Ela, Aisaka, correu em direção a defesa com facilidade, era como na outra vez, nenhum jogador se mexia, todos a deixavam passar, mas ela prometera a si mesma que não seria enganada pelo mesmo truque e não abaixaria a guarda.
Alcançou o Zagueiro que avançava próximo ao gol sozinho na grande área, era como se dissesse "Tente o quanto quiser, mas até um zagueiro como eu, poderá ganhar de você" e isso só irritou Aisaka, se jogando na frente dele para tirar-lhe a bola, mas então ele utilizou uma técnica especial aparentemente defensiva, "Montanha de pedra", a qual surgia uma montanha que ia se quebrando até que voassem pedras por todo o lugar, mas a dor parecia ser real, já que Aisaka caiu no chão e então um gol foi marcado.
— Agora é a minha vez de se divertir com a garotinha que gosta de futebol. — O Noboro comentou rindo e chutou a bola em direção a Aisaka. —Como levou um gol, pode começar.
Ela não se deixou ofender, se levantando e assumindo a posse da bola logo depois. Eles eram bons, ela sabia disso, mas não conseguia entender porque seu desafio fora aquele, ela esperava algo como ver suas habilidades ou algo parecido, mas o jeito daquele teste era como se eles... Não quissessem que ela passasse mesmo.
Antes que pudesse avançar mais do que alguns centímetros, Noboro apareceu por cima e arrancou-lhe a bola com mais agressivade do que o primeiro, mas em vez de ir avançando, ele simplesmente parou e ficou esperando pela garota de orbes castanhas levantar, o que não demorou muito para acontecer.
Ela foi em direção a roubar a bola dele, mas ele sempre desviava de forma agressiva, atirando-a para longe. Rosto e braços machucados, era o que Aisaka tinha agora. Mas ela não queria desistir, iria mostrar para eles que o teste impossível para eles, a faria entrar para o time.
— E-eu... Vou conse...
Antes que Aisaka continuasse a frase, o capitão do time lhe acertou um chute na barriga, lhe jogando para longe:
— Pare de dizer, eu vou conseguir, vou entrar para o clube e outras asneiras, isso irrita! — Ele gritou bravo, mas sua voz ainda mantinha um tom de que estava se divertindo com tudo aquilo. — Você nunca será pareo contra nós, não é mais fácil se levantar e ir embora? Não acha que já passou vergonha de mais?
— E-eu não me importo! — Ela gritou alto, se levantando. — Eu quero jogar futebol e eu vou conseguir fazer isso, custe o que custar!
Ela avançou roubando a bola de Noboro, mas ele estava surpreso demais com a energia que sobressaira dela no momento que roubara a bola, era como uma técnica. E quando viu o que tinha acontecido, seus olhos ficaram vermelhos de raiva e parecia que ele ia explodir a qualquer momento:
— Pare de dizer essas asneiras! — Foi a última coisa que ele disse, antes de avançar com tudo para cima de Aisaka e atirá-la para fora do campo.
Maya que parecia estar entrando em pânico, puxou Yumi a força até Aisaka e se levantou abrindo os braços:
— Acham que isso é justo? 11 jogadores contra um? — Ela perguntou sentindo um nó na garganta, virando-se para cuidar de Aisaka.
— E-eu estou bem. — Ela gaguejou se levantando por conta própria.
— Não vê? Ela que quer continuar, só estamos fazendo o que ela quer! — O capitão disse rindo.
— Eu vou continuar...
— Pare Aisaka, vamos voltar para a classe. — Maya advertiu preocupada, com o rumo que tudo aquilo havia tomado.
— Viu? Deveria aprender com suas amigas, porque futebol não é coisa de garotas, garotas são fracas e tem que ficar torcendo e...
Antes que ele terminasse a frase, uma bola foi chutada em direção do meio das suas pernas e ele não conseguiu mais dizer nada, a não ser gemer e se jogar no chão se retorcendo de dor:
— Isso é por você chamar garotas de fracas, nem todas elas são assim. — Pode soar estranho, mas quem dissera isso foi ninguém menos, que a própria Yumi que fungava de raiva.
— Yumi! — Aisaka disse surpresa.
— Odeio quando os garotos generalizam as garotas. — Ela deu de ombros e pela primeira vez, Aisaka viu sinceridade nos seus olhos.
Era isso do que Aisaka precisava, algo para fazer voltar sua determinação:
— Hey, o intervalo ainda não acabou, irei continuar tentando até o fim. — Ela se levantou com dificuldade, mas conseguiu se manter de pé.
