Inocente Coração escrita por Myahko


Capítulo 2
Nickolas




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E aí? Meu nome é Nickolas, eu tenho dezessete anos, sou um estudante boa-pinta e super popular. Meu cabelo é castanho-escuro, mas eu pintei ele de azul. Meus olhos são azuis, e são naturais. Sou alto, musculoso e bronzeado. Além de ser gentil e sedutor. É por isso que as mulheres me adoram! Minha mãe, por exemplo, adora me mimar... mesmo que eu seja quase um adulto, e ela já tenha mais de quarenta anos – ou seja, uma velhota...

Minha vida rotineira de ir para a escola, seduzir garotas, cair na farra e não estudar é bem divertida, mesmo sendo a mesma coisa todo dia. Então é lógico que eu vou querer algo diferente! Afinal, eu adoro me aventurar, seja em lugares perigosos ou em relações conturbadas.

Num sábado qualquer, de manhã, eu estava tentando ficar sozinho, longe daquelas piriguetes que eu vejo sempre. Elas são um pé no saco!

Enquanto eu fugia delas, na frente do shopping, uma garota tropeçou e caiu em cima de mim. No momento, eu pensei duas coisas: ou ela fez de propósito para me atrair, ou foi sem querer mesmo.

Pela expressão envergonhada dela, foi a segunda opção. Seria só um simples tropeço, que acontece de vez em quando e que nós nunca mais vamos nos encontrar novamente... Mas na verdade, não foi assim. Foi... estranho. Quando eu encarei seus olhos azuis, não consegui descobrir se era realmente natural ou não, e fiquei constrangido.

Mas por quê? Não tem motivo eu ficar assim do nada! O que será que está acontecendo comigo?!

Percebi uma mulher bem parecida com ela – talvez sua mãe – rir discretamente e fazer um gesto tipo “Vai fundo!”. Ela estava tentando jogar a filha dela para cima de mim? Que tipo de mãe ela é?!

De qualquer jeito, ajudei a coitada a levantar e perguntei se ela estava bem. Ela assentiu e já ia embora, e foi quando a convidei para tomar um sorvete, como um pedido de desculpas. Sua reação foi muito esquisita. Seus olhos azuis começaram a brilhar, e ela concordou de modo envergonhado.

Nesse passeio, ela disse algumas coisas sobre si mesma, enquanto eu perguntava mais e mais, sem conseguir me conter. Ela era bem interessante. Só por um elogio, ela ficou super vermelha, como um tomate! Decidi fazê-la se apaixonar por mim, e então torná-la minha namorada. Ela é bem bonita, todos os caras ficarão com inveja de mim. Muahahaha!!

Quando perguntei seu nome, ela ficou bem indecisa se respondia ou não. Depois de alguns segundos hesitando, disse que se chamava Robin, uma estudante de intercâmbio de dezessete anos, de pais ausentes. Trocamos e-mails, e dividimos um banana-split. Ela ficou bem envergonhada e gaguejante quando pedi que me desse o sorvete na boca; ainda assim, ela fez. Nesse momento, um casal de idosos passou e a mulher disse “Eles devem ser recém-casados!”, sendo apoiada pelo marido. A loira engasgou e tossiu, com as bochechas queimando. Até mesmo derrubou a colher. Quase pude jurar que o rosto de Robin ia explodir de vergonha, foi muito bonitinho!

Infelizmente, nossa divertida conversa foi interrompida quando, na esquina, eu vi meu fã-clube me procurando. Levantei e despedi-me de Robin, fazendo com que aquelas piriguetes não notassem que eu estava com ela, pois só iam impedi-la de me ver de novo. Elas são esse tipo de gente. Irritante, não?

Quase dois meses depois...

Várias semanas se passaram, e eu havia perdido a conta de quantos dias havia ficado com Robin. Quanto mais nos encontrávamos, mais eu me apaixonava por ela. Claro, também tinha a questão do meu fã-clube... que pedi (ou melhor, implorei) para ser desfeito. Parei de “ficar” com as garotas da escola e comecei a estudar mais, porque Robin disse que rapazes inteligentes faziam seu tipo. “Inteligentes” do tipo “tem notas boas”, só para vocês entenderem!

Três dias antes do meu aniversário, eu a convidei para fazer um piquenique no jardim da minha casa. Robin ficou super feliz. É óbvio que ela aceitou. Eu pretendia me declarar para ela no momento mais oportuno e pedi-la em namoro.

