Premonição Chronicles escrita por PW, VinnieCamargo, MV, SamHBS, Felipe Chemim


Capítulo 3
Capítulo 03: O Pianista e A Descolada


Notas iniciais do capítulo

POV Kethellen escrito por SamHBS.
POV Samuel escrito pelo mesmo.



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POV KETH

A linda morena dos lindos e grandes lábios acorda e se espreguiça. Sem sequer levantar da cama, pega o seu celular e aperta o botão de acender a tela para ver as horas.

– Merda, estou atrasada.

Kethellen voltou da balada às 4h da manhã e mal dormiu direito. Afinal, ninguém é acostumado a acordar cedo nos domingos.

Ela se senta na cama, colocando os pés no chão e os mexendo de um lado para o outro para encontrar os chinelos. Então levanta e, com passos apressados, anda pelo corredor da casa e abre a porta do banheiro.

Até as pessoas mais bonitas e simpáticas acordam com remelas.

Com suas macias e suaves mãos, ela segura um pente e começa a pentear o seu liso e negro cabelo, passando da raiz até as pontas, amaciando-o com calma e suavidade. Ela pensou em passar a prancha hoje, mas desistiu por dois motivos. O primeiro é que ela irá comprar uma nova. Essa já não funciona direito. O segundo motivo é que:

– Hoje vai ser um ótimo dia. – Ela diz para si mesma no espelho.

Seu namorado, Vinícius, irá levá-la a um dos maiores e mais modernos parques aquáticos do país. O Blue River Adventure Park atrai turistas de diversas regiões, e Keth, mesmo estando na cidade, nunca havia ido nele.

TOC TOC TOC

Sua mãe bate na porta apressadamente.

– Que foi, mãe!

Gritando para o som passar pela porta, ela responde.

– Seu namorado tá buzinando lá na porta.

– O quê, já?

Ela acordou tarde de mais e Vinícius já está na porta a esperando impacientemente. Keth, todos os dias, não hesita em querer ver o grande amor de sua vida, então veste sua roupa rapidamente, destranca a porta do banheiro e a abre. Vê sua mãe, com uma bolsa nas mãos.

– Mãe sabe de tudo. Aqui ta sua roupa de banho e o protetor solar.

– Obrigada, mãe!

Ela dá um beijo no seu rosto, sorridente, e corre para fora de casa. Lá está o seu namorado, que buzina mais uma vez, com um sincero sorriso no rosto.

– Calma, Vini!

Ela entra no carro, enquanto ele, com o olhar fixo no volante, tateia até encontrar as suas pernas. Quando as encontra, começa a fazer uma calma massagem. Keth coloca sua mão acima da dele, que olha para ela e dá um beijo rápido. Ela sorri, suspira e começa a falar.

– Sabe que...

VRRRRRRRROOOOM!

O carro acelera e eles vão em direção ao parque.

POV SAMUEL

– Bom dia, Samuel. – Já adianta o Seu Porteiro.

E assim começa o meu dia. O sol sorrindo das desgraças das insolações e as árvores balançando como se estivessem cantando “atirei o pau no gato”.

– Bom dia! – Respondo.

Piso na escola de música da Universidade Estadual com um grande sorriso no rosto e um pouco de nervosismo. Afinal, chegou o dia da avaliação final do semestre de todos os alunos de piano. Em pleno santo domingo. Tocarei uma sonata de Haydn e uma invenção a duas vozes de Bach. O problema começa quando entra a estupenda I Got Rhythm de George Gershwin, a bendita música que tem saltos da distância da Terra até a Lua na mão esquerda a cada segundo.

Começo a andar rápido pelos velhos e estraçalhados corredores da Universidade, pois já são 9h. Minha prova é 9h15. Ah, a prova. Dezenas de alunos e seus parentes sentados nos bancos do auditório, e uma banca de professores avaliadores que estão ali para te ajudar, ou não. Já ouvi falar que tem uns que dizem “Parabéns! Você tocou muito bem! Nota 7!”, ou “Nossa! Como você melhorou! Nota 6!”. Pensando bem, preocupação para quê? No fundo eu sei que vou arrebentar.

Eu avisto a minha professora de piano no corredor, com uma chave na mão. Ainda bem! Ela vai me escutar antes da prova numa sala separada.

– Oi, Samuel. Vamos?

– Vaaaamos!

Aquele barulho de chave roçando a fechadura me anima, e o abrir da porta é uma sinfonia para os meus ouvidos. Lá dentro da sala está me esperando um lindo piano de meia cauda que vai mostrar para ela tudo o que fiz.