— Não, eu tenho outra proposta a fazer. — Noboro curvou os lábios e fez menção de pensar. Nem parecia o cara que a alguns segundos atrás, estava caído no chão. — Parece que temos garotas muito interessantes nesse colégio, então iremos fazer o seguinte, vocês tem 3 semanas para organizar um time e jogarem uma partida contra nós. — Ele lançou um olhar para seus colegas que assentiram. — Veremos se podem mesmo provar que garotas podem jogar futebol tão bem contra nós, se perderem, nunca mais se falará nisso e vocês irão espalhar para todos o quanto somos demais.
"São tão demais que fica pedindo para nós divulgarmos eles... ARGH", foi o pensamento de Yumi. Ela já estava cogitando chutar a bola no mesmo lugar outra vez, quando Maya a interrompeu.
— E se vencermos? — Maya perguntou interessada.
"Ela está cogitando a ideia de participar, também?". Aisaka pensou curiosa.
— Se vencerem, o time passará a abrir vagas para todos que quiserem entrar no clube, inclusive você, Aisaka.
[...]
O resto do dia se passou vagarosamente, Aisaka ficou pelo resto das aulas na enfermaria e Maya fez questão de acompanhá-la, Yumi também foi, mas disse que só estava lá porque era uma ótima oportunidade para cabular aula. Ninguém foi punido, apesar de Maya ter insistido, Aisaka fez questão de dizer que aceitara o desafio e aquilo tudo fora só resultado de estar jogando futebol, o que fez a diretora fazer uma careta, mas depois disso ela foi embora.
Elas não conversaram sobre nada por uma grande quantidade de tempo, a garota que antes estava tão determinada a entrar para o time de futebol, agora estava pensativa.
Antes passar do desafio que haviam lhe proposto era só uma oportunidade para entrar para o time e agora significava dar oportunidade a todos que tinham vontade de jogar futebol, mas eram impedidos por aqueles jogadores. Antes era só a Aisaka, agora ela teria que achar mais 10 jogadoras e se preparar em 3 semanas para uma partida contra o time que sempre amara.
Tanta coisa mudara em um dia, seus pontos de vista... Mas ela sabia de uma coisa, ela amava o futebol e iria fazer qualquer coisa que estivesse ao seu alcance para defendê-lo.
Olhou para as suas amigas, podiam elas também lhe ajudarem? Ela sorriu ao lembrar do forte chute que Yumi dera, ela com certeza seria a arma chave, se tivessem-na no seu time:
— Yumi, você poderia fazer parte do time que vamos montar para o desafio? — A pergunta pegou a garota de surpresa que até então estava rabiscando a maca que Aisaka estava deitada.
— Não misture as coisas Aisaka. — Ela advertiu cruzando os braços. — Eu nunca disse que queria jogar futebol.
— Mas e aquele chute? Ele foi tipo ultra-super-hiper-mega poderoso! Você seria uma artilheira incrível! — A garota das orbes castanhas gritou se animando de novo, mas logo voltou a se deitar assim que sentiu um dos seus ossos estralar.
— Eu só fiz aquilo para ensinar uma lição para aquele idiota, nada mais que isso. — Antes que a outra pudesse insistir e tentar persuadir Yumi, ela se levantou e pegou sua mochila, virando apenas para se despedir. — Nada que você falar fará eu mudar de ideia, estou indo embora, até amanhã.
Maya acenou de volta e Aisaka ficou calada, pensando que acabara de perder uma chance, então resolveu deixar para convencer Yamazaki no dia seguinte. Ela se virou para a garota maior na sala, dos cabelos negros e seus olhos adquiriram um brilho tão grande que assustou a outra:
— Não.
— Mas como pode dizer não se eu não perguntei nada? — Aisaka fez bico.
— Então pergunte.
— Você quer participar...
— Não.
— Viu? Você não me deixou terminar!
— Mas eu sei que você iria me fazer a mesma pergunta que fez para a Yumi e a minha resposta é não, Taiga. — Ela chamou a outra pelo primeiro nome, pela primeira vez. Mas isso nem foi notado. — Depois do que vi hoje, vi o quanto futebol pode ser perigoso, olhe o seu estado! — Ela apontou para a garota deitada na cama.
— Mas o futebol não é daquele jei...
