Premonição Chronicles escrita por PW, VinnieCamargo, MV, SamHBS, Felipe Chemim


Capítulo 19
Capítulo 18: Círculos


Notas iniciais do capítulo

Escrito por MV.

Link das músicas tocadas no capítulo:

Blame - Calvin Harris ft. John Newman
https://www.youtube.com/watch?v=6ACl8s_tBzE

Carry On - Fun
https://www.youtube.com/watch?v=q7yCLn-O-Y0

The Draw - Bastille
https://www.youtube.com/watch?v=QL2UQkmBMP4



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Deitado em sua cama, raciocinar era a última coisa que Pedro estava fazendo. Naquele dia, havia passado por tantas emoções ruins e boas que ele não estava pensando mais em nada. Só em um jeito de acabar com aquele maldito pesadelo de uma só vez.

Primeiro reencontrara Samuel e João depois de três meses distantes, e logo depois, encontrara novamente com seu algoz, Felipe Chemim. Pedro não pode deixar de perceber o brilho cruel nos olhos do rival, que provavelmente tinha se acentuado após sua aproximação com Marina.

Se eu nunca tivesse feito isso Ele não teria ido atrás de mim. E não teria feito todos aqueles jogos mortais comigo e com o Sam, que poderia estar vivo agora...

Sam. Sua mente focou novamente no garoto baixinho, músico, irônico e sarcástico, que havia tornado-se seu amigo nos últimos tempos, por conta da perseguição da morte. Curiosamente, foi ela mesma que deu um fim precoce na vida do garoto, que tinha vários sonhos, vários desejos, várias ambições, que nunca chegaria a realizar. Assim como MV. Assim como Vic. Assim como qualquer um dos que tinham ido embora.

E junto do seu fim, Pedro pode testemunhar duas coisas terríveis: A primeira, até onde iria a loucura de alguma pessoa. Quando Felipe tentou matar não só ele, como Samuel, Marina, e até João e Alisson, que não tinham nada a ver com ele, ele já dava os primeiros sinais de que algo estava errado, confirmado com a sua crueldade e por ficar impassível diante do terrível final que Sam tivera. A segunda, era de como a morte era brutal. Testemunhara praticamente todas as mortes que ocorreram, e se ainda não tinha se convencido de como a morte era terrível, a morte de Sam veio para confirmar tudo. O momento em que o músico caiu no tanque de cera derretida, e em meio aos gritos, tinha a sua pele derretida, nunca sairia da cabeça de Pedro. A agonia que vira naquele dia sempre o acompanharia, até que a morte o levasse.

O que poderia estar próximo.

Após a morte de Samuel, Pedro já sabia quem era o próximo, afinal não precisaria ser qualquer gênio para deduzir que se ele era o último da lista, o próximo era o único que restara: Vinicius. E aí estava o maior problema: Vinicius sumira no mundo, crente de que sua teoria sobre a separação daria certo. E se ele duvidava até aquele dia, agora estava crente de que aquilo era o certo a ser feito. Por que não tinha escutado a maior autoridade em Premonição e não tinha ficado longe de Marina? Novamente, se ele estivesse longe dela, Felipe poderia não ter tido aquele ataque de loucura, e Sam poderia estar vivo agora.

Não daria certo. - Ele pensou. - A ceifadora daria um jeito de pegar ele de qualquer jeito.. Mas se nós não tivéssemos nos reunido

Isso colocava uma espiral de interrogações na mente de Pedro. Será que quando era chegado o momento, a morte daria um jeito de reunir os sobreviventes novamente? Será que isso aconteceria com Vinicius e ela daria um jeito de o levar pra cova?

Mas ele não teria motivo nenhum pra voltar… - E como se os pensamentos se ligassem, automaticamente pensou em Keth.

Para finalizar aquele dia mais do que louco, descobrira que Keth estava viva, e ainda carregava a salvação de todos os malfadados pela lista, inclusive ela, que atendia pelo nome de Kevin. O bebê que carregava nunca era pra ter nascido, se a morena tivesse morrido no acidente do parque aquático, o que fazia a teoria da nova vida ser mais real do que nunca.

Bastavam apenas seis meses para a teoria se concretizar. Mas nesses seis meses tudo poderia acontecer. E exatamente isso que preocupava Pedro.

No meio de toda a sua preocupação e de sua carga de pensamentos, acabou sendo vencido pelo sono. Dormiu, mas preferia ter ficado acordado.

