A Morte está nos ossos escrita por Liv Marie


Capítulo 8
Capítulo 8




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Quando Emma desperta, os primeiros raios de sol ainda estão se insinuando no céu e a luminosidade entra na pequena cabine por pequenas frestas; É impossível ignorar a presença de Regina então, seja ao seu lado, ou no gosto que Emma ainda traz em sua boca.

Com o turbilhão de pensamentos que borbulham em sua consciência quando flashes da noite anterior revivem coloridos e vibrantes em sua memória, Emma não deixa de apreciar o conforto que encontra no silêncio que precede palavras.

Então, quase cedo demais, estando ela e Regina dividindo uma cama estreita na qual seus corpos nus parecem se encaixar sem qualquer esforço, Regina rompe o silêncio.

O som de sua voz, baixo e rouco, não completamente indesejável, embora Emma tema pelo que a ex-prefeita tenha a dizer. "Quanto exatamente você precisou beber antes de decidir que me visitar seria uma boa ideia, Emma?"

"Eu não be--" Ela tenta mentir, mas mesmo em um quarto mal iluminado, Emma pode sentir os olhos de Regina pesando suas palavras,  presos à sua figura. "Um pouco... Quase nada na verdade; Hook realmente sabe como manter seu estoque para si mesmo."

Emma coça o queixo, apreciando o calor e a maciez proporcionada pelo contato de seus corpos e ignorando o estado catastrófico de seus cabelos. "Eu estava sóbria o suficiente para saber no que estava me metendo, se é isso o que você está perguntando."

Mas não é isso o que Regina está perguntando.

Na verdade, quaisquer que sejam os pensamentos que povoam a mente da ex-prefeita, em nenhum momento ela os compartilha com Emma. O que faz com que a loira pergunte em uma única batida. "Qual é a sua desculpa?"

Regina, por sua vez, não vê qualquer razão para esconder a verdade.

"Fazia muito tempo desde que... Bem..."

"Oh. Certo. Sua prisão." Emma limpa a garganta, encontrando de repente a necessidade de perguntar. "E você teve um- Quer dizer, você chegou a--"

Apesar dos insinuantes movimentos que Emma faz com suas sobrancelhas, Regina quase não consegue decodificar sua gagueira, sua impaciência por fim falando mais alto. "Por acaso esse é seu jeito de pescar por elogios?"

"Ora, por favor!" Emma bufa mais do que ligeiramente irritada. "Talvez eu estivesse um pouco enferrujada, mas certas coisas a gente não esquece, ok?"

"Para ser sincera, você é muito mais talentosa do que eu esperava." Regina admite, mas seu tom não tem qualquer inflexão.

"Isto deveria ser um elogio?" Emma pergunta sem ter certeza se deveria se sentir ofendida ou lisonjeada pelo comentário.

"Bem, sim." Ela diz e ajusta o corpo na cama com surpreendente perícia, apoiando o cotovelo sobre o travesseiro e deixando sua cabeça levemente inclinada, como se estivesse fazendo uma importante deliberação.

Não demora a que Regina encontre as palavras que procura. Vocalizar seus desejos nunca foi um problema, afinal.

"Agora, ao invés de perdermos tempo discutindo pormenores que nenhuma das duas deseja realmente debater, talvez nós possamos encontrar uma outra ocupação para essa sua boca. O que você diz?" Regina faz o convite com naturalidade, sua voz atingindo de repente alguns registros muito baixos.

Emma a observa então, a cicatriz no seu lábio superior, os cabelos escuros caindo sobre seus ombros e cobrindo seus seios, o ar de superioridade que já lhe é tão familiar, e conclui que de fato não há a menor necessidade de usar palavras.

Ao menos não agora.

Além disso, ela sempre foi melhor com ações mesmo.

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Horas mais tarde, Regina acorda em uma cama vazia, seu corpo levemente dolorido e saciado, enquanto seus lençóis ainda tem o cheiro de Emma.

Preguiçosamente e sem pressa ela se prepara para mais um dia, decidindo não pensar muito sobre os eventos que se deram na noite anterior.

Ao entrar na cozinha para o café da manhã, seu apetite é voraz e seu humor é quase gracioso, ainda que ela procure ser discreta.

O mesmo não parece ser o caso de Emma que reage à sua presença com visível desconforto. Para a sorte de ambas, qualquer interação fora do normal passa despercebida em virtude da pesada atmosfera que circunda a todos.

Enquanto Regina se porta como se o dia fosse apenas mais um como qualquer outro, Emma troca as pernas e derrama chá em sua camisa.

