Inocente Coração escrita por Myahko


Capítulo 1
Samus




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Olá. Meu nome é Samus e eu tenho quinze anos. A propósito, foi meu pai quem me deu esse nome e ele é muito viciado em jogos. Ainda é, mas a mamãe não parece ter odiado. Ela até disse que combinava comigo...

Foco, Samus!

Ah, perdoe-me. Continuando minha história de vida...

Eu sou baixinha, tenho um longo cabelo loiro-claro e olhos pretos. Minha pele é pálida e minha voz é fina. Eu sou tímida, não tenho amigas, e nem namorado. Sou totalmente o tipo de garota que está destinada a ficar sozinha. Mas eu não me importo muito com a solidão. Na verdade, eu sou muito agradecida por ter nascido assim, porque eu adoro ficar sozinha, no silêncio. Posso ler, escrever, ouvir música e um montão de outras coisas sem ninguém me distrair! É muito bom.

Bem... Era bom, até eu me apaixonar. Eu nunca tinha me apaixonado antes, então eu tive que perguntar à minha mãe... e ela disse que era amor. Eu fiquei feliz, bem feliz ao descobrir, porque aí eu poderia ter um namorado! Ou, sei lá, um único garoto para admirar...? Podem falar, eu ainda sou virgem e pura e ingênua e etc...

O garoto que eu amo é perfeito! Pelo menos, para mim. Ele tem cabelos tingidos de azul-céu, olhos azul-escuros naturais, pele bronzeada, e é alto e forte! O nome dele é Nickolas e ele tem dezesseis anos. Tudo bem, é só um ano de diferença, não tem problema...

...Tinha. Eu não percebi o quanto eu era inocente. Eu já tinha quinze anos, mas não sabia de nada do mundo adolescente! Uma criança num corpo de adolescente, é isso que eu sou.

“Por quê?”, você pergunta?

Porque ele tinha um monte de garotas lindas ao redor dele. E não só isso! Ele sabia beijar, e não tinha vergonha disso. Beijava em qualquer lugar, literalmente. Ele dizia coisas obscenas tão facilmente... e as garotas, uma por uma, coravam e tentavam seduzi-lo. Essas mesmas mulheres, que o cercavam, o protegiam de outras que não eram “aceitas” por elas. Quando eu tentei falar com o Nickolas, elas me empurraram e me derrubaram no chão, dizendo coisas como “Quem é você, sua horrorosa?” e “Saia de perto do nosso príncipe, sua porca!”...

Foi frustrante, e não pude me impedir de chorar quando cheguei em casa. Eu estava perdidamente apaixonada pelo popular e ultra perfeito Nickolas, e não podia nem me aproximar dele!!

Resolvi me dar um “banho de loja” e pedi para fazer compras com a minha mãe. Ganhei roupas novas, um tratamento especial no cabeleireiro com direito a maquiagem e manicure e pedicure, bronzeamento artificial... E já que eu logo precisaria usar óculos, decidi pegar lentes de contato também. Da cor azul-escuro!

Na saída do shopping, encontrei Nickolas. Ele estava sozinho, tentando se esconder daquelas patricinhas. Minha mãe percebeu meu olhar apaixonado e me deu um “empurrãozinho”. Eu caí em cima de Nickolas “acidentalmente”, e acabei gritando “Kyah!!”. Foi muito constrangedor, e olhei feio para a mamãe. Ela deu uma risadinha e fez um gesto com a mão, como se dissesse “Vai fundo!”.

E por mais chocante que pareça, ele me tratou bem. Perguntou se eu me machuquei, ajudou-me a levantar, até me convidou para um passeio! Eu fiquei super envergonhada, mas aceitei... Ele me levou para tomar um sorvete, elogiou-me dizendo “Você está muito linda com essa roupa”, e tal... Aí, quando perguntou meu nome e meu número de celular, eu quase enlouqueci. Eu tinha medo de que ele percebesse que eu era aquela menina isolada e fosse embora, então inventei um nome na hora. Disse “Meu nome é Robin” com um sorriso e dei-lhe meu número. Ele elogiou meu nome também. Meu rosto ficou quase roxo de vergonha, e ele achou-me fofinha.