Quando Peeh abriu os olhos, ele estava sentado em uma cadeira. Olhou ao redor, e viu que em volta de um grande círculo, existiam mais 12 cadeiras. Ao seu lado, percebeu que havia um pequeno pedestal, onde estava uma arma de fogo. Ao desviar seu olhar, percebeu que as 12 cadeiras tinham sido ocupadas pelos outros sobreviventes.

Ele olhou ao seu lado direito, e conseguiu identificar Vinicius, olhando estaticamente para um círculo localizado no centro do grande círculo, como se estivesse hipnotizado. Desviou o olhar para o seu lado esquerdo, onde identificou uma outra pessoa que conhecia bem. Felipe também estava com o olhar fixo no centro do círculo, assim como Vinicius.

Na realidade, Pedro olhou ao redor, e percebeu que todos os sobreviventes estavam ali. Lado a lado, olhando fixamente para o círculo central, sem esboçar qualquer reação. Isso não deixou de arrepiar Pedro um pouco.

Então subitamente, o círculo começou a se mover, dando uma volta completa. Logo depois, Pedro sentiu sua mão se movendo rapidamente na direção da arma, assim como todos os outros. Mas era algo terrível, ele não tinha o próprio controle de sua mão, de seu braço... Eram movimentos involuntários. Por fim, percebeu que havia encostado o cano da arma na lateral de sua cabeça, e antes que pudesse fazer qualquer coisa, puxou o gatilho.

Um tiro foi ouvido, mas Pedro ainda estava inteiro, assim como todos os sobreviventes, que tinham repetido mecanicamente esse ato. Subitamente, sentiu seu braço deixando a arma no pedestal ao lado de novo.

E então o círculo girou novamente, mas dessa vez girou duas vezes, e Pedro deixou apenas o processo acontecer. Sua mão pegou a arma, encostando na lateral da sua cabeça e atirou, no mesmo momento que todos os sobreviventes. Um tiro único foi ouvido, mas algo surpreendeu Peeh. Um corpo havia caído de uma das cadeiras, e Pedro conseguiu olhar o rosto do atingido, antes do círculo girar novamente. Guibson.

O círculo girou agora três vezes, e todo o processo se repetiu. Mas agora, eles estavam sentados em cadeiras diferentes, e a cadeira de Guibson estava vaga, apesar do seu corpo ter sumido do chão. Agora ao seu lado, estavam Kethellen e João. Após o tiro que todos deram, mais um corpo caiu, exatamente à sua frente. Breno.

O círculo girou pela quarta vez. E pela quinta. Sexta. Sétima. Oitava. E um a um, o processo voltava a acontecer, as cadeiras continuavam a mudar, e os sobreviventes morriam na exata ordem: Lucas, João Victor, Victorya, Emerson, Márcio.

Na nona vez, algo estranho voltou a acontecer. O processo foi todo repetido, e ele já esperava que Samuel caísse, quando o tiro ocorreu, e nada aconteceu. A mesma coisa ocorreu na décima vez. Felipe e João.

Na décima-primeira vez, o círculo já reduzido perdeu mais um integrante, já que Samuel caiu sobre o círculo central. Na vez seguinte, Pedro não sabia exatamente o que esperar, já que era a vez de Vinicius, e para sua surpresa o rapaz caiu morto diante dos seus olhos.

Na décima-terceira vez, o processo inteiro se repetiu, enquanto Pedro percebia que era a sua vez de cair morto. Não queria fazer tudo aquilo, mas seu braço se mexia involuntariamente. Já suando frio, sentiu o cano na lateral da sua cabeça, e puxou o gatilho. Ouviu um tiro vindo de longe, e depois um tiro maior, e algo penetrando na sua cabeça… A dor… A dor…

Pedro levou as mãos à cabeça, enquanto acordava no meio da noite, suando frio. Olhou para o relógio ao lado da sua cama, e as luzes vermelhas marcavam 01:18 am.

Naquela noite, Pedro não conseguiu voltar a dormir.

O sol resolvera não aparecer naquele dia, e o céu estava coberto de nuvens cinzas, anunciando que uma nova tempestade estava por vir.

Keth observava de seu apartamento a cidade acordar novamente para mais um dia normal na vida de todos. Exceto na vida deles.

A garota não sabia explicar muito bem o que ocorrera depois de sua suposta morte, mas ela, atingida pela descarga elétrica, tivera uma parada cardíaca momentânea. Quando acordou, estava dentro da gaveta do necrotério do hospital. Sem saber o que fazer, ela trocou o corpo dela por outro semelhante, e saiu.