Seria cômico... se não fosse exasperador.

O olhar que Emma recebe de Regina, incisivo e direto, diz em alto e bom tom: Mantenha a compostura!

Então Emma respira e tenta o seu melhor para fazer exatamente isso.

"Como está o menino?" Regina pergunta para ninguém em particular. Para sua surpresa é Henry quem lhe oferece uma resposta.

"Ainda se recusando a sair da cama." Ele brinca com a comida em seu prato, não demonstrando qualquer intenção de esvaziá-lo tão cedo.

"Ele já falou com alguém?" Emma pergunta preocupada, enquanto aceita o pano de prato oferecido por Snow e o prende de forma ridícula na gola de sua camisa como um imenso babador.

"Nem uma palavra." Henry suspira e empurra o prato. "Eu deveria ter ficado de olho nele."

"Hey," Regina busca sua mão, mesmo estando sentada do lado oposto da mesa, um gesto instintivo que ela parece não conseguir conter. "Isso não foi sua culpa. Era algo que estava fadado a acontecer mais cedo ou mais tarde."

Henry não recolhe seu braço imediatamente, nem faz qualquer sinal de rejeição ao receber o gesto de conforto, o que Emma considera um bom sinal. Ainda assim, o garoto não parece remotamente conformado, de modo que ela tenta reforçar a mensagem tanto quanto possível.

"Ela tá certa, garoto."

Da outra extremidade da mesa, a xícara de Snow bate com força contra o pires e ela parece mais pálida do que o usual. "Se vocês me dão licença, eu vou levar o café da manhã do Evan. Ele pode não estar conversando, mas ainda precisa se alimentar."

Não há nenhum movimento para impedir Snow, e em sua saída ela esbarra em Hook. Eles reconhecem a presença um do outro friamente, mas optam por se ignorar de forma mútua, cada um seguindo em frente sem qualquer vestígio de cordialidade.

Em seus lugares, Regina e Emma trocam olhares novamente, só que desta vez, suas preocupações estão focadas em outras questões.

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Depois do café da manhã, Emma decide fazer uma visita ao seu irmão caçula. Na pequena cabine dividida pelos membros mais jovens da tripulação, ela encontra Snow conversando com o menino, tentando convencê-lo a comer, mas não obtendo qualquer sucesso uma vez que seu prato permanece intocado.

Cautelosamente, Emma entra no quarto e com um gesto silencioso, pede permissão para tentar a sorte. Cansada demais para discutir, Snow simplesmente entrega à filha o prato e a caneca na qual o chá já esfriou.

"Hey maninho," Emma cumprimenta o menino em um tom baixo, só para os dois. Ele se move debaixo das cobertas, mas se recusa a mostrar o rosto. "Eu tenho algo aqui para você comer. É seu favorito: torradas sorridentes.”

Os sorrisos desenhados na superfície das torradas com geléia preparada por sua mãe nunca pareceram tão fora de lugar.

Ainda sem obter nenhuma reação ou resposta, Emma persiste. "Evan, você precisa comer alguma coisa. Não vai ser bom pra ninguém, e especialmente para você, ficar doente. Se isso acontecer, quem é que vai pescar comigo e observar as estrelas?”

Suas palavras encontram o vazio.

"Escuta, eu sei que você está com medo. Eu sinto muito por ter deixado você na mão. Se eu pudesse voltar no tempo e consertar toda essa bagunça eu prometo a você que faria exatamente isso.”

A falta de resposta faz o coração de Emma afundar em seu peito.

Ela e Evan sempre compartilharam um vínculo especial, um pouco parecido com o que ela tem com Henry, e ainda assim tão diferente.

Talvez seja porque ela acompanhou cada um de seus passos desde que ele era apenas um bebê até se tornar um garotinho. Mais do que isso, Emma foi a pessoa que o ensinou a nadar, que lhe contou histórias antes de dormir todas as noites, que sempre esteve ao seu lado fazendo companhia quando ele tinha pesadelos ou estava doente.

De certa forma, ela estivera muito mais presente em sua vida do que na de seu próprio filho.

Mas principalmente, ela é sua irmã mais velha e cuidar dele foi, acima de tudo, uma promessa feita a seu pai antes de sua morte.

Seja como for, sabendo que não apenas ela não foi capaz de protegê-lo, mas que, além disso, não é capaz de trazê-lo de volta deste lugar ruim no qual ele parece estar preso, faz com que Emma realmente queira gritar com alguém.

Então, quando Hook a procura mais tarde, querendo falar sobre toda a situação com Charming mais uma vez, ela acaba perdendo a paciência de forma monumental.

