Deusa Estelar escrita por Carlos Abraham Duarte


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Neste capítulo começa a história propriamente dita, com a apresentação sucinta da tripulação de operação da ponte de comando da nave estelar U.F.S. Majorum. Os personagens mostrados serão importantes em maior ou menor grau, não apenas nesta história como também nas que forem escritas posteriormente, ambientadas no mesmo universo (ou multiverso) ficcional. Boa leitura!



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"Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos."

Salmo 19:1

"Suponha que o espaço será sempre mais desconhecido do que conhecido, e nada que você encontrar em seus alcances irá surpreendê-lo."

Kelvar Garth de Izar, Almirante

 

Diário Pessoal do Capitão

Data estelar: 92102.119

"Nossa presente missão é investigar um evento de inconcebível grandeza que ocorreu há um metrociclo, e centrado na área em torno do sistema estelar Kepler-78, a uns 214,7 parsecs da União Solar. Ou seja, em pleno espaço federado, Mezolando, a uma distância perigosamente próxima dos mundos centrais. Por duas vezes, numa fração de microciclos, tudo dentro do sistema Kepler-78 pareceu apagar-se, estar fora de sintonia com a existência no continuum espaço-tempo. O efeito em questão foi de tamanha magnitude que repercutiu em cada quadrante, subquadrante e grade de setor da Via Láctea, e muito além, até os limites gravitacionais do Grupo Local das Galáxias, num raio de três megaparsecs. As anomalias detectadas vão desde distorções temporais até a completa ruptura dos campos magnéticos e gravimétricos normais. Pergunta: trata-se de um fenômeno natural ou foi provocado artificialmente por outrincons pertencentes a um continuum de ordem superior, extrauniverso, em um prelúdio de invasão ao espaço da Federação? Isso é o que devemos descobrir."

O Capitão Arjuna Ghowrid, de Freia por Ramanujan, dos Drago-Kazov, era tão nietzschiano quanto seu nome - o rebento de uma raça de "super-homens" que em Antellus evoluíram a partir de seres humanos engendrados pela engenharia genética e nanotecnologia em uma subespécie inteiramente nova, Homo sapiens invictus, o "homem inconquistável", devotado ao autoaperfeiçoamento e à propagação de seu patrimônio genético - , tendo cerca de cinco vezes a força humana normal, velocidade, resistência e reflexos sobre-humanos, e uma agilidade mental duas vezes maior do que a de seus "primos" humanos. Era alto - media 1,93m - e tinha porte atlético, pele moreno-clara, rosto oval de feições severas mas notadamente atraentes, cabelos castanho-escuros, cortados em estilo militar curto, e olhos castanhos ligeiramente amendoados nos quais ardia com um fogo frio, gelado e escaldante ao mesmo tempo, o amor à luta e ao perigo tão característico de sua raça. Os três pares de afiadíssimas lâminas ósseas revestidas por pele saindo de seus antebraços pelas aberturas nas mangas da jaqueta de cor carmesim escuro do uniforme computadorizado da Frota Estelar - podendo ser usadas como armas naturais de combate corpo a corpo, em caso de necessidade - constituíam a única diferença visível em relação aos humanos sapiens e davam mostras da progênie de Iskander-Drago Museveni, o primeiro nietzschiano, fundador da raça.

O capitão Arjuna Ghowrid era também o responsável por todo o complexo aparato científico e militar e pelos mil oficiais altamente qualificados e quatrocentos civis - além de robôs e androides - que formavam a tripulação da maior e uma das mais avançadas astronaves da Frota Estelar: a U.F.S. Majorum, um cruzador de exploração do espaço profundo da classe Destiny, que tinha o tamanho de um pequeno asteroide, com seus novecentos metros de comprimento por duzentos e quinze metros de largura e duzentos metros de altura, e que, de igual modo às suas congêneres de menor porte, das classes Kosmos, Quasar e Pulsar, fora concebida tanto para explorações científicas e missões diplomáticas quanto para combates de larga escala, no espaço sideral. A força essencial que potencializava o sistema de energia da nave consistia de um núcleo de subespaço - movido a energia transfásica - com capacidade energética 40% superior à dos "arcaicos" núcleos de dobra - movidos por reação matéria/antimatéria - utilizados nas naves estelares ao longo dos dois séculos anteriores. Graças a esse avanço tecnológico - que só recentemente fora desbancado pelo novíssimo reator de força-chroma - , a Majorum e suas coirmãs do século VI da Era Espacial, usando tanto de conduítes de transdobra quanto do "turbilhão quântico", através da manipulação do tecido do continuum espaço-temporal no nível quântico para abrir buracos-de-verme artificiais ou túneis no hiper-subespaço, logravam atingir a marca recorde de fator de dobra 17,877 em doze metrociclos, percorrendo 92,024 parsecs em um metrociclo e superando largamente os limites de velocidades superluminais das velhas naves da classe galáctica. Tendo sido originalmente concebida para explorar as Galáxias de Andrômeda e do Triângulo, a classe Destiny tornou-se a classe capitânia da Frota da F.E.U. após as Guerras Daemon e a Guerra Borg-Anunnaki, mais de cem stanrevs atrás.

Com um forte lampejo de luz azul e um abalo silencioso que somente um sensor de deformação da estrutura espacial poderia localizar e medir, a Majorum emergiu do conduíte de transdobra que se abrira nas imediações do sistema Kepler-78 e reentrou no espaço-tempo conhecido como Universo einsteiniano. Seu casco negro e prateado - composto de uma liga especial de durânio/tritânio/zílio de alta densidade, duplamente reforçado com quinze centímetros - refletia a luz de milhões de estrelas da Via Láctea. Só a seção disco media trezentos metros por duzentos e quinze, variando o diâmetro da seção de engenharia entre cento e setenta a duzentos e trinta metros, ao passo que o comprimento das naceles - que se recolhiam automaticamente antes de a nave entrar no subespaço - era de trezentos metros.

Um colosso ultratecnológico, fruto do progresso da ciência astronáutica de mais de setenta raças de seres sapientes abrangendo três galáxias e dois universos paralelos, que combinava beleza e poder pela harmonia e suavidade de suas linhas. Seus sistemas de armas potentes e modernos impunham respeito: vinte arcos de phaser tipo XX#, seis lançadores com capacidade para mil e quinhentos torpedos quânticos, dez lançadores para mil e quatrocentos torpedos fotônicos, dois lançadores com capacidade para seiscentos torpedos transfásicos e dois lançadores para cem torpedos cronotônicos, e como a cereja que coroa o bolo, um superphaser 2 acoplado à antena defletora da nave - no corpo cilíndrico ventral que abrigava os hangares e o cristal defletor de impulso - com poder de fogo equivalente ao de trinta e três cruzadores pesados da antiga classe Galaxy disparando simultaneamente (a necessidade de um grande conduíte de energia para disparar tal arma justificava o tamanho descomunal da nave). E seu sistema de defesa era tão formidável como seu armamento. Estava equipada com o pentaescudo de tipo padrão da Frota Estelar, o que significava um sistema automático de modulação de cinco camadas de escudos energéticos regenerativos, multifásicos, com um campo de integridade estrutural de alta intensidade, armadura ablativa composta de nanotecnologia à base de ultralênio - que desvia desde a luz visível até um tiro de feixe de raios phaser - , polarização dos cascos e um escudo esférico de teletransporte de luz - capaz de transladar instantaneamente radiação eletromagnética de um ponto a outro do espaço em volta da nave, através da quinta dimensão, evitando sua reflexão e garantindo a invisibilidade e indetectabilidade da embarcação.