Mas todos achavam que ela realmente tinha morrido, afinal, sua família dissera que não abriria o caixão, em respeito a Keth, de certa forma facilitando sua vida. Após o que aconteceu, se refugiou em um local seguro, deixando o seu apartamento nas mãos de Vinicius, que não soubera o que tinha acontecido com a namorada. Tempos depois, percebeu os primeiros sintomas da gravidez, e continuou a ficar afastada, até o momento que por uma tacada do destino, ela acabou achando todos os sobreviventes, após seguir Felipe, vendo o garoto sequestrando um grupo de pessoas.

Quando finalmente encontrou os sobreviventes, percebeu como a morte tinha evoluído na sua caçada, mas já sabia de todos os fatos da lista. Ela estivera perto dos sobreviventes na grande maioria das mortes, como no CEM e no Motel California.

A televisão estava ligada, e ela podia escutar de longe o noticiário sobre a explosão do museu de cera localizado nos arredores da cidade. O trabalho de rescaldo era realizado já há algumas horas e dois corpos tinham sido encontrados em meio aos escombros. Um destes corpos, como os bombeiros falavam, era como se tivesse sido esculpido. A cera quente esfriara em torno do corpo de um dos mortos, produzindo um espetáculo horrível. Ele acabara por se tornar parte da coleção do museu local.

Ela se arrepiou, sabendo que o locutor falava de um dos sobreviventes daquele acidente. No seu ventre, Kevin se mexeu.

— Filho…

Kevin era a solução de todos os problemas que tinham assolado aqueles jovens até agora. Mas Kethellen já tinha pensado no grande problema dos meses restantes. Em seis meses, a situação inteira poderia se reverter, mas ela usaria a famigerada teoria que levou seu namorado para longe.

Não se encontre com ninguém.

Três dias depois.

A onda de frio e chuva não saía da cidade, que ficava cada vez mais imersa naquele clima gelado. E nada melhor que em um clima gelado, frio e assustador, estar saindo de um cemitério.

Já era o quarto enterro que Pedro ia nos últimos tempos. Lucas, Vic, MV e agora Sam, todos transformados em pó pela ceifadora. Se por um lado ele queria lutar, para que a vida de cada um dos sobreviventes não fosse em vão, ele sentia-se cada vez mais apático, mais distante, como se aceitasse o fato de que ele não conseguiria acabar com a sina mortal. Ora, se em nenhum dos filmes conseguiram deter a morte, por que isso seria diferente?

— Pedro? — Uma voz conhecida falou vinda atrás do garoto. — Espera aí, cara. Nem sabia que você tinha tirado o gesso.

— Foi ontem, João. Mas eu já disse. Fica longe, nós não podemos ficar juntos… Você viu, né? Você viu a merda que deu juntar a gente. — Ele falou, energicamente.

— Calma, Peeh. Não sei se você está acompanhando as notícias, mas eu precisava falar com você… Talvez, não precisemos nem do bebê da Keth. Pode ser que já estejamos fora desse esquema.

— Do que exatamente você está falando? — Pedro falou, continuando a andar com João, do lado de fora do cemitério.

— Cara… Eu vi uns noticiários, que diziam que dois corpos tinham sido achados no museu de cera.

— Hum, tá. Então… - Pedro parou e olhou intrigado para João. — Você quer dizer que acredita que o Felipe seja o segundo morto?

— Só pode ser. Quem mais estaria no museu naquele momento? Alguém teria visto toda a movimentação do Chemim, não é mesmo? Ninguém viu nada, e, além disso… Ele ficou pra trás no meio da explosão…

— Não João, não… Que burro você tá sendo. — Pedro falou. — Não tem como ele ter morrido, é uma lista, não é? Agora é o Vinicius, não o Felipe.

— Porra Pedro, vou te dar um soco! Não é possível que ele tenha sido o tal do corpo achado no meio dos escombros? Tudo indica que sim.

— João, alguém já disse que você pensa demais?

— Hã… Já.

— Porque eles não estavam mentindo. Raciocina criatura. Você como um reaper antigo, veterano, de longa data, como você quiser chamar, deveria já saber que segundo os filmes…

— Segundo os filmes, Peeh. Segundo os filmes. E na vida real? Muita coisa pode ser diferente.

