Viagem de Família escrita por D C S Martim


Capítulo 12
Esquadrão de Resgate


Notas iniciais do capítulo

Espero que vocês gostem!



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Descendo até o salão da estalagem, Thor reuniu-se à parte da equipe dos Vingadores que o seguira até ali, que Tony resolvera batizar como “Time Estúpido”, ou “Esquadrão Super-Ibecil-e-Suicida”, ou “Perfeitos Idiotas”, nomenclatura à qual Natasha aderira, e até Steve Rogers parecia considerar adequada e plausível. Thor achava tudo aquilo muito preocupante, mas também muito divertido. A perspectiva de rever seu irmão era ímpar, e poderia, quem sabe, mudar as coisas.

Ultimamente, Thor andava inquieto. Dilemas profundos turbavam seu semblante determinado, atraente e másculo, dando-lhe uma aparência de resignação e cansaço. Existiam determinadas coisas sobre as quais ele não queria pensar, e que o martirizavam cruelmente por serem negligenciada. Seus pensamentos gritavam dentro de si, fazendo-o borbulhar, e ele os suprimia com todas as suas forças, pelo bem de sua família, pelo bem de Asgard, pelo bem dos Nove Reinos, mas sabia, bem lá no fundo, sabia ser inútil, porque tais pensamentos eram contundentes, fortes, exigiam ser escutados, demandavam ter seus anseios saciados. Tais pensamentos eram os pensamentos da verdade, verdade da qual Thor vinha fugindo nos últimos anos, e continuaria gratamente a fugir, se pudesse. Mas não podia, porque a verdade era tão esmagadoramente inexorável que o tornava fraco.

Ele nada mais era que uma vítima de suas próprias escolhas, e Dam, melhor que ninguém, sabia disso. Ao mesmo tempo algoz e vítima, Thor sentiu alívio na presença da cunhada, experimentando uma sensação muito semelhante à de refúgio e segurança que seu irmão, provavelmente, reconhecera de imediato ao ser confrontado com a existência de alguém como Dam.

Não que ela fosse melhor do que o resto. Não. Thor aprendera de maneira dura e reiterada que tal conceito de superioridade nada mais é que superstição e ganância. Ele próprio, que certa feita julgara-se tão grande, agora via-se em tamanho adequado, e tal perspectiva era libertadora.

Mas Dam, naquele momento, em toda sua singularidade e em todo seu maneirismo, apesar de perfeitamente comum, era precisamente tudo o que ele precisava, porque era assim, concluíra o monarca emergente, que a vida funcionava: Era uma questão de valores, de necessidade, no sentido mais “humano” e menos político-ideológico possível. Não se tratava de livre mercado, neoliberalismo, não se tratava de economia, embora se tratasse precisamente de servir às próprias necessidades. Era sobre solidariedade, sobre contato humano, e, sim, sobre estar perto de quem supre suas carências, mas não por isso. Não é sobre lucro, é sobre contato. Isso é vida, respeito. É validar a própria existência através de amor, conceito que aprendera com uma certa dificuldade. Não amor romântico, não luxuria, não afeto e carinho. Amor pela essência.

E Dam tinha isso. Esse amor que não exigia motivos para existir, esse simples respeito pelo direito de viver de outro indivíduo, essa paixão pela dignidade, era isso que Thor precisava no momento. Era isso que lhe daria forçar para tomar uma decisão, fosse ela qual fosse.

Precisava de tempo para resolver seus dilemas internos, tempo que lhe possibilitaria refletir e entrar em consenso com seu espírito, apaziguar sua consciência. Pesava sobre ele sua própria covardia, mas Thor compreendia que não se tratava de fraqueza, e sim de conflito, vontade de fazer o que é certo, indecisão. Não se martirizava por isso, mas também não se dispunha a permanecer em tal situação por tempo indeterminado.

O encontro com a cunhada, fora dos padrões asgardianos, longe dos olhos de todos, longe das regras e pressão social, lhe fariam bem. Longe das amarras de seu tempo e cultura, das responsabilidades e de suas aspirações Thor sentia que seria verdadeiramente capaz de honestidade, de expor-lhe seu problema íntimo e de encontrar uma solução pacífica e benéfica para seu problema. Assim o esperava, pelo menos.

–EI, BALDE DE MUSCULOS!!!- Tony gritou – VOCÊ VAI DIZER ALGUMA COISA OU VAI FICAR AÍ, PARADO, ENCARANDO O TETO COMO SE ESTIVESSE VENDO A BIFROST, OU ALGUMA MOÇA SEMI-NUA DANÇANDO HULA?! Ou cara. Sei lá. O que te faça feliz, irmão extraterreste. Tony aqui não apoia homofobia nem nenhuma espécie de opressão.

Thor permaneceu impassível. As vezes perguntava-se se aquilo realmente era senso de humor em Midgard ou se Tony estava sendo apenas deliberadamente vulgar e inconveniente para irritá-lo. A resposta para ambas as perguntas era sim.

–Tony. Eu ainda não sei direito como as coisas funcionam para vocês, em Midgard, mas preciso que você entenda uma coisa sobre Asgard. Eu sou o filho do Pai de Todos. O herdeiro ao trono. Eu sou...

–Eu sei, eu sei, você é importante, eu já entendi. Eu sou famoso também.- deu de ombros, fungando em desprezo.

–Sim. – Thor assentiu – Sabe o que isso significa?

Tony deu de ombros outra vez.

