Aeternum escrita por Selene


Capítulo 1
Capítulo I - Sub vesperum'


Notas iniciais do capítulo

Notas finais tem coisa importante! :D
P.S: Aeternus significa Para Sempre/Eternidade.



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O castelo estava no mais profundo silêncio que se pode obter durante uma noite de tempestades. As paredes brilhavam com as luzes dos raios que rasgavam os céus lá fora, fazendo uma impotente princesa estremecer de medo de quinze em quinze segundos.

Sunyli Ver-Aprica, princesa de um dos maiores reinos existentes e admirada por sua coragem, determinação e beleza, encolhia-se de medo cada vez que via o céu brilhar e ouvia os estrondosos trovões, tão altos que faziam as janelas da Grande Biblioteca vibrarem. A jovem, sentada confortavelmente em uma poltrona de frente à imensa lareira, tentando distrair-se com um livro qualquer de romance. Suspirou, contrariada, quando deixou seu livro cair após uma trovoada espetacularmente alta.

– Sinceramente, Tonabit poderia ter um pouco mais de consideração com os mortais aqui embaixo! – Murmurou, abaixando-se para pegar seu precioso livro.

– Com problemas para dormir, princesa? - A ruiva estremeceu ao ouvir a voz de seu ilustre convidado, Albus Saeva, príncipe do reino vizinho e – se depender de seus pais- seu futuro marido.

A jovem assentiu, sorrindo para o príncipe.

– Noites como estas não me agradam, meu caro príncipe. – Sunyli fez questão de distribuir mais um de seus belos sorrisos para o jovem a sua frente. Se seu destino era casar-se com este homem, faria o possível para torna-lo mais suportável. – Gostaria de juntar-se a mim em uma leitura tediosa, príncipe Albus?

O jovem sorriu de lado, gesto quase imperceptível na luz fraca. Sentou-se na poltrona ao lado da jovem e encarou-a, verde-esmeralda chocando-se com o cinza-prateado.

– Acredito que amanhã anunciarão nosso noivado, princesa. Por que não adiantamos a conversa, aproveitando esse pequeno espaço de tempo para nos conhecermos?

Sunyli sorriu, terna. Talvez não fosse tão complicado assim.

– Se é seu desejo, alteza. – A ruiva fechou o livro, depositando-o sobre a pequena mesa de centro. – Diga-me, qual seu doce preferido?

Albus não pode deixar de rir baixo. De fato, Sunyli era exatamente como lhe falaram: curiosa, simpática e... peculiar. Se tornaria uma bela rainha.

A conversa rendeu até o início da madrugada, quando Albus acompanhou a quase adormecida Sunyli até a porta de seu quarto, guiando-a com a mão macia pelos corredores sombrios e finalmente voltando para o quarto que lhe fora designado.

Só no dia seguinte Sunyli se deu conta de que, a partir do momento que começaram a conversar, a garota simplesmente passou a ignorar os raios e trovões que tanto a assustavam antes.

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Era o dia do casamento real, ambos os reinos estavam em festa. Sunyli, ansiosa, andava de um lado para o outro em seus aposentos, tendo seu irmão e mãe tentando inutilmente acalma-la. A noiva só faltava cair da janela, de tanto que se escorava na mesma.

– Acalme-se, raio de sol! – Seu irmão insistiu, pela décima vez. – Desse jeito você vai rasgar seu vestido.

Na mesma hora, a garota parou. Olhou para o irmão e para a mãe, e não pôde evitar as lágrimas que desciam de seus grandes olhos.

– Ora, por Deus, é meu casamento! E se ele não me quiser mais? E se ele fugir? E se ele desistiu? O que eu faço? – A menina segurou os ombros da mãe, desesperada. – Mamãe, e se eu não puder dar filhos para ele?

A ruiva mais velha, espantada, segurou a filha pelos ombros.

– Menina, se acalme! Ele nunca desistiria de uma flor tão bela como você. E eu tenho certeza que vocês construirão uma família linda, e você, assim como seu irmão, me dará lindos netos para mimar!

