Dentro do Espelho escrita por Banshee


Capítulo 9
São Apenas Vagalumes


Notas iniciais do capítulo

ATENÇÃO! O CAPÍTULO A SEGUIR PODE CONTER CENAS FORTES... Ou não :v Comentem por favor :3 Dedico esse capitulo à diva da Your worst nightmare!



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Até onde pode chegar a idiotice mortal?
Caminhei pelos corredores de Nifred Thade, já havia perdido a noção do tempo e não poderia dizer quando o sinal iria bater.

Ah, Nerfoni nunca fora um lugar onde se pudesse ter uma noção do tempo, às vezes até o espaço se confundia. Já tive a impressão de estar em um corredor da minha casa, abrir uma porta e ir para um lugar onde não deveria estar. Nerfon, a cidade além do tempo.
Sabe, é difícil morar num lugar onde todos sabem sobre todos, onde não se pode ir ou vir, onde a matéria se uni à anti-matéria. Aqui as arvores têm ouvidos. Num lugar onde nem ao menos existe uma faculdade, as noticias vão e vem sem nem se tocar, não se pode ter segredos. O Sr. Sycher, gerente dos correios, abre qualquer carta que acha conter algo interessante e já nem se dá mais o trabalho de fecha-las para fingir que nada ocorreu, e na verdade, a coisa mais interessante que houve ultimamente foi a Tragédia de Azazel. Nerfoni, a cidade onde segredos tinham segredos e ninguém poderia ter seus próprios segredos. Um lugar onde apenas três tipos de pessoas viviam: As idiotas, as sem talento e as empacadas. Idiotas por não irem embora, sem talento por não conseguirem nada lá fora, empacadas por não conseguirem sair... Qualquer um que não se encaixe em uma dessas categorias consegue se libertar dessa bosta. Bem vindo a Nerfoni, onde o tempo não passa, onde a religião e supertição se unem como uma só entidade. Apenas dez meses para me livrar dessa merda, maldito show de putas.
Os corredores se dividiam como veios de uma prisão monarca, paredes feitas de tijolos de 700 anos e pilares de pedras para sustentar o local, havia pouca luz e não era possível ver muito a mais de dois metros... E no final, você acabava chegando ao ponto de partida.
Ouvi uma risada estridente cortando o ar. Voz masculina.
– Olá, Sky. – Disse Pietro Montieiro, saindo de trás de um dos pilares – Não vejo você há muito tempo, por onde anda?
Dica número um: Jamais converse com o namorado de Liz Devonne, não é uma opção, principalmente se ele for o líder do time de futebol.

Estava usando o habitual casaco azul, destacando ainda mais seus olhos castanhos, rosto de criança, sorriso pervertido.
– Vou bem, Piet, obrigada. – Respondi tentando passar, mas ele me impediu.
– Calma aê, gatinha, não farei nada com você. – Ele disse.
Dica número dois: Desconfie quando o namorado da sua inimiga te chama de “gatinha”.
Deixe-me sair, deixe-me sair!
Olhei para os lados e não pude ver ninguém. Ótimo, além de ver, agora tinha que ouvir coisas.
– Eu sei que você não vai, Piet, mas eu realmente tenho que ir.
Ele colocou a mão na minha cintura, me fazendo parar.
– Você não vai a lugar algum, Sky!
Não seja tola! Deixe-me sair! Deixe-me!
Meu coração bateu mais rápido ao seu toque, e a voz em meu ímpeto piorava a situação. Deixar sair de onde?
– É sério, Pietro, preciso ir. – Eu disse, tentando tirar suas mãos de mim, porém eram mais fortes.
– Ah, não mesmo, Sky! – Ele respondeu, usando um tom ríspido como de um animal – Eu sempre quis fazer isso.

Ele me agarrou com mais força, puxou meu quadril para sua barriga e começou a beijar minha nuca. Desesperei-me, peguei Melanie com força e a bati em sua cara.
Ele gritou quando consegui me soltar e sair correndo.
– Sua vagabunda! Você já era! – Pude o ouvir dizendo na outra parte do corredor.

Ele é mais rápido! Não seja estúpida, vadia! Deixe-me sair!
A voz ecoava um pouco mais alto agora, porém se confundia com a minha respiração e o eco dos meus pés em contato com a rocha.
Segui correndo, meu coração disparava e tive a impressão de que ele estava próximo, mas não me atreveria a olhar.
Era ele que estava te vigiando, sua ridícula! Aquela impressão de estar sendo observada! Eu tentei te alertar, mas você não escuta! Você nunca escuta!
A impressão de estar sendo vigiada!?
Virei à esquerda em um dos corredores, sentindo que meu corpo queria parar. Há uma hora eu tive a impressão de estar sendo observada.
Ele está chegando! Você precisa de mim, piranha! Precisa!
– PRECISO DE QUEM AFINAL?! – Gritei, parando para recuperar o fôlego.
Meus pulmões ardiam e a voz continuava lá, vertendo palavras tão rapidamente que pareciam ser outra língua. As palavras... Ah, elas me lembravam dum exorcismo.
– Sky?
Meus ossos tremeram, meu sangue gelou e não sei mais o que aconteceu no meu organismo. A voz me atingiu como um tiro no escuro.
Me virei para ver Nicolai Alicante sair das sombras e um forte cheiro de maconha exalar. A fumaça cinza subia de um pequeno cigarro na sua mão direita, pequenas fagulhas saltavam quando mexia o braço.

