Before - League of Legends escrita por Ricardo Oliveira


Capítulo 1
Prólogo




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Marc e o seu clã, o clã Tryndamere, caminhavam noite adentro, sob a luz da grande lua. Independentemente de para onde se olhasse havia apenas neve. O frio ou a fome, talvez ambos combinados, derrubara um dos seus companheiros durante o trajeto mas Marc sabia que ninguém pararia para ajudá-lo, ele tampouco. Só os fortes sobreviviam no continente gelado Freljord. Intimamente ele até se contentava em ter um a menos entre eles pois os suprimentos que seu clã conseguira tomar da última tribo que destruíram estavam no fim e dessa forma haveriam menos pessoas nessa disputa.


Contudo lhe ocorria que era questão de tempo até ter o mesmo destino. A exaustão também começava a dominá-lo, cada parte de seu corpo gritava por calor e descanso. Ele sabia que estava distante de ambos, as paradas para dormir eram mínimas e sempre preenchidas por alguns turnos de vigia enquanto uma fogueira naquelas montanhas gélidas e escuras praticamente diria: “Estou aqui, clãs inimigos, venham me matar e tomar tudo o que eu tenho de valor”.


Todos caminhavam calados, os guerreiros mais resistentes poupavam cada energia enquanto os inexperientes não tinham mais nenhuma para gastar com coisas desnecessárias. A cada passo o seu pé afundava em uma grossa camada de neve e apesar das botas de couro, o frio queimava por dentro tão intensamente que ele se sentia nu e perdia cada vez mais da sua energia e vitalidade. Apenas continuar a andar consumia toda a força de vontade que ele poderia reunir, impedindo-o de perceber a figura que abria caminho entre os demais para ficar ao seu lado até que ela sussurrasse bem próximo:


– Aguente firme. Mais uma ou duas horas de caminhada talvez, os Observadores nunca nos encontrarão aqui. – Marc conseguiu ver um sorriso confiante entre a selvagem e absolutamente reconhecível barba do seu pai, o líder do clã Tryndamere. – Nem as Três Irmãs. – Completou, um pouco desgostoso consigo mesmo minando o próprio sorriso. Seu pai, em consenso com os outros membros, decidira não participar da revolta de Avarosa, uma das Três Irmãs, a que lutava pela liberdade do povo de Freljord, pela liberdade de pessoas como os integrantes do clã Tryndamere. Marc discordava de seu pai mas sabia que era o melhor jeito de continuarem vivendo, da forma que tinham tão poucos membros seriam dizimados por qualquer exército em uma grande batalha. Ele estaria feliz se pudesse continuar com o seu pai e os Tryndameres, viver para sempre ao lado deles.


Contudo, o berrante dos batedores soou.


– Inimigos! – Gritou um deles. Marc não conseguia ver de onde os tais inimigos surgiam, mas aparentemente seus companheiros sim. O frio, a fome e o cansaço foram esquecidos por todos enquanto o ar era cortado pelo som de duzentas espadas, foices, martelos, machados e arcos sendo retirados de seus respectivos locais de descanso. Homens saltavam por todos os lados, de trás de pedras ou pelas rochas cobertas de gelo das montanhas que os rodeavam e caiam iniciando combates tendo apenas a lua para testemunhar, ele não conseguia distinguir mais as silhuetas que se uniam e separavam das sombras trocando golpes mas sacou a sua espada cortando o que via e o que não via, apenas sentindo a carne mole se desfazendo no gume firme de sua espada curta.


Os atacantes eram experientes e tinham o fator surpresa ao seu favor mas caiam um a um diante da fúria sanguinária de Marc. O calor da batalha não o permitia pensar nem hesitar, seu rosto selvagem e impiedoso era a última coisa que muitos de seus inimigos vislumbravam antes do último suspiro. Não era a primeira vez que ele tirava vidas e Deus o perdoasse, não seria a última. Qualquer um que se aproximasse era considerado um inimigo e tratado como tal, a justiça nas montanhas de Freljord se fazia no aço e a misericórdia não era digna dos fortes braços que empunhavam qualquer coisa afiada ou pesada o bastante para arrancar vidas.


Com apenas quinze anos, Marc vivera muitas batalhas e não perdera nenhuma. Provar isso era muito fácil: Ainda estava vivo. Algumas dessas batalhas travadas consigo mesmo durante toda a sua vida, domou a fome, a sede, a fúria, a desobediência. Matar era um detalhe, uma necessidade, quase um emprego cujo pagamento era sobreviver mais um dia.


E aquela batalha não seria diferente. Ele abriu caminho até o topo da montanha, de onde vieram os inimigos e tomou o local de assalto com seus companheiros derrotando todos os presentes. Não se fazia reféns naquelas montanhas gélidas. A não ser que sua carne fosse extremamente necessária e Marc desejava de coração que nunca precisassem chegar a esse ponto.

– Vocês estão bem? – Ele ouviu a voz do seu pai. Apesar dos diversos cadáveres irreconhecíveis no chão, dando um tom rubro na alva neve e uma promessa de péssimo odor no futuro, seu clã não parecia ter sofrido tantas baixas. Os invasores foram repelidos com sucesso, agora o momento do saque viria e os corpos provavelmente seriam deixados ali para algum animal corajoso o suficiente para subir a íngreme ladeira. A morte parecia tão triste, nenhum daqueles homens por mais valente que fosse seria lembrado um dia. Suas vidas e seus sonhos perdiam todo o sentido ali.


