Dentro do Espelho escrita por Banshee


Capítulo 23
Grande Quarto Branco


Notas iniciais do capítulo

Cheeeeeegay gente linda s2 Então, tipo, dia 31 tem a surpresa e tals e quero todos você aqui, okay? Que bom. Como sabem, Hope está prestes a acabar *Cry* e tenho que dizer que não, não terá uma segunda temporada. Mas Marco, por que não? Porque a estória ficaria patética, oras.
Ah, e tenho mais uma surpresa pra vocês! "Mas qual?", bem, um de você será selecionado para ser um personagem meu em uma nova fanfic.
"Mas gente! Como assim? Eu vou ser famoso(a)?" Talvez, agora vocês estão se perguntando como eu irei escolher, bem, isso eu só digo no próximo capitulo. Bjos de luz! :*



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Me sinto perdida e sem direção, preciso de um abraço, um beijo, um sorriso. Qualquer coisa que me tire daqui, qualquer coisa que me acorde desse pesadelo de olhos abertos. Qualquer luz, qualquer som, qualquer um. Qualquer um, por favor.
Eles me trancaram, quero dizer os guardas, me trouxeram para uma solitária e me colocaram uma camisa de força. Era branca e forrada com almofadas até na parede, a única janela estava no teto que era o que me permitia respirar.
Eu era louca, era louca e já tinha me aceitado.
Já perdi as contas de quanto tempo estou aqui, sem ver exatamente a luz do dia, sem ver um rosto amigo. Raven? Anthony? Tess? Todos me abandonaram.
Deitada e presa todos os dias em silêncio. Não aceitava o som da minha voz, a voz delas. A voz de todas elas.
– Não se flagele, vadia. – Dizia Hope sempre que vinha me visitar. – Você é forte, muito forte. Por que simplesmente não os mata? Com quem precisamos dormir pra sair daqui?
– Calada. – Sussurrava Alaska – Não percebe que ela está sofrendo? Não poderia ser mais humana? Talvez um pouco mais normal?
– Blah! – Retrucava a garota ruiva – Odeio pessoas normais, eles nunca serão tão legais quanto nós.
– Não vejo o que há de legal em ser louca e falar consigo mesma. – Eu dizia, entretanto minha voz soava como o miado de um gato recém-nascido.
– Você não é louca. – Respondia Alaska – Só acabou caindo nas mãos erradas. A culpa não é sua que Robert era um demônio.
Robert. Robert era o nome do meu pai, o nome do palhaço, o nome daquele que me destruiu e quando o fez, acabou criando elas. Hope, Alaska e Glass, ao qual nunca pude conversar de fato.
– Não me sinto bem. – Eu dizia todas as vezes que elas estavam presentes.
– Chore. Chorar lava a alma, vai te fazer sentir melhor. – Respondia Alaska acariciando meu rosto.
– Entretanto, chorar é coisa de idiotas. – Hope sempre retrucava.
Ah, em quem buraco fui cair?
– Eu poderia matar o guarda.
– Hope, que droga, ninguém vai matar ninguém! – Alaska sempre se irritava.
– Ok. Eu posso ao menos ferir gravemente?
Saudades Dobby, saudades.
– Não, não pode. – Dizia Alaska.
Eram as mesmas conversas quase todos os dias. As opções assassinas de Hope de como fugir e as eternas negativas de Alaska, eu deitada no colo da mesma até dormir.
E no outro dia começava tudo de novo.


