Somebody To You escrita por CarolHust


Capítulo 40
Extra 2. - Não tão simples.


Notas iniciais do capítulo

Obrigada a todos que comentaram, favoritaram, etc. xD Não estou com tanta animação para falar agora, mesmo que tenha adorado esse capítulo, já que demorei três semanas para conseguir terminá-lo. Me desculpem pela demora, galera, mas é que aquele projeto acabou tomando bastante tempo e aí... Já sabem.
Nos apresentamos essa terça e eu só sei que QUERO MUITO vencer hehe.
Sei que ando beeem ausente, mas é porque o pouco tempo que tenho eu gasto basicamente fazendo coisas tipo ler, assistir séries, enfim... Coisas que desestressam para eu poder relaxar um pouco. Agora já vem as provas de fim de ano, mas minhas férias, felizmente, começam no dia 24 de novembro! Realmente vou responder os reviews, principalmente porque tem alguns que eu realmente preciso porque me animaram muito.


Bem, esse especial é dedicado a todos vocês e surgiu da sugestão de waterlady (oie!). Acabou ficando mega porque eu decidi inserir o passado de Juvia no meio e aí... Teve comédia mas muito drama também. Não é tudo sobre ela, mas uma parte importante. Sugiro (e dessa vez imploro), que ouçam a música "Welcome home, son", da banda Radical Face. Não quero ser presunçosa, mas gostaria que pensassem em SoTY quando a ouvissem. Ia guardar ela para os agradecimentos, mas achei que agr era a melhor hora.
(essa música é tão linda que me fez chorar)



Obrigada por acompanharem tudo isso por tanto tempo (estou meio emotiva agr, denconsiderem),


Boa leitura ;)



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“Ela tinha nascido há exatos 17 anos. Não que ninguém tivesse se importado com a criança de mais um parto mal sucedido em que a mãe morre. Nos primeiros cinco minutos, cinco horas, cinco dias, as notícias até rodaram pela cidade, mas não duraram muito mais. O Conselho Tutelar concordou, por algum estranho motivo, com o depoimento dado a eles pelo pai: a mãe estava em depressão logo antes do evento, e ele, abalado, desempregado e sem dinheiro, não tinha condições de sustentar e criar o bebê. A menina, quase transparente de tão branca, foi colocada sobre os cuidados de um tio, um jovem que mal sabia que rumo tomaria na vida, muito menos como cuidar dela.

Juvia Lockser era seu nome. Não que tivesse muitos amigos para os quais assim se apresentar. Lembranças dos pais ou do tio não tinha, era muito nova para tanto quando sua situação foi redefinida e foi designada ao orfanato. Pelo menos essa era a história que haviam lhe contado. Supostamente seu tio, também ‘quebrado’ e com sonhos demais, não conseguia projetar um futuro em que a garota fosse feliz ao seu lado. No orfanato, ao menos, a pequena teria contato com outras crianças, com adultos e autoridades que não tivessem os corpos completamente tatuados, constantemente fedessem a bebida ou chorassem com grande frequência – basicamente toda a parte paterna da família de Juvia em um desses casos se encaixava. Mesmo assim, a garota no futuro veio a se perguntar o porquê de ele nem ao menos ter tentado.

Nos seus primeiros anos naquele ambiente, Juvia se agarrou à única marca material de que já havia tido uma família: um teru teru bozu que viera com a mochila de roupas que seu tio com ela deixara e que adorava chupar quando bebê. Gostava de imaginar que ele já havia sido de sua mãe, que por seus pais fora costurado ou simplesmente os visualizar comprando artefato com um xamã de rua. Nem pensava muito nos porquês daquilo ser a única coisa que lhe fora deixada, seu significado popular ou como poderia ser estranho o fato de uma garota de cinco anos carregar tal boneco para todos os lados: era como se os pais estivessem por perto, a observando.

Na realidade, Juvia não compreendia o porquê de alguém ter inventado um teru teru bozu: ela amava a chuva. Não havia melhor sensação do que a que sentia ao se esconder nos fundos do orfanato e observar a água cair das calhas do telhado, formando poças à sua volta. Enquanto todas as crianças corriam para se proteger do frio e da tempestade, ela costumava trazer seu cobertor para aquele canto coberto e seco e observar tudo ficar meio úmido. Caso não soubesse que levaria uma rebordosa se voltasse para dentro molhada, ela dançaria na chuva até ela parar, mesmo que isso lhe rendesse um resfriado mais tarde. O único ponto negativo, no entanto, era que ficar ali sozinha era um pouco solitário. Ela era solitária.

Tinha se acostumado com não ter pais, família ou amigos com o passar dos anos. Quanto aos dois primeiros, entendia que algumas pessoas simplesmente não os possuíam, e, nas poucas vezes em que se sentia triste por isso, contava com as mãos tudo de bom que já havia lhe acontecido. Pelo menos tinha aos professores e a aqueles que se penalizavam dela. Também não fazia esforço para se aproximar de ninguém, sendo tão tímida e reclusa. Achava que talvez a parte boa da solidão, o sentimento de ter um universo exclusivo, fosse embora se começasse a compartilhar tudo que pensava. Tinha se desacostumado a dividir, ou melhor, nunca dividira.

­− Você é meio estranha. – a Juvia de nove anos se assustou ao ouvir uma voz vinda do seu lado. Ao se virar, deparou-se com um garoto não muito mais alto do que ela, magrelo, moreno e com os cabelos escuros batendo na altura dos ombros. Em sua bochecha esquerda, havia um roxo levemente ensanguentado.

− O-o qu-que? – ela demorou um pouco a responder. Fazia certo tempo que se comunicava apenas com meneios de cabeça.

− O-o qu-que...? – ele ironizou, logo depois estalando a língua. – Eu disse que você é estranha.

A menina levou alguns segundos para internalizar o que ele dissera, até que enfim sentiu a face enrubescer e o sangue lhe subir à cabeça. Ela já o tinha visto: ele falava alto demais, comia demais e tinha o irritante costume de conseguir quebrar tudo o que via pela frente. Por isso, mesmo que ela não mais andasse com seu boneco de pano pelo orfanato, fazia questão de escondê-lo bem a cada vez que ele aparecia no seu quarto. Não entendia porque aquele menino estava ali, perturbando suas lamentações, e odiava o sorriso cínico que ele tinha na face.