"A menos que o eventual inimigo disponha de um sensor taquiônico", ponderou Ghowrid, sentado em sua cadeira computadorizada - que ostentava no braço esquerdo um painel dotado de interfaces gráficas icônicas sensíveis ao toque que registrava o diário de bordo e permitia acessar os bancos de dados do computador, controle da tela e holocomunicadores, e, no braço direito, um console de recursos direcionais e alfanuméricos dos controles de armamentos e escudos, além dos sistemas auxiliares dos painéis de navegação e sensores - no centro da ponte de comando circular da Majorum, enorme e bem iluminada de forma indireta. Tal como suas precursoras da classe Galaxy, de mais de cem stanrevs atrás, a seção disco das naves estelares da classe Destiny podia se separar da seção de engenharia e ponte de batalha no casco principal, de maneira que pudesse funcionar como um veículo autossuficiente, em caso de emergência extrema, enviando os passageiros não-combatentes - cônjuges e crianças - para um destino seguro. Para tanto, e ao contrário das gerações anteriores de veículos, a seção de disco desta classe possuía seu próprio núcleo de dobra - podendo viajar mais rápido que a luz e acelerar até velocidade de dobra 8 - e um sistema defensivo de escudos energéticos duplorredundantes de recarregamento rápido digno de um cruzador de batalha da classe Sovereign (tendo o último sido descomissionado em 457 d.V.).

Ghowrid comprimiu os lábios. Pensou em suas três esposas e seus onze filhos, cada um deles um cientista pioneiro e desbravador do cosmos, que residiam nos aposentos de civis do deque 29. Ele mesmo só se atrevera uma única vez a separar sua nave em duas partes, na data estelar 90051.222, ao explorar as vizinhanças da estrela Barnard-29, uma gigante azul da classe espectral B2 situada na periferia do Grande Aglomerado Globular de Hércules, ou M-13, a mais de 7.699,38 parsecs do Sistema Solar - os outrincons bluoj em forma de esferas de energia plasmática azul-branca que colonizaram a estrela gigante eram hostis a qualquer contato com os "invasores" constituídos de matéria sólida e fria - , e esperava não ver-se obrigado a repetir tal decisão drástica.

A primeira coisa que apareceu nas telas dos sensores ópticos e de escaneamento em banda larga E.M. foi uma fonte de radiação estelar. Tratava-se de Kepler-78.

— Computador, ativar tela principal - ordenou Ghowrid por interface vocal. - Magnificar. - No mesmo instante a imensa tela de navegação à frente de sua poltrona de comando mostrou a imagem clara, nítida e tridimensional, de um diminuto globo amarelado do tamanho de uma ervilha que brilhava, qual topázio reluzente, com a luz de quatro mil Luas Cheias contra a profunda escuridão estrelada do panorama galáctico, resplandecendo em meio a milhões de pequeníssimos pontos luminosos no infinito negro de um oceano sideral que não conhece fronteiras. - Astronavegador, quanto falta para as fímbrias do Sistema Kepler-78?

— Seis centiciclos para a camada mais exterior da astrosfera, capitão - respondeu de pronto o Tenente Themooth Lorphall, um erthusino que servia a bordo da Majorum como oficial de navegação. Com seus dois metros e dez de altura e sua pele branca e seca como a de um defunto, era de uma magreza assustadora - aparentava ser feito exclusivamente de pele e ossos - , ostentando fronte alta, cabelos escorridos quase incolores e olhos enormes de íris avermelhadas com ínfimas pupilas rubras. Erthu, seu planeta natal, fora colonizado por humanos solarianos que sofreram mutações por consumo excessivo de Sidine, um neurotransmissor sylvaniano, que os transformou em "goniômetros telepáticos" vivos. E, assim como todos os de sua raça, possuía uma verdadeira e potente "segunda consciência", o que o tornava apto a raciocinar em termos de quinta dimensão.

— Recomendo entrar em alerta amarelo, capitão - interveio o Comandante Rhadamanthys Togo, que estava sentado na poltrona à direita de Ghowrid. O imediato da Majorum era outro nietzschiano - cerca de um terço da tripulação de operação da nave pertencia à raça nietzschiana, gerada no Sistema Estelar Vega - , e como tal possuía os três pares de lâminas ósseas antebraçais típicos dos machos de sua raça; era alto, atlético, mas assim mesmo não chegava à altura de Ghowrid, além de ter pele bronzeada, maçãs do rosto saliente, cabelos cor de bronze, cortados até a metade de seu pescoço, e afiados olhos azuis.

Ghowrid assentiu com seriedade. Olhou para a Tenente Nereide Vieira, que ocupava o posto de operações, na parte anterior da ponte, e ordenou: - Tenente, ponha a nave em alerta amarelo.

Sentada diante do console de operações, a jovem e bela marzulina formava um contraste agradável com a figura magérrima e esbranquiçada do Tenente Lorphall, no console de navegação. Possuía pele marrom-clara, cor de chocolate, parcialmente coberta por minúsculos dentículos dérmicos cinza-azulado escuros, com fendas branquiais de cada lado da faringe (por onde se conectava a um minicompressor de respiração para organismos aquáticos), cabelos pretos em dreadlocks e olhos verdes muito vivos. Nereide era originária de Marzul, um planeta oceânico povoado por colonos solarianos de ascendência brasileira "adaptados" para uma existência subaquática por meio de engenharia genética.

A Tenente-Júnior Nereide Glauce Verdemar di Sant'Iago Vieira tocou os controles virtuais de seu console. No mesmo instante o sinal de alerta soou por todos os quarenta e quatro deques da grande astronave, e em todos eles os droides de manutenção deslizavam apressadamente a poucos centímetros do piso luzidio, por flutuação anti-g, ao passo que os MecOrgans e a tripulação organicamente viva se dirigiam aos turboelevadores para assumirem seus respectivos postos. Caso necessário, os H.E.s da classe Destiny — hologramas de emergência de nona geração, Mark XX, com sistemas de autoaprendizagem e, graças aos onipresentes holoprojetores, capazes de andar livremente pela nave - , seriam prontamente ativados pelo sistema de computadores tecnorgânicos para assumir a ponte, comunicações, enfermaria e engenharia, compondo uma tripulação de reserva. A Majorum estava preparada para fazer frente ao desconhecido que surgira tão inopinadamente, bem nas entranhas da Federação.

— Todos os sistemas internos, multinúcleos de computador, campo de integridade estrutural, campo de amplificação inercial e sistemas de energia funcionando com 100% da sua capacidade - reportou a Tenente Vieira com sua voz encantadora e suave, modulada por um implante na laringe. Durante um alerta amarelo, cabia a ela, como oficial-chefe de operações, monitorar os sistemas de computadores tecnorgânicos, além do sistema de gravidade artificial. (A mais, a computação ubíqua e a rede de sensores internos lhe permitiam monitorar em tempo real a temperatura e a atmosfera em todos os recintos da nave, o deslocamento das pessoas nos corredores e elevadores, ou até a localização de uma bolinha desgravitizada de tênis espacial na quadra do ginásio do deque 33.)