Infelizmente, aquelas malditas garotas chegaram e ele teve de correr. Nickolas atravessou a rua, e só aí que elas o perceberam. Correram atrás dele “preocupadas”, falando de um modo tão adocicado que quase vomitei o banana-split que dividi com meu amado... Uma ótima memória: “Meu primeiro passeio com a pessoa que amo”...

Era como um sonho, e como tal, ele tinha que acabar alguma hora. Essa hora foi exatamente quando percebi que ele havia começado a gostar de mim. Mas não de mim, e sim daquela “eu” que inventei, “Robin”.

Foi um pesadelo. Na escola, eu só podia olhá-lo de longe, mas nem sempre conseguia. Em algumas tardes, ele me ligava, perguntando se eu tinha um tempo para sair com ele, e eu tinha que responder exatamente como a “Robin” faria, porque quando estou com ele, não sou mais Samus, e sim uma fofa estudante de intercâmbio de pais ausentes que tinha dezessete anos. Claro, tudo foi uma mentira. E isso está me matando por dentro! Não sei quanto tempos mais aguentarei fingir...

Nickolas parou de sair com qualquer e toda garota, de beijar qualquer e toda garota, e até começou a estudar mais, só porque eu (Robin) disse que “Eu adoro rapazes inteligentes”. É deprimente, mas é a verdade. Enquanto finjo ser a garota que ele ama, Robin, digo tudo o que “eu” (Samus) gosto, odeio, adoro... Não é justo. Eu sempre sonhei que ele me amasse, mas nunca vai se realizar! E em um de nossos encontros, ele disse, com a face corada:

“É meu primeiro amor, sabe? Então, por favor, seja legal comigo!”

Aquela frase abalou meu interior todo. Quando ele finalmente se apaixona... não é por mim! É por uma garota que eu mesmo criei! E ele está dizendo tudo sobre ele pra “Robin”, e não por mim!!

—Robin?! Por que está chorando?! Se machucou em algum lugar?! – ele perguntou, ficando nervoso.

Atualmente, nós estamos fazendo um piquenique, no jardim da casa dele. – ou melhor, da mansão dele – e eu estou pensando em coisas tristes. Não posso evitar. Eu queria que ele olhasse para mim, sorrisse e dissesse “Vamos, Samus?” com o rosto corado de amor! Mas não vai acontecer! Porque ele nunca vai dizer Samus, e sim Robin!!

É, não dá mais. Eu tenho que contar a verdade, não tem outro jeito. Se eu continuar, vou enlouquecer, com inveja de mim mesma.

—Perdoe-me... Eu nunca quis lhe enganar... – gaguejava, enquanto tentava secar as lágrimas dolorosas que corriam por minha face.

—D-Do que está falando, Robin? – perguntou, entregando–me um lenço, que recusei.

—Eu não sou Robin... A pessoa que você ama não sou eu... – e levantei a cabeça, encarando-o fundo nos olhos. – Meu nome real é Samus, e não Robin. Eu tenho quinze anos, e não dezessete. Meus pais não são ausentes, eles ficam em casa a maior parte do tempo. Eu não sou uma intercambista, eu nasci e cresci aqui.

Quanto mais eu falava, mais chocado ele ficava. É bastante lógico... Descobrir que a mulher amada é só uma mentira deve tê-lo deixado muito zangado... Mas o que eu posso fazer? Eu sou só uma pirralha fraca, medrosa e tímida! Se eu não tivesse mudado tanto, ele não iria nem olhar para mim!

—Perdoe-me por ter te enganado... Eu só fiz isso para poder ficar mais perto de você... – funguei, tremendo. – E-Eu... S-Se você quiser, eu nunca mais...

—Por que? – interrompeu-me, com uma expressão enigmática demais para eu entender. – Por que fez tudo aquilo? Por que aceitou os meus convites, todos eles, se só estava mentindo? Por que você se arruma tanto para me encontrar se é tudo uma mentira?!

—Porque é você. – respondi, sorriso gentilmente, preparada para dizer tudo o que eu sinto por ele. Somente com estas palavras, ele se calou, perplexo. – Toda vez que você me ligava, meu peito saltava de alegria. Eu demorava horas no banho, escolhendo a roupa, colocando a maquiagem... Só para chegar no lugar marcado e ouvir você dizer “Você está linda”... – funguei novamente. Eu mal conseguia falar, com a garganta fechando e a voz rouca e trêmula. Meu coração esquentou só de eu lembrar as muitas vezes que ele disse aquelas três palavras. – Eu gastei todo o dinheiro que eu juntei para comprar mais roupas bonitas e maquiagem, só para eu ouvir você dizer aquilo de novo...