Heh, mal posso esperar para ver a cara dela...

Estávamos conversando sobre bobagens, comendo sanduíches e tomando suco de goiaba – o favorito dela. Robin ficou perdida em pensamentos, olhando para o céu, e enquanto ela não notava meu olhar, eu fiquei admirando sua beleza. Seus cabelos estavam mais macios do que nunca, e suas íris azuis eram mais belas que o próprio céu da manhã. Sua pele era um tanto bronzeada, mas sensível ao toque. Suas mãos eram quentes, pequenas e fofinhas; quando eu as segurava, sentia que eram as mãos de um bebê...

De repente, ela começou a chorar. Eu, claro, fiquei super preocupado e perguntei o que havia de errado. Ela balançou a cabeça e deu um sorriso fraco, quase forçado. Seu olhar estava inundado de tristeza, e algo mais profundo. Mágoa? Culpa? Mas culpa de quê...?

Seus lábios finos se moveram, jorrando as únicas palavras que eu nunca imaginaria que ela diria.

Ela era apenas Samus, uma estudante tímida e solitária de quinze anos. Aquela estudante que estava sempre sozinha lendo um livro, e que sempre sentava na cadeira perto da janela do fundo. A garota que sempre olhava para o céu claro da manhã e sorria, para depois me olhar de modo apaixonado e ruborizar.

Samus... A menina que estava sempre me olhando, cujas írises verdes estavam sempre repletas de pensamentos românticos. Como eu nunca percebi antes?! Era tão óbvio, tão simples! A garota por quem me apaixonei estava sempre tão perto de mim, e ao mesmo tempo, tão longe... E mesmo mentindo sobre ser outra pessoa, ela disse a verdade quando compartilhou seus segredos comigo.

Eu não acredito que ela fez tudo isso... Não pode ser real...

Depois de ter dito toda a verdade, e se declarado para mim, ela pediu perdão mais uma vez e foi embora. Por algum motivo que desconheço, meu coração ficou apertado quando ouvi o rangido do portão branco da cerca, e os passos dela se distanciarem mais e mais a cada segundo.

Quebra de tempo!

Dois meses e meio se passaram depois daquilo, e nós não nos falamos mais. A loira havia cortado o cabelo, deixando-o curto e repicado. Ainda usava as lentes de contato, que agora eram sem cor, destacando as írises pretas. Sua pele havia voltado à cor pálida, e ela não usava mais maquiagem alguma. Samus havia voltado ao que era antes... Tímida e reclusa, o que não me agradava em nada. Eu tinha que tomar a iniciativa, não tem como eu deixar isso ficar assim!

Eu não vou deixá-la ficar solitária de novo nunca mais!

Assim que tocou o sinal para a saída, eu levantei antes que todo mundo e atravessei a sala até a mesa de Samus. Ela estava com a cabeça deitada sobre os braços, e olhava pela janela, com uma expressão melancólica. Ainda não havia notado que eu me aproximei. Todos me encaravam confusos e/ou curiosos.

—Ei. – chamei-a. Ela levantou a face devagar, e ao me ver, seus olhos adquiriram uma sombra profunda de culpa.

—A-Ah... S-Sim...? – murmurou, arrumando a postura e tentando parecer o mais natural possível.

Irritado, bati em sua mesa com força suficiente para fazer o barulho ecoar. Ela pulou de susto e quase caiu da cadeira. Tirei a mão da madeira, dei meia-volta, peguei minha mochila, coloquei-a no ombro e saí da sala. Mas antes, com a mão direita ainda na maçaneta, encarei-a e disse:

—Não ouse se atrasar!

Pela janela da porta que dava para o corredor, não pude evitar sorrir um tanto quando ela abriu o papel e leu. Suas bochechas coraram e seus olhos ficaram levemente marejados. Suas mãos trêmulas guardaram a carta na bolsa e ela se apressou em levantar e sair também, mega sorridente.

No papel, estava escrito: “Precisamos conversar. No jardim da minha casa, quatro horas, coloque um vestido!”

É, eu passei duas semanas inteiras pensando nesse problema e em uma solução. Mesmo que ela tenha me dito tudo aquilo, mesmo que ela tenha mentido para mim por dias, eu não conseguia deixar de gostar dela. E é por isso que eu resolvi terminar tudo num golpe só.

