Meus dias sombrios escrita por Clarice


Capítulo 3
Capítulo Dois


Notas iniciais do capítulo

Gente, desculpe a demora, mas hoje vou postar dois para compensar!
Boa Leitura!



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Capítulo Dois

Na segunda-feira a garota mal olhou na minha cara, quando me viu na empresa. Devia estar coberta de vergonha, e com razão. Eu, é claro, fui simpaticíssima. Parte de minha maldade, para que ela se sentisse ainda pior. Ninguém sabia de nada, é claro que nenhuma de nós contaria algo como aquilo, mas todos sentiram o clima estranho. Mas como tínhamos muito trabalho (principalmente eu, como dona daquele empreendimento) o assunto acabou passando o dia em branco. Eu gostava de manter a minha equipe sempre muito longe de mexericos. Mas uma ou outra pessoa veio me perguntar o que tinha acontecido, mas eu logo disse que não tinha acontecido nada... Mas como Matheus não reagiu como eu gostaria, tive de contar para Camila. Nós rimos tanto, foi uma longa conversa. Contei na hora do almoço mesmo, que todo mundo saia para comprar comida fora, e só eu era que comia no escritório. O fato é que ela chegou mais cedo, porque estava tentando ser uma funcionária melhor, porque havia estragado tudo com a chefe. E acabou me pegando no fim da conversa com a Camila. Eu me senti péssima.

–Eu estraguei tudo mesmo, né? Porque não me demite? –Ela me perguntou muito sinceramente.

–Não pretendo te demitir, você é importante para a equipe. –Eu respondi, tentando esconder minha vontade de rir e minha vergonha.

–Cara... Me desculpa mesmo. Por tudo. –Estava envergonhada.

–Eu... Olha, está tudo certo. Vamos só esquecer isso. –Sibilei sem planejar o que estava dizendo.

–Com quem estava falando? –Ela perguntou baixinho. –Que mal lhe pergunte?

–Ah, minha melhor amiga, A Camila. Não vai vazar pra ninguém. –De repente era como se tivéssemos um segredo juntas, como ter matado alguém ou tido um caso com um homem casado, sei lá.

Então chegou a minha secretária e ela acabou indo embora. Passamos o dia sem nos falar, claro, sem nos falar coisas além de coisas de serviço. E eu só fui ter algum fôlego de descanso quando já estava dirigindo para casa. E como estava péssimo o trânsito. Eu não via a hora de ver o Matheus, de me jogar nos braços dele. Contar sobre a viagem, relaxar, fazer algo juntos. Claro, algo além de sexo. Sexo tinha que ter, o algo era o que vinha de brinde. Eu estava muito ansiosa e estressada, a dor de cabeça voltou, e com ela a tremedeira. Percebi enquanto manobrava o carro na garagem. O pior é que não queria ficar dependente de comprimidos para a dor. Ela tinha que ir embora sozinha ou eu tinha de aprender a conviver com a diaba. Subi no elevador tentando parecer menos deplorável. Devia estar com uma cara péssima.

Abri a porta, e o Matheus estava lanchando sozinho na cozinha. A televisão ligada para ninguém. Acho que era mais para ele não se sentir só no apartamento silencioso.

–Tem visto o gato? –Ele perguntou logo que sentiu minha presença.

–Na verdade não. A última vez foi quando a Natália esteve aqui.

–Então essa garota fez algum tipo de mágica, não o vejo quase nunca! –Sua voz era de tão preocupado, tinha sentimentos paternais pelo bichano. –A gente precisa cuidar melhor dele, Lu.

–Quando der a gente cuida. Agora somos dois cacos. Tem algo pra eu comer aí? –Ele me olhou e sorriu.

–Claro, senta aí.

Comemos juntos, tomamos banho juntos, dormimos juntos. Acorde no meio da noite, e ele via um filme, comigo fazendo peso em seu ombro.

–Não consegue dormir? –Perguntei baixinho.

–Pois é, estou com uma insônia terrível. –Sua voz era rouca pelo desuso. - O pior é que preciso descansar.