Pedro suspirou, mas o que João tinha dito era verdadeiro de certo modo. Os reapers sempre seguiram os filmes, mas todas as teorias nos filmes terminavam em fracasso. Era totalmente plausível que outras teorias fossem criadas, ou seriam diferentes na vida real. Afinal, uma coisa são as telas de um cinema. Outra coisa era as telas da própria vida.

— Então… Supondo que isso fosse real… Estaríamos salvos.

— Nesse ponto que eu queria chegar, Pedro! Estaríamos salvos, e eu pessoalmente, acredito que estamos sim.

— Ah, não sei… É muito vago, entendeu? Muito vaga essa teoria. Apesar de que ter um fundo de razão, como o Ian mesmo disse, sobre o último da lista morrer quando a morte esperava…

— É exatamente isso que eu falo! Mas nesse caso, não seria o último e sim, penúltimo. Mas mesmo assim, o Chemim nunca era pra ter morrido na casa de cera, já que a morte estava se preparando pra pegar o Vini.

— É… Como eu falei, eu ainda estou com o pé atrás com isso… É muito simples.

Os dois se aproximavam de uma esquina, quando algo atingiu Pedro em cheio, que quando viu, estava no chão. Já ia se levantar pra tirar satisfações, quando parou e observou a figura.

— Marllon? — Os dois disseram em uníssono.

Marllon riu, mostrando sua surpresa.

— Vocês? O que estão fazendo aqui?

— Marllon, você deveria saber que metade dos reapers moram aqui, né? — Pedro falou, com sua delicadeza característica.

— Saber eu sabia, caras. Mas é que tipo, mano, a cidade é grande pra caralho, eu nunca ia pensar em encontrar um de vocês, ainda mais dois.

João e Pedro se olharam.

— O que você tá fazendo aqui, cara? — João perguntou.

— É João, né? Então, eu tô passando o fim de semana na casa da minha tia.

— Aquela tia que você fala sempre, né? — Pedro falou. — Tô ligado. Er… Você sempre vem pra casa da sua tia, não é?

— Cara, minha cidade é um porre. Pelo menos aqui tem coisa pra fazer. Tem cinema, tem boate, tem… Ou melhor, tinha o parque aquático.

João e Pedro se olharam, automaticamente. Logo depois, disfarçaram esse ato. Os três começaram a andar pela lateral do cemitério enquanto escutavam atentamente o que Marllon dizia.

— Aquilo foi foda. Eu lembro que até estava naquele dia em que tudo caiu…

— Peraí. — Peeh parou, espantado. — Você estava no dia do acidente no parque aquático?

— Sim Peeh, mano, imagina tudo caindo, gente gritando, explosões, sangue… Caralho… Eu tava passando o fim de semana na casa da minha tia quando a gente foi, eu, minha tia e minha prima. Tava tudo de boas, daí de repente…

— Você ouviu uma explosão. — Pedro falou, cabisbaixo.

— É sim, como você sabe? Não me diz que…

— Nós estávamos lá, Marllon. Eu e o Peeh. Aliás, vários reapers estavam lá…

— Tava tendo um encontro reaper e vocês nem me convidaram? Legal vocês. Ah, então já que estavam lá, vocês provavelmente devem ter escutado um cara gritando que tudo ia cair, explodir… Muita coincidência tudo isso. Inclusive eu tentei seguir o som da voz, e saí de onde estava. Depois, eu descobri que exatamente onde eu estava caiu um pedaço de um daqueles tobogãs.

— Marllon. Eu que gritei. — Pedro falou, sério. — Eu vi tudo explodir, de fato.

— Eita cara!

— E tem mais, dos treze que saíram conosco, só sobraram quatro. — João falou. — E se… O tobogã caiu em cima de onde você estava… Você vai morrer?

— João, cala a boca! Calma, calma. — Pedro falou. — Marllon, promete que vai escutar tudo o que disser e que só vai falar qualquer coisa no fim? Por favor. Eu tenho muita coisa pra te contar.

Can't be sleeping

Keep on waking

Without the woman next to me

Guilt is burning

Inside I'm hurting

This ain't a feeling I can keep

A batida musical tomava conta do espírito de Mylla, que estava deitada em sua cama, olhando o ventilador de teto do seu quarto girar. Adquirira este estranho ato de apenas ficar olhando o vazio, enquanto o player de música do seu celular pulava de música em música.

Pegou o celular, vendo se não tinha nenhuma mensagem no Whatsapp, e como confirmou, não havia nada. Começou a descer as conversas, até parar em uma pessoa. A foto do casal se beijando lembrou Mylla dos tempos em que ele estava vivo.

