Eu tive um sonho. Uma visão. Uma miragem. Chamem do que quiserem chamar. Quando eu estava acordada eu revivi uma lembrança de quando eu era criança. Eu deveria ter um ano de idade quando aquilo aconteceu. Minha mãe, eu sabia que era ela ali, estava comigo no colo. Ela cantava uma melodia que eu desconhecia e passava a mão no meu cabelo loiro. Não era bem cabelo, estava mais para um toquinho de fios de cabelo dourado. Ela era tão bonita e com uma voz angelical. Uma pena que tudo acabou rápido. Eu acordei na enfermaria. Madame Pomfrey disse que eu havia desmaiado e que o professor Snape me trouxe para cá. Eu lembrei dos acontecimentos anteriores, ele havia dito algo sobre minha mãe. Ele conhecia ela. Como eu não havia pensado nisso antes? Minha mãe não era tão mais velha que Lucius, que conviveu com Snape em Hogwarts. Eu podia finalmente conversar com alguém sobre minha mãe, podia perguntar como ela era quando adolescente. Eu poderia finalmente conhecê-la. Eu tentei me levantar mas Madame Pomfrey disse que eu precisava repousar pelo resto do dia, e que meus professores já haviam sido informados da minha situação. Foi um tanto decepcionante o resto da tarde, ninguém veio me ver. Acho que todos estavam ocupados demais com suas vidas para vim ver se eu estava bem. Quando eu cansei de esperar, decidida a dormir para poder chegar o amanhã e sair daquele lugar, Snape apareceu na porta. Ele falou algo com Madame Pomfrey, que concordou com o que ele disse e saiu.

– Senhorita Black, eu espero que esteja se sentindo melhor.

– Eu estou muito bem, senhor. Madame Pomfrey pediu que eu repousasse o resto do dia, mas eu já me sinto bem melhor. Sinto muito ter desmaiado... Não que eu consiga controlar isso, é algo biológico. Eu acho.

– Não há necessidade de um pedido de desculpas, senhorita Black.

– Professor Snape, eu gostaria de perguntar sobre ontem... Como o senhor conheceu minha mãe?

– Sua mãe foi da Sonserina, ela me ajudou muito no começo. Como eu disse, você é muito parecida com ela.

– Eu não lembro muito dela. Eu era muito pequena quando tudo aconteceu e Lucius nunca me disse nada sobre ela. - eu estava sentada na cama o encarando. - Será que...você poderia me falar sobre ela? Pode ser qualquer coisa, qualquer coisa mesmo.

– Kayla era diferente. Todos em Hogwarts sentiam um certo medo dela, alguns não ousavam nem olhar em seus olhos. Ela adorava isso, adorava ser respeitada. Sua mãe foi a melhor amiga de Lily Evans, contrariando todos de sua casa e todos de sua família. Ela não deixava que ninguém a dissesse o que fazer ou com quem andar. Vocês duas são muito parecidas, sempre quebrando as barreiras.

– Ela parece ter sido incrível.

– Ela sempre quis ser uma auror, e quando saiu de Hogwarts ela realizou esse sonho.

– Mas então quando ela e Sirius se casaram?

– Ah, o Black... Eu nunca entendi como sua mãe conseguiu ficar com ele por tanto tempo.

– Eu não estou entendendo, senhor.

– Kayla não chegou a se casar com Sirius. Ela descobriu que estava grávida algumas semanas depois de ter se afastado completamente do Black.

– Eles não eram felizes? - eu não sabia muito da relação deles, na verdade eu não sabia nada da relação dos dois.

– Eu saberia lhe dizer. Eu sei que Kayla nunca impediu Sirius de ver você quando bebê e nem de acompanhá-la nas consultas médicas.

– Mas ele nunca aparecia. Ou poucas vezes. Lucius me disse isso, foi a única coisa que ele disse. Sirius Black nunca foi presente em minha vida.

– Sim, mas Black não foi o único a errar. Eu também errei... Rosalee. - foi uma grande surpresa ouvir ele me chamar pelo nome e não de "senhorita Black".

– Eu não entendo isso. O senhor disse que tinha falhado com ela.

– Kayla Black me deu uma responsabilidade muito grande. Duas responsabilidades, para ser mais exato. - eu apenas o encarei, esperando que ele continuasse. - Rosalee, eu sou seu padrinho.

– Eu..tenho um padrinho? Eu sempre pensei que os Malfoy tivessem assumido esse papel informalmente. - isso era uma palavra? Informalmente?

– E Lily era sua madrinha. É claro que Sirius não ficou feliz com a decisão de sua mãe, ele queria que o Potter fosse seu padrinho, mas ela recusou. Disse que se ele não era pai o suficiente para estar presente, não tinha o direito de escolher quem seria seu padrinho.

– Wow... Inspirador.

– Eu sinto muito não ter sido...presente em sua vida, Rosalee. E sei que não será fácil recuperar o tempo que perdi, já que você é da casa oposta a minha.

– O que não deveria influenciar em nada, senhor. As casas não passam de subdivisões, Hogwarts é uma casa. Hogwarts é a minha casa, a sua casa, a nossa casa. Nunca vou entender essa rivalidade boba. Eu aposto que minha mãe também era assim, afinal, eu tenho que ter puxado isso de alguém. - Snape sorriu. Sim, o professor Severus Snape sabia como rir. Eu queria abraçá-lo, mas eu acho que seria invadir seu espaço. Madame Pomfrey chegou no exato momento que eu ia perguntar se realmente seria uma grande invasão abraçá-lo.

– A senhorita Black precisa descansar, professor Snape. Tenho certeza que amanhã, quando ela já estiver liberada, vocês dois poderão continuar sua conversa. - ele não estava mais sorrindo. Será que eu fui a primeira pessoa a vez o professor Snape sorrir?

– Eu me sinto muito bem, Poppy.

– Madame Pomfrey tem razão. Já está na hora de ir e a senhorita precisa descansar. - ele se levantou e andou até a porta. - Eu devo pedir, no entanto, que nossa conversa fique apenas entre nós, senhorita Black.

– Pode deixar, senhor. - eu fiz o sinal de positivo e então ele saiu. Poppy me deu uma poção para dormir, apesar de meus protestos porque eu estava muito bem e não precisava de uma poção para dormir. Eu podia dormir sozinha. Confesso que não queria dormir, eu queria ficar lembrando daquela conversa a noite toda. Assim que a poção começou a fazer efeito eu soube que não seria possível, mas eu ainda poderia sonhar com tudo aquilo. Eu fechei meus olhos e sonhei com a minha mãe, e eu posso afirmar que nunca em toda a minha vida eu havia dormido tão bem.