A chuva caía grossa lá fora quando acordei. O céu estava de um cinza intenso. A neblina nas colinas estavam densas e branquinhas feito algodão. O asfalto estava encharcado. As árvores balançavam e o vento assoviava na janela.

Coloquei logo uma roupa bem quentinha - uma calça jeans skiny, uma blusa de lã preta de gola alta, e um sobretudo marrom-escuro com capuz -, uma bota preta de cano até quase os joelhos e uma echarpe branca. Penteei os cabelos ruivos e deixei que caíssem por sobre meus ombros.

Desci para tomar café, e meu pai estava lá. Conversamos um pouco, e então eu subi para escovar os dentes, pegar minha mochila e meu celular.

Fui para o carro, liguei, e fui para a escola.

Estava pensando a respeito do acidente de ontem à noite. Quem seria aquele cara? Não podia ser uma mulher. Não tinha uma silhueta de mulher.

Chegando no estacionamento do colégio, estacionei o carro onde era coberto, peguei minha mochila e uma sombrinha. Saí do carro e fui para dentro do edifício. A escola era bem grande: dois prédios de um andar com as salas de aula, biblioteca, sala de vídeo, sala informatizada, laboratórios, direção, secretaria, sala dos professores e o banheiro dos professores; um refeitório com uma cantina, uma cozinha e banheiros; um ginásio de esportes para a aula de educação física; um pátio com várias mesas, gramado e árvores; e o estacionamento dos alunos e outro dos professores, diretores, coordenadores, secretários, faxineiros, cozinheiras, zeladores.

Fui até meu armário e coloquei minha mochila lá dentro.

Logo chegou a Victoria, e nós duas fomos até o refeitório.

– Aconteceu uma coisa muito estranha ontem à noite - falei, com a voz baixa e uma nota de medo.

– O que aconteceu ontem à noite, moças? - E aí chegou o "garoto misterioso".

Virei pra ele, e olhei de cima a baixo: ele usava calça jeans Levi's, um casaco preto da Gap e um tênis Vans preto. Ergui uma sobrancelha e disse:

– É falta de educação se intrometer na conversa dos outros, sabia?

– Me desculpe, só fiquei curioso.

– Mas...

– Mas nada, tudo bem, desculpe Lauren por sua má-educação - me interrompeu Vic.

Fuzilei ela com o olhar, e respondi:

– Minha má-educação? Não fui eu quem me intrometi na conversa de outras pessoas. Agora, me desculpe se sou má-educada o suficiente para deixar um estranho entrar em nossa conversa. - E saí de lá.

O "garoto misterioso" me segurou pelo braço, e falou:

– Olhe, me desculpe se fui grosseiro. Só estava tentando ser seu amigo.

Me soltei do braço da mão dele e respondi:

– Tudo bem. Só me de licença, por favor.

– Não, fique, por favor.

– Tenho que fazer uma coisa.

E com essas palavras ditas, saí em direção ao banheiro feminino.

Entrei no banheiro, fui até a bancada de mármore da pia, me olhei por cinco segundos no espelho, e fui até um reservado.

Logo entrou Clair Becker (minha pior inimiga desde o primário) com suas amigas Jannette Hoyer e Lisa Bonnet no banheiro.

– Vocês viram o garoto novo, aquele emo? - disse Clair.

Aquele que está com Vic?, pensei. Claro, só pode ser ele. Ele é o único garoto novo emo.

– E quem não viu? Ele é gaaato! - disse Jannette.

– Não dou uma semana e ele já vai estar aos meus pés - convenceu Clair as duas outras garotas.

Elas deram risadinhas e saíram.

Saí do reservado logo atrás delas, e voltei até a mesa onde Vic e o "garoto misterioso" (que até agora não descobri o nome) estavam conversando.

– Oi, Lauren - disse Vic.

– Oi - falei curto e rápido, sentei no banco e puxei meu celular do bolso do sobretudo.

– Hã, o que você foi fazer?

– Fui ao banheiro.

– Hum. Escuta, será que posso dormir na sua casa hoje à noite?

– Bem, acho que sim. Temos que falar com meu pai.

– O.k, então. Você está tão quieta hoje.

– Estou pensando em umas coisas.

– Tipo o que aconteceu ontem à noite? Tenho umas teorias sobre isso. Quer dizer, eu e Collin temos - ela sorriu para Collin, e ele sorriu para ela.

Olhei para eles com uma cara de quem não gostou nada, e respondi:

– É, é sobre isso sim. Mas não irei contar na frente dele. - Apontei com o queixo para o garoto que supostamente se chama Collin

– Tudo bem, se não quer contar, não conte - Collin falou, e se levantou.

– Não, desculpe ela, mas por favor, fique aqui - disse Vic.

– Já percebi que ela não quer que eu fique por perto. Não me incomodo de sair.

Quando ele já estava longe o suficiente, Vic falou:

– Viu o que você fez? O cara só estava sendo gentil. Custava fingir um pouco?

– Tem certeza que quer brigar por causa de um garoto? Sei lá, mas eu não to afim, não hoje, não aqui - respondi.

– Você está impossível hoje, Lauren. Tchau.

Ela se levantou e saiu.