– Ah, Nicolai, graças a Deus! – Disse, sentindo o ar entrando de volta nos meus pulmões juntamente com o cheiro da erva. Nicolai poderia ser drogado, mas acho que não era má pessoa.
Sua vagabunda! Não confie num drogado!
– Sky, o que foi? Você esta suando. – Ele disse, fazendo com que a voz se calasse.
– É que... É que...
– Você estava fugindo do Piet? Já me falaram. ELA ESTÁ AQUI! – Ele gritou.
Eu disse! Não fale com estranhos, Delavigne!
Minha pupila dilatou, recuperei ar e dei um passo pra trás quando Nicolai tentou me agarrar. Corri antes que ele tivesse outra oportunidade.
Deixe-me sair, Delavigne! Deixe-me!
Continuei correndo, desci escadas as pressas enquanto as luzes se acendiam e apagavam ao meu redor. Sentia-me como num filme de terror, como um cervo fugindo de um leão, ouvindo o roar da besta atrás de mim. Ouvindo passos que não eram apenas os meus, ouvindo a voz feminina que exorcizava algo. Frio no estomago? Que bobeira, era um tiro mesmo.
Continuei correndo, seguindo o vento. Os momentos me lembraram de uma musica da Florence, e ao ritmar do meu coração, fragmentos da letra vinham à mente.
E quando viermos buscar você estaremos todos vestidos de azul, com o oceano em nossos braços. Beijaremos seus olhos e beijaremos suas palmas.
Senti o arrepio do beijo de Piet subindo minhas espinhas. Nojo.
E quando for hora de rezar estaremos vestidos de cinza, com metal em nossas línguas e prata em nossos pulmões.
A fumaça prateada do cigarro de Nicolai subia na minha memória, e o cheiro da erva ficava mais forte.
E, quando voltarmos, estaremos vestidos de preto e você gritará alto o meu nome, e nós não comeremos e não dormiremos. Arrastaremos corpos da costa.
O grito de Nicolai ecoou no exato momento em que as sombras subiram. Fique atordoada por um instante enquanto as asas de corvos brotavam do chão.
Hope! Gritavam eles.
Diga meu nome e nunca mais teremos medo novamente!, Dizia a voz.
– Ela está aqui! – Gritava Nicolai.
Hope!, Gritavam os pássaros.
As sombras e o bater de asas brotavam do solo como mãos de demônios. Fui envolvida pelas trevas e as vozes me colidiam de um modo ensurdecedor. Nada se vira, nada acontecia, apenas um vulto no meio das trevas.
Senti mãos me tocando e as sombras se dissipando. Demônios.
As mãos de Nicolai me envolveram e prenderam meus braços enquanto Piet me encoxava. Meu iPod caiu no chão e I’m Here começou a tocar.
Estou aqui, alguém pode me ver? Alguém pode me ajudar?
Me arrastaram para o banheiro abandonado e parecia que o som do iPod ficava mais alto do outro lado da porta trancada. Nicolai tapava minha boca enquanto Piet rasgava minhas vestes. O cheiro de fezes estava por todo lado e eu podia ver a podridão no chão, as ferrugens no aço e o espelho quebrado. Não me atrevi ver meu reflexo nele.
Estou aqui, um prisioneiro da história, alguém pode me ajudar?
Tentei de todo modo me livrar dos seus braços, mas Nicolai era forte demais, seu amigo passava a mão entre minhas coxas e eu o tentava chutar, mas de nada adiantava. Ele rasgou minha calcinha e começou a me apalpar enquanto as lágrimas ameaçavam verter... Eles riam.
Você não pode ouvir meu chamado? Você está vindo para mim agora? Eu estive esperando você para vir me resgatar, eu preciso que você segure toda a tristeza que não posso vivendo dentro de mim.
Eu sentia nojo de mim enquanto eles rasgavam meu sutiã e passavam suas línguas nojentas por quase todo meu corpo. Piet subiu seus lábios pelos meus seios e foram direto para minha boca, senti enquanto sua língua pedia passagem, mas eu negava. Ela entrou à força e disputava espaço com a minha, tentei morde-lo, porém ele me deu um tapa.
Estou aqui, estou tentando lhe dizer alguma coisa. Alguém pode me ajudar?

Eu estou aqui, eu estou chamando, mas você não pode ouvir. Alguém pode me ajudar?

Nicolai massageava meu clitóris e segurava minhas pernas que ameaçavam ruir. Isso não estava acontecendo, não podia estar acontecendo. A saliva de Piet invadia minha boca, lutava contra minha língua. Eu senti nojo. Eu queria morrer.
Estou clamando, estou desmoronando, estou com medo de tudo, presa dentro destas paredes. Diga-me que há esperança para mim. Tem alguém lá fora me ouvindo?
Senti enquanto Alicante pincelava minha genital, as lágrimas quase vertiam enquanto a dor chegava. Eu não iria chorar. Eu não seria fraca. Eu jamais lhes daria este gostinho.
Tentava gritar, mas Piet não permitia isso. Eu estava arruinada.
Estou aqui, alguém pode me ver? Alguém pode me ajudar?
E aí tudo ficou escuro.


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Notas finais do capítulo

E adivinhem... À partir do próximo capitulo é que a verdadeira trama de Hope se inicia! Preparem seus forninhos pq vai ter padre possuído, Pomba Gira no couro de todo mundo, corvos e muita Capirotagem. Bjus.
PS: Nem sei quando vai sair o próximo, mas talvez apenas semana que vem já que estou em semana de provas.