— Desculpe Taiga. — Ishida disse baixando a cabeça e por um momento pode se ver tristeza em seus olhos. — Eu queria te ajudar, mas não dessa forma. Eu ainda acho que seria legal ter você como colega no basquete. Bem, eu já estou indo para a casa, daqui a pouco a escola fechar e caí entre nós, ficar trancada na escola não é o sonho de ninguém.
E então ela foi embora. Mais uma chance descartada. Essa também seria mandada para o dia seguinte?
Será que Taiga conseguiria encontrar garotas dispostas a se arriscar nesse desafio, uma coisa ela que tinha admitir, era raro conhecer uma garota que gostasse tanto de jogar futebol como ela, quantas vezes ela não fora zuada por prefirir uma bola de futebol do que uma boneca no seu aniversário? Mas ela nunca se importou, nunca fora um problema. Mas agora era, seria possível ela conseguir convencer essas meninas a jogar um futebol que elas consideravam agressivo por conta da partida que aqueles titulares haviam feito contra Aisaka? E se elas ficassem com medo de acontecer a mesma coisa com elas ou pior?
Taiga deu leves batidas no seu rosto e logo depois urrou de dor, por ambos — Mãos e rosto — estarem machucados:
— Eu não vou desistir. — Ela disse para si mesma, mas em voz alta. Muito alta. — Não importa quanto tempo custe, eu irei conseguir reunir essas garotas e juntas provaremos que futebol não generaliza ninguém, ele é para todos que o amam e é isso que aqueles jogadores tem que aprender!
— Não é possível que ainda tenha... — Um garoto branco, com os olhos da cor cinza-azulada e que possuia os cabelos curtos, cinzas e com os picos virados para baixo, vinha reclamando e assim que passou pela porta e avistou Aisaka parou e entrou para provar que não estava tendo nenhuma aluscinação. — O que faz aqui a essa hora do dia? As aulas já acabaram, não sabia?
Ela não pareceu bravo, muito menos seu tom de voz, parecia cansado.
— Ah, desculpe. — A garota disse envergonhada, já se preparando para levantar da cama, mas seus músculos doeram mais uma vez e ela acabou perdendo o equilíbrio, mas antes que caísse foi segurada por aquele garoto desconhecido.
— Você está bem? — Aisaka apenas assentiu, ela não conseguia entender, só estava um pouco dolorida, não tinha porque ficarem com pena dela. Ela sabia se virar bem, principalmente quando se tratava de garotos.
— Obrigada, posso ir sozinha até a porta. — Ela se soltou fácil, já que parecia que o garoto não estava fazendo força e saiu andando. Ainda sentia aquelas dores fortes, mas não iria cair na frente daquele garoto, então usou todas as suas forças restantes, até que um celular tocou atrás dela e quando se virou para trás, encontrou sua bolsa jogada. — Oh, quase que eu ia esquecendo.
Antes que ela pegasse, o garoto entrou na sua frente e pegou para ela, como se estivesse a poupando de qualquer movimento brusco, será que ele sabia? Aisaka sacudiu a cabeça e atendeu o telefone, tentando ignorar ao máximo o garoto ao seu lado. Era sua mãe no telefone:
— Estou bem mãe...Ah, é que fiquei na enfermaria. — Aisaka ia respondendo as perguntas que sua mãe fazia. — Não, mãe, eu não briguei com ninguém... Ah, eu cai... Sim, mãe, sabe quando caímos?... Não estou sendo ignorante... hmm hmm... Okay.... Entendi... Estou indo, tchau.
A garota suspirou cansada, ela tinha que inventar uma desculpa tão idiota como aquela? Como sua mãe reagiria quando a visse daquele jeito? Ela poderia dizer que estava carregando os vários livros que teria que usar pelo o resto do ano e escorregou, caindo de uma enorme escada. Isso! Ela comemorou, mas sua felicidade foi substituída por confusão, quando ouviu a seguinte frase no seu ouvido:
— Se quer um conselho, não chegue na escola querendo mudar tudo e todos. As consequência podem ser terríveis.
Foi aquele garoto que lhe dissera aquilo, a garota ficou vermelha por ele ter falado tão perto, mas logo isso passou quando ela pensou no que poderia significar aquilo... Ele sabia sobre o que tinha acontecido naquela tarde? Que tipo de consequências ele estava falando? Quem era aquele garoto?
Taiga foi para a casa naquela noite confusa e ao mesmo tempo preocupada, tanto pelas palavras daquele garoto quanto a responsabilidade que ela assumira quando aceitara aquela proposta.
Será que tudo iria dar certo?