­− Ah... Ah é? Pois então... J-Juvia acha que v-você é um feio! – expeliu as palavras com o máximo alcance de seus pulmões, enquanto balançava os braços com força. Ele deu um risinho, como se caçoasse da inocência dela. − Está me ouvindo?! Você é um feio!

− Eu não ligo muito para isso, Garota-Chuva.

− Não liga para o que?

− Para se eu sou feio ou não. Achei que você também parecia não ligar muito para os outros, fica aqui o dia todo...

Juvia não respondeu. Estava um pouco insultada, experimentando fazer birra pela primeira vez. Não era como se não ligasse, ela simplesmente se acostumara a ser excluída. Enrolou-se mais em seu cobertor enquanto o menino brincava, torcendo o que parecia ser um fio de cobre em seu dedo e depois o moldando na forma que desejava. Ele chegou à conclusão de que talvez tivesse começado mal a conversa.

− Sou Gajeel Redfox. – ele estendeu uma das mãos para Juvia, que apenas ficou encarando-a. Depois de ser ignorado, ele voltou a sentar-se, deixando os braços e o fio de metal caírem ao chão. – Eles também não gostam muito de mim, sabe? Eu bato muito forte e arroto alto. Os garotos têm inveja e as meninas são meio frescas... Ou têm inveja também, só que do meu cabelo.

Ele não teve resposta. Juvia até que sentiu vontade de rir do que o garoto dissera, assim como ele esperava, mas se conteve. Não saberia como conversar com ele uma vez que começasse a ser amigável.

− Ah, fala alguma coisa... – Gajeel resmungou. De súbito, pareceu se lembrar de algo e ficou animado. – É verdade que você consegue controlar a chuva, Garota-Chuva?

− Como? – ela respondeu por instinto diante do absurdo que era a pergunta.

− Os garotos me disseram que toda vez que você sorri é porque vai chover, e que a única coisa que sabe falar é ‘Pinga, pinga, gota, gota...’. – ele riu. – Já sei que você fala como todo mundo, mas é verdade que manda nas nuvens?

Ela se sentiu mais uma vez irritada. De um modo como ninguém nunca tivera coragem, aquele garoto simplesmente decidira que queria importuná-la e assim seria?

− E você? É verdade que Gajeel-kun sai batendo em todo mundo?! – resmungou.

O menino notou que a pequena estava exaltada, então decidiu por esperar um pouco antes de responder. Mesmo que o melhor jeito de fazê-la falar fosse incomodando-a, isso de nada serviria se ela simplesmente começasse a odiá-lo. Gajeel queria e sabia que deveria, ao menos daquela vez, tentar falar com a garota. Era fácil perceber que aos poucos ela estava se acalmando, visto que sua face voltava à cor natural.

− Eu não saio por aí machucando os outros porque gosto. Só bati no Yuu, por exemplo, porque ele roubou o lanche da Ayumi. É por isso que fiquei assim, ele me bateu de volta com a lancheira e tive que correr para cá antes que a moça da cozinha me visse. – Gajeel mostrou a ela seu roxo com um sorriso vitorioso. − Já levei broncas demais.

Juvia deixou escapar uma pequena gargalhada perante o modo como ele parecia tão orgulhoso da sua ‘marca de batalha’. Talvez ela devesse respondê-lo após Gajeel ter revelado tanto. Aquilo estava sendo quase um monólogo. Quando ele sorriu cúmplice, Juvia pensou que poderia ter achado, ao menos por um momento, um confidente.

− Eu não controlo a chuva, só gosto dela. Fico sozinha porque não tenho nada para falar, e nunca peço nada a ninguém porque sei que a única coisa que gosto de fazer, que é nadar, eu não posso fazer aqui. – ela suspirou depois de dizer mais palavras do que em anos. – Então não me chame de Garota-Chuva, Gajeel-kun.

− Tudo bem... – ele levantou os braços em rendição, feliz por ela responder. – Vou te chamar só de Juvia então.

Ela apenas concordou com a cabeça. Não disseram muito mais por algum tempo, exceto quando ele pediu para que ela dividisse o cobertor. Juvia começou a ficar desconfortável, imaginando que a partir daquele momento ele voltaria a ignorá-la, como todos os outros, e ficaria sozinha mais uma vez. Pensou em se levantar, mas foi segurada pelo braço.

− Seu aniversário foi semana passada, não foi? – ele questionou-a.

Juvia apenas confirmou, franzindo as sobrancelhas. Ainda tinha um pouco de medo de Gajeel, por mais que o aperto em seu pulso fosse gentil.

− Apenas a professora sabia, e ouvi-a falando que não preparou nada porque você não gosta... Não tem nada que você queira?

− É por isso que você veio falar comigo? A professora que mandou? – a menina começava a se sentir um pouco magoada. Seria terrível se a primeira pessoa com quem conversava mais abertamente estivesse ali por pena dela.

− Não! – ele exclamou. – Só queria saber se... Sei lá, se podia te ajudar. Todos nós não temos pais, sabia? – ele a olhou com uma compreensão infantil. − E estamos bem.

Ela sentiu vontade de gritar que estava bem também. Pelo menos, tentava ficar.

Gajeel se cansou de ser ignorado. Por mais que a garota fosse até divertida, ele não queria ter que forçá-la a responder em todas as vezes. Soltou o braço dela.

− Eu queria entrar em uma piscina de verdade, queria ir à praia, queria tomar banho de chuva, queria sair daqui, queria... Queria que minha mãe não tivesse morrido no dia do meu aniversário. – soltou por fim.

Gajeel ficou observando as feições de Juvia se modificaram até ela parecer que estava prestes a chorar. Não diria um ‘sinto muito’, sabia que aquilo mais machucava do que verdadeiramente ajudava. Ao invés disso, envolveu os ombros da menina e deixou que ela refletisse por alguns momentos.

− E então... Você quer tomar banho de chuva?

Ela o encarou, surpresa. Parecia, mesmo para a pequena, que ele deveria ser maluco para perguntá-la algo tão casual após a revelação dada. Gajeel, no entanto, não estava de brincadeira. Sabia que para alegrá-la, ela teria que começar a se divertir no presente ao invés de relembrar o passado. Puxou a mão esquerda de Juvia a com força a ergueu, forçando-a a ir com ele até o meio do pátio. Em questão de segundos estavam ensopados e conseguiam claramente ouvir as trovoadas ao longe.