–Então vou te fazer companhia na vigília. –Beijei-lhe os lábios.

–Não precisa. Na verdade não deve. Você precisa estar muito bem amanhã.

–Eu preciso ainda mais do meu marido, e da companhia dele. Eu o amo tanto, sabe? Mal temos passado tempo juntos... –Ele me abraçou e nos beijamos por uns minutos.

–Eu te amo muito, sabia?

–Eu planejei uma coisa para a gente nesse fim de semana. Acha que consegue tirar aquela folga enforcada?

–Talvez... O que anda planejando? –Sua cara de desconfiado era a melhor.

–Podemos ir para a serra, já comprei o pacote. Tem hotel, passeio e tudo. Claro, se você quiser passear... –Ele riu, e eu ri também.

–Será perfeito. –Era isso que eu estava precisando ouvir. –A gente está merecendo algo assim.

–Está. –Concordei desesperadamente.

–E podemos já ir pensando em encomendar nosso filhote... –Ele me abraçava tentando fazer cócegas. Mas a graça acabou para mim.

–Matheus, eu não acredito que esteja pronta para ter um filho agora. Acabei de começar meu negócio, e além do mais...

–Quanto tempo pretende adiar? –Ele sempre ficava chateado com esse assunto, e minha posição. –Já estamos casados a dois anos e meio, temos a grana...

–Não temos tempo. E eu não tenho maturidade, Matheus...

–Você tem quase trinta anos! Se não tem maturidade ainda, quando vai ter?! –Ele berrou, perdendo a compostura. Eu joguei a culpa disso no estresse, e tentei não levar para o pessoal. Mas estava estressada também.

–Está com medo de que eu fique velha demais, Matheus? Quer uma esposa mais jovem, que cuide da casa e dos seus quarenta filhos?! Eu estou sendo sincera com você, comigo mesma. Realmente tentando aceitar a idéia, mas por enquanto não dá. Não dá mesmo! –Acabei me deixando levar.

–Eu só quero que tenhamos algo nosso, Lu. –Ele foi ficando manso, como sempre fazia e me estressando ainda mais. –Um filho que seja só nosso...

–Você já tem dois filhos, Matheus. –Eram do primeiro casamento, ele mal os via. –E não pensa que pode estar velho demais...

–Você acha que eu estou velho demais? –Se exaltou, e eu percebi a burrada que tinha feito. –Você sempre diz que minha idade não a incomoda e é a primeira a dizer que...

–E não me incomoda mesmo, eu juro! O que não aguento é essa pressão dentro e fora da minha casa. Poxa, no meu casamento não tem de haver esse tipo de chateação. Quando der, teremos o filho. Acha que eu não o quero?!

–Talvez devesse desistir de sua empresa. –Ele disse calmo, olhando em meus olhos. –Eu vejo como isso está exigindo muito de você...

–Não acredito que está me dizendo isso! –Eu cheguei no meu limite, me desvencilhei dele e me ergui. –Eu não posso acreditar! Matheus, esse é o sonho da minha vida! Não acredito que você seja tão egoísta assim!

–Meu amor, você é quem está sendo egoísta! –Ele rebateu. Eu já estava chorando, e aposto que se tivéssemos vizinhos próximos, estariam com copos nas paredes para ouvir aquela baixaria. Eu decidi de supetão pegar colocar um vestido qualquer, um sobretudo sapatos, peguei a bolsa...

–Onde você está indo?

–Eu vou sair pra pensar. Você aproveite a sua insônia para o mesmo! –Berrei e saí. Peguei o celular na bolsa e procurei o número de Camila. Então desisti, coitada, grávida acordando agora pra ouvir meus problemas... Pensei em ligar para a Natália. Ela devia estar acordada. Todo dia naquele escritório tinha cara de sono/ressaca/não dormiu bem. Mas não éramos nada uma da outra. Eu não tinha cara de pau pra isso. Fiquei na portaria como uma tonta, com as chaves do carro na mão sem sair, sem ficar. Até que apertei o botão de chamar e fui descendo pela escada para alcançar o carro.


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Notas finais do capítulo

Au revoir!