Ela se culpava pelo que havia acontecido, não sabia o porquê. Três meses já tinham se passado, e a garota continuava na mesma depressão de sempre. Não adiantara ir ao psicólogo, ela não conseguia tirar da mente que a culpa da morte do namorado fora dela. Afinal, ela que sugeriu irem para o motel, para começar.

Repentinamente, a letra da música abriu em outro aplicativo, fazendo Mylla já se assustar. Enquanto terríveis lágrimas já apareciam no canto dos olhos, ela leu a letra da música. Assustou-se.

Blame it on the night

Don't blame it on me

Don't blame it on me

So blame it on the night

Don't blame it on me

Don't blame it on me

Não me culpe, culpe a noite. Era isso que a música dizia. E de certa forma, Mylla sentiu que a música estava falando da noite no Motel California, mesmo tendo certeza que não. Observou toda a letra, e percebeu mais coisas estranhas. A música falava de um homem pedindo desculpas para uma mulher, mas na situação em que ela estava, a música teve um sentido totalmente diferente. Era ela, cantando para Lucas, e pedindo para que não a culpasse, que culpasse a noite.

Ainda assustada, sua mente foi até aquele momento em que o espelho desabou. Três amigos de Lucas tinham aparecido pouco antes de tudo acontecer, falando que ele era o próximo... Mylla nunca tinha visto a garota, mas os outros meninos ela conhecia de vista. Amigos de Lucas.

Reapers, assim como o namorado. Ligou todos os fatos, e Mylla percebeu que precisava encontrar com um deles, para finalmente se livrar de toda a sua culpa que a consumia por completo, e mantinha-a encarcerada nessa prisão chamada depressão.

Enquanto isso, a música era finalizada, mas Mylla fez questão de colocar a música no “repetir”. Levantou-se de sua cama, e foi até o seu guarda-roupa. Abriu e pegou uma coisa que tinha pego no dia da morte de Lucas, e não devolvera. O seu celular.

Destravou o celular rapidamente, e entrou no Whatsapp, que estava bloqueado, mas Mylla já tinha descoberto a senha. Preferiu não entrar nos grupos, para evitar decadência e tomar raiva pelo garoto, já que sabia que Lucas era tudo, menos santo.

Começou a descer até que viu uma foto que a lembrou de um dos garotos.

— Peeh. Vai esse mesmo.

Procurou o seu telefone, e rapidamente digitou os números na tela do celular, salvando nos seus contatos. Realmente precisava falar com ele.

Algumas horas depois.

— É exatamente isso que eu pensava. — Peeh falou, andando em círculos no quarto dele.

— Então, o Marllon estava na lista o tempo todo? — João, que estava sentado em uma cadeira giratória, perguntou, retoricamente. — Mas como falei, não vejo muito problema, já que a lista acabou.

— João, já disse que a lista ainda não acabou! Essa sua ideia não tem pé nem cabeça!

— Por que é tão difícil de acreditar? — João se levantou, alterando a voz. — Já falei, os filmes eram uma coisa totalmente diferente do que pensávamos. Aqui é vida real. Vida real. Talvez o nosso grande problema tenha sido seguir os filmes à risca.

— Dá pra parar com essa viadagem, por favor? — Alisson falou. — Eu ainda tô aqui se vocês não perceberam.

— Foi mal, Alisson. Mas enfim, eu já falei pro Marllon tomar cuidado, por que se ele não sofreu nada até agora, isso quer dizer que a vez dele ainda não chegou. Ele disse que vai ficar na casa da tia até amanhã, e amanhã perdemos contato. Ou isso pode ser a salvação dele, se considerarmos o que aconteceu com o Vine.

— Você acreditou naquela teoria dele?

— Acreditei. Só pode sim, temos que nos separar. A questão é: ficamos separados por tanto tempo, e mesmo assim o Sam morreu. Pode existir falhas…

— Mas você lembra que naquele caso, todo mundo se juntou, não é verdade? — Alisson opinou.

— Mas eu acho que é diferente… — João começou — Tipo, se afastar das pessoas não adianta nada. O que pode salvar é manter distância do cenário onde acontecerá a morte, entendeu? Olha, mais ou menos assim… Se você vai morrer atropelado por um trem, fique longe de trens. É a mesma lógica da Dinossaura, e talvez da grande maioria dos sobreviventes. Eles ficam perto do que vai matá-los, compreende?

Pedro meneou a cabeça, quando a campainha soou.