Ele, por sua vez, também tem bastante a dizer.

"Ouça, Swan, eu venho tentando ser paciente, mas isso não pode mais esperar. Você tem que fazer alguma coisa."

"Por Deus Killian será que você pode me dar um tempo." Emma implora em uma tentativa desesperada de dominar seus impulsos e simplesmente não arrancar sua cabeça. Mas Hook não parece disposto a facilitar as coisas.

"Eu já te dei um tempo. Eu te dei quatro anos. Mas esta situação se tornou simplesmente insustentável. E agora as coisas mudaram, com ou sem o grande plano de fuga de Regina, em breve haverá outra criança neste navio e eu não posso permitir que ela corra esse risco."

"Eu nunca pediria isso." Emma responde visivelmente ofendida.

"Mas é exatamente isso o que você está fazendo. Cada dia que nós deixamos aquela coisa viva, você me pede exatamente isso. Agora, o pequeno foi quase servido como jantar ontem. O que mais você está esperando para tomar uma atitude?”

"Escuta bem Hook, esta é a minha família e esse assunto não está aberto a discussão. Você pode ser o capitão deste navio, mas até onde eu sei, eu sou a líder deste grupo, o que foi decidido há muito tempo. Então vê se deixa as decisões difíceis por minha conta, ok?"

"Tudo bem, Swan! Apenas lembre-se: a sua não é a única família que você está colocando em perigo. E isso repousa sobre a sua consciência!"

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Funcionou!

Tecnicamente. Em parte. Uma parte muito fundamental e delicada que pode não ser a solução final de seus problemas, mas que pode muito bem ser o começo.

Regina mal consegue se conter, a adrenalina por finalmente conseguir os resultados para os quais tem trabalhado tão arduamente há tantas semanas, pulsando livremente em suas veias.

Ela ainda está olhando para as sementes quando ouve a batida na porta. Presumindo que seja apenas Emma, Regina fala para ela entrar sem tirar os olhos do que pode ser a sua maior conquista em um longo, longo tempo.

Talvez até mesmo a maior de todas, se você não contar o lançamento de uma maldição sobre todo um reino.

"Você quer que eu volte outra hora?" Henry pergunta inseguro e sua presença por si só é suficiente para trazer Regina de volta a essa realidade.

"Henry! Não, não, não há nenhuma necessidade disso. Por favor, entre." Ela abre um sorriso eufórico e imediatamente procura contê-lo, com medo de assustar o garoto ainda que ele não seja mais uma criancinha. "O que posso fazer por você?"

Ele corrige sua postura em seguida e olha para Regina diretamente, como se tivesse ensaiado o que está prestes a dizer muitas vezes, o que, se ela bem se recorda, é mais do que provável.

"Eu queria te agradecer." Ele fala mecanicamente. "Por ter salvado o Evan."

"Henry, você não precisa me agradecer por isso." Regina se esforça para manter a pose também, mas as próximas palavras de seu filho lhe partem o coração.

"Você é boa com ele." Henry admite e desta vez não há nada de mecânico em suas palavras. A maneira como ele torce as pontas das mangas de sua camisa, revelando o quanto ele se sente desconfortável com essa admissão.

"Você não tem que dizer isso." A voz de Regina escapa entrecortada.

"Mas é verdade. Você sempre foi." Ele se senta do outro lado da sala, no braço da poltrona – da mesma forma que Emma já o fez tantas vezes. "Eu sei que nós nunca falamos sobre aqueles anos antes da Emma, e talvez antes eu não fosse capaz de ver, mas percebo isso agora."

Ele engole em seco e coloca para fora o que esteve preso em sua garganta por um bom tempo. "Você deveria saber que eu aprecio o que você fez por mim naquela época. Eu posso nem sempre ter sido feliz, mas você me deu uma boa infância, e um lar e isso é mais do que muitas pessoas podem dizer."

Em seguida, ele acrescenta, com tristeza. "Eu gostaria que o Evan tivesse isso."

"Ele vai ter." Regina assegura Henry com a mais pura convicção, fazendo uma promessa que pode muito bem estar fora de seu alcance, mas tendo total intenção de cumpri-la. "Ao chegarmos do outro lado, ele terá todas essas coisas e muito mais. Eu prometo."

"Você realmente acha que consegue nos tirar daqui?" O menino pergunta e não há sinais do otimismo cego que por tanto tempo foi uma característica tão marcante de sua personalidade e Regina não pode deixar de pensar que talvez ele já tenha vivido neste mundo arruinado por tempo demais.

É definitivamente hora de mudar.