− Você é louco?! – ela berrou. – Estamos no início da primavera, quer ficar doente?!

Gajeel se preocupou mais em jogar mais água na garota, tirar a camisa e começar a girá-la, brincando. Ele ria como se não se importasse com mais nada.

− É legal quebrar as regras de vez em quando! Não seja besta!

Ele ignorou-a e continuou a jogar água na garota, constantemente a atingindo com a camisa molhada, até que ela resolvesse revidar. Realmente, após o observar se divertindo tanto, Juvia começara a sentir vontade de correr, pular e gritar também. Já estava ali mesmo, não tinha nada a perder.

Pelas horas seguintes, ela esqueceu um pouco sobre o seu aniversário, se importando mais em como conseguiria alcançar e puxar os cabelos do moreno. Esse, por sua vez, chegou à conclusão que conhecera a primeira pessoa ‘não idiota’ em sua vida, principalmente após notar por quanto tempo a garota conseguiu segurar as lágrimas. Se, no final, algumas delas se misturaram às gotas de chuva, não se importaram.

Ambos saíram de lá renovados, e riram em segredo após terem que escutar o sermão da senhora da instituição. Ficaram ambos acamados por alguns dias, ardendo em febre, mas também riram disso. A partir de então, começaram a andar sempre juntos.

Com o passar dos anos, Juvia conseguiu substituir as lembranças ruins pelas agradáveis durante os seus aniversários, e Gajeel sempre estaria lá se ela precisasse. Perdeu o teru teru bozu, mas o mantinha na memória. Aos poucos, pensava cada vez menos nos pais, e o dia da morte de sua mãe se tornou, para a jovem, uma celebração à vida que um dia a mesma tivera.

Quando finalmente saíram do orfanato, continuaram juntos: ele no karatê e ela na natação. O colégio não era o ideal, mas estavam acostumados a ficarem sempre sozinhos. Protegiam as costas um do outro.

Juvia admitia ter errado e se arrependia por ter pensado não aguentar quando as coisas começaram a ficar difíceis. Sabia que não devia tê-lo deixado para trás, o percebeu assim que avistou as portas do Casarão. No entanto, já estava determinada a seguir em frente, além de ainda temer o passado.

‘Desculpe-me, Gajeel.’, ela pensou ao encarar a tela do celular onde era exibida a mensagem que dele recebera. Estava em seu novo quarto, em sua nova casa. Gostaria de contar a ele que achara naquele lugar pessoas incríveis, que encontrara ele, alguém que ela desejava cuidar e que gostaria que dela cuidasse – alguém que se tornaria importante para Juvia. Sabia, no entanto, que não poderia simplesmente desabafar depois de abandoná-lo. Só esperava que ele estivesse por perto no seu próximo aniversário.

Gajeel nunca parara de chama-la de ‘Garota-Chuva’. “.

...

Gray foi acordado ao ouvir um som estridente enquanto sentia seus lençóis e cama serem agitados violentamente. Tentou voltar a dormir ou ao menos fingir que ainda o fazia, mas quem quer que estivesse ali arrancou seu cobertor, o que fazia toda diferença numa manhã gelada, fosse ele imune à temperaturas mais baixas ou não. Resmungando ao se sentir descoberto, buscou o corpo da namorada no espaço ao seu lado – gostava de envolver e sentir sua cintura, de deitar-se abraçado a ela. Apalpou a área do colchão onde ela geralmente ficava − entre ele e a parede −, apenas para se decepcionar. Suspirou.

Juvia e o Fulbuster nunca haviam necessitado de um “pedido oficial”, mas a seu ver as coisas estavam bem sérias: sérias ao ponto de o que antes eram noites juntos secretas aumentarem sua frequência até se tornarem de conhecimento geral no Casarão. Era meio difícil não perceber nada quando ela de lá saía de pijama ou os dois desciam exatamente no mesmo horário para o café, com expressões idênticas de sono. Ur preferia ignorar a informação ou realmente era muito distraída, para sua sorte.

Por mais que soubesse que havia dormido com ela na noite anterior, o moreno não se lembrava do porquê de estar sozinho: geralmente Juvia era quem dormia mais. Girou na cama, ignorando o barulho no quarto. Lembrou-se então, com uma pequena dificuldade, que era um sábado e que a Lockser havia avisado que sairia cedo com Levy e Erza para algum lugar.

− Não vai acordar, Senhor-sama?! – ele ouviu um riso sádico e nasalado conhecido.

O que você quer, Gajeel?

Gray cuspiu a pergunta enquanto abria os olhos, mal-humorado. Descobrira que odiava acordar sozinho, piorava sua grosseria matinal. Isso se intensificava ainda mais com a visão do Redfox levando uma gaita aos lábios, pronto para incomodá-lo de novo. O moreno se aprumou.

– Acordei, pronto!

Ao se levantar da cama preparado para reclamar com o grandalhão, apenas com a bermuda azul que usava para dormir, ele se deparou não apenas com Gajeel, mas com Lucy e Natsu também. Sentiu vontade de voltar a se deitar apenas para não ter que ouvir as razões para eles estarem ali. Tinha quase certeza de quais eram, e já estava pensando demais naquele assunto. Os amigos só iriam deixá-lo mais confuso.

− Bom dia, Gray! – Lucy exibiu toda a sua falsa gentileza ao soar animada, quase saltitando.

− Digam logo o que têm a falar. – Gray murmurou antes de se dirigir ao seu armário e fuçá-lo até achar uma camiseta que lhe servisse, bagunçando toda uma gaveta. – Se for sobre semana que vem, eu já sei. Estou pensando.

− Sobre o aniversário de Juvia? Sei que está, fui eu que lhe contei. – interrompeu-o Gajeel. – Já “pensou” em alguma coisa útil?

O adolescente demorou algum tempo até responder. Antes de fazê-lo, deixou que os amigos o acompanhassem até a cozinha enquanto ele começava a tomar seu café da manhã. Gajeel se sentou logo à sua frente. De perto, eram mais do que perceptíveis os piercings que ele tinha sobre uma das sobrancelhas: em geral, eram prateados e arredondados, ocupando a parte mais fina da região. O cabelo, que o nadador já imaginara ser seboso, na verdade era apenas rebelde por natureza, o que acabava por completar a aparência “violenta”. Era impressionante como a sua opinião sobre ele mudara desde que começara a conversar com o roqueiro, como acontecia com a maioria das pessoas. Ainda assim, alguns dos receios que inicialmente tinha em relação a seu comportamento ao redor dele se mantinham.