— Vou ver quem é. Já volto.

Alguns minutos depois, ele veio conversando com Keth e uma garota desconhecida para João e Alisson.

— Você quer dizer que o Lucas morreu por causa da morte? — Mylla falou, incrédula. — Igualzinho a aqueles filmes?

— É mais ou menos assim, Mylla. Tipo, eu nunca deveria ter tirado o Lucas do parque aquático, ele deveria morrer lá, assim como vários outros sobreviventes. — Pedro falou.

— E então, a morte viria para buscar a todos. Como está acontecendo. — João lançou um sorriso amarelado.

— Eu… Eu não consigo entender. Isso é bizarro, é estranho… Eu vim em buscar de respostas, mas agora tem mais perguntas.

— Mylla… Isso é normal. No começo é difícil de acreditar. Mas pode acreditar, que pelo que vi, isso é uma verdade inegável. — Alisson falou.

— No meu caso, eu senti isso na pele… — Keth completou.

Alisson lançou um olhar desconfiado à Kethellen que respondeu com um mesmo olhar. Era evidente que acontecia um atrito entre as duas ali. Visto isso, Pedro tentou continuar:

— Então, os sobreviventes morrem de acordo com a visão que eu tive. Mas só estão na lista quem morreu na visão, e não morreu na vida real. Qualquer outro tipo é descartável…

— E no meu caso? — Mylla perguntou, surpreendendo a todos. — Eu estava lá, não estava? Como você tem certeza de que eu não morri?

— Simplesmente, porque eu vi o momento em que você acabou sendo arrastada pela multidão. Não tinha como você morrer.

— Enfim. Então, pra que você chamou a gente aqui, Pedro? — Keth perguntou, objetiva.

— Eu achei melhor do que falar por telefone, mas é que precisamos realmente falar sobre algumas coisas, tipo o bebê da Keth… — Pedro caiu um pouco pra frente, piscou os olhos, e percebeu que estava tudo girando. Sua mente lhe pregava uma nova peça, e enquanto via tudo girar ao seu redor, sentiu o toque com o chão. Gritos ecoavam, mas Pedro já estava com a mente bem longe dali.

Estava novamente em um círculo. Mas dessa vez no centro. Ao redor dele, existiam várias pessoas de pé, olhando incisivamente para o universitário. Quando percebeu, eram exatamente os mortos pela lista.

— Você. — Uma voz ecoou pelo local, fazendo Peeh se virar na direção da voz, surpreendendo-se ao descobrir que era Guibson. — Você me deixou morrer, não foi, Pedro? Não foi?

— Guiby, eu…

— Normal. Ele sempre abandona a gente quando mais precisamos dele. — Dessa vez uma voz feminina falou, e Pedro se virou, identificando Victorya, que olhava com o rosto impassível de emoções.

— Vic, mais do que ninguém, você sabe que eu me esforcei e…

— Mentira. Se tivesse se esforçado estaria no ginásio naquele momento. — Márcio falou.

— Ou então não teria me abandonado à própria sorte. — Emerson falou.

— Não fui eu… — Pedro tentou falar, mas apenas o choro saía.

— Quem mais foi, senão você? — Breno perguntou. — O responsável por tudo.

— Pra perder a vida daquele jeito, seria melhor nem ter saído. — João Victor continuou.

— Foram apenas segundos, Pedro. Apenas segundos… E você falhou. — Lucas respondeu.

Todos começaram a falar ao mesmo tempo, e os rostos de cada um mudaram de expressão, adquirindo uma expressão demoníaca. Mas alguém ainda não tinha falado qualquer objeção, e Pedro conseguiu se virar frente a frente com essa pessoa. Samuel.

— Sam… Fala pra eles, eu não sou culpado. Sam, por favor!

— Desculpa, Pedro… Mas eu não posso. Por mais que o Felipe tenha me matado, você teve mais culpa. Eu não posso. — Samuel falou, com o mesmo rosto dos outros. Ele passou a mão sobre o rosto dele, que se derreteu sobre a sua mão, mostrando apenas a carne e os ossos, mostrando uma visão grotesca do garoto, que novamente falou, agora com uma voz funérea: — Eu. Não. Posso.

E então, Pedro fechou os olhos, enquanto escutava os oito repetirem as mesmas palavras, que entravam em sua mente como flechas, o atingindo em cheio.