Respirei fundo, parando de tentar secar as lágrimas e encarando a grama verde. Eu não conseguia mais olhá-lo. Eu estava com medo. Então, para poder colocar tudo para fora antes que ele me expulsasse dali, voltei a falar, resumindo tudo.

—Eu realmente não ligo para quantas horas de estudo eu perdi só pensando em você. Eu não me importo em perder minhas notas altas, se for para poder ficar mais tempo junto de você. – e respirei fundo de novo, apertando as mãos unidas. – Eu sou capaz de fazer o impossível, se for por você, Nickolas. Para mim, você é o único homem no mundo. – e fiz uma pausa, arrumando a postura e encarando-o de novo. Juntei toda a minha coragem durante a minha vida inteira e disse: – Meu mundo mudou depois que você apareceu, e eu sou muito, muito grata a você, por tudo. Por me mostrar como é um encontro, por me tirar meu primeiro beijo, por... Por me mostrar como é o mundo de uma menina apaixonada.

—... H-Huh...?!! – ele murmurou, percebendo no que isso ia dar. – E-Ei...

—Obrigada por me dar tantas memórias felizes. – e sorri. Um sorriso que mostrava toda a minha felicidade, vergonha e vários outros sentimentos... – Eu te amo, Nickolas, e peço que me permita continuar amando-o para sempre...

Curvei-me, em sinal de respeito. Sua face estava rosada, o que me deixou alegre. Mas, ainda assim, eu sabia que aquilo era um adeus. Eu sei que posso estar sendo pessimista, mas não há chance dele se apaixonar por mim agora! A verdadeira eu, a Samus!!

Levantei, com o corpo tremendo, e peguei minha bolsa de colo. Ao me virar para sair pelo pequeno portão branco da cerca que tinha ao redor do jardim, meu pulso esquerdo foi segurado. Meus braços estavam descobertos, então a simples sensação de seu toque me fez estremecer na base.

Mesmo dizendo adeus, eu ainda fico feliz com uma coisa dessas... Haha, eu sou um desastre...

—Antes de ir, por favor, me responda uma coisa. – sua voz saiu grave, de um jeito que me deu pena.

—Certo... Qualquer coisa. – sussurrei, virando a cabeça um pouco apenas para vê-lo encarando a toalha quadriculada.

—Tudo aquilo que você disse, sobre seus gostos e tudo mais... Era mentira?

Sério, aquela pergunta me chocou. Ele tinha, tipo, um milhão de coisas para me perguntar, e escolhe logo essa?! Será que ele ama a “Robin” tanto assim...?

—Não. – respondi, sem hesitar. – Era tudo verdade. Desde o começo, eu nunca menti sobre meus gostos...

Dei um sorriso fraco e triste, e com a voz rouca, murmurei:

—Eu sinto muito.

E então ele soltou meu pulso.

Eu sabia. Era realmente um adeus.

Mordi o lábio inferior com força, muita força, para evitar fazer algum som de tristeza. Com movimentos rígidos, andei até o pequeno portão. Abri-o, e me virei para olhá-lo uma última vez. Sua cabeça estava abaixada, seus braços estavam cruzados, e a brisa sacudia levemente seu belo cabelo azul. Dei outro sorriso fraco, e me apressei a sair dali.

Eu sou detestável... Eu sou egoísta... Mas eu só estou apaixonada.

—Sim... – murmurei, enquanto andava pelo bairro de gente rica. Alguns rapazes me olhavam e assoviavam, mas eu os ignorava. – Parece que acabou minha aventura na Terra do Amor... Vou voltar a ser a pessoa que era antes, solitária e medrosa... Está tudo bem. Não estava nos meus planos me apaixonar, mas... Agora, acabou.

Sim... Acabou.

Eu parei de andar e abaixei minha cabeça. Ainda mordendo o lábio, deixei as lágrimas rolarem. A rua estava vazia. Ninguém iria me atrapalhar. Eu tinha que chorar. Eu ainda estou com medo. Eu estou apavorada! Mas não posso simplesmente voltar atrás. Eu não posso... porque eu já desisti de ter Nickolas de volta.


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