E eu me esforcei. Tenho aulas em uma escola pesadíssima que me faz escolher entre os estudos e a vida. Digo que minhas semanas são formadas pela tarde de terça, um pedaço da tarde de quarta e outro pedaço do final de semana. Eu gosto dessa pressão. Nessa reta final, estudei essas músicas quase todos os dias, quebrando meus dedos, fazendo técnicas de velocidade, saltos de mão e concentração. Para o desgosto do moço que mora ao lado do meu apartamento, não tive dó dele e meti a mão no meu piano. Tem que ficar bonito.

E é isso que mostro nessa salinha. Toco tudo como deve ser, apenas com alguns esbarros e ajustes a fazer. Encaminho-me para o auditório.

– Aleluia! O ar condicionado desse trem está ligado! – Falei.

Sem esperar muito tempo, absolutamente nada, para falar a verdade, sou chamado. Chegou a hora. Como diz o velho ditado popular que acabo de inventar, “os avaliados serão avaliados”. E pior que serão mesmo.

Ando pelo corredor do auditório enquanto todos me acompanham com os olhos. Dou meus passos pela escadinha do tablado, ando mais um pouco, puxo o banco do piano e sento calmamente, olhando para a platéia a espera.

A pior coisa que pode acontecer nesse momento é eu errar.

Simplesmente toco tudo o que tinha que tocar numa apresentação de dez minutos.

CLAP CLAP CLAP. Lá vêm as palmas, o meu agradecimento e um alívio inexplicável. Desço do tablado, e a próxima vítima sobe. Despeço da minha professora, encaro uma mulher da banca avaliadora, saio do auditório e pego meu celular.

Duas mensagens.

“Tudo certo para o casamento da próxima semana? Tá tranquilo as músicas? Não esquece que a Marcha emenda com a NONA e a saída é com Dust in the Wind em RÉ!”

Estranho...

E a outra mensagem, do meu melhor amigo, É-Do-Lado.

“Você vem no aniversário da Zulma, né?”

Ah, como pude me esquecer. Hoje é domingo. Aniversário da Zulma.

Zulma é uma das minhas melhores amigas, que chamou os coleguinhas para comemorarem o aniversário com ela no famoso Blue River Adventure Park, aquele montante de toboáguas coloridos e piscinas divertidas.

***

Foi bom É-Do-Lado ter me lembrado do aniversário da Zulma no momento oportuno, pois apareço na porta do parque aquático logo após o almoço e me encontro com ele, de calção vermelho. Pagamos a entrada, entramos no parque, passamos pelo médico que avalia aquelas bobagens de ver o que tem entre os dedos do pé e entramos.

Ah, Blue River... Diria que aqui é o céu se não tivesse pessoas. Quiosques caribeños, piscinas refrescantes, crianças brincando felizes e se perdendo dos seus pais, canhões e diversos brinquedos que lançam água para todos os lados. Isso se não olhar para cima, onde vejo os diversos e famosos toboáguas desse lugar. O Red River Valley é o mais baixo, todo aberto, com curvas suaves e baixa velocidade. Maior que ele, o Final Destilation é de água quente e desce direto, quase que verticalmente, numa piscina. Há alguns outros do outro lado do parque, mas o melhor de todos está aqui. O Green Hype tem esse nome porque, além de ser o mais alto de todos, é completamente fechado, um verdadeiro tubo, e possui uma escada gigantesca com uma fila enorme para chegar até ele. A expectativa que se cria até começar a descer é enorme.

E é lá que eu vou. Sem sequer pular na piscina ou procurar nossos outros colegas, vamos direto para a escada do maior Green Hype, que, como sempre, está com uma fila gigantesca.

Subo alguns degraus e paro. Isso se repete. No meio de toda essa espera, subo, paro, subo, paro. Melhor conversar com É-Do-Lado para ver se o tempo passa mais rápido.

– Como vai? – Ele me pergunta.

– Com os pés. E você?

– Vou levando a vida e a vida me levando.

– Você já veio nesse parque? – Pergunto.

– Claro que já. Água, pagode e muita cerveja. Igual todo Parque Aquático.

– Mas aqui chama Blue River Adventure Park. É nome de high society!

– Verdade... Então depois a gente esfrega isso na cara das inimigas que não foram convidadas pra festa da Zulma! Hahahaha!

Depois de alguma risada, surgem alguns minutos de silêncio, que meu amigo logo rompe.

– Samuel, vamos lá pra minha casa depois disso aqui? Faz um tempão que você não vai lá.

– Ih... Nem dá. Sabe aquele trabalho?

– Não.

– Enfim. Um cara tinha marcado comigo para eu mandar o trabalho pra ele até as 23h de hoje, mas do nada ele fala para eu mandar até meio dia, como se eu não tivesse que fazer uma prova importantíssima de piano, e mesmo assim deixou eu mandar até 15h. Odeio quando o povo marca os trem de um jeito e depois fica mudando.

– Relaxa, vai dar tudo certo na sua vida. Deixa isso pra lá. A gente ta aqui é pra divertir mesmo, não pra ficar com preocupações.