Gray gostava da companhia do grandalhão, ele era honesto e gentil de um jeito meio bruto, mas às vezes se sentia um pouco incomodado pela superproteção que esse tinha em relação à Juvia. Não que houvesse qualquer tipo de ciúmes de qualquer um dos lados ou que o Fullbuster não considerasse a amizade da Lockser com ele, mas... Sentia-se constantemente vigiado e avaliado. Como em um campo minado, poderia a qualquer momento dar um passo em falso e tudo iria pelos ares.

Isso não melhorava em nada seu nervosismo quanto ao que organizaria para tal dia. Além disso, se contasse aos outros todas as ideias estúpidas que tivera, ficariam surpresos com uma inesperada face “mais doce” do moreno, que ele raramente exibia. Odiava se tornar o centro das atenções em situações como essas, supostamente inesperadas pelos conhecidos.

− Eu sou péssimo com essas coisas... Também não sei o que ela gostaria de ganhar.

− Posso dar uma sugestão? – Natsu levantou a mão com um olhar sério. Os outros três apenas confirmaram. Para além de aquilo ser a escolha do presente que Gray a ela daria, era também o momento para a decisão de como a celebração seria feita. – Acho que ela se daria por satisfeita se a gente te embalasse e entregasse a ela com um lacinho no pescoço. De preferência, sem camisa.

Muito engraçado, Natsu. – Gray chiou enquanto escutava Lucy e o de cabelos longos gargalharem descontroladamente, imaginando a cena. Todos sabiam que o que Natsu dissera não deixava de ser verdade, mas Gray estava envergonhado demais para concordar.

− Acho que poderíamos levá-la para algum passeio, um jantar. – Ultear surgiu no local como se tivesse sido convidada, e não estivesse interrompendo a conversa. − Vocês dois são muito parecidos nesse quesito, ficam o tempo todo em casa.

Gray se voltou para a sua irmã, que se se servia com um pote de iogurte. Como de costume, ela não se sentia nem um pouco constrangida em ser vista pelos adolescentes apenas de baby doll, mesmo que esse fosse especialmente curto e chamativo.

O Fullbuster não gostava de comentar, mas já havia tido problemas com alguns de seus colegas que começavam a comentar demais sobre sua irmã adotiva ou ter esperanças com ela. Ainda que Rogue fosse do feitio “passivo”, ao menos de vez em quando ele se encontrava por perto e impedia que isso ocorresse novamente, o que aliviava um pouco a mente o moreno. Não teve que se preocupar tanto com isso naquele momento, claro, uma vez que Natsu já estava acostumado com aquela visão e Gajeel via Ultear mais como uma “parceira” do que qualquer outra coisa.

− Isso não é verdade. – Gray protestou, enquanto forçava a mais velha a se cobrir com o casaco que tomara de Lucy. Era verdade que não teria que se importar muito, mas ainda que os amigos tivessem respeito por ela e por ele, o nadador era um pouco rabugento quanto à questão.

− Quando foi a última vez que tiveram um encontro? – Gajeel interferiu. – Ah é, vocês já tiveram um encontro alguma vez?

− Como se vocês fossem dos mais românticos... – ironizou, indicando os dois outros garotos.

Gajeel revirou os olhos, bufando, e voltou a se apoiar no balcão da cozinha. Ele não podia discordar, mas parte da culpa disso era de Levy. Em cada nove de dez vezes que ele propunha algo, a baixinha dizia que precisava estudar, ir a alguma livraria, ou ele simplesmente recebia um trabalho inesperado dos tios dela e tinha que ficar cuidando da casa.

− É... Com licença, mas só esse mês nós saímos umas quatro vezes. – Natsu comentou, mesmo que não com o intuito de se exibir, enquanto segurava os ombros de Lucy.

− Vocês são muito acomodados... Sabíamos que não pensaria em nada, porque acha que as meninas saíram com ela hoje? – a loira comentou como se fosse óbvia a incapacidade do moreno. Ele tentou não se sentir insultado, enquanto ignorava a declaração do rosado. – Por que não a leva a um restaurante legal? Ah! Não pode ser lá onde ela trabalha, só para constar.

− Não sou tão idiota assim, Lucy...

Gray entortou a boca, tendo uma sensação de amargura. Não gostava muito quando seu relacionamento se tornava o assunto das conversas. Além do mais, ele tinha que admitir que eles estavam corretos: o adolescente jamais tivera gosto para romantismo, mas imaginava que Juvia nunca tivesse se importado com isso. Ela o conhecera assim, e ele imaginava ser o suficiente. Na verdade, não havia pensado muito nessa questão.

Parecendo ler sua mente, Lucy continuou:

− É só porque “os caras” tem essa mania de achar que, uma vez que a garota se apaixonou e tudo mais, tem que aceitar tudo. Sabe, assim como a gente muda em algumas coisas, também é bom você começar a ser mais considerativo com ela. A gente não fala, mas ficamos esperando certas coisas de vocês... – ela encarou Natsu de esguelha, que colocou as mãos sobre o peito sem entender o que havia feito de errado. Lucy preferiu ignorá-lo, não era o melhor momento para discutirem as manias irritantes do Dragneel.

Gray suspirou, assentindo. Por mais que tivesse aparência e fama de “frio”, não o era ao ponto de desconsiderar e deixar passar o evento.

− O que é que vocês têm em mente?

Sentiu vontade de estremecer ao observar o sorriso sádico se formar nas faces de todos, mas se manteve em seu lugar. Gajeel, especialmente, sabia que aquele seria um aniversário especial para a garota, a primeira vez que teria um grande grupo de pessoas importantes ao seu lado. O modo como aqueles à sua frente pareciam determinados a alegrá-la acabou por deixá-lo com o moral alto.

Sinto que alguém vai ser abandonado se continuar a agir assim, dependendo dos outros... − Ultear cantarolou maldosa. Seria divertido ver o meio-irmão se desesperar. – Fazer uma festinha surpresa aqui em casa é fácil, mas aposto que ela está esperando uma surpresa sua.

− Eu tenho uma ideia. – o roqueiro levantou-se, a par da pequena rixa entre irmãos, rumando para o centro do grupo que eles formavam. Estava satisfeito em saber que poderia fazer uma coisa grandiosa para a azulada.

