David saiu cedo de casa, era dia de ir á psicóloga, antes de ir á escola, na verdade gostava de psicóloga as terças, o poupava das primeiras aulas, as de artes, não por conta de desenhar, ele até gostava de artes, mas o professor, geralmente professores de artes são mais, digamos, sensíveis, mas aquele professor era grosso, ignorante e arrogante, tinha uma cara rechonchuda e não passava de 1,55 de altura, adorava gritar e dar ordens, perder a aula dele era ótimo, ate por que a Dra. Fernanda só fazia algumas perguntas e mandava ele dizer como estava se sentindo, essas coisas. David passou no quarto de sua mãe, deu um beijo em sua testa, foi ate a cozinha, comeu um pedaço de bolo e deixou um bilhete na porta da geladeira, pegou a mochila, trancou a porta e desceu as escadas correndo, saiu do portão para fora e tomou uma rajada de vento, jogando seus cabelos ligeiramente compridos em seu rosto, ele foi andando devagar, dobrou a esquina distraído com o vento que brincava com seus cabelos, quando trombou com alguém e ambos caíram no chão, era uma garota, David levantou-se e a ajudou a levantar, se pegou rindo com as garotas, a que ele derrubara e uma que a acompanhava, quando ouviu a garota gritando:

– Clara A-T-R-A-S-A-D-A-S – Clara acenou para ele e saíram às duas. “Okay, eu acabei de atropelar uma garota linda... com um sorriso lindo, lindos olhos, lindos cabelos, lindos lábios e lindo rosto, poxa como era linda, tal qual uma bela princesa” pensou David enquanto olhava para seu relógio de pulso e correndo em direção ao consultório.

– David querido – disse Graça, a assistente da Dra. Fernanda – você está atrasado –ela apontou para o grande relógio que estava pendurado na parede – avisarei a Dra. Fernanda que você chegou, aguarde um momento – ela abrira um sorriso doce e foi ate a sala, David estava pensando em Clara, “como era linda, uma bela donzela” ele pensava nos dois, ele a resgatando da torre e do dragão, enfrentando bruxas ou exércitos por ela. Não David não é louco, mas andara lendo livro de épocas medievais de cavalheiros valentes e donzelas em perigo, não era de tudo mal, ultimamente estava chamando sua mãe de rainha e sendo cavalheiro, ele estava pesando em sua “bela donzela” quando...

– David a Dra. Fernanda esta á sua espera – disse Graça, alargando um sorriso, ela dava doces para David, e ele a adorava. Ele levantou da cadeira, deu um ligeiro sorriso á Graça e entrou na sala.

A Dra. Fernanda era uma mulher na faixa dos trinta anos, tinha lindos cachos dourados que caiam como cascata em seus ombros, era agradável, e deixava David a vontade para conversar com ela sobre qualquer tipo de assunto.

– Bom dia David – ela sorriu amavelmente- como vai?

Ele sentou se na poltrona e respirou fundo algumas vezes antes de responder.

– Bom dia, vou bem – ele suspirou – aliás, muito bem.

Dra. Fernanda se espantou, raramente David dizia que estava bem.

– mas que ótimo, me conte o motivo de sua felicidade. – ela inclinou-se sobre a mesa.

David não sabia exatamente o motivo de sua felicidade, somente se sentia feliz, leve. Ele contou o que lhe havia acontecido mais cedo e contou em detalhes o que captara de Clara, sua princesa. Depois de conversarem bastante e David responder a varias perguntas, ele pegou sua mochila jogou nas costas e passou por Graça acenando pra ela.

Ele correu para chegar a tempo do começo da terceira aula, chegou arfando e todo suado, bateu na porta da sala e se viu sendo observado por metade da sala de aula, “seria legal ser invisível uma hora dessas” pensou David enquanto se dirigia para sua mesa em silencio e com os olhos grudados no chão.

David respirava com dificuldade, ali era pequeno, ele sentia como se a qualquer momento aquelas paredes fossem o engolir.

– Filho você esta bem? –seu pai o olhou com aqueles dóceis olhos verdes – pensei que já houvesse superado esse medo...

– Estou bem papai – David não queria que seu pai soubesse que estava apavorado – E não tenho medo, não sou mais criança – ele fez cara de bravo e cruzou os braços, seu pai sorriu e afagou sua cabeça bagunçando seus cabelos, David sorriu e de repente ouviu um estalo

– Pai o que foi isso? Por que o elevador fez esse barulho? – David olhou para cima, ainda faltavam três andares, seu pai disse que não era nada quando ouviu o barulho de um fio se rompendo e o elevador despencando.

*TRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIM* era o sinal da escola, David acordou desesperado, dormiu no meio da aula de português, e sonhou com seu pai, ele estava respirando pesadamente e só havia umas quatro pessoas na sala de aula, o resto saiu correndo assim que o sinal tocou, David secou o suor do rosto, guardou seu material e saiu da sala ainda meio atordoado.

Ele esbarrou em Clara novamente, e depois de se apresentarem, e ela dar risada quando ele a chamara de princesa, ele tomou coragem de pegar em sua mão enquanto dizia que a acompanharia até em casa, por sorte Clara o salvara de ficar pensando em seu pai. Ele caminhou com ela em silencio ate chegarem ao portão dela, eles se despedirem com um beijo no rosto e uma promessa de se verem novamente.

–Mãe, cheguei – ele jogou sua mochila no sofá e foi ate a cozinha, sabia que sua mãe estaria lá. Ela o viu, sorriu e o abraçou carinhosamente.

– por que demorou? Onde estava? Foi tudo bem hoje? – sua mãe era extremamente cuidadosa e carinhosa, às vezes até de mais.

– demorei por que acompanhei uma garota até sua casa -ele corou – e sim foi tudo ótimo, se acalme minha rainha – ele sorriu brincalhão, deu um beijo na mão de sua mãe e foi em direção ás escadas- agora preciso estudar, com sua licença - ele se curvou.

– só um momento rapazinho, e quem é essa garota? – sua mãe sorriu com aquele olhar de “você tem uma namoradinha”.

–uma amiga mamãe, por enquanto só um amiga – ele piscou para ela com um olhar travesso e subiu as escadas correndo, se jogou na sua cama, olhou para o teto e sorriu, “por enquanto” falou para si mesmo enquanto lembrava-se dos olhos e dos cabelos de sua adorada donzela...