Sunyli sorriu, sentando-se e começando a sonhar acordada com seu futuro, confundindo a mãe e o irmão.

– Mamãe, tem certeza que você não deixou ela cair do berço quando era pequena? – Murmurou o mais velho, arrancando risadas baixas da mãe.

– Eu ouvi isso. – Sunyli resmungou, e os três se pegaram rindo juntos – pelo menos até que fossem convocados.

Algum tempo depois, Sunyli entrava ansiosa pelo corredor, avistando seu príncipe e futuro marido a aguardando com visível ansiedade. Era conduzida pelo irmão mais velho, já que seu pai falecera a cerca de quatro meses atrás, pouco depois do noivado se tornar oficial.

Os votos foram feitos, o casal foi abençoado e seguiram para sua noite de núpcias. Foi neste dia que a pura e inocente Sunyli percebeu que o sobrenome de seu marido não podia ser mais correto. Saeva, selvagem. Corava só de pensar nisso, rindo sozinha e atraindo a atenção de seu esposo.

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Quando o pai de Albus estava velho e cansado demais para continuar comandando o reino, o jovem moreno recebeu o trono. Juntos, tornaram-se rei e rainha, os mais amados até então.

Em um dia ensolarado, os soldados puderam observar a sorridente rainha andando apressada até o escritório de seu marido. Tendo certeza de que ele estava sozinho, entrou e fechou a porta. O assunto era sério.

Albus levantou o olhar lentamente, observando sua bela e amada esposa um tanto corada, mas sorrindo. Levantou-se, indo até ela e depositando-lhe um leve e delicado beijo na testa.

– A que devo a preciosa visita? – Indagou, dando um sorriso terno que era visto apenas por ela.

– Tenho uma notícia. – Ela respirou fundo, começando a falar rápido demais. – Me disseram para esperar o momento certo, e que eu deveria te contar quando estivéssemos no quarto ou algo assim, mas eu não aguentei esperar e vim te atrapalhar. Perdoe-me querido, mas eu realmente preciso falar e...

Ele a calou com um beijo. Sua mulher era, de fato, peculiar.

– Mulher, acalme-se. – Disse, e ela corou mais ainda. – Mais calma? Agora conte-me a notícia tão importante que te agitou tanto!

Sunyli sorriu. Pegou a mão direita do marido e, lentamente, levou-a até a região de seu ventre. Ele notou um leve – muito leve- inchaço ali. O sorriso da rainha aumentou ao ver a expressão de confusão de seu marido.

– Parabéns, meu rei. Você vai ser papai.

Albus começou a rir, abraçando e girando sua mulher, chorando e gargalhando de felicidade. Naquela mesma noite, uma festa foi dada para comemorar a chegada do novo herdeiro.

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A noite era tempestuosa. As mulheres, escondidas em passagens secretas, tremiam a cada grito de batalha. Sunyli chorava, segurando o ventre inchado pelos nove meses de gestação. Cada trovão a fazia estremecer, controlando os gritos para não chamar atenção para aquele momento tão especial e uma hora tão terrível. A criança simplesmente não nascia! Uma de suas mais queridas amigas a abraçou, procurando dar-lhe forças. A duquesa, por ser baixa, encostou a cabeça no ombro da rainha, que por sua vez sentiu-se mais calma na companhia da amiga de olhos violeta.

Ouviram gritos na porta e o pânico se alastrou pelo olhar de todas. Afastando a rainha silenciosa e cuidadosamente até um lugar em que pudessem escondê-la, o desespero aumentou quando a porta foi aberta com brusquidão. Mulheres gritando não foram o suficiente para parar os homens que invadiram o esconderijo, puxando a rainha pelos cabelos assim que a encontraram e matando quem tentasse impedi-los de sair dali com ela – entre as vítimas, a baixinha de olhos violetas fora a que morrera mais lentamente.

Sunyli chorou ao ver outros homens segurando seu marido, este já bem ferido. Albus conseguiu, de alguma forma, soltar-se deles, e correu, abraçando sua mulher.