Começou então a explicar no que vinha planejando. Enquanto isso, Gray apenas percebia, mais do que o normal, que a pessoa que melhor conhecia a Lockser ali era Gajeel. Nada de estranho, eles haviam passado quase que uma vida inteira juntos pelo que soubera, só se sentia meio desconfortável ao imaginar que, caso lhe contassem de tudo que ele sabia, talvez pudesse compreender melhor o passado nebuloso de Juvia e ao menos saber como alegrá-la.

...

Fora em algumas partes nas quais contribuía com pequenos comentários, Gray sentiu-se mais como uma marionete na organização daquela noite. Eles queriam a decoração perfeita, todas as porcarias que a azulada gostava de comer, música, presentes, um momento romântico perfeito... Mesmo que esse fosse o mais forçado possível. Essa última parte não combinava nada com o Fullbuster, e Gajeel parecia ser o único a concordar. Ao final, ele teve que exigir que ao menos aquilo deixassem por sua conta. Seria ridículo demais se ele obedecesse a Lucy e cantasse para Juvia em público. Especialmente quando ele era um péssimo cantor e a música escolhida era “Boyfriend”, ninguém entendendo o motivo. Segundo ela, combinada com o “espírito bad boy” do moreno, que só faltou vomitar.

Gajeel, na verdade, foi quem acabou por coordenar tudo, por mais que os “encarregados” fossem apenas adolescentes e de formal aquilo nada tivesse. Ainda que na maioria do tempo em que deveriam estar arrumando a casa eles estavam conversando, isso era necessário já que ela era o único que sabia certas coisas sobre Juvia, como “flores favoritas”, se gosta disso ou daquilo, etc.

Foi com isso em mente que o Fullbuster buscou-o para esclarecer algumas coisas. Juvia não gostava tanto assim de falar de si mesma, costumava fugir do assunto. Com o tempo, Gray ou percebera ou acabara por ouvir algumas coisas mais íntimas da garota, e achava que começava finalmente a entender mais sobre a Phantom, sua família, ela. Sabia que a garota gostava da chuva, tinha certo medo da opressão em massa e que havia algum motivo especial para ela ter escondido de todos a data de seu aniversário.

Quando Gajeel lhe contou sobre a mãe de Juvia, Gray indagou se aquela baderna iria realmente alegrá-la. Também agiria como ela se fosse esse o seu caso. Gritos e música alta quando tudo o que se desejava era relembrar dos pais que nunca tivera... Ele conseguia compreender. Já surtara de modo semelhante por muito mais tempo, e isso porque a morte dos pais havia sido um mero acidente, não um caso terrível como o da azulada, de tragédia, abandono e problemas familiares.

− Ela... Já está bem tranquila quanto a isso, quero dizer, o máximo que se pode estar. – Gajeel riu forçado, a garganta doía. – Só o fato dela não ter voltado para ver o túmulo da mãe... Juvia costumava ir todos os anos sem falta, mas desde a oitava série ela decidiu que tinha que colocar uma pedra em cima desse passado, parar de ficar triste toda vez que essa data se aproximava. Melhorou bastante desde então.

− Isso... Era na antiga cidade de vocês?

− Sim. Acho que a distância é até um dos motivos para Magnólia ter feito tão bem para ela. Aquilo de se prender à sempre levar flores ao cemitério só a deixava pior, sabe? Acho que a última vez que ela foi lá foi cerca de um mês antes de se mudar. E agora... Ela precisa sentir que tudo que ela necessitar vai estar aqui, sabe? Está na hora de deixar isso para trás completamente.

Gray não sentiria pena, ou melhor, a evitaria e não a demonstraria para Juvia. Preferia a compaixão, e só se sentia no direito de tê-la por, de certo modo, ter experimentado algo semelhante. Já tinha recebido olhares de falsa compreensão e sabia como eles em nada ajudavam a pessoa a se reerguer. Na verdade, a pena acabava por piorar sua situação: o fez sentir, por muito tempo, que suas razões para estar revoltado eram válidas, que ele tinha o direito de estar em luto eterno. Isso era um problema, uma vez que as pessoas tinham a tendência de parar no tempo quando achavam uma desculpa para continuarem como estavam. Talvez Gajeel estivesse correto, Juvia já estava tão à frente no processo de recuperação e aceitação que relembrar de tudo aquilo, ouvir “meus pêsames”, poderia reabrir uma cicatriz desnecessariamente.

− Então esse dia realmente precisa ser incrível para que ela nem se lembre disso?

Gajeel concordou com um meneio, entendendo o que se passava na cabeça do nadador.

Ótimo. – Gray passou as mãos por entre o cabelo, começando a sentir peso sobre seus ombros. – Preciso então que você me ajude.

Para sua surpresa, a ideia que tivera pareceu exaltar Gajeel de um jeito positivo. O lutador insistiu que aquela era ótima, ainda que resistisse a explicar-lhe a razão. Gray tinha seus motivos, mas sabia que por trás daquela reação havia mais alguns segredos. Na realidade, era atrás deles que tinha vindo.

Não deixou o outro em paz até que soubesse de tudo.

...

− Comida? Presentes?

− Está tudo aqui, Erza. – Gray bufou ao revirar os olhos. Ele carregava um saco de lixo para fora do Casarão e passou por perto da ruiva, que ticava, um a um, os itens de uma lista. – Não sei para que todo esse controle em uma festa que vai ter o que, quinze convidados no máximo?

− Você deveria ser o mais...

− É, eu sei, sou o namorado. Isso não significa que eu tenha que concordar com tudo. Você está muito neurótica hoje, mais do que o normal.

O moreno preferiu não comentar que ela sempre ficava assim quando a TPM vinha junto com o sumiço de um certo azulado. Jellal, ao que parecia, estava tão atolado no trabalho e estudos no país-sede da empresa que até as “viagens de negócios” para Fiore foram canceladas.

Eu sei que você precisa de alguém para pisar, Erza, mas... – sussurrou.

− O que?!

− Nada! – Gray correu para jogar o lixo fora, aproveitando a deixa. Logo voltou, limpando as mãos. – Ela está onde mesmo?

− Lucy a levou a algum tipo de exposição...