Quando conseguiu abrir os olhos, percebeu diversos postes de iluminação ao seu redor, formando um caminho, uma verdadeira estrada. Começou a andar pela mesma, e então as luzes começaram a falhar, uma a uma, até contabilizar oito. Ao chegar abaixo de uma luz, viu uma mancha de sangue se fluindo pelo chão, como se estivesse com água, junto com outra, que permanecia intacta sobre o chão. Ouviu um barulho que entrou até as profundezas do seu ouvido e uma dor imensa. A luz falhou e apagou.

— Pedro? Você tá bem, cara? — João perguntou.

— Por quanto tempo…

— Cinco minutos. — Alisson respondeu. — Faz cinco minutos que você desabou no chão.

— Ahn… — Pedro piscou os olhos repetidas vezes. — Eu tive uma tontura passageira, só isso. Mas eu vi algo.

— O que? — Mylla perguntou, extremamente receosa, afinal tudo aquilo era novo para a garota, desde o esquema da morte até as premonições repentinas.

— Eu estava andando num caminho, parecia uma estrada. E quanto mais eu prosseguia, as luzes nos postes apagavam. Foram oito, assim como os mortos. Mas então, quando eu cheguei embaixo da nona luz, eu vi duas manchas de sangue esparramadas no chão. Daí ouvi um barulho muito forte, e — Nesse momento, Pedro levou a mão até a lateral do tórax. — Uma dor forte, muito forte. De repente, estava aqui.

— Isso quer dizer que ela vai agir, ou seja, eu realmente estava errado. Mais nenhuma pista tirando o sangue e a estrada? — João perguntou.

— Não. O que temos de fazer agora é ir atrás do Marllon. Ele pode ser o próximo, ou o Vine. Eu só espero que a teoria do Vinicius faça sentido, que ele realmente está precisando dela agora. Vou pegar as chaves do carro, quem vai comigo?

— Acho melhor todo mundo ir. — Keth falou.

— Pela primeira vez, eu concordo com ela. Melhor todo mundo ir mesmo. Mas e a Mylla?

— Mylla, se você quiser pode… — João começou, mas foi interrompido por Mylla.

— Eu vou também. Por mais que eu possa ver coisas que eu não queira, eu preciso ir. É uma coisa minha. Se acontecer a morte de fato, vou poder me livrar da culpa. Olha, não quero desejar a morte de ninguém, mas eu só preciso ver a pessoa ser pulada. Pelo menos, isso.

Logo depois, Pedro, Mylla e João já estavam no carro, mas Alisson e Keth ainda não tinham chegado. Keth dissera que ia ao banheiro, e depois viria.

Quando chegava próximo a escada da casa de Pedro, uma sombra apareceu do nada, ficando na sua frente. Alisson.

— O que foi? — Keth falou, impaciente.

— Olha, se você acha que me engana com essa sua cara, tá muito enganada, tá bom?

— Que cara? É a única que eu tenho.

— Olha. Que bonitinho, sabe dar coice nos outros.

— Dou mesmo, em quem eu quiser, na hora que eu quiser. E isso inclui você. — Keth sorriu.

— Você acha que me engana com essa barriga? Porque você só vem usando roupas largas desde então. É pra esconder alguma coisa, né?

— Não. Por que quando se fica grávida sua barriga incha, não sabia?

— Inchar eu sei, mas três meses, desse jeito. — Alisson riu. — Olha, é só pra comprovar, tá bom?

Kethellen não esperou o que aconteceria, por isso foi surpreendida quando Alisson a empurrou da escada. Eram apenas cinco degraus, mas Keth caiu com uma força absurda no chão. Alisson desceu as escadas logo atrás da vítima.

— É. Eu acho que é de verdade, mesmo. — Ela suspirou e continuou andando na direção do carro, enquanto Keth se levantava, bufando de raiva, prometendo a si mesma que aquele ato impensado de Alisson teria volta.

If you're lost and alone

Or you're sinking like a stone

Carry on

May your past be the sound

Of your feet upon the ground

Carry on

A música ressoava no carro que deslizava pelas ruas da cidade, lotado. No banco da frente, dirigindo, vinha Pedro, com os dois olhos na pista. Sabia que depois de Vinicius e Marllon era sua vez, então ficava atento a tudo ao seu redor, como se a morte o rondasse, famigerada por seu sangue.

No banco do carona, vinha Keth, que mantinha-se calada, passando a mão repetidas vezes sobre sua barriga. Felizmente, nada acontecera durante a queda, tirando o ódio que adquirira de Alisson.