– Acorde! – Gritou um dos guardas.
A enorme porta da solitária se abriu em um baque surdo quando Callum entrou, se ajoelhou e pediu para que as portas tornassem a se fechar.
– Creio que você não esteja bem. – Disse o psiquiatra.
– Eles estão me drogando, o que você esperava?
Daniel Callum anotou alguma coisa na prancheta.
– Merda, não acredito que esteja anotando isso. – Disse irritada, mesmo não demonstrando.
– É meu trabalho.
– Seu trabalho é abandonar sua paciente numa solitária?
– Bem, eu não te abandonei. Vim aqui fazer várias consultas, entretanto você não estava presente.
Não estava presente. A pequena frase ecoava, meu coração batia mais rápido, minha respiração ficou ofegante.
– Com quem você falou? – Perguntei.
Callum ainda estava anotando. O lápis parou e o homem tirou seus óculos para me dar atenção.
– Alaska. – Disse ele tornando a escrever.
Alaska!, gritei em meu pensamento, Como pôde?
Entretanto a resposta não veio, a voz da garotinha se calou. Sempre se calava quando precisava.
– O que ela te disse? – Perguntei.
– Acho que a questão aqui é o que elas te disseram?
Nada. Elas não me disseram nada.
– A resposta é simples: Não me disseram.
– Não? – Callum perguntou ironicamente – Bem, não foi isso que Alaska me disse.
Ele mente., disse a voz que não soube distinguir de qual delas era.
– Ele é um deles. – Havia dito Hope quando o conheci.
Um deles. Um dos palhaços.
– Sky? – Ele estava impaciente, isso era obvio.
Negue até a morte e depois desmaie.
– Já te disse que não me disseram nada, Daniel. – Respondi por fim.
Ele era um deles. Estava fingindo ser bom, gostar de mim e querer minha cura, entretanto não queria. Ele era mau, era falso.
– Que bom, digo, isso poderia ser melhor. – Disse ele, fingindo anotar algo – Você realmente acha que pode voltar para o quarto?
– Sinceramente? Eu não me importo mais com isso.
Callum sorriu mais uma vez. Seus olhos castanhos agora possuíam um tom dourado, quase como os olhos de uma serpente, se colocou de pé e deu três batidas na porta e quando os guardas apareceram, ele me deu seu ultimo olhar de pena, fitou-me com suas Iris cor de ouro e deu um sorriso triste.
Seus olhos pareciam ser borboletas alaranjadas batendo suas asas.
– Não há mais jeito. – Disse Callum – As outras personalidades consumiram a personalidade passiva dela. Infelizmente perdemos Skie... Ela está louca. Levem-na para o quarto da Ala Ômega.
Os homens de farda seguraram meus braços com brutalidade, carregaram-me para o quarto. Eu tentei me soltar de todos os modos, tentei invocar aquela força monstruosa de Hope, tentei fugir com a ajuda do intelecto de Alaska, entretanto eu não era elas, não possuía o que elas possuíam e não tinha nenhuma habilidade que eram delas. Eu era fraca e burra. Era Skie, apenas Skie.
Me lançaram no enorme quarto branco. Cortinas, cama, mobília... Nada tinha cor. O alvo que me rodeava cegou meus olhos, me fazia cambalear e cair todas as vezes que abria meus olhos e tentava sair da cama. A gravidade era tão doce, contudo me feriu me fez subir o mais alto que pôde para que eu pudesse voar com as aves... Mas ela me derrubou.
Cheguei ao chão e dei de cara com a poeira.
Porém dessa vez estou joelhada aqui, rezando para um Deus invisível, uma força sobrenatural que não acredito que exista. Estou dizendo a ele que sorrio indo em direção ao abismo, e desta vez a gravidade deve fazer seu trabalho. Quero que o solo chegue mais rápido, quero que a queda me mate, quero que a gravidade jogue meus ossos contra a terra. Mas, por favor, os corvos não devem me segurar desta vez.
Presa num enorme quarto branco, solitária e velha. Sozinha, sozinha em minha companhia.

Sentada em um grande quarto branco sozinha, inclino minha cabeça para trás, sinto as lágrimas caírem. Fecho meus olhos para enxergar no escuro.
Me matar era o desejo mais profundo de Callum, eu não sabia o porquê e não sabia qual era sua relação com os Palhaços. Só sei que era o que ele queria e que estava prestes a conseguir, meu laudo médico foi psicologicamente incapaz, ou seja, louca.
Eu me sinto jovem, ferida, com tanto tanto medo que não quero mais ficar aqui. Quero estar em outro lugar, normal e livre como eu costumava ser.
Quanto tempo se passou desde que entrei aqui? Dias? Semanas? Meses? Já não importava mais, perguntas vazias não necessitam de respostas e nunca iriam necessitar. Preciso sair daqui, não sei como, mas preciso falar com alguém, qualquer um disposto a ouvir.

Mas tenho que ficar neste grande quarto branco, velhinha e sozinha.
As vozes de Hope e Alaska se foram e já havia perdido as contas de quanto tempo fazia desde que tinham se calado. O mestre estava certo quando disse que demônios amaldiçoam e furtam almas, não as ajudam.