–Significa que se você gritar o nome dele, as pessoas irão olhar para nós, seu babaca.- Steve disse, olhando para a caneca de bebida alienígena em frente a ele, preparando psicologicamente para tomar o primeiro gole.

Tony já tomara 3 canecas.

–E daí?! Deixe eles virem, podemos dar alguns autógrafos, apertar algumas bundas, vai ser incrível! Asgardiananas tem 3 olhos ou algo do tipo? Eu nunca beijei uma garota com 3 olhos. Beijei uma que tinha um olho só, uma vez. Ela era linda. Eu... Não me lembro o nome dela...

–Pelo amor de Deus, Stark. Eu vou apertar o seu saco se você não calar a boca.- Natasha disse, com uma pitada de nojo e violência na voz.

Tony fez uma careta aborrecida, que dizia claramente “estraga prazeres”.

–Obrigada, Nat.- disse Steve, finalmente colocando a bebida na boca –Meu Deus, mas isso é ótimo!

Thor sorriu.

–Infelizmente, vocês chamam muita atenção aqui.

–É claro que chamamos! Eu sou o Homem de Ferro!- Stark disse, levantando-se.

–Nesse momento você não passa de um imbecil bêbado. –Natasha puxou-o para baixo – Se vocês me derem licença, preciso ir ao banheiro.

No instante em que ela levantou, Tony estapeou sonoramente sua bunda, fazendo um barulho nervoso. O tempo pareceu passar em câmera lenta. Steve arregalou os olhos e abriu a boca, em choque, afastando-se imediatamente de Tony. Thor abriu um sorriso, fazendo o mesmo, abrindo, assim, espaço para que que Nat agisse.

Foi uma manobra estúpida, Tony.

Ela virou-se para trás como se uma víbora a tivesse mordido. Agarrou-o pelo cabelo, perto da nuca, arremessou-a em direção ao tampo da mesa, e manteve-a lá, utilizando seu joelho.

–Pense outra vez, Stark. Não se esqueça de com quem você está mexendo. Eu não sou uma das suas “cheerleaders”.

Tony trincou os dentes.

–Calminha aí, Nat.

–Ah, merda...- Rodgers gemeu – Eu disse a eles. Por favor, sejam discretos. Eles me ouviram? Não ouviram. Eu pedi por favor. Pedi por favor, poxa. Porque eles não me ouviram? Eu juro que pedi por favor. Thor, Thor... Eu pedi por favor, cara!

–Steve.- Natasha disse bem baixinho, nervosamente, e então olhou de leve por sobre os ombros, atraindo sua atenção para lá.

Steve então, prendeu a respiração.

–Manobra “Assédio Sexual 123”, seu inútil.- Tony disse – Clint não estava aqui, então eu improvisei um pouco.

Thor pareceu um pouco confuso por um momento, mas Steve tomou conta da situação, não exigindo uma reação dele.

–Hey, amigos! Eu acho que alguém já bebeu demais, não é?! Nat querida, saia de cima dele. E você, Tony... Vamos te levar para casa...

Thor olhou em volta, ainda confuso, ainda nervoso, e localizou uma garota encarando-os com olhos ardentes.

Ah, Odin! Quem era ela?! Porque os encarava assim?!

Parecia ser só uma criança, mas seu olhar assustou-o sobremaneira.

– V-vamos logo...- disse ele, desejando afastar-se dali.

Os Perfeitos Idiotas não poderiam concordar mais com aquela frase.

Quase que correndo, pararam do lado de fora da estalagem. Que cenário vergonhoso.

–Santo Cristo de calcinha e havainas!!!- Tony gritou – Quem era aquela criança e o que ela queria conosco?!

Natasha tremeu um pouco.

–Ela me deu calafrios.

–Eu sei, eu sei...- Thor disse – Ela me intrigou também. Estou com uma impressão ruim. Não dei o que está havendo, mas há algo de errado com aquela garota.

–Você sabe quem ela é?

–Nunca a vi na vida.

–Talvez ela o tenha reconhecido?-Natasha perguntou.

–Pode ser.

–OS OLHOS DELA! ELES ERAM TÃO AZUIS, MAS BRILHAVAM TANTO QUE PARECIAM VERMELHOS COMO SUA PELE!!! PARECIA UM DEMONIO, UMA PORRA DE UM DEMONIO!!!

–Todas as crianças são assim em Asgard?- Steve quis saber.

–TODAS AS CRIANÇAS SÃO ASSIM! – Tony disse.

Natasha segurou o ar dentro dos pulmões.

–Ai caramba.

Os três homens voltaram-se para ela, com uma expressão de puro pavor.

–O que houve, lady Natasha?

–Eu acho que...- engoliu em seco.

–O que foi, Nat?- Steve disse.

–Ah caramba.- ela maneou a cabeça outra vez.

–Kitty Kat. – Tony disse, olhando-a nos olhos – O que houve?

Ela encarou o ar, com uma expressão distante e assombrada no olhar.

–Esquecemos Clint lá dentro.

Enquanto isso, dentro do bar, Clint voltou do banheiro (que pouco se parecia com um banheiro. Que lugar esquisito.) e olhou em volta, parecendo perdido. Não havia nenhum Vingador ali. O time Perfeitos Idiotas havia se desfeito.

Só havia uma coisa a fazer. Pediu mais uma caneca de bebida e começou a cantarolar “What is love” bem baixinho.


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Notas finais do capítulo

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