Memórias Doces (HIATOS) escrita por Izanami Mai


Capítulo 5
Chinomiko


Notas iniciais do capítulo

Heey pessoal! Mais um capítulo fresquinho para vocês, espero que gostem :3 xx



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Cheguei em casa arfando de aflição e por ter corrido pelo resto do caminho depois de reconhecer que a pequena criatura voadora era a Chinomiko. Abri a porta, peguei uma banana para não definhar de fome e corri imediatamente para meu quarto, a tia fadinha ainda não havia chegado do trabalho então estava sozinha e livre para gritar se encontrasse algo mais estranho na internet.

Joguei minha mochila em cima da cama e sentei-me na cadeira de minha escrivaninha abrindo meu notebook com pressa. Pesquisei o máximo que pude , porém a única coisa interessante que eu encontrei foram algumas creepypastas, a que mais me chamou atenção foi uma em que a Chino era um tipo de bruxa/demônio/psicótica e criou o jogo prendendo pessoas reais neste.

Aquilo poderia estar acontecendo comigo? Eu estava sendo presa em um jogo online por uma psicótica que não gostava de beijos?

–– Que merda –– soltei passando as mãos por meus cabelos encarando a tela do notebook.

Me levantei e abri a janela para tomar um pouco de ar, senti uma brisa suave em meu rosto e apoiei meus braços no parapeito para observar a movimentação da rua. Algumas pessoas iam e vinham assim como diversos carros, estava tudo, aparentemente, tranquilo. Pobres almas, não sabiam o quão boas eram suas vidas normais e pacatas.

Suspirei com melancolia e, pela visão periférica, pude ver um ponto negro se aproximando cada vez mais rápido de minha janela. A princípio achei que fosse um avião terrorista, mas quando o objeto não identificado agarrou meu rosto tive certeza de que era a Chino novamente.

Cambaleei para trás segurando suas costas, tropecei na cama e cai, porém consegui soltar a pequena criatura de meu rosto; Ela voou e bateu com o rosto em meu armário caindo no chão quase que inconsciente. Levantei da cama, peguei o resto da banana para me defender e me aproximei lentamente da Chino, esta se levantou vagarosamente esfregando sua testa e me fitou aflita.

–– Ai não –– ela murmurou tateando o armário em suas costas.

–– Não se mexa, eu tenho uma... –– olhei para a fruta em minhas mãos e notei que não fora uma boa ideia pegá-la. –– Banana! E não tenho medo de usar!

–– Calma ai pistoleira das bananas –– ela respondeu contraindo os olhos irritada. –– O que vai fazer com essa fruta? Comer e cuspir?

Bufei e joguei a fruta contra a Chino, porém não a acertei, ela riu e levantou voo. Dessa vez fui mais rápida e antes que ela conseguisse fugir a segurei pelos pés, ela se debatia e voava de um lado para o outro tentando se libertar. Era tão pequena, mas tão forte...

–– Fique... parada... –– pedi tentando imprensá-la contra uma parede.

Depois de algum esforço consegui segurá-la pela barriga, ela continuou resistindo por um tempo, porém logo desistiu. Eu não iria perdê-la dessa vez.

–– Diga logo o que você quer! –– ela pediu irritada, de perto parecia uma boneca muito real. Fofa, porém mortal, assim como o Chuck.

–– O que você quer? –– respondi arqueando as sobrancelhas. –– Me seguindo, espionando, rindo da minha cara e me fazendo subir em árvores. Qual é a sua?

–– Eu não estou te seguindo, agora me solte! –– ela bateu em meus punhos tentando se libertar.

–– Não! –– respondi de imediato. –– Você é a Chinomiko não é? Faça isso parar!

–– Me solte e eu te falo o que você quiser –– ela pediu mais uma vez.

–– Não vai tentar escapar, nem me matar, muito menos agarrar meu rosto. Ok?

–– Ok.

Hesitei, mas a soltei em cima da minha cama. Ela esfregou sua cabeça novamente e trocamos olhares desconfiados por longos segundos. Não vou mentir, aquilo me deixou com um pouco de medo, afinal, ter a Chinomiko em miniatura na sua cama após ler dezenas de creepypastas não era uma das coisas que eu chamaria de normal.