Antes que eu pudesse perceber, faltava somente poucos minutos para as quatro horas. Coloquei uma blusa em gola V cinza-claro, uma calça jeans escura e uma jaqueta azul. Desci as escadas da mansão apressadamente, olhando ao redor.

A casa está vazia. Ótimo. Ninguém vai atrapalhar nossa conversa.

Ouvi o típico som do portão branco da cerca, e meu coração acelerou. Calma! Relaxe!, dizia para mim mesmo. Dei uma rápida olhada pela janela que dava para o jardim, e percebi-a. Ela estava simplesmente linda. Não, “perfeita” seria a palavra certa.

Samus estava usando um vestido branco leve, com estampa de pétalas de flores em lilás, sapatilhas brancas e um colar prateado com pingente de gatinho. Havia trazido também uma bolsa de colo branca, com uma alça longa e fina. De maquiagem, usava apenas um brilho labial rosa-claro. Caminhava devagar, hesitante, nervosa. Sentou na toalha de piquenique e ficou brincando com os dedos.

É agora ou nunca.

Abri a porta do jardim fazendo questão que ela escutasse. Deixei-a entreaberta e sentei à frente da jovem. Ela corou e abaixou a cabeça.

—Eu vou direto ao assunto. – anunciei. Ela assentiu. – Você me ama?

Seu rosto inteiro ficou bastante vermelho, e ela se enrolou toda para responder algo tão simples.

—É-É-É c-claro!

—Desde quando?

Ela ficou em silêncio por um minuto. Sua voz ficou repentinamente mais suave.

—Eu nunca acreditei em príncipes em cavalos brancos salvando princesas em perigo. – admitiu, adquirindo uma expressão mais... tranquila. – Nem em amar alguém, nem em ser amada por esse alguém. Por isso, sempre duvidei que fosse ter um namorado.

Outro minuto de silêncio. Eu a ouvia atentamente, sem perder uma única palavra.

—Foi a mesma coisa desde que nasci. Na creche, na escolinha... Achei que seria assim no colégio também. Então você apareceu. – levantou as írises verdes em direção ao meu rosto, mas ao notar que eu a encarava também, tornou a olhar o chão. – No começo, eu achei que você era só um... – e hesitou.

—Um o quê? Pode dizer, eu não ligo.

—... um playboy bonitão que ficaria com a maioria das garotas colegiais.

—O quê?! – abri a boca para retrucar, mas percebi que era verdade e fiquei quieto.

Ela colocou a mão na boca e segurou a risada.

—Você realmente era. – abaixou o olhar, permitindo-se sorrir de modo doce. – Mas ao longo do tempo, descobri que você também era gentil e educado. E eu não pude evitar continuar te espiando... – corou. – Quando você me ajudou daquela vez, você sorriu para mim...

—Daquela vez? – murmurei, mas ela não escutou.

—Foi só um sorriso normal, por educação, mas naquele momento pareceu o sorriso mais lindo de todos. E eu acabei me apaixonando... – corou mais ainda. – M-mas eu não podia me confessar com um motivo tão bobo como esse, então eu enterrei esse amor bem fundo. – levantou os olhos timidamente. – E a cada vez que eu te via, esse amor só crescia mais e mais... Mas eu ainda não tinha a coragem para me confessar, então eu fui fraca e menti para você. E mesmo agora eu ainda não a tenho! – seus olhos marejaram, enquanto sua voz vacilava. – Isso é tão... frustrante...!!

—Samus... – sussurrei.

Inclinei meu corpo para frente, apoiando-me na mão direita. Toquei seu rosto com a esquerda e sorri gentil.

—Ah... – ela arregalou os olhos. – Nickolas...?

—Você tem coragem, Samus. Somente não teve a chance de mostrá-la. – aproximei-me mais dela. – Agora é sua chance. Diga para mim. Eu quero ouvir da sua boca.

Seus lábios tremiam tanto quanto suas mãos. Tentou segurar as lágrimas, mas não conseguiu. Pôs sua mão direita sobre a minha e corou até o limite.

—Nickolas, eu... E-eu te amo! – exclamou super envergonhada.

Meu sorriso se alargou, e rapidamente acabei com a distância entre nós dois. Selei meus lábios nos seus num beijo doce e apaixonado. Sua mão apertou meu pulso involuntariamente, ao mesmo tempo em que as lágrimas molhavam sua face. Separamo-nos em busca de ar, ofegantes e corados. Partilhamos um sorriso cheio de felicidade.

—Eu também te amo, Samus.


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