Na ponte principal, a Tenente Shraathaa zh'Vraazdi, posicionada de pé e atrás do console de armamentos e posto tático - construído em ferradura na parte traseira da ponte, por detrás da cadeira de comando - , ficou de prontidão. A oficial de armas, uma andoriana pertencente ao gênero feminino zhens (a raça possui quatro sexos separados, dois "masculinos" e dois "femininos"), distinguia-se pela cor azul de sua pele, pelo par de antenas saindo da parte frontal do crânio, ultrassensíveis a campos magnéticos, e pelos cabelos brancos translúcidos na altura dos ombros (sem mencionar o exoesqueleto parcial que seu corpo esguio de 1,80m e com sangue azul à base de cobalto - hemocianina - em vez de ferro). Seus olhos de cor violeta escaneavam as comunicações, os dados dos sensores e relatórios de situação que emergiam dos painéis holográficos do console tático. Podia mover a holotela só com o movimento dos globos oculares.

Atrás dela, outros tripulantes - humanos e extra-humanos - monitoravam as estações de ciências, operações de missão, meio ambiente e engenharia.

Foi quando um sinal soou no painel do braço esquerdo da cadeira de comando. Ghowrid tocou um dos controles virtuais no painel para abrir sua linha de intercom. - Aqui é o capitão.

A voz ansiosa do Almirante Allysdair Scott ressoou pelo intercomunicador. - Capitão Ghowrid, por que colocou a nave sob estado de alerta?

— Olá, almirante - Ghowrid respondeu com a mesma calma de sempre. - Estamos prestes a adentrar o sistema estelar Kepler-78, e por mera precaução eu declarei alerta amarelo. Se descobrirmos alguma coisa, eu o informarei imediatamente.

— Obrigado, capitão. Estarei na sala de reuniões junto com o Comodoro Lima, o Tenente-Comandante Lewz e os doutores Dharz e Sklar.

— O.K. Ghowrid desliga.

— Falando francamente, capitão - disse Togo - eu não entendo por que o almirante e os demais insistem em estar presentes fisicamente, expondo-se a riscos sem necessidade, quando poderiam recorrer à holopresença ou ciberpresença via Starnet. Com nossas novas redes de hiperondas a comunicação é quase instantânea, dá para falar com alguém do outro lado da Galáxia!

— Imediato, se seguir esse raciocínio, então qual a razão para arriscarmos nossas vidas e as vidas de nossas mulheres e filhos junto conosco, apenas para investigar uma série de efeitos perigosos e inexplicáveis? - Ghowrid redarguiu. - Poderíamos fazê-lo por intermédio de avatares cibernéticos ou holográficos, permanecendo em casa, com total segurança. Então, por que não?

Ambos estavam se comunicando em circuito fechado de áudio, por intermédio de transmissão de som dirigido, em uma estreitíssima faixa de onda endereçada apenas à pessoa alvo; bastava se pensar em um diálogo e a interface neural usuário-computador de seus uniformes interpretava-o na forma de sons, e, usando a epiderme humana como condutor de impulsos elétricos, enviava a mensagem diretamente ao ouvido do interlocutor. E sendo a propagação da onda de áudio apenas em linha reta e não para os lados, ninguém mais era capaz de ouvir a comunicação.

Nós não seríamos nietzschianos e muito menos oficiais da Frota Estelar, se o fizéssemos - replicou Togo. - A atração pelo desconhecido é o que nos traz aqui. A luta do homem por alcançar a grandeza através de seu próprio mérito e esforço. Jamais seremos reis ociosos, superdependentes da tecnologia ultra-avançada, como aconteceu com a cultura robótica de Mastra. Ou com os spharianos de Pharssemo.

— Exatamente minha opinião, imediato. - Ghowrid sorriu discretamente. - Assim como nossos primos, os humanos, que mesmo sendo geneticamente inferiores, não recuam, não hesitam em arriscar o pescoço para prestar um bom serviço à Federação. Humanos como o Almirante Scott e os demais.

— Exceto, lógico, o Dr. Sklar, que é vulcaniano legítimo até o fundo do DNA.

— Mas isso é óbvio. Jamais me passaria pela cabeça insultar um filho de Vulcano, incluindo-o na família do Homo sapiens.

No fundo, você os admira, não é mesmo? Digo, os "humes"... os humanos.

— É difícil não admirá-los. Possuem uma determinação superior, ainda que lhes falte força e ambição superiores. E ainda assim, seguem lutando para fazer a sua parte no sentido de tornar a Federação ainda mais próspera, mais evoluída, mais bela.

Togo não respondeu. Ghowrid voltou-se rapidamente para a oficial tática.

— Mais alguma perturbação magnética, Tenente Shraathaa? - inquiriu o capitão. - Ou distúrbio subespacial? Hiperespacial?

— Negativo, capitão - respondeu laconicamente a andoriana, as antenas no topo de sua cabeça contorcendo-se (uma das características insetoides de sua raça), enquanto ela operava por comando gestual as holoimagens dos consoles, terminais e telas do posto tático. - Os sensores de curto, médio e longo alcance indicam situação normal. Não há qualquer perturbação magnética, gravitacional, de raios-X ou gama. E nenhuma perturbação no subespaço. Nem no hiperespaço. Nada.

— Nada além de poeira e gás e radiação cósmica de fundo - Togo resmungou com um suspiro, e desligou seu visor com um comando gestual. Voltou-se para o gigante quodariano de pele negra e corpo quadrangular que estava trabalhando com um software na Estação de Ciências 1, e indagou: - Sinjoro Dal, o que sabemos sobre este sistema estelar?

O Tenente-Comandante Dal Gahud, novo oficial de ciências da Majorum, era originário do planeta Quodar, uma "Superterra" classe N2 que possuía uma gravitação de 2,1 G (o dobro da terrestre), o que explicava seu físico mega-hercúleo. Media dois metros de altura por metro e meio de largura de ombro a ombro, e pesava 560 quilos. A lisura do crânio depilado, de pele negra retinta, contrastava com o cavanhaque vermelho como fogo, e os olhos de íris amarelas, brilhantes, pareciam feitos de ouro fundido. Na nuca taurina reluzia o plug revestido de platina de uma porta de dados, com a qual podia se neuroconectar às redes de computadores da onipresente Starnet, ciberprogramas e naves-robôs sencientes por um cabo neural.

— Kepler-78, KIC 8435766, é uma estrela anã adulta de 12ª magnitude, sendo 27% menor que o Sol terrano e tendo uma temperatura fotosférica de 5143 K - Gahud respondeu didaticamente. Estava portando um microgravitador que fazia incidir sobre ele a gravidade duplicada a que seu corpo estava acostumado em seu planeta natal e o mantinha com os pés firmes no piso acarpetado da ponte. - Tem apenas um planeta e um planeta anão orbitando ao seu redor, ambos inabitáveis. O planeta Muspelheim, anteriormente conhecido por Kepler-78b, é um orbe 20% maior do que Terra e 69% mais massivo, com um período orbital de 8,5 horas terranas ou 3,45 metrociclos. Apesar disso, por girar quarenta vezes mais perto de sua estrela-mãe do que Mercúrio circunda Sol, Muspelheim não é um planeta da classe K4, nem N3, e sim uma aberração cósmica inclusa na classe X4 da Escala Bergkvist, com temperaturas que oscilam entre 2300 K e 3100 K, um mundo de lava derretida sem qualquer atmosfera estável. Já o planeta anão, Nifelheim, não passa de um gigante asteroide de formato irregular e diâmetro médio de 450 quilômetros, classe I2, coberto de gelo, amônia e metano, rodando em torno de Kepler-78 a uma distância que varia de 30 a 50 U.A., ou seja, no periastro está tão distante quanto Netuno do Sol, e no apoastro quase tanto quanto o planeta anão Makemake do Cinturão de Kuiper. Há um posto científico avançado da Federação em Nifelheim, com uma equipe de androides positrônicos.