E ela é o que ela vai fazer, seja qual for o preço para isso.

.::.

Naquela noite, quando toda a tripulação já se retirou para seus aposentos, Emma ainda vagueia pelo navio sem descanso, resistindo ao impulso de ir atrás Regina apenas para falhar completamente e acabar exatamente em sua cabine.

Regina não precisa sequer levantar os olhos do livro que está lendo para saber que foi Emma quem entrou em seu quarto. Mesmo assim, ela decide ignorá-la, deixando a bola da vez em suas mãos.

"Você deveria estar descansando." É tudo o que Emma diz com os olhos em suas botas. Cumprimentos e cordialidades relegados ao esquecimento.

Regina ergue a cabeça então, a luminosidade proporcionada pelo lampião pendurado junto à cama se derramando sobre sua figura.

Com os cabelos longos e escuros escorrendo sobre sua camisola branca e usando seu par de óculos, a morena parece tão tentadora quanto Emma é capaz de recordar – o que ela não sabe dizer exatamente como ou quando se tornou algo tão evidente, mas que agora parece ser um detalhe impossível de não notar.

"Eu não sou a pessoa que está parecendo uma morta-viva." Regina rebate arruinando completamente o momento.

"Em primeiro lugar: rude! Em segundo lugar: Isso foi baixo, mesmo para os seus padrões."

"Oh, por favor, você sabe que eu não quis dizer dessa forma." Regina balança a cabeça, tirando seus óculos, ao que Emma agradece uma vez que os mesmos parecem apenas distraí-la. "Falo sério."

"Não se preocupe, eu sei." Emma dá de ombros, cansada demais para engajar em uma provocação por menor que esta seja - o que ela reconhece agora se tratar basicamente de um ritual de acasalamento entre as duas.

Com firmeza Emma enxota tais pensamentos de sua mente.

"Mas eu estava falando sério quanto ao seu terrível aspecto; Você parece exausta, o que de fato não lhe cai bem."

"Eu passei o dia todo tentando conversar com a minha mãe. Tentando colocar um pouco de bom senso em sua cabeça."

"Oh."

"Pois é. É como falar com uma parede de tijolos."

"Bem, até onde eu sei a teimosia é um traço recorrente na sua família. Praticamente uma característica dominante."

"Pude notar." Emma concorda, mas parece vencida, o que comove Regina de uma maneira que ela não é capaz de entender ao certo. Por algum motivo, ela se sente compelida a acrescentar.

"Se serve de algum consolo, sua mãe sempre foi assim. Desde que ela era uma menina nada nunca era capaz de atingi-la." Ela diz sem pesar suas palavras.

Emma apenas olha para ela por alguns segundos. "É verdade... Eu esqueço como a história de vocês duas começa lá atrás."

"Pode-se dizer que sim." É a resposta que ela oferece a Emma, que por sua vez, decide não refletir muito a respeito. A mera alusão a essa complexo histórico entre as duas já é o suficiente para lhe provocar uma dor de cabeça. O que ela definitivamente não pretende acrescentar ao próprio prato.

Ao invés disso, para sua surpresa, Emma se pega desabafando.

"É tão frustrante! Ela continua insistindo em todo esse papo de como o 'verdadeiro amor' pode salvar a todos e esse monte de porcaria e sério, até mesmo o Henry conseguiu sair dessa fase."

"Emma, não me entenda mal, eu não estou defendendo a Snow, nem nunca o faria, mas você tem que compreender... Ela vem de um mundo diferente do seu. Uma terra onde o amor verdadeiro tem poder real.”

"Mas você sabe melhor do que isso." Emma ressalta.

"Sim, mas apenas porque essa foi uma lição que minha mãe fez questão de me ensinar muito cedo." Regina admite melancolicamente. "Uma lição que, apesar de todos os meus esforços, sua mãe nunca teve que aprender."

"Bem, ela vai agora. Hoje à tarde o Hook deixou bem claro que irá se certificar de que David não siga com a gente."

"E desde quando Killian está no comando de alguma coisa?" Regina levanta uma sobrancelha perfeitamente arqueada, ao que Emma responde com um encolher de ombros.

"Ele não está. Mas isso não quer dizer que ele não esteja certo. Se encontrarmos de fato alguma saída..."

"Não se trata de um 'se', querida. E sim um 'quando'." Regina a corrige.

"Sim, bem, quando isso acontecer, nós não poderemos arriscar a nossa única saída trazendo alguém que está infectado. Basta apenas um, sabe? Mas minha mãe se recusa a aceitar os fatos. Ao invés disso, ela continua perguntando como eu sou capaz de fazer isso, de virar minhas costas para o meu próprio pai."