– Me perdoe. Não fui forte o suficiente para proteger nossa família. Me perdoe – O rei chorava, as lágrimas ficando marcadas em sua face e os olhos esmeraldas tornando-se cada vez mais brilhantes devido a elas.

– Eu te perdoo. – A rainha deu um beijo casto em seu marido, tentando ao máximo permanecer em seus braços. Foram, porém, puxados um para cada lado. As mãos permaneceram firmes até que, lentamente, dedo por dedo, se separaram.

– As ordens foram claras. – Sunyli ouviu uma voz falar ao longe. Sentia que desmaiaria a qualquer momento. – Nosso dever é apenas mata-los. Por mais difícil e deliciosa que ela seja, sem diversão.

A rainha sentiu nojo, e lágrimas verteram de seus olhos ao ver seu marido tentar soltar-se para matar aquele que a ofendera de tal modo. Sentiu, porém, o frio da espada tocar-lhe o pescoço e deixou que as lágrimas escorressem mais livremente por seus olhos.

– Eu te amo. – As palavras foram sem som, mas ela sabia que ele entenderia. Sorriu, mesmo sentindo a espada rasgar sua garganta, pois recebera o recado mudo dele.

Eu te encontrarei.

A rainha pôde abraçar a morte, sabendo que, finalmente, cumprira seu dever.

Os gritos do rei anunciaram às mulheres que a rainha havia partido. O desespero nele era tão forte, tão palpável. Os gritos só cessaram quando o som de algo caindo no chão e risadas masculinas foram ouvidas. Nesse instante, então, as mulheres se permitiram chorar de desespero, tristeza e luto.

O Rei Albus permanecia deitado no chão, os dedos quase tocando os da Rainha Sunyli. Se não fosse pela adaga presa no coração do rei – e a marca das lágrimas em sua face- ou o sangue que vertia tanto do pescoço quanto do meio das pernas da rainha, diriam que eles – por algum motivo- estavam dormindo no chão.

Uma mulher, em silêncio, aproximou-se do casal. Ouviu o choro de uma criança e arfou.

O sinal do último resquício de força de sua rainha estava ali, berrando e se contorcendo no chão.

O bebê que, por intervenção de alguma força divina – e da força de uma mulher prestes a ser assassinada- conseguira sobreviver, vindo ao mundo tanto pela colaboração da gravidade quanto pelo amor de sua mãe.

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Ele sentia o escuro, o silêncio. Constatou que estava ali havia muito tempo. Mas quem era ele, afinal? Sentia, falta de algo que devia ser muito importante. Tocou seu peito e sorriu – aquele seria um de seus últimos sorrisos em muito tempo. Ele não tinha coração. Decidiu que ele não era nada, era vazio. Assim como seu peito.

Peculiar.

Foi o que pensou, antes de ser sugado por uma nova luz, mais fria que a que estava habituado. Ouvia o choro de duas criaturas.

Abriu os olhos e percebeu-se deitado ao lado de uma mulher. Sua esposa, constatou.

Seguiu o olhar dela e seus olhos estranhamente não se chocaram com a cena que via.

Seus corpos, estirados e ensanguentados no chão.

Sentou-se ao lado de sua mulher, observando com ela enquanto algumas mulheres, silenciosamente, tiravam um bebê que mexia-se por baixo das saias de sua rainha.

– Nosso filho... – Ouviu a mulher solução ainda mais. – E eu nem pude segurá-lo.

– Acalme-se, mulher. – Ele a abraçou, passando a mão por seus cabelos ruivos. Só então percebeu as correntes em seus peitos. Mais uma vez, um pensamento lhe veio à mente.

De fato, peculiar.

Permitiu-se sorrir de lado. Olhou para a esposa, que ainda chorava, e a ouviu murmurar um pouco antes que a dor em seu peito aumentasse – a qual parecia vir da maldita corrente.

– Meu pequeno Ulquiorra... – A ruiva soluçou, e o mundo do glorioso rei voltou a escurecer.


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Notas finais do capítulo

O nome do capitulo significa Início da Noite. ♥



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