Ghowrid avaliou mentalmente a prolixidade do quodariano, que, antes de se transferir para a Majorum, havia servido por três stanrevs como segundo-oficial a bordo da Al-Burak, sob as ordens da Comandante Saril (uma vulcaniana ciborguizada) e depois dera baixa com honras, e ora retornava à ativa. Seus lábios moderadamente carnudos se curvaram levemente para cima. "Exaustivo, como todo o oficial de ciências que se preze."

Então levantou-se e aproximou-se de Gahud em sua estação.

Sinjoro Dal - Ghowrid disse, esticando as palavras - Há registros nos bancos de dados de um efeito gravitométrico que produz um fenômeno de "apagar cósmico" ter ocorrido alguma vez na área que vamos investigar?

— Não, capitão, nenhum registro. Os dados armazenados nas inforredes hiperespaciais não mostram a ocorrência de um efeito dessa grandeza nos últimos sessenta milênios, e isso é tudo que temos. Nenhuma crônica dos povos galácticos relata o que aconteceu antes disso. Até é possível que muito antes da fase de expansão do Primeiro Império Galáctico dirigido por Yadrah...

Ghowrid levantou a mão. - Obrigado, Sinjoro Dal. - Desceu a rampa na parte posterior da ponte, sob o olhar atento de seu primeiro-oficial, em direção à cadeira de comando. Por um momento observou a tela principal. O pequeno sol amarelo-alaranjado Kepler-78 brilhava como um topázio imperial na negra imensidão do espaço. Que surpresas lhes estariam reservadas naquele obscuro rincão do Cosmos aparentemente "rotineiro", onde ALGO de inconcebível magnitude colocara em polvorosa as mais altas patentes científicas e militares e governamentais da F.E.U.?

Ghowrid recostou-se em sua cadeira de comando, pensativo.

Uma invasão de outro universo... de outro continuum espaço-tempo...

Será que a superinteligência quase onipotente de outro plano dimensional conhecida como B'li-Ma, "O Nada" - inimiga tanto dos manodins do Continuum Q quanto dos superseres ascendidos andromedanos chamados Mestres Yshren e seu esquema de poder cósmico, que inclui a F.E.U. - lograra romper as grandes barreiras octodimensionais da periferia e do centro galáctico, e estava de volta mais uma vez, juntamente com a caterva das superinteligências inimigas extraplanares como Shûnya, "Vazio", e Laldabaoth, "Filho do Caos", para ameaçar a Via Láctea? Ou quiçá os meta-humanos do Universo de Dnyan chamados de Prajâpatis, que governavam seu universo-bolha encapsulado entre a quinta e a sexta dimensão - entre o hiperespaço e o ultraespaço - imitando os deuses do panteão védico?

Sinjoro Lorphall, à frente, um quarto de impulso - ordenou Ghowrid ao navegador e piloto da nave. - Vamos entrar neste sistema estelar totalmente equipados para o que der e vier.

— Sim, senhor.

— Tenente Vieira, entre em contato com o posto avançado de Nifelheim.

— Sim, senhor.

Viajando a 40 mil quilômetros por microciclo, mais de um oitavo da velocidade da luz, sob o rígido controle de Lorphall, a Majorum ultrapassou o ponto em que os "ventos interestelares" (uma chuvarada de partículas carregadas emitidas pelas outras estrelas e pelo centro galáctico) e o "vento" estelar procedente de Kepler-78 (a corrente de partículas que fluem continuamente do astro central do sistema em todas as direções, formando a "bolha" da astrosfera) equilibram suas respectivas pressões. E penetrou na zona de influência da estrela anã amarela que os astrônomos terranos do século I d.V. haviam batizado com o nome da primitiva sonda, ou telescópio espacial, Kepler, que descobrira seu sistema planetário pela técnica de trânsito, acrescido do número 78.

— Capitão, o posto avançado de Nifelheim não responde - informou Nereide.

Togo franziu o cenho. - Não responde? Você usou todos os códigos da F.E.U., tenente?

— Sim, comandante. Experimentei todos os comprimentos de ondas subespaciais, canais da Frota, hiperondas, em código ou não. Sem resposta em nenhuma frequência.

Todos ficaram calados. Togo e Ghowrid entreolharam-se com expressões tensas e ansiosas. Uma base tripulada exclusivamente por androides positronizados, por máquinas ultrainteligentes cujo saber programado em memória molecular excedia o das inteligências orgânicas, não dava sinal de vida, não respondia às transmissões de uma nave estelar da F.E.U. - e ainda por cima, no mesmo sistema solar onde um metrociclo antes havia ocorrido um fenômeno repentino e momentâneo de amplitude galáctica, um "espasmo cósmico", surreal, incapaz de ser explicado por qualquer lei física de que se tinha conhecimento.

Devia haver uma conexão!

— Computador, localize a Conselheira Líria O. Lemos - pediu Ghowrid.

— A Conselheira Líria O. Lemos está no bar panorâmico, deque 12 - reportou a voz feminina artificial do ubíquo computador-mestre.

Ghowrid fez um ligeiro movimento de cabeça para ativar seu complante intracraniano (padrão para todos os oficiais e tripulantes da F.E.U.) e, subvocalizando, disse: - Conselheira Lemos, apresente-se à ponte, imediatamente.

A voz quase infantil da conselheira e orientadora espiritual da nave soou pelo ciberáudio, diretamente dentro do ouvido interno de Ghowrid. - Sim, capitão.

— Parece-me, capitão, que temos mais um enigma espacial em nossas mãos, esperando para ser decifrado - disse Togo em tom desafiador. Tanto Ghowrid como ele eram nietzschianos, embora fossem de fratrias diferentes. (Os Minotauros, a fratria ou praido a que pertencia o clã de Togo, possuíam um grau de parentesco mais afastado com o Grande Líder e Progenitor da Raça do que os Drago-Kazov, que eram considerados os verdadeiros aristocratas do espaço.)

— Imediato, a segurança da Federação depende da decifração desse enigma, e é imperativo que o façamos - replicou o Capitão Ghowrid. Sendo nietzschiano, geneticamente engendrado para sobreviver a qualquer preço, ele via a continuação da existência da Federação Estelar como a melhor garantia de sobrevida e prosperidade para sua raça. Por conseguinte, toda e qualquer ameaça à Federação representava uma ameaça ao futuro do Homo sapiens invictus e seu "destino manifesto": espalhar-se pelas estrelas para propagar seus genes, vencendo o tempo e o espaço. (O "altruísmo oportunista" constituía uma das facetas da filosofia dos super-homens criados por Museveni, o Sultão dos Mil Filhos, uma amálgama de elementos seletos antiteístas, social-darwinistas, individualistas egoístas e eugenistas pinçados das doutrinas de Nietzsche, Darwin, Dawkins, Ayn Rand e Lee Silver.)

Togo sorriu, confiante. - Nós o faremos, capitão. Sem sombra de dúvida.

Ghowrid sustentou-lhe o olhar e assentiu. - Tenho certeza que sim, imediato. Afinal, esta é a melhor nave estelar da Frota e de toda a Federação, operada pela melhor tripulação...