Emma parece envergonhada até mesmo por repetir tais palavras, como se as dizendo em voz alta ela estivesse admitindo o crime pelo qual está sendo acusada. Regina, no entanto, não se deixa abalar.

"Não se preocupe, eu sou a última pessoa que poderia condená-la pelo sacrifício de um pai. Especialmente quando fiz isso por razões muito menos honradas." Ela se aproxima de Emma e cobre a mão dela com a sua. "E se serve de algum consolo, Snow pode não ser capaz de admitir em voz alta, mas aquela coisa que vocês têm trancado naquela cela, a criatura que quase matou seu irmão, o próprio filho - aquilo não é mais o seu pai."

“Eu sei.” Emma admite com tristeza, os olhos fixos na mão de Regina sobre a sua. “Mas obrigada por dizer isso.”

“Não há de quê.” Regina lhe oferece um pequeno sorriso. É o que Emma precisa para se encher de coragem e abordar o tópico que vem lhe assombrando desde o momento em que ela despertou esta manhã.

“Nós provavelmente deveríamos conversar sobre ontem a noite.” Ela fala de uma só vez, temendo que as palavras encontrem seu caminho de volta se ela não for rápida o bastante.

Regina parece perceber isso, recolhendo sua mão e recompondo-se a uma certa distância.

“Somente se você achar absolutamente necessário.” Ela diz de uma forma fria e distante, como se estivesse discutindo uma negociação comercial.

Emma não sabe ao certo como responder a isso. “Olha, eu só tenho medo de que isso mais cedo ou mais tarde venha à tona e exploda nas nossas caras.”

Regina caminha até sua mesa de trabalho e de repente parece ter um grande interesse nos itens que ali se encontram.

Quando ela oferece uma resposta a Emma, seus olhos ainda estão fixos em seus manuscritos e seus dedos brincam com um pedaço de papel. “Isso somente será um problema se dermos uma importância maior ao ocorrido do que o que lhe é, de fato, pertinente.”

Seus olhos então encontram os de Emma e é como se a pessoa que a pouco lhe sorria estivesse a quilômetros dali. “O que aconteceu foi apenas uma... casualidade. Não há qualquer razão para que algo assim aconteça novamente. Ou para que outras pessoas tomem conhecimento a respeito.”

Com uma expressão de assombro, Emma se levanta da poltrona, tentando não deixar transparecer o tumulto provocado pelas palavras de Regina. “Você está certa. Casualidade é um excelente termo para descrever o que aconteceu.”

“Que bom que você concorda.” Regina sorri mais uma vez, e Emma não pode deixar de notar que esse sorriso parece ser de uma espécie completamente estranha aos que ela testemunhou até o momento.

“Então está acertado.” A loira caminha de um lado para o outro, pés inquietos e ansiosos. “Ótimo!”

“Perfeito.” Regina cruza os braços sobre o peito e um silêncio desconfortável se interpõe entre as duas. É a primeira vez que acontece, mas se isso é algo que elas notam, não se trata de um ponto que qualquer uma esteja disposta a mencionar.

Ao invés disso Emma gesticula indicando a porta. “Você provavelmente quer descansar. Então eu já vou indo...”

“Boa noite Senhorita Swan.”

“Boa noite Regina.” Emma responde e fecha a porta ao sair.

Tantas e tantas vezes no decorrer de todos esses anos Regina usou pronomes de tratamento para estabelecer a devida distância entre as duas que se trata de algo familiar e até mesmo significativo quando traz tantas recordações à tona.

Contudo, Emma não pode deixar de notar que essa é a primeira vez em que o seu uso não parece certo. Como um pé de mesa maior do que os outros, ou um único livro de cabeça para baixo em uma prateleira na estante.

Talvez seja porque a recordação de Regina derramando seu nome entre suspiros e gemidos ao pé de seu ouvido ainda seja recente demais para que Emma possa simplesmente esquecer.

Com um suspiro cansado Emma cobre o rosto com as mãos. Ela pode não estar disposta a admitir em voz alta, mas em algum lugar dentro de si, ela sabe que o que aconteceu não foi uma mera casualidade.

E que esquecer não é algo assim tão simples.

.::.

Continua...


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Notas finais do capítulo

As coisas nunca podem ser simples entre essas duas não é mesmo? Nada temam! SQ está longe de ter chegado ao seu fim. Mais uma vez obrigada pelos comentários e a genial recomendação que essa história recebeu! Vcs brilham!! Até a próxima ;)



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