− É um projeto de proteção ao meio ambiente, eles viajam de cidade e cidade e instalam um mini aquário por cerca de dois meses para popularizar a ONG. – Levy respondeu, já descendo as escadas do segundo andar. – Precisávamos de alguma coisa para distraí-la, e como ela não disse nada Lucy pode fingir que não sabe que é seu aniversário.

− A loirinha está toda alegrinha agora que está começando a se dar bem com Juvia. – Gajeel, da cozinha, gritou.

Era verdade, chegava a ser cômico como Lucy ficava próxima à azulada em todas as oportunidades que tinha. A loira nunca tivera muita experiência com pessoas não gostando dela, então sentia a necessidade de se tornar amiga de Juvia o mais rápido possível.

Com essa distração, eles ainda teriam cerca de duas horas antes de elas voltarem. Basicamente, os moradores e amigos limparam o Casarão, espalharam doces pela mesa de centro, trouxeram o máximo de CDs possível, compraram presentes. Mirajane e Laxus ficam encarregados do bolo, que decoraram com cobertura branca e preta. Ele sabia cozinhar majestosamente e ela estava acostumada a ajudá-lo, então havia sido consideravelmente fácil.

A maioria da arrumação fora feita na cozinha, para não estragar a surpresa. O resto da casa havia sido mantido relativamente intacto, para que Juvia não desconfiasse de nada. O que não havia sido levado até a cozinha até então estava escondido no segundo andar: em grande maioria, presentes e brinquedinhos inúteis que alguém resolvera trazer.

Quando a campainha se pronunciou, e alguns segundos depois puderam ouvir alguém girando a chave na fechadura, cada um foi correndo para o seu lugar. Gray tropeçou algumas vezes até conseguir chegar o seu esconderijo “designado”, mas já o tinham ocupado. Continuou insistindo em se esconder, porém por mais que tentasse ficar em um canto e fugir daquele espetáculo, Gray sempre era empurrado para um local bem visível.

Ai, seus m... – o nadador calou-se ao notar que quem o empurrara fora Gajeel. – Por que eu não posso ficar sem ser visto que nem vocês?!

− Cala a boca, Gray! – o grupo todo chiou.

Ser “o namorado” estava lhe parecendo mais uma maldição.

Resmungando palavras incompreensíveis, ele rumou até a porta. Estava até um pouco animado, sentia a adrenalina nas veias enquanto preparava os ouvidos para o barulho que se seguiria − ele não gostava de confusão, mas abrira uma exceção. Bem, antes disso, ele ainda teria que fazer uma ceninha para lá de ridícula.

Gray-sama? – Juvia questionou com a voz baixa, encarando o garoto parado logo à frente da porta de entrada e empatando seu caminho. Ele não olhava para ela, de costas, e sim para a casa aparentemente vazia. Gray ainda não estava preparado para aquilo.

Quando virou-se, tentou sorrir do modo menos artificial possível, afinal os outros confiavam nele para que não a deixassem desconfiar de nada. Acabou nem precisou forçar-se a tal: teve de segurar a risada. Juvia e Lucy estavam com as faces coradas e cabelos grudados às faces, o que seria preocupante naquele tempo ameno se elas não estivessem cobertas de casacos. Cobertas de todos os tipos de bugigangas daquela ONG, na verdade. Tinham até bonés combinando. O Fullbuster, como estranhamente começava a acontecer frequentemente, sentiu uma vontade súbita de abraçar a azulada, que parecia um animal molhado. Seus lábios estavam atrativamente mais avermelhados do que o normal e o moletom, pelo menos dois tamanhos maior do que deveria, a fazia aparentar ser bem menor do que era.

Balançou a cabeça, afastando os devaneios.

− O que aconteceu? – ele então se permitiu gargalhar.

As garotas reviraram os olhos, esperavam tal reação de quem quer que fosse o primeiro conhecido a vê-las. Chegaram até a fugir de alguns alunos conhecidos da Lamia no meio do caminho. Nunca estivera nos planos de Lucy que aquilo viesse a ocorrer.

− Parece que os tubarões gostaram da gente. Ou, pelo menos, foi do que tentaram nos convencer. – Lucy bufou.

− Enquanto estávamos passando em frente a um aquário meio aberto, um filhote começou a se debater e aí... Saímos todas molhadas. – Juvia explicou, se sentindo meio desconfortável. O que mais queria era tomar um banho. − Eles disseram que isso nunca tinha ocorrido e acho que ficaram com pena da gente, porque deram para cada uma de nós um kit completo dos produtos de lá.

− É notável. − Gray apenas concordou, tentando voltar à seriedade.

Comentando sobre o ocorrido, Juvia foi sendo conduzida. Era estranho, mas desde cedo se questionava a razão de Gajeel, pela primeira vez, não ter comentado nada sobre aquela data. Não que ela estivesse esperando algo, só era inquietante que aquele dia estivesse lhe parecendo completamente “normal”; que até ele estivesse esquecido.

Ok, talvez ela estivesse querendo que algo ocorresse, mas nunca teria a coragem de declarar isso. Os amigos, Gray e Ur já faziam demais por ela, que achava que pedir algo desse feitio já seria ser exigente demais. Bem, além disso, Juvia fizera de tudo para que o dia assim fosse. Tentava evitar o pensamento, mas também tinha noção de que saberia apreciar alguns minutos sozinha.

Tinha consciência que logo, provavelmente ainda naquele dia ou nos seguintes, teria de contar que já tinha dezessete anos aos amigos, e isso causaria uma comoção. Ao menos, naquele momento, ela podia relaxar. Já era tarde para anunciar qualquer coisa.

Tomou um susto ao se deparam com um bolo de dois andares e uma pilha de presentes na cozinha. Demorou alguns segundos enquanto imaginava como deveria reagir a aquilo: aquilo podia ser ou não o que imaginava, e, se perguntasse diretamente, já daria uma dica a Gray e Lucy sobre o porquê daquele dia ser diferenciado. Travou em seu lugar, observando cada detalhe.

Não reproduzirei os gritos ou a confusão, acho que tal coisa não seja necessária. Saibam apenas que Juvia foi erguida algumas vezes, o Redfox recebeu uma sessão de tapas e Gray foi sim obrigado a cantar “Boyfriend” no karaokê improvisado na sala de estar, enquanto as garotas riam e os meninos tapavam os ouvidos. Quanto aos presentes... Foram dos mais variados.

Juvia não se lembrava da última vez que tinha se divertido tanto.