— E comandada pelo melhor capitão da Frota - interrompeu Togo suavemente. - O único homem que logrou negociar um acordo simbiótico com os bluoj de Barnard-29.

— Perfeitamente correto - retrucou Ghowrid, sem sinal de encabulamento ("modéstia" é uma palavra inexistente na base de dados dos herdeiros de Iskander-Drago Museveni). - E não nos esqueçamos de nossos passageiros VIP: Almirante Scott, Comodoro Lima... além do Tenente-Comandante Lewz e os Doutores Dharz e Sklar, do Conselho de Segurança Interestelar. Em suma, algumas das mentes mais capazes da Federação.

— De fato.

Existia entre ambos, capitão e imediato, uma disputa amigável que transcendia até mesmo a disciplina e a camaradagem da Frota Estelar. No fundo não passavam de dois machos Alfas, individualistas e competitivos, que lutariam pela liderança - e pela posse das mulheres - se estivessem em Antellus ou em uma das colônias nietzschianas, mas que, no contexto da hierarquia da Frota Estelar, estavam confortáveis em suas respectivas posições definidas, sem disputar quem comandaria o praido. (Mesmo porque o carisma e a liderança naturais de Ghowrid valiam-lhe a confiança e lealdade de sua tripulação, desde o imediato até o tripulante menos graduado.) Era como se Ghowrid e Togo fossem dois lobos, Alfa e Beta respectivamente, sendo a tripulação da Majorum - em sua própria visão - sua "família", sua "matilha", que lhes cabia comandar e proteger (o que não os impedia de se medirem e avaliarem reciprocamente, que nem dois lobos antes de uma luta, algo que um klingon ou um kzin compreenderia melhor do que um solariano orientado desde a mais tenra idade para a cooperação fraternal).

A porta do turboelevador se abriu com um zunido. A Tenente Luna Lyang e a Tenente-Comandante Líria Orjana Lemos, respectivamente a chefe da segurança e a conselheira da nave, entraram na ponte de comando. Atrás delas a porta deslizou, fechando-se.

Ghowrid observou discretamente as duas novas tripulantes. Indubitavelmente, elas formavam um estranho par. Mesmo para os padrões da Frota Estelar. (Ele sabia que seu primeiro-oficial, embora admirasse o valor de ambas, não se sentia inteiramente à vontade na presença nem de Luna nem de Líria.) Todavia, o pensamento cosmoético que permeava a filosofia do Estelarismo não admitia qualquer forma de discriminação. "Diversidade infinita em infinitas combinações."

— É a minha vez, Sinjorino Shraathaa - disse Luna Lyang, ao render a tenente andoriana, que era sua subordinada, no console de armamentos e posto tático. Pela aparência externa, a chefe de segurança da Majorum aparentava ser nada mais que uma bela jovem humana de tez cor de pêssego levemente amorenada, estatura mediana, corpo curvilíneo, rosto quadrático, longos cabelos castanho-claros soltos sobre os ombros e grandes olhos amendoados de íris cor de mel, oblíquos e misteriosos. Na realidade Luna Lyang era uma ginoide MecOrgan, uma cybot com a força de uma dúzia de homens musculosos, resistência, durabilidade e velocidade igualmente sobre-humanas, além de sentidos ultra-aguçados. (MecOrgans ou cibôs eram considerados uma nova espécie senciente, meio máquinas, meio organismos vivos, projetados para serem parceiros em vez de escravos da humanidade. Tinham DNA-TNA artificial, e podiam inclusive se reproduzir entre si e com seres humanos.) Seu cérebro era uma liga semiorgânica e holotrônica que dava-lhe o poder de "intuir", emular emoções humanas e sentimentos, ao contrário dos robôs e androides positrônicos de gerações anteriores.

Biomáquinas, máquinas com sentimentos humanos!

A Tenente Lyang assinara um contrato de casamento por seis stanrevs com o Especialista Jonathan "Joe" Takahashi, um tripulante humano do planeta Gardner, e agora eles tinham duas filhas gêmeas. Duas híbridas ciborgue-humanas.

Um verdadeiro tapa na cara dos "puristas" humanistas e roboticistas!

Já a Oficial de Patente Especial Líria Orjana Lemos, do Corpo Psiônico da Frota, era um caso completamente diferente. A atual conselheira pessoal do capitão da Majorum era uma supermutante meta-humana híbrida, que descendia dos primeiros seres híbridos criados por manipulação cosmogenética pelos kaladorianos - os sedops humanoides assexuados, de corpos atrofiados, pele cinza, crânios hipertrofiados e reprodução clonal, que a literatura ufológica do primeiro século da Era Espacial consagrou - com o emprego de DNA de humanos abduzidos em priscas eras. Parecia uma inocente garotinha terrana de não mais de onze anos, tom de pele branca-rosada, rosto triangular, imensos olhos amendoados azul-índigo e cabelos loiro-claros lisos e curtos, à altura do pescoço. Na verdade Líria Lemos tinha catorze anos, ou dezesseis stanrevs. Além de um Q.I. de 1000 e fator de cura regenerativo, fruto de um genoma de DNA mutado de tripla hélice, a jovem psi-gamma possuía cinco habilidades psiônicas: hipnossugestão, telepatia avançada, projeção consciente mental, exopersonificação e manipulação do tempo e do espaço. Tinha certeza de que, à medida que amadurecesse, novos dons e habilidades, que por ora jaziam latentes, haveriam de despertar.

— Aqui estou, como ordenado, capitão.

A Tenente-Comandante Líria Lemos tomou assento em sua cadeira à esquerda de Ghowrid. Era o único membro da tripulação da ponte nascido no planeta Terra - mais precisamente em São Tomé das Letras, na Microrregião Sul de Minas da Região Concentrada Federada do Grão-Brasil, onde vivia uma pequena colônia de meta-humanos descendentes de kaladorianos, os quais formaram uma nova raça: os "sapienciores", que inclusive só se casavam entre si. Adaptou-se quase instantaneamente à psicosfera da ponte de comando, tão distinta daquela imperante no bar panorâmico. (Cada seção da nave, cada deque, cada recinto possuía uma psicosfera vibracional diferente das demais, e, ao mover-se de uma para a outra, Líria o sabia, a pessoa atravessava "portais" entre "mundos" ou realidades vibracionais, e o fazia todo o tempo, conscientemente ou não.)

Ghowrid apontou para a grande tela curva principal.

— Conselheira - ele falou em tom formal - como pode ver, estamos atravessando a astrosfera externa do Sistema Kepler-78 em direção ao interior do sistema estelar. Há um posto científico da Federação tripulado por uma equipe de androides no planetoide chamado Nifelheim, mas o mesmo não responde aos nossos sinais. Quando passarmos por sua órbita, vou precisar de você e do Sinjoro Lorphall para saber se os androides ainda estão ativos, se foram desativados ou destruídos.

— Sim, capitão - Líria respondeu sorrindo serenamente. Seus olhos eram gentis, sua expressão cândida, irradiando pura sabedoria e benignidade que pareciam destoar de sua aparência infantil. (Um clarividente veria sua aura reluzir em branco-cristalino com amarelo-ouro puro nas bordas.) Seria difícil imaginar que pertencia a uma raça famosa por sua insensibilidade e frieza. - Procurarei detectar qualquer sinal de atividade neural gerada por circuitos cerebrais positrônicos na superfície do planetoide.

