Minha cabeça doía, as paredes se moviam enquanto minha vista embaralhava. O que houve?
Fui atingida pelo cheiro de merda e urina, como uma lâmpada sendo acesa, pude ver minhas memórias voltando.
Piet corria atrás de mim quando encontrei Nicolai, que dedurou onde eu estava. Fuji e daí vieram os corvos, minha visão ficou turva enquanto arrancavam minhas roupas e...
Um choque! Um choque de realidade me fez sentar o mais rápido possível.
Eu estava completamente nua, o banheiro fedia á fezes velhas e a pouca claridade me assustava. Encolhi-me na parede que estava ao meu lado, ficando em posição fetal tentando ver o que acontecia à minha frente.
Nada.
Minha mente estava frágil, não conseguia lembrar nada até o desmaio. Divagava ao som do meu cardíaco acelerado, estava suando frio e meu corpo precisava de calor. Estava tremendo.
Lentamente fiquei de pé, começando a dar pequenos passos como uma criança aprendendo a andar. Senti meus pés em contato com água... Bem, temia que aquilo não fosse exatamente água. Uma pequena lâmina de luz passava por uma abertura em algum lugar me possibilitando ver uma pequena mancha vermelha no chão. Pisquei para ter certeza do que via, porém meus olhos não me enganavam.
Gritei o mais alto que pude e corri para abrir a porta, mas tropecei em algo e cai no chão. Virei minha cabeça, mas não pude ver o que era, me coloquei de pé e abri a porta. Respirei profundamente, sentindo enquanto o coração batia com força na caixa torácica... Assoprei a vela e voltei a olhar pro banheiro.
Uma enorme poça de sangue pintava o chão de vermelho e nas paredes várias gotículas rubras estavam espalhadas, mas o que fez meus olhos quase saltarem das órbitas foram os corpos desmembrados de Pietro e Nicolai jogados na poça. O tronco de Piet estava separado das pernas, enquanto um dos seus braços estava na privada, mas não vi o outro. A cabeça de Nicolai dentro da pia e seus olhos verdes me fitavam com olhar de pânico.
Corri para o meio do cômodo, o liquido que havia sentido em meus pés era sangue. Olhei para meu corpo, procurando algum ferimento. Nada.
Casa de bonecas, eu vejo coisas que ninguém mais vê.
Casa de bonecas, a verdade pode te fazer sofrer.
Casa de bonecas, demônios rondam seu lar.
Casa de bonecas, almas iremos roubar.
Casa de bonecas, entre em casa e tranque a porta.
Casa de bonecas, ou sua persona estará morta.
Casa de bonecas, estamos te olhando.
Uma risada feminina cortou o ar e me virei, mas nada vi.
Vi meu reflexo no espelho, pele translúcida e meus peitos murchinhos refletiam a luz.
A garota do reflexo estava manchada de sangue, mas eu não. A garota do reflexo dava gargalhadas, mas eu não. A garota do reflexo levou a mão à boca indicando que eu deveria ficar calada, mas eu não fiz isso.
Gritei o mais alto que pude, sentindo que meu sangue iria sair pelas narinas, tentando despertar do pesadelo.
Mas não era um pesadelo.