Na verdade, ela não se lembrava de alguma vez em que houvesse se sentido tão importante. Não estava tão surpresa pelo Redfox ter aberto a boca, mas certamente se emocionou ao ver aquele grupo junto gritando seu nome. Depois de uma ou duas horas, acabou se afastando para olhar o movimento pela casa, sentada nas escadas. Sorriu ao ver os colegas gritando e correndo pela sala, e relembrava o quanto sua vida tinha mudado em cerca de um ano.

− Sinceramente, acho que dessa vez eu acertei. – Gajeel gabou-se ao sentar-se ao seu lado, próximo ao corrimão da escada, e entregar a ela um embrulho macio.

Juvia riu, sentindo um desejo urgente de enchê-lo de beijos de gratidão nas bochechas.

− Não é outro maiô não, né?

Ele fez um som de desaprovação.

− Até pensei em te dar um mais revelador, mas achei que não fosse usar. Próximo ano, quem sabe eu arranjo uma lingerie. – comentou, enquanto Juvia já tinha um vislumbre do que ele lhe dera. O lutador estava radiante, e forçou a voz para que ficasse o mais feminina e aparentemente “fresca” possível. – Mas dessa vez... Mandei costurarem um Senhor-sama!

O queixo do casal de nadadores caiu. Isso porque, bem, Gray passara por perto no exato momento em que Gajeel anunciara sua “ideia genial” e parou para observar. Em suas mãos, Juvia segurava nada mais nada menos que um Gray de pelúcia com cerca de meio metro de altura, que o Fullbuster se aproximou para analisar. O boneco, como uma boa representação, estava vestido basicamente de preto e tinha uma expressão de tédio. Gray queria se esconder. Levy, com vergonha alheia ao ver a cena de longe, deu um tapa na própria face.

Para as noites em que vocês estiverem distantes e uma saudade inexplicável lhe abalar, Juvia...

Gajeel foi interrompido por um soco “amigável” no estômago, logo depois sendo abraçado por uma azulada risonha. O senso de humor do roqueiro era inegável. Enquanto isso, Gray apenas desviava o olhar, tendo consciência que provavelmente Juvia realmente iria guardar aquela coisa. Ele a conhecia o suficiente para saber que encontraria aquele boneco na cama da azulada por um bom tempo. Não sabia se ficava feliz ou constrangido.

− Isso foi um “obrigada”?

Un... Pode-se dizer que sim. – Juvia soltou-o, se mantendo próxima. Depois de tantas gargalhadas, a Lockser começava a entender o propósito do amigo com tudo aquilo. – Por tudo.

É minha função, não é? Só digo que quero o mesmo para mim no próximo ano.

Gajeel bagunçou seu cabelo. Gostaria de conversar um pouco mais com ela, mas sabia que o melhor momento para fazer o que planejara era aquele. Inesperadamente, agarrou o braço de Juvia e Gray e os arrastou até os fundos da casa. Eles precisavam de um momento a sós, e os outros jovens pareciam não notar isso. Se não fizesse aquilo pelo outro, apostava que o Fullbuster iria apenas entregar a ela o presente, sem dizer muito mais, e se afastar. Era o jeito meio complicado do amigo, precisava de um empurrãozinho.

− Boa sorte. – ele sorriu, cruel, antes de fingir trancá-los do lado de fora.

Juvia sentiu-se estremecer, e não por causa do vento gelado que passou por eles – já tinha se agasalhado melhor e se secado por completo. Ela não era idiota de não imaginar do que aquilo se tratava. Além de que... Bem, era meio natural que ela tivesse sonhado um pouco com um momento como aquele. Esperou que Gray falasse, mesmo que ele não fosse dos melhores com palavras.

Er... Parabéns! – ele riu, tentando disfarçar. A Lockser agradeceu, ansiosa. – Eles quiseram fazer essa coisa mais grandiosa e... Gostou?

Juvia nem precisou responder, só revirou os olhos. Gray estava meio estranho, não costumava gaguejar.

− Isso é bom. Imaginei que... Você pudesse querer ficar sozinha, por isso não tinha dito nada a ninguém. – foi possível se notar o tom meio incomodado da frase.

− Eu não queria... Esconder! – se exaltou um pouco. − É só que sou meio acostumada a passar meus aniversários sozinha. Eu e Gajeel, na verdade. Além do mais, nunca tive muito com quem comemorar, essa animação toda é novidade.

− Mas você está bem com tudo isso?

Não houve explicação, mas simplesmente foi perceptível. Talvez a voz dele tenha falhado no momento errado ou o modo como mexia as mãos sem parar o entregaram, mas Juvia percebeu que havia algo de muito anormal ali. Gray geralmente não era cauteloso, e não era o fato daquele ser um “dia especial” que iria mudar isso. O tom dele havia sido desnecessariamente precavido, quase como se... Estivesse sendo cuidadoso, tivesse medo de fazer ou falar alguma besteira. De magoá-la.

− Há alguma chance de Gajeel ter lhe contado sobre a minha família? – ela ergueu uma das sobrancelhas em desconfiança.

Gray pareceu suar frio e aquela foi sua confirmação. Ele olhou em volta, balançou os pés antes de responder:

− ...Grandes chances. Mas foi apenas porque eu o pedi.

− E como o assunto chegou nisso?

Não que Gray não pudesse ter simplesmente ido direto ao ponto, mas ele e a azulada tinham algo semelhante a um acordo subtendido de esperar o outro se sentir confortável para tocar em determinado assunto antes de tentarem descobrir sobre aquilo sozinhos. Isso, é claro, havia sido estabelecido há pouco, mas Juvia acreditava que estava valendo.

− Por que... Há quanto tempo você desconfia de algo? Qual o motivo de não ter me perguntado? – as sobrancelhas delas estavam franzidas, exibindo sua tensão.

Juvia se sentia meio desesperada por subitamente descobrir que ele já sabia sobre seu passado. Quem mais? Há quanto tempo?

− Não é isso! – o garoto coçou a nuca, buscando jogar a hesitação para longe. – Você não costuma contar sobre a Phantom ou qualquer outra coisa... E eu queria saber um pouco mais sobre algumas coisas. – ele se sentia patético ao notar sua falta de habilidade para se expressar. − Foi, basicamente, por causa disso.