O guarda me trazia as refeições patéticas que eram sempre as mesmas merdas, uma mistura de arroz, feijão, salada e o que deveria ser um purê de batata mal sucedido.
Estou ficando louca, perdendo a cabeça. Ficando louca neste meu grande quarto branco.
– Me tirem daqui! – Gritava – Não quero! Não quero isso, me tirem daqui! Tirem-me desse inferno! Anthony, Gabriela, Raven, por favor, me ajudem! – Estava desesperada, entrando num estado lastimável de pânico, claustrofobia, tristeza. – Diane, me ajude!
Ajoelhava-me quando o mesmo desejo vinha sobre mim. Diane me ajude. No entanto os mortos não podem nos ajudar e nunca poderão. Os perecidos não ajudam seus assassinos.
Sentada em uma grande sala branca sozinha, fecho a porta, não quero que a dor entre não. Aperto o meu punho e tento ficar forte, choro, me sinto doente, meu coração está batendo, batendo fora de controle.

Façam essa musica parar, sim, façam parar, parar, parar, parar...
Posso correr, correr mais rápido que você? Quero sentir meu corpo novamente, sentir o vento no meu cabelo, sim. Mas tenho que ficar nesta grande sala branca
Porque ninguém se importa, não.

Meus olhos ardiam tentando conter as lágrimas que queriam cair, mas não iriam. Não hoje, não, hoje não iriam cair. Eu sou forte, muito forte.
No fim era o que ele queria desde o principio: Enlouquecer-me de verdade, acabar com minha sanidade e me deixar mofando aqui. Callum era um daqueles que criou minhas personalidades, porém algo havia acontecido de errado no processo.
Todo mundo está me olhando, todo mundo está me encarando. O que faço agora? Sorrio, sim.
Criadores jamais criariam algo que pudesse mata-los, isso não faria sentido. Victor Frankenstein jamais teria criado A Criatura se soubesse que ela por fim mataria Elizabeth, seu irmão, resultaria na morte de seu pai e até mesmo na sua própria. Era uma ideia bizarra que estava se criando na minha cabeça, porém fazia sentido. Mais sentido do que eu gostaria.
Todo mundo está me olhando, todo mundo está me encarando. O que eu faço agora? Sorrio, sim!
Na noite do estupro meu pai acabou me ferindo gravemente, não somente meu corpo como meu psicológico, e isso acabou dividindo minha personalidade em quatro partes: Hope, a vingança; Alaska, a inteligência; Glass, a inocência e Skie, eu. Apenas eu.
Isso teria acontecido quando eu tinha sete anos em uma sala de espelhos, atacada por um palhaço. Eu odeio espelhos e tenho medo de palhaços.
Estou ficando maluca, perdendo a cabeça.
Hope tinha esse nome, pois simbolizava a minha esperança de assassinar todos aqueles que destruíram minha vida um dia, Alaska, tão isolada quanto o próprio Estado do Alasca e Glass, frágil como vidro. Literalmente vidro.
Estou ficando maluca, perdendo a cabeça.
Esperança era o nome de uma assassina, Céu para quem merece o Inferno e Fé para o nome de uma depressiva. Minha vida não passava de uma amarga ironia.
Corvos, criaturas que exalavam o cheiro da morte só apareciam para me ajudar. Seres horrendos trabalhando como mensageiros celestiais.
Estou ficando maluca, perdendo a cabeça nesse grande quarto branco.
Eram peças de um quebra-cabeça que se encaixavam.
De certo modo, todos os sinais da minha insanidade apontavam para alguma coisa. Eram ironias que no fim faziam todo sentido.
Entretanto haviam borboletas fantasma por todo lado. Estavam lá na primeira vez que vi Faith e também no aeroporto, minha presilha era uma borboleta com asas alaranjadas e no vislumbre do circo, por alguns segundos vi as crianças nas celas como se fossem borboletas presas em aquários. Borboletas alaranjadas, iguais aquelas que sempre vejo nos olhos de Callum.
Fui ao banheiro e arranquei minha camiseta, rasguei meu sutiã e fiquei de costas para o espelho.
Minha tatuagem de asas de corvos. Sempre achei que aquelas coisas que se desgrudavam delas eram penas, porém não eram. Eram borboletas negras.
Os insetos começaram a bater as asas em minhas costas, como se meu corpo fosse a tela de um desenho. Duas delas foram até meus pulsos e outra para o centro da minha testa, saíram de mim e começaram a voar pelo banheiro como estivessem tentando fugir.
Estou ficando maluca, perdendo a cabeça nesse grande quarto branco.
Eu definitivamente estava enlouquecendo.


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