O sol estava escaldante.

– Nossa! Eu esqueci o presente da Zulma!

Lembrei disso já no meio da fila nas escadas, vinte milhões de pessoas a minha frente, vinte milhões atrás e vinte metros de altura abaixo de mim. Quando encontrar minha amiga, terei que inventar alguma desculpa e levar o presente depois.

Passam-se cinco minutos e eu não acredito que estou esperando tanto tempo para descer num mísero e magnífico toboágua verde, gigante, emocionante e perfeito!

– Ou, a gente já ta quase lá. Deve faltar menos de vinte pessoas para chegar a nossa vez. – É-Do-Lado diz.

– É vero... – Respondo.

A fala de É-Do-Lado me faz acordar para o quão no alto eu já estou. Lentamente, vou descendo a minha cabeça e me vem aquela leve agonia em todo o meu corpo. Começo a encarar cada monte de gente nas piscinas, no chão, nos quiosques e nos confins do parque.

Quando uma fria brisa sopra o meu rosto, minha visão foca em um único lugar. Um grupo de pessoas brigando próximas a um quiosque. Eu não acredito no que está acontecendo.

– Eu conheço essas pessoas.

É-Do-Lado olha para mim com uma cara estranha.

– O quê? – Ele me pergunta.

– Eu conheço essas pessoas... Naquela confusão... Vem comigo. É melhor a gente descer.

– Samuel, você está louco? A gente já ta nessa fila a um tempão e eu não desço daqui se não for pelo toboágua. Depois você vai lá.

– Me escuta. Vamos descer e depois a gente volta aqui de novo.

– Não, Samuel. Ou isto ou aquilo!

– Quem sobe nos ares não fica no chão. Eu vou descer.

Aquelas pessoas brigando só podem ser quem estou pensando.

Vou esbarrando em todo mundo na escada, pedindo desculpa. Quanto mais eu quero descer, maior parece que a fila fica. Aquele povo brigando são de um grupo de Premonição da internet. Ah, droga. Sai da minha frente que eu quero passar. Eu reconheço todos. Pedro Oliveira. João R.C. Márcio Vinícius. Felipe Cheminho.

Quando em fim piso no chão, recupero meu fôlego e saio correndo em direção àquele quiosque. O que está acontecendo não pode ser algo bom. E tudo se confirma. Lá está Vinícius Camargo, ao lado de sua namorada Keth, sendo empurrado pelo Pedro, que diz:

– PUTA QUE PARIU!

Vinícius, sem pensar, diz.

– QUE PORRA É ESSA?

– EU NÃO TÔ MENTINDO, CARALHO. – Responde Pedro, que prossegue. – Eu não quis te derrubar. Tô falando sério, eu vi um acidente acontecendo na minha cabeça.

Não pode ser.

– Não derrube meu namorado – Keth diz indignada.

Meu coração está batendo a mil por segundo. Que merda está acontecendo.

– Desculpa desculpa.

Como será que eu vim parar aqui. Acontece todo dia eu sair de casa para ir num aniversário de uma colega num parque aquático e encontrar um monte de fãs de Premonição, que eu só conhecia virtualmente, brigando. O pior é que Pedro não parece nada bem. Ele sai andando em uma direção com uma afeição estranha e torna a voltar. Os murmurinhos começam.

– Eu tô falando sério – ele diz olhando no olho do Vinícius e volta a chorar.

Ele vai em direção a saída. E todo esse montante de gente que eu não esperava encontrar aqui o segue. As pessoas começam a trocar olhares curiosos, enquanto Pedro não descansa passa gritando para todos saírem da piscina e do parque. Isso não pode ser brincadeira.

Sou esperto o suficiente para saber que fãs de Premonição não brincariam com algo tão sério. O filme está começando na vida de todos.

***

Já estou no estacionamento, chocado, enquanto as pessoas conversam alto.

O meu coração ameaça parar quando saem gritos e gemidos de dentro do parque, seguidos de estampidos. Um verdadeiro caos. Uma verdadeira histeria. Um verdadeiro filme de terror.

Droga. Quando me viro em direção ao parque, vejo uma árvore gigante caindo em cima do Green Hype, o toboágua que eu provavelmente estaria agora, partindo-o no meio. Seus pedaços, juntos com a árvore, começam a cair na piscina, e vejo pernas num calção vermelho separadas de um corpo voando ensangüentadas pelos ares do local. Os outros brinquedos caindo, cheios de faíscas, explosões! É uma guerra.

É-Do-Lado ficou la...

A vida imitando a arte. A realidade imitando a ficção. A tragédia acontecendo na minha vida. Eu só espero que seja um mal entendido e que... E que eu não esteja na lista.


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Notas finais do capítulo

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Encontro vocês nas reviews!



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