As habilidades telepáticas de Líria Lemos eram quase uma lenda entre seus companheiros de tripulação. Podia ler e controlar mentes, humanas ou não, comunicar-se telepaticamente com outras conscins, quer fossem humanas, humanoides, inumanas, heteromorfas ou biomáquinas, e até consciexes nas dimensões extrafísicas, de qualquer lugar num raio de 400, 500 quilômetros; e usar seus dons telepáticos para projetar pensenes, embutir conceitos na mente de outras pessoas, mesmo se extremamente distantes, induzindo-as a pensar que a ideia partiu delas. Sua energia telepática lhe permitia acessar os centros cerebrais de qualquer ser sapiente e aprender a partir daí rapidamente - inclusive, línguas alienígenas - e, em contrapartida, "ensinar" qualquer ser por telepatia, fazendo-o aprender tão rápido quanto ela. Por fim, era capaz não apenas de detectar ondas cerebrais alfa, beta, gama, delta e teta, num raio de centenas de milhares de quilômetros, tal como fazia, por exemplo, o Tenente Lorphall, mas também de distinguir o modelo "deformado" de vibrações cerebrais de um robô ou androide do de um ser orgânico.

— Velocidade a meio impulso, Sinjoro Lorphall - ordenou o capitão.

A Majorum atravessou a grande estrutura energética oval equivalente à que, no Sistema Solar, recebe o nome (em "Inglês Técnico", do século I d.V.) de heliosheath, formada pela condensação do vento estelar drasticamente diminuído e tornado mais turbulento, passou pela zona de choque terminal, na borda interna da astrosfera de Kepler-78, e prosseguiu inexoravelmente em direção a Nifelheim, uma gigantesca rocha coberta de gelo girando em torno de seu sol em uma órbita excêntrica e alongada, e recebendo dele escassa luz.

Nada de Nuvem de Oort, disco disperso ou Cinturão de Kuiper, mas tão somente o vazio abismal do espaço cósmico.

— Capitão Ghowrid, Nifelheim já está ao alcance dos sensores ópticos - informou Nereide.

— Obrigado, Sinjorino Vieira. Pode passar para a tela principal?

— Sim, senhor. - A marzulina acionou seus controles holográficos por comandos gestuais e logo em seguida a imagem do esferoide irregular e cinzento despontou, magnificada, no setor norte da tela panorâmica. Parecia uma batata embaçada, lembrando o protoplaneta Vesta, no Cinturão de Asteroides do Sistema Solar. Exceto que, ao contrário daquele Estado-membro da Coligação dos Asteroides da União Solar, Nifelheim não ficava localizada em uma concentração de corpos menores rochosos e metálicos revolvendo em órbitas de excentricidade muito variadas ao redor de um sol e tinha o caminho de sua órbita desimpedida, condenada a uma eternidade de solidão na periferia do sistema estelar, onde o frio e as trevas siderais pontificavam soberanos.

Os conceitos de "planeta" e "planeta anão" haviam sido redefinidos desde quando, na longínqua Terra do igualmente longínquo ano de 37 d.V., a então União Astronômica Internacional retirara de Plutão o status de planeta de pleno direito do Sistema Solar. A descoberta de exoplanetas anões gravitando ao redor de pulsares - como o PSR B1257+12 d, agora rebatizado de Ghoul - , bem como orbitando outras estrelas na sequência principal ou fora dela - fazendo parte ou não de cinturões de asteroides ou de cinturões de Kuiper - , e, por outro lado, a descoberta de Crios e Perséfone - o primeiro, um "gigante de gelo" do tamanho de Netuno e o segundo, um "planeta de gelo" do tamanho de Marte - , na Nuvem de Oort, na orla exterior do Sistema Solar, além da existência de planetas co-orbitais - como Vulcano/Caco/Céculo no sistema estelar de Beta Ceti - obrigaram os astrônomos terranos a repensar suas suas categorias de classificação e a relativizar a exigência de que, para ser considerado como um planeta, o astro deveria necessariamente ter "limpado" o caminho de sua órbita e capturado todos os corpos em sua vizinhança. Também a definição de planeta anão fora ampliada para incluir corpos gelados e asteroides rochosos com um diâmetro igual ou superior a 400 km, desde que com formato aproximadamente redondo e tendo um interior parcialmente diferenciado.

Em consequência disso, Vesta, Palas e Hígia, os mais massivos do Cinturão de Asteroides do Sistema Solar, foram promovidos à categoria de planetas anões, juntamente com Ceres, Sedna, Quaoar, Haumea e Makemake, ao passo que tanto Plutão quanto Éris acabaram por ser enquadrados em uma nova categoria intermediária entre planeta anão e planeta, a dos "mesoplanetas", inspirada em uma ideia originalmente proposta pelo escritor e cientista Isaac Asimov. (Aliás, o mesmíssimo "Santo Isaac" reverenciado pelos robôs e inteligências artificiais como um de seus santos padroeiros!)

— A órbita altamente excêntrica e inclinada de Nifelheim evidencia tratar-se de um caso de captura gravitacional - Gahud observou em voz alta (acabara de se desplugar do computador central da nave). A planetologia comparada era sua especialidade e paixão. - É extremamente provável que o planetoide seja um corpo de origem extraestelar que a estrela Kepler-78 aprisionou em certa oportunidade em seu campo gravitacional. Ele pode ter sido um "planeta falhado", um protoplaneta, que nem Vesta, ou Febe, uma lua de Saturno, posteriormente ejetado do sistema planetário em que se formou; ou então nunca esteve gravitacionalmente ligado a qualquer estrela ou subestrela. Fosse como fosse, depois de vagar por milhões de stanrevs pela vastidão da Galáxia ficou retido num campo gravitacional mais potente, que o levou a assumir uma órbita estável em torno deste sol. O planeta anão solar Sedna é um bom exemplo disso.

— Especulação interessante, suponho - Togo retrucou em tom frio. Pessoalmente, porém, o pragmático primeiro-oficial antelluriano preocupava-se menos com a origem de um mísero e insignificante planeta anão do que com o fato alarmante de uma base da Federação Estelar em tal planeta anão simplesmente emudecer, deixar de responder aos sinais de hiper-rádio e rádio subespacial enviados por uma nave estelar. - Sinjoro Lorphall, assuma órbita polar ao redor de Nifelheim. O senhor usará o seu campo de percepção psíquica expandido ao máximo para escanear a superfície do planetoide de polo a polo, em conjunto com a Conselheira Lemos, buscando captar sinais de atividade neurônica, quer seja de origem robótica ou outra qualquer.

— Sim, comandante. - Usando de perícia e gastando um pouco mais de tempo e combustível hidrogênio e antiprótons da unidade propulsora magnetoplasmadinâmica, o astronavegador erthusino manobrou a Majorum para uma órbita estável ao redor dos polos do planeta anão, a baixa altitude - em vez de órbita padrão em torno do equador - , de modo a cobrir toda a superfície de Nifelheim a cada exatos 100 microciclos. E ao mesmo tempo, estendeu seus suaves tentáculos telepáticos para executar uma contínua varredura psiônica de toda a área do minúsculo corpo celeste, conforme lhe fora ordenado pelo Comandante Togo.

Dal Gahud, na estação de ciências, recebia e analisava os dados enviados pelos conjuntos de sensores laterais científicos ao longo do casco da nave com a finalidade de detectar formas de vida cibernética e/ou radiação emitida pelo gerador de microfusão que fornecia energia para a base no planetoide.