–– Bom, eu...

–– Por favor, não me machuque! –– exclamei enquanto recuava até meu armário. –– Eu ainda tenho que ver o beijo da docete!

–– Do que está falando? –– ela perguntou confusa, me observava como se eu fosse uma louca.

–– Ah... me desculpe –– respondi mordendo meu lábio inferior enquanto me reaproximava. –– Estou um pouco nervosa com o que você fez comigo e com toda a minha vida!

–– Eu não fiz nada minha jovem –– ela respondeu cruzando os braços em confronta.

–– Então quem fez? –– imitei seu gesto. –– Até a alguns dias atrás pixels eram apenas pixels! Hoje eles andam, comem e me mandam correr atrás de cachorros por toda a escola.

–– Eu não faço a mínima ideia do que está falando –– ela insistiu e eu bufei.

–– Ok, então como explica minha família que desapareceu? E a minha casa e escola mudando? E todos aqueles personagens andando por ai?

–– Você está se sentindo bem? –– ela perguntou pairando no ar. –– Nada mudou, seus pais apenas viajaram.

–– Você não tem, realmente, nada haver com isso? –– perguntei séria enquanto arqueava uma sobrancelha. –– Eu sei que alguém estava me seguindo...

–– Não, nadinha mesmo, nadica de nada. –– eu fiz uma expressão desconfiada e aproximei meu rosto do seu. –– Ok, ok, talvez um pouco.

–– Então, o que está acontecendo? Mereço uma explicação.

–– Problemas... –– ela respondeu sem me olhar nos olhos. –– Tive alguns problemas com a estação de controle e então isto aconteceu.

–– Quer dizer que amor doce foi criado por uma fada com asas de morcego? –– perguntei arqueando uma sobrancelha.

–– Mais ou menos, é um pouco difícil de explicar –– ela se sentou em minha cama novamente. –– Eu criei o jogo para os humanos se divertirem, porém alguns ficaram viciados de mais, vi muitas brigas por coisas bobas então tomei uma atitude e os puni.

–– Então você é mesmo uma fada com asas de morcego?

–– É sério que você só ouviu isso? –– ela respondeu claramente aborrecida.

–– Desculpe –– sorri amigavelmente tentando não deixa-la mais irritada. –– Então você decidiu punir as docetes com isso? Sumindo com suas famílias e as mandando sentir na pele o que é rodar a escola procurando pelo bloco do Lysandre?

–– Não é bem assim...

–– E por que eu? Tudo bem que às vezes eu jogo de mais, gasto os créditos da minha mãe escondido, mas eu não sou uma viciada, sem falar que eu não perco meu tempo arranjando brigas com ninguém, apenas discussões saudáveis. E, na minha humildíssima opinião, gostaria de dizer que essa punição...

–– Ok! –– ela gritou irritada e eu recuei. –– Eu já entendi, você está brava e eu também! E não, não estava te seguindo, estava tentando voltar para casa.

–– Sei, sei –– respondi fitando os cantos do meu quarto. –– Mas, me responda, por que eu?

–– Por que sim.

–– “Por que sim”? –– eu repeti incrédula. –– Isso não é uma explicação.

–– Claro que é, agora que eu já respondi suas perguntas tenho que ir –– ela respondeu pairando no ar e ajeitando sua blusa preta. –– Foi bom te conhecer garota.

–– Ei! Espera...!

–– Lena está tudo bem por aqui? –– a tia fadinha perguntou depois de abrir a porta. –– Pensei ter escutado você conversando com alguém.

Ela adentrou o cômodo e olhou ao seu redor, engoli seco e fiquei apreensiva, porém ela pareceu não conseguir enxergar a Chino já que ela estava bem a sua frente e não comentou nada.

–– Ah... –– olhei para a pequena criatura aflita. –– É que eu estou estudando em voz alta. Desculpe se incomodei, vou falar mais baixo.

–– Ah entendo. Quando terminar ligue para seus pais, eles querem falar com você. Bons estudos, querida.

Ela saiu e fechou a porta atrás de si, porém pude sentir que ainda estava por perto, como se estivesse escutando tudo atrás das paredes.

