrepiar até os pelos pubianos.

Procurei pela porta ao lado do interruptor, mas estava trancada. Comecei a entrar em pânico, aonde eu estava? O que iria fazer agora? Ouvi um barulho que vinha do bolso de bryan, o celular dele, imaginei. Corri até ele ainda com o spray na mão e parei ao lado da cômoda. Fiz uma coisa do qual sei que me arrependeria pra sempre. Peguei um dos perfumes e o bati com força na cabeça de bryan repetidas vezes, até que ele parasse de se mexer. Então coloquei a mão em seu bolso e peguei seu celular.

Comecei a digitar uma mensagem para Gabriel, com poucas palavras eu o disse que bryan tinha me sequestrado, e que eu não sabia aonde eu estava, pedi que ele rastreasse o celular e viesse me buscar, e ao apertar o botão de enviar senti o aperto de bryan em meu braço.

–achou que me derrubaria tão facilmente? Qual é every, você já foi mais esperta. – ele tomou o celular de mim e me jogou de costas no chão. – não sabe mesmo onde estamos, não é? – ele riu. – isso me magoa um pouco. – ele pegou algo no bolso da calça, uma coisa pequena e branca, e a passou com delicadeza em meu rosto, ela era macia. Uma pétala de orquídea branca, igual a que me deu em nosso primeiro encontro.

*6 anos antes. *

Estávamos na nossa casa da arvore, eu, brih, bryan e luan.

–ei, eve. – bryan me gritou. – você pode vir aqui embaixo comigo, por favor? –perguntou.

–claro. – disse e deixei minha boneca nas mãos de brih. – eu já volto. – disse a ela.

Bryan e eu éramos amigos desde pequenos , e ele era um garoto bem engraçado, vivia me dando flores e sempre queria ser meu marido nas brincadeiras de casinha. As vezes ele era chato, mas sempre tentava me agradar. Quando desci, ele segurou minha mão e me puxou para dentro da casa dele, já que nossa casa da arvore ficava em seu quintal, e me levou até o quarto de visitas.

–eve, eu preciso te contar uma coisa. – ele disse assim que fechou a porta, ele parecia nervoso. –eu não sei bem como te dizer isso. – segurou minha mão e me levou até a cama, onde se sentou ao meu lado. – então vou ser bem direto. Eu gosto de você, eve. – ao ouvir isso eu puxei minha mão da dele e me levantei da cama, andei até a porta e, ainda olhando para a madeira escura, disse:

–bryan, eu não me sinto assim em relação a você, me desculpa. – abri a porta e sai correndo.

* tempo atual. *

–você está maluco! – gritei pra ele. – sai de cima de mim!

–não vou sair, porra! Você me ama, eu sei!

–pois eu não sei de nada disso. – estava começando a ficar desesperada, Gabriel teria recebido a mensagem?

–aqui tudo começou, e aqui vai terminar! – ele disse. Essa frase mexeu em algo dentro de mim, algo acordou em minha memoria. O quarto de visitas na casa dele.

–aqui eu te disse que não te amava a primeira vez, e vou dizer novamente, pela ultima vez!

–se disser, será a ultima coisa que ira dizer.

–pois eu morrerei feliz se minhas ultimas palavras forem essas. Eu não te amo, nunca vou te amar. Eu amo o Gabriel e vou ama-lo para sempre! Não há nada que você possa fazer para mudar isso, e tudo o que você faz me dá mais motivos pra te odiar, seu maldito! – eu já estava gritando. Ouvi batidas fortes na porta um pouco antes dela cair no chão. Meus olhos arderam com a claridade e eu fui obrigada a fecha-los.

– eu também te amo. – era a voz dele. Gabriel tinha vindo para me salvar.

–gabriel! – gritei. Bryan se levantou e me arrastou com ele, me jogou na cama violentamente e se virou para Gabriel.

–ela não sai daqui! – ele gritou. Me levantei e corri até a cômoda, enquanto Gabriel agarrava bryan e o jogava no chão, socando e socando, mas bryan também estava batendo nele, procurei algo, qualquer coisa que pudesse me ajudar. Agarrei um vidro de perfume e o joguei no chão com uma força absurda segundos antes de algo me jogar na parede. Empurrei bryan e me libertei por alguns segundos antes dele se recuperar, mas nesse meio tempo eu já havia pego um dos cacos de vidro do perfume. Bryan se jogou sobre mim novamente, mas eu o acertei no braço com o pedaço de vidro. Ele berrou e agarrou o braço que sangrava descontroladamente.

–every! – Gabriel gritou e se aproximou, seu rosto estava inchado e roxo, mas ainda estava lindo pra mim. – se ele continuar sangrando assim, vai morrer! – não, ele não pode morrer por minha causa, não mesmo. Abri uma das gavetas e achei uma meia-calça, amarrei-a um pouco acima do ferimento de bryan, que agora estava caído no chão, fraco pelo sangramento, e ajudei Gabriel a carrega-lo para o carro.

–achei que nunca mais ia te ver – eu disse para Gabriel assim que ele trancou as portas do carro. Ele não disse nada, apenas se aproximou de mim e me beijou, um beijo quente que dizia muitas coisas lindas, mais do que ele poderia descrever em palavras, mais do que eu compreenderia se ele dissesse. Esse beijo mudou muita coisa dentro de mim, despertou sensações que eu não conhecia, muitas delas prazerosas, mas outras nada agradáveis, como o medo de perde-lo, de perder o que tínhamos. – tenho medo. – eu disse assim que nos separamos.

– medo de que? – ele perguntou.

–medo de te perder, de ficar sem você. – disse por fim, e ele selou nossos lábios novamente em um beijo rápido.

–eu não vou a lugar algum, só se você for comigo.

–eu vou. – fiz que sim com a cabeça e sorri. – eu vou. – disse pela segunda vez, mas pra mim do que pra ele. Naquele momento, com aquelas palavras, naquele lugar, eu percebi que estava completamente ferrada, pois eu estava completamente apaixonada por ele, e eu iria aonde ele me mandasse ir.