Na holotela principal surgiu uma paisagem tão inóspita quanto monótona.

A massa de Nifelheim, uma bola irregular gelada com uma cor acinzentada, não era suficiente para prender uma atmosfera. E o sol em torno do qual gravitava, uma anã amarela da sequência principal de classe G, ligeiramente menor que o Sol terrano, e que àquela distância incrível era pouco mais que uma estrela brilhante, não possuía potência suficiente para aquecer seu filho adotivo. Os vapores de água e metano que saíam incessantemente da rocha congelada durante o periastro logo se transformavam em geada, quando se afastava do sol. Tudo que permanecesse no estado gasoso, como o nitrogênio, que tem uma pressão de vapor consideravelmente maior que as temepraturas médias acusadas pelos sensores, da ordem de 30 K, ou -243º C, perdia-se no espaço. Até mesmo naquele frio glacial insuportável, apenas 30º C acima do zero absoluto, o equilíbrio termodinâmico entre a massa sólida e o gás devoraria paulatinamente a geada. Mas os gases congelados que se vaporizavam à medida que a trajetória orbital de Nifelheim o conduzia para mais perto do sol, no processo conhecido como sublimação, voltavam a ser repostos pelo processo de condensação devido ao frio do espaço. Como resultado, havia na superfície de Nifelheim porções congeladas de dióxido de carbono, metano, e até uma fina camada congelada de água cristalina, indo do branco ao cinza-escuro com alguma coloração laranja-amarelada pelo meio, que refletiam por completo a luz fraca proveniente do pequenino sol distante.

— Brrr! - fez Nereide em voz baixa, falando com Lorphall por meio de transmissão de som dirigido (e ao mesmo tempo monitorava os sistemas computrônicos responsáveis pelas operações de bordo). - Esse rochedo gelado mergulhado na escuridão me dá saudades das praias ensolaradas do planeta Pacífica.

Uhum - respondeu Lorphall onomatopaicamente, balançando de leve a cabeça, e acrescentou (pelos mesmos meios técnicos): - Um pedregulho feio e triste. Faz até a tundra mais desolada de Boreas parecer a Riviera Risiana. Ah, e por falar em Pacífica, quando eu estive lá, no último Campeonato de Surfe Pangaláctico... - Enquanto batia papo animadamente com Nereide (evitando que se tornassem meros apêndices das máquinas), dava os toques finais da órbita Majorum e sondava psiquicamente a superfície de Nifelheim à procura de sinais de atividade cerebral gerados por redes neurais artificiais, tudo isto simultaneamente e com uma desenvoltura impressionante, valendo-se do privilégio de possuir uma espécie de "cérebro adicional" e graças ao seu processamento neural superior ao de um mero humano de origem solariana.

Momentos depois, Themooth Lorphall anunciou, com um misto de surpresa e desapontamento:

— Não estou detectando nada... nem o mais fraco sinal de atividade mental. Ao que me consta, não há nenhum androide funcionando neste planeta anão.

Os oblíquos olhos azuis de Togo se estreitaram ainda mais, e ele apertou os lábios. Virou para Líria e indagou: - Conselheira?

A jovem sapiencior estivera imóvel, com os olhos fechados. Abriu os olhos e balançou a cabeça negativamente.

— Não captei qualquer sinal de atividade de redes neurais positrônicas. Nem biológicas, ou seja de que natureza for. Zero. Vejo-me obrigada a concordar com o Tenente Lorphall. Não existe nenhum androide, nenhuma inteligência artificial - ou natural - ainda em atividade neste planetoide.

— Meus sensores ópticos estão direcionados para o posto de Nifelheim - disse Dal Gahud sem tirar os olhos do terminal do computador. - Na tela principal!

Togo fitou a grande tela curva da ponte de comando. - Magnifique, Sinjoro Dal - ordenou. Gahud obedeceu. A imagem tridimensional da superfície do planeta anão ondulou e em seguida ampliou-se até revelar uma cúpula semiesférica de um cinza-aço reluzente, situada num grande vale, que erguia-se do solo rochoso e congelado como um gigantesco cogumelo hanshaano. (A mente de Ghowrid, involuntariamente, recordou os alucinantes "jardins" de hipertrofiados fungos branquicentos, bioluminescentes, cultivados em vastas câmaras subterrâneas do planemo ou subanã marrom Érebo ou Yuggoth, situado a cerca de 0,613 parsec do Sistema Solar, um dos muitos Yuggoths, isto é, "postos" colonizados em épocas imemoriais pelos outrincons heteromorfos transdimensionais às vezes chamados de "Bzzzazzt", semelhantes a imensos crustáceos fungoides, que os solarianos apelidaram de "Mi-go" e cuja existência havia sido prevista pelo escritor e "viajante onírico" H. P. Lovecraft, no século I a.V.)

— A cúpula é composta de uma liga plastimetálica de altíssima resistência à base de termotânio - disse Gahud. Termotânio era um metal sintético cinzento e leve, dotado de uma estrutura molecular que absorvia bem o calor externo e o liberava muito lentamente, sendo por isso considerado ideal para construção de veículos e edificações em climas frios ou glaciais. - O posto não possui sistema de suporte de vida, nem sistema de defesa.

Ghowrid premiu os lábios. - Faz sentido, afinal, são máquinas pensantes. De mais a mais, quem iria querer atacar uma instalação puramente científica, uma estação astrofísica, e ainda por cima dentro de Midlant, entre a cobertura externa de Borderland e o núcleo ocupado pelos membros fundadores e suas colônias mais antigas? Nem mesmo grupelhos extremistas ou terroristas como os Frighen e os Chacais Prateados. Leituras dos sensores, Sinjoro Dal?

Por estranho que pareça, a única radiação emitida pela estrutura na superfície do planeta anão é radiação térmica - reportou o quodariano enquanto monitorava e visualizava holograficamente os dados recebidos pelos sensores de espectrometria de partículas, de alta energia de prótons, de fluxo de baixa frequência E.M., de múon-neutrinos, de imagem térmica de baixo nível, de mapeamento virtual de partículas e o sensor passivo de interferometria de imagens gama. - Quer dizer que não há nenhum instrumento funcionando naquela estação, senão captaríamos uma radiação com um espectro mais compacto, diferente daquela que é emitida por um objeto mais quente que as vizinhanças. O que nos leva a concluir que a estação não está operacional, nem está sendo ocupada por seres inteligentes de qualquer espécie. Ela não é nada além de uma casca morta, escura e fria como um útero-tumba groziano.

— E quanto à equipe de androides?

— Lamento, capitão. Todos desativados... mortos, se preferir.

— Sinais de ataque externo? - inquiriu Togo.

— Negativo, comandante. Estrutura, maquinário, tudo permanece intacto, mas sem produção de energia. Nem um mísero erg de energia...

— Capitão - interveio Líria - eu posso projetar-me de psicossoma e descer ao planetoide para investigar com segurança a situação in loco na estação astrofísica.

— Pois bem - concordou Ghowrid. - Faça-o imediatamente. Sinjoro Dal, escaneie o interior do planetoide com os sensores geológicos multiespectrais e de neutrinos, revire pelo avesso esse pedregulho cósmico a fim de detectar quaisquer eventuais formas de vida cibernética em cavernas e galerias no subsolo. Por mais remota que seja a probabilidade.

— Sim, capitão - respondeu o gigante negro de Quodar.