Ele ergueu o braço esquerdo ao tirar de sua calça um pequeno saco de camurça negra. Ele não tinha nenhuma identificação ou pompa, mas parecia carregar algo importante. Juvia não demorou a segurá-lo, sentindo-o leve na palma de sua mão. A curiosidade lhe bateu, ainda que estivesse interessada na conversa.

− Posso..?

− Claro. – Gray não se moveu, apenas a observando desfazer o laço dourado. Aquele havia sido o melhor que pudera fazer.

De dentro do embrulho, Juvia aos poucos foi retirando uma corrente prateada, o que foi inesperado. Uma joia? O nadador sabia que ela não ligava para objetos de valor. Juvia achava milhões de vezes melhor ter dez coisas baratas a uma única que fosse cara. Mesmo assim, observou o objeto com cuidado, especialmente ao ver o pingente que reluzia. Ela sentiu o coração parar por alguns segundos.

Isso porque, no final do colar, feito do que parecia ser vidro de murano, havia um teru teru bozu preto e branco, bem semelhante ao que ela guardava há tanto tempo. Os olhos e boca davam a impressão de serem costurados, ainda que sendo delicados. Como Gray sabia e entendia o que aquilo significava, e ele entendia, só fez sentido ao ligar os pontos.

− Eu já tinha notado que você gostava desses bonecos e já tinha me falado sobre o que tinha quando criança, mas sabia que tinha algo a mais. Por isso perguntei à Gajeel. – ele sorriu, já passando mais confiança. Havia pensado bastante sobre as palavras de Gajeel. Queria alegrar a garota, e não fazê-la chorar como parecia que ia acontecer. – Não imaginava que a história fosse tão... Pesada, até achei que fosse besteira pensar nesse presente...

− Obrigada. – ela o olhou de baixo, os olhos já molhados. O Fullbuster começou a se desesperar. – Obrigada.

Ele continuou a falar e tentar se explicar, mas tudo o que conseguiu arrancar dela foi um lamento risonho. A azulada parecia emocionada de um modo positivo, no entanto. Gray tentou ser mais incisivo, a subjetividade não lhe satisfazia:

− Eu sei que você perdeu tudo antes mesmo de entender o que tinha, mas teve esse brinquedo para se lembrar da sua família. E, bem... Agora você têm uma família. Acho que é importante se lembrar com carinho do passado, e isso vale também para mim, mas... Não se esqueça de que há o agora também. Nós estamos...

Ele não conseguiu completar a última frase. Antes disso, foi atacado por um furacão azul que o derrubou no chão, com uma das pernas de cada lado de seu tronco. Gray não reclamou. Juvia sorria como uma criança, e ele riu quando ela lhe deu um selinho duradouro enquanto segurava suas bochechas.

Ela ficou encarando-o, talvez esperando um algo a mais, enquanto ele deslizou as mãos por seu pescoço e fechou o trinco do colar. O toque a fez se arrepiar, e ele pareceu notar seu rosto meio constrangido no meio de tantos cabelos que desciam de sua face e cobriam o rosto do moreno também. Talvez Juvia não devesse ter sido tão espontânea.

Por um momento ela não tinha pensado nisso, mas então a consciência da posição que estava, sentada sobre ele, a atingiu em cheio. Ela simplesmente não era acostumada a receber tanto afeto, fosse de quem fosse, e Gray não poderia ter escolhido presente com simbolismo melhor. Notou, então, que naquele momento não precisava de mais explicações. Apesar de Gray estar demonstrando certa dificuldade em dizer aquelas três palavras que ela desejava ouvir, ele já havia falado tudo o que era necessário. Abaixou a cabeça até estar próxima dele, sussurrando:

− Acho da última vez eu fui meio agressiva ao dizer isso, mas... Eu gosto de você, Gray-sama. Tipo muito.

Foi uma questão de milésimos até Juvia se ver em uma nova posição, dessa vez estando sentada e com as costas pressionadas contra a parede atrás de si. Gray estivera se mantendo tranquilo, mas se deixou levar pela fala da garota. Juvia descobrira adorar quando isso acontecia. Não queria soar indecente, mas se sentia nas alturas quando Gray tomava atitude. Ao vislumbrar rapidamente sua face, ela pensou como era estranho o fato daquele garoto tão maduro ser apenas alguns meses mais velho que ela.

O Fullbuster tomou-lhe os lábios com certa violência inicialmente, mordiscando os cantos da boca de Juvia. Quando ele estava assim, ela quase não conseguia acompanhar seu ritmo, apenas permitindo que ele explorasse sua cintura e ombros. Ela já estava começando a se acostumas com as mãos bobas que em alguns momentos iam e vinham nas suas coxas e quadril (apesar de ser meio constrangedor se imaginar fazendo aquilo), mas Gray tinha noção de que a qualquer momento alguém poderia aparecer, então evitava se animar demais.

Quando ele começou a se tornar mais carinhoso, ela espalmou as mãos sobre seu peitoral e beijou-o no maxilar, na bochecha, no pescoço, então voltando para sua boca semiaberta. Juvia foi cada vez mais deslizando pela parede enquanto sentia seus lábios serem sugados e seu ar ir embora completamente. Puxou-o pelos cabelos para mais perto, se é que isso era possível.

E então ouviram um grito animado dentro da casa, o que os trouxe de volta à realidade.

− Por que isso sempre acontece? – Gray grunhiu.

Juvia, de lábios inchados e respiração descompassada, pensou que era sua vez de ser a otimista. Afastou-se um pouco dele, por mais que odiasse isso, e se levantou, lhe estendendo a mão. Não teria que fingir: ela estava tão alegre.

− Vamos! – ela o ergueu e começou a puxá-lo em direção à porta dos fundos.

Gray dava passos lentos e pesados.

− Juvia?

− O que foi? – ela paro, logo antes de entrar na casa, para olhá-lo.

− Feliz aniversário.


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Notas finais do capítulo

TT_TT
Eu amo eles, eu amo Gajeel... Acho que coloquei esse nome no especial apenas para mostrar que, bem, nunca é "só aquilo". Para entender eles e, bem, todo mundo, a gente tem que compreender pelo que essas pessoas já passaram.

Comentários? (hehe)

OBS:. QUEM ESTÁ LENDO ESSE MANGÁ? Eu quase morri com o que Gray prometeu para ela, estou quase realizada como shipper (isso se Mashima n resolver ferrar com tudo, né?)



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