“Ainda não chegou minha vez”, pensou sozinho. Todavia, a título de discordância uma voz assustadora e desconhecida ressoou por toda a montanha, paralisando todos com algo não muito comum entre os membros daquele clã, medo:


– Agora, viramos o jogo! – Seu dono era ainda mais assustador, sua cabeça era coberta por um tipo de elmo (mas como pareciam chifres de verdade!), sua pele era toda vermelha tal como o sangue que cercava os guerreiros no cume da montanha, nas suas costas pendiam duas asas que mexiam quase como se tivessem vida própria, contudo o que mais inspirava temor em quem o visse era a espada que este portava: Sangrenta, longa, (muito) afiada na ponta e serrada nas laterais. Tal como as asas, esta parecia ter vida própria, dançava ao redor de sua própria luz em plena escuridão fazendo sua melodia única, uma canção de sangue.
Porém, ele não estava sozinho. Junto ao seu chamado vários outros invasores chegavam ao topo da montanha onde a batalha havia se degringolado. O primeiro movimento pertenceu a ele: A montanha, e talvez a terra inteira, estremeceu quando o guerreiro vermelho pousou no coração da formação do clã Tryndamere após planar por ínfimos segundos no ar. Corpos já sem vida foram arremessados, outros perderam a vida após a queda de milhares de metros. Os outros guerreiros inimigos se aproximavam rugindo ferozmente, mas sequer era necessário. A investida do guerreiro vermelho era mais do que o suficiente para destroçar toda a disposição que havia nos Tryndameres. Arrancar as vidas restantes de corpos preenchidos pelo desespero e incompreensão era um mero detalhe.


Marc estava estatelado de costas no chão próximo à borda da montanha, sentia o gosto do próprio sangue na boca e todo o corpo dolorido, em seu estômago um buraco preenchido pela própria espada onde antes havia apenas couro e carne. As antigas dores voltaram somando-se aos novos ferimentos e fazendo-o desejar de todo coração que apenas morresse mais depressa. Entre uma fresta de seus olhos que lutavam para permanecer abertos viu um único homem de pé, ainda que vacilante, pronto para desafiar o guerreiro vermelho e toda a turba.


Sequer houve mais luta. Sua última visão antes das lágrimas e das pálpebras tomarem conta foi o sorriso desdenhoso do guerreiro vermelho e sua espada arrancando a cabeça barbuda do homem que anteriormente fora líder do agora extinto clã Tryndamere e também seu pai.


“Não, não, não”, ele ouvia as ovações dos vencedores, “não, não, não”, as risadas que prenunciavam a comemoração, “n…”, uma cabeça na neve sendo chutada. A cabeça do seu pai. Ele não precisava mais ver, não precisava mais ouvir, só precisava matar. Vingar os mortos que gritavam em sua mente. Mortos que não tinham mais nome ou rosto mas que outrora partilharam comida, bebida e espaço consigo. Ele entregou sua mente à fúria, cedeu a última coisa que ainda lhe restava: a consciência, interrompendo a própria mortalidade. Seu corpo foi preenchido por uma chama que não lhe causava danos, mas ainda assim tão intensa que derreteu a neve ao seu redor, os olhos reabertos brilhavam animalescos virando-se contra aqueles que o fizeram mal.


Qualquer espada serviria, qualquer lâmina afiada o suficiente para tirar centenas de vidas em instantes. Se deu conta de que havia uma cravada na própria barriga. Não lembrava como, não importava mais. Arrancou-a do próprio ventre alheio à dor que nunca veio embora devesse e ao sangue que jorrava feito louco manchando-o da cintura para baixo. Suas feridas fecharam-se parando instantaneamente o sangramento e seu corpo pôs-se de pé arrancando olhares estupefatos de todos os presentes, exceto do guerreiro vermelho que meramente sorriu:


– Matem-no! É um demônio! – Gritou um dos homens. Outros exclamaram favoráveis mas indispostos a concluir o serviço, intimidados pela fúria do jovem. O guerreiro vermelho estudou o garoto que mal conseguia se manter de pé e concluiu o julgamento com a sua voz grave:


– Hoje, ele vive. Os verdadeiros guerreiros sempre nascem em sangue. Vamos embora! Não tenho tempo para perder com os que ainda são filhotes.


O guerreiro vermelho partiu, deixando apenas os mortos para fazer companhia ao agora solitário Marc. Deixando apenas dor e ódio enquanto dava as costas, indiferente ao que aconteceria após aquilo. Talvez, em algum tempo e em meio a tanta matança, o guerreiro esqueceria daquele dia. Mas Marc nunca o faria.


Inconscientemente e contra sua vontade ele se sentiu tomado pelo alívio de estar vivo, a fúria que o possuía cessou repentinamente, seus joelhos cederam à neve e ele não tinha forças para perseguir aquele… Não o chamaria de homem jamais. Aquele que tirou tudo o que ele amava. Aquele a quem ele juraria vingança eterna, e não morreria até cumprir o juramento.


Muitos anos se passaram desde então…


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