Líria recostou-se na poltrona e voltou a fechar os olhos, entrando em estado vibracional. Microciclos depois, seu rosto e seu torso superior ficaram anormalmente rígidos, sua pulsação tornou-se fraca, quase imperceptível, a respiração tornou-se cada vez mais débil e com longas pausas.

Seu psicossoma - o veículo da consciência que em priscas eras seria denominado de "corpo astral" - atravessara as paredes da Majorum, volitara livremente no espaço orbital e já se encontrava a cem quilômetros abaixo da nave, no interior da cúpula na superfície gelada de Nifelheim.

Dal Gahud concentrou-se na sua tarefa de sondar o subsolo do planeta anão com a finalidade de identificar androides sobreviventes, se porventura houvesse algum.

Exceto pela camada mais superficial consistindo de nitrogênio, metano e monóxido de carbono congelados, a estrutura geológica de Nifelheim assemelhava-se à do protoplaneta solariano Vesta, diferenciada em três camadas principais: núcleo, manto e crosta. Sua superfície, por debaixo da capa de gelo, era constituída de rocha basáltica, proveniente de antiga atividade vulcânica, que lhe legara uma rede de túneis de lava subterrânea.

— Nossos sensores não indicam a presença de qualquer corpo androide nos túneis e cavernas subterrâneos - reportou o oficial de ciências. - Nem sequer um único gerador muônico em funcionamento. Decididamente, este é um astro morto e vazio.

— Se excluirmos as consciexes livres no espaço extrafísico, é claro - ressalvou a Tenente Vieira. (Seu povo, afeito a experiências em planos existenciais mais sutis, sabia, por tradição, que existia vida em todos os astros do Cosmos, e que todos eles possuíam dimensões de existência, bem como de não-existência, de vida, em outros planos vibratórios e outros graus energéticos, aquém ou além dos nossos limites sensoriais. Nos tempos antigos eram chamados de "espíritos".)

— Vamos esperar para ouvir o que a Tenente-Comandante Lemos tem para contar - replicou Ghowrid com frieza. - Ela já se mexe, voltou ao soma.

Sem emitir nenhum som, a garota sapiencior repentinamente abriu os belos olhos azuis perscrutadores (não tão belos, Ghowrid pensou involuntariamente, quanto os imensos e amendoados olhos azuis-safira, de gata siamesa, da linda e arrebatadora Ushas, a semideusa Prajâpati que, contra seus próprios irmãos de raça, tinha lutado pela F.E.U. lado a lado com o agora Presidente Marcel Izak Laukenickas e tornara-se sua esposa). Estavam dilatados, vastos, profundos como um par de mundos de metano, como o ilimitado cerúleo oceano de metano que envolve o núcleo de Netuno ou Urano.

— Tinha razão, Sinjoro Dal - balbuciou ela. - A base de Nifelheim é mais do que nunca um mundo de escuridão, morte e frio ilimitados. Tal e qual na mitologia nórdica da Velha Terra.

— Fale, conselheira - insistiu Ghowrid. - O que viu lá embaixo?

— Quando volitei para o interior da abóbada, me vi mergulhada na escuridão. Mas isso não significa nada, pois estando projetada, eu "enxergo" normalmente por meio de ultrapercepção, ou, se preferir, "visão extrafísica". Foi quando vi os androides inativos, vinte deles. Estavam sentados ou de pé, mas sempre imóveis, os olhos sem brilho. Havia inclusive um que estava deitado no chão, com os braços e as pernas em posições grotescas. Mas todos os corpos estavam intactos, assim como os equipamentos da estação, o que exclui as possibilidades de explosão, vazamento de radiação nucleônica ou um atentado com armas energéticas convencionais. O que parece ter ocorrido é que de súbito toda e qualquer máquina que dependia de microfusão ou fusão nuclear a frio para funcionar, no perímetro da base, foi desativada por falta de energia. Sendo assim, o androide que vi caído ao chão deve ter sido pego de surpresa pelo apagão e desequilibrou-se. Com a perda do gerador de gravidade artificial, e levando-se em conta a massa irrisória de um planetoide como Nifelheim, o pobre homem-máquina caiu que nem uma pena, bem lentamente no piso de metal plastificado.

— Um ataque com disruptores positrônicos de nível oito pode incapacitar e desativar até mesmo um grupo de uma vintena de androides, sem danificar as instalações - opinou Lyang, a MecOrgan, que vinha se mantendo em silêncio até o momento, no console de armamentos e posto tático. - Mas isso por si só não explica o colapso total de energia que vitimou a base. Por outro lado, não seria ilógico presumir a existência de uma relação causal entre a súbita interrupção de energia de fusão na base de Nifelheim e o efeito de "apagar cósmico" que ocorreu 156 centiciclos atrás neste sistema estelar.

— Está pressupondo, tenente, que o fenômeno que causou o "apagar cósmico" tenha drenado toda a energia dos androides, do equipamento e do gerador de microfusão da estação? - questionou Ghowrid.

— Como eu disse, capitão, pressupor uma relação de causa e efeito entre um fato e outro, ambos tendo ocorrido neste sistema estelar, não é ilógico. Ou, para citar Arthur Conan Doyle nos romances de Sherlock Holmes, "Se eliminarmos o impossível, o que resta, ainda que improvável, deve ser a verdade."

Togo reprimiu o riso. Uma biomáquina ginoide citando Conan Doyle, da Terra!

— Sem dúvida, porém, de nada podemos ter certeza até enviarmos um grupo de inspeção à superfície do planetoide para checar as máquinas e equipamentos no interior da abóbada - retrucou o primeiro-oficial. Ele virou-se para Ghowrid e disse: - Capitão, solicito permissão para formar um grupo de inspeção de seis pessoas, incluindo a Tenente Lyang, o Tenente-Comandante Dal e eu mesmo. Quero levar também o Tenente Rheged-Haakin Mogor, engenheiro-chefe assistente, o Chefe-Mestre Qwor'ka e a Alferes Jenneffer Talleyrand, engenheira de diagnóstico de sistemas.

Ghowrid assentiu. - Permissão concedida. Sinjorino Shraathaa - disse, fazendo sinal para a andoriana que tinha os lábios azul-escuros apertados e as antenas inquietas contorcendo-se acima da fronte trapezoidal - você reassumirá o tático.

Em seguida tocou um dos controles do painel do braço esquerdo da poltrona de comando. - Almirante Scott - disse ele, quando a cabeça grisalha do velho almirante avaloniano, de rosto rubicundo e bigodes cinzas, surgiu nítida e tridimensional no cubo de trivídeo. - Tenho novidades... e não são nada boas.


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Notas finais do capítulo

Para quem acompanha "... E Virá Uma Grande Escuridão", talvez seja interessante saber que esta história é posterior àquela, passa-se alguns anos (Tempo da Terra) depois; e muita água rolou desde então, por assim dizer. Houve a Operação Kairos, o Projeto Janus, com a consequente descoberta do universo-bolha de Dnyan, a Invasão Prajâpati (dos falsos deuses oriundos de Dnyan), uma guerra galáctica envolvendo a F.E.U. e os impérios rivais contra os Prajâpatis e seus sequazes... E agora, com a civilização galáctica ainda lambendo as feridas, eis que surge inopinadamente o que parece ser uma nova ameaça extra-Universo!
No próximo capítulo, mais revelações e mais surpresas. Até lá, eventuais leitores.