–– Espera! –– sussurrei correndo na direção da Chino. –– Essa história está muito mal contada, vamos para outro lugar. Eu te prometo que não incomodo mais.

Fiz beicinho e esbugalhei meus olhos, demorou alguns segundos, mas ela cedeu com um suspiro impaciente. Pedi que me seguisse em silêncio e assim ela fez e, como já suspeitava, a tia fadinha, ou minha tia agora, realmente não conseguia vê-la.

Caminhei até chegarmos ao parque, não me lembrava dele ser tão grande daquela maneira, nem do lago, nem da ponte nem de nada. Já deveria imaginar que aquilo afetaria a cidade também. Quantos dias ainda restavam da minha antiga vida?

–– Tudo bem, parece que eu sou a única que consegue te ver –– comentei. –– Sabe o porquê? –– ela balançou a cabeça negativamente. –– Ok, agora, por favor, me explique essa história direito.

–– Já expliquei, se estava pensando em “fadas com asas de morcego” na hora a culpa não é minha.

–– Tá, tá –– revirei os olhos. –– Minha nossa, como você é grossa.

–– Grossa nada humana estranha! –– ela apontou seu punho com ferocidade para mim. –– Se me irritar mais não contarei mais nada!

–– Ok, me desculpe –– bufei. –– Mas, me diga, se eu chegar ao episódio vinte e dois, o que acontece? Minha vida reseta? Ou eu vou parar em um quarto escuro até que você lance o próximo? Tem a possibilidade de dor ou morte da minha pessoa?

–– Não, não e não, para a dor e para a morte. É um dating game livre, ninguém sente dor ou morre assim menina!

–– Desculpe, muitas creepypastas.

–– Se lembre de não pesquisar mais sobre esse tipo de coisa –– ela comentou voando ao meu lado para perto do riacho. –– Respondendo a primeira pergunta, você pode passear pela cidade e criar suas próprias histórias, se forem boas vou logo adiantando que plagiarei sua vida.

–– Então estarei livre para fazer o que quiser?

–– Pode se dizer que sim.

–– E o loveô? Como eu sei a porcentagem dele com cada paquera?

–– Use a intuição ou entre no site, está tudo lá.

Ficamos em silêncio por alguns segundos observando a vida alheia quando tive uma brilhante ideia.

–– E onde ficam as casas dos paqueras? –– perguntei inocentemente.

–– Isso é segredo. –– eu fiz beicinho novamente. –– Eu sei o que você está pensando e minha resposta é não. Você tem que seguir a história, não pode sair assediando os paqueras sem mais nem menos.

–– Posso sim! –– exclamei ainda fazendo bico. –– A docete é lerda, mas eu não. Vou mostrar como é que se faz!

–– Desse jeito todos irão acabar sendo estuprados –– ela bateu contra sua própria testa. –– Sem assédios, de qualquer tipo, se não serei forçada a fazê-los esquecer tudo.

–– Tá! –– respondi irritada e chateada.

Continuamos nosso passeio discretamente, tinha que disfarçar muito para que ninguém notasse que uma adolescente conversava aos murmúrios com o vento, não queria ir para um hospício ou algo do tipo, minha vida já estava louca de mais.

Ficamos mais poucos minutos conversando e tomamos sorvete antes de irmos para casa, o homem do carrinho – o tio fadinha - me olhara com uma expressão de desconfiança quando pedi duas casquinhas e desapareci, não sei o que ele viu, mas sei que estava um pouco atordoado.

Chino desapareceu no horizonte e eu voltei para o apartamento onde liguei para meus novos pais, eles voltariam de viagem em dois dias e minha tia poderia ir embora. Não sei como lidaria com isso, estava assustada, mas tinha que continuar.

Sem falar da minha última pergunta a Chino.

–– Então... para eu ter a minha vida de volta tenho que terminar o jogo? Você lança o último episódio, eu o termino e então fiarei livre?

–– Sim, acho que sim.

Conclusão: Teria que passar mais sei lá quantos episódios com uma família estranha na pele da docete para ter a incerteza de que um dia tudo voltaria ao normal.

Aquela história estava muito mal contada.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, digam o que acharam nos comentários, por favor ^3^ xx



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