Atrás vinham respectivamente, da esquerda pra direita: Mylla, Alisson e João, todos calados e imersos nos próprios pensamentos.

If you're lost and alone

Or you're sinking like a stone

Carry on

May your past be the sound

Of your feet upon the ground

Carry on

— Essa música é bem favorável pra nossa situação. — João falou mais pra si mesmo que para o resto, mas os outros acabaram escutando. — Que foi? Essa música é pura motivação pra gente. Não podemos desistir agora.

— Falou bonito, João. — Alisson falou, lançando um pequeno sorriso.

— Pela primeira vez na vida, sou obrigada a concordar com ela. — Keth respondeu.

— É. Exatamente disso que estamos precisando. — Pedro falou. — Motivação, porque as coisas estão indo de mal a pior…

— Peeh, sai dessa depressão. Você parece estranho desde que teve o tal do sonho… — Keth respondeu.

— Não foi nada não. Já falei. Enfim, como o Vini mesmo falava, nós vamos chutar o cu da morte, custe o que custar.

If you're lost and alone

Or you're sinking like a stone

Carry on

May your past be the sound

Of your feet upon the ground

Carry on

E o veículo continuava em sua caminhada. Nesse momento, a noite já chegava, mas o trânsito ainda era infernal, por conta da hora do rush.

O carro não conseguia andar muito rápido, por conta dos congestionamentos. Certo momento, o carro parou, e Pedro suspirou. Enquanto João lançava maldições para os motoristas que buzinavam, ele olhou para o lado esquerdo da pista.

Uma loja de instrumentos musicais, com um grande piano na frente.

No mesmo momento, um grupo de ruivas passou na frente da loja.

Pare com isso, Peeh. Você está ficando louco.

O carro andou mais um pouco, e Pedro viu no outro lado da rua dois grandes outdoors, que estavam iluminados.

Maze Runner e Motel California.

O MV… Ele era fã de Maze Runner... Meu Deus, vou ficar louco desse jeito.

— Pedro, você tem certeza de que está bem? Você tá tremendo. — Keth disse.

— Relaxa, já falei, Keth. Nada de mais, apenas apreensão. E um pouco de medo.

— Não precisa se preocupar, todos nós estamos aqui pra te ajudar. Nós vamos acabar com essa porra de lista logo.

— Assim espero. Mas…

— Mas o quê, Peeh? — João perguntou, entrando na conversa.

— Será que ninguém percebeu que até agora estamos andando em círculos? Não conseguimos nada até agora, não tô falando de salvamentos, mas sim de teorias pra acabar com essa droga. A do Vine pode até estar certa, mas não dá pra saber, entende? Não temos uma coisa concreta, tirando o bebê da Keth, que mesmo assim vai demorar seis meses pra nascer. Eu odeio isso. E o pior que isso vai virar um ciclo: depois da minha vez, alguém já pensou que a lista vai recomeçar? Então, vai ser um ciclo sem fim, um círculo eterno, até que todos nós morramos.

Ninguém teve mais nada a falar depois desse comentário de Pedro. O carro manteve-se em um silêncio absoluto, cada um digerindo as palavras que o universitário dissera.

O carro subiu em um viaduto que levaria até o outro lado da cidade, onde ficava a casa da tia de Marllon, quando Pedro freou bruscamente.

— O que aconteceu? — Alisson perguntou, tentando observar algo à frente dos carros, mas era impossível, por conta da largura do viaduto.

Pedro saiu do carro, mas também não conseguiu ver nada, sendo seguido por Mylla e João, que também deixaram o veículo.

Um barulho infernal infestou o ar. João olhou para Pedro e Mylla, automaticamente. Acima dele, as luzes piscaram, e o clássico vento gelado atingiu os três em cheio.

Pedro sentiu no seu íntimo algo se agitando e congelou de medo. Não era possível que aquela era a pista da sua morte, não era possível afinal… Vinicius e Marllon ainda não tinham morrido. Ou não. Poderiam já ter morrido, e ele não ficara sabendo. A cabeça dele se encheu de interrogações, mas estas eram abafadas pelo medo e pelo temor que sentia.

Podia sentir a dona morte atrás dele dizendo que a hora dele havia chegado.

Ouviu um barulho, alguns gritos advindos de alguns carros à frente, e alguém saiu correndo na direção de Peeh. Ele não conseguiu distinguir o vulto, já que as lâmpadas do poste começaram a apagar uma a uma. No mesmo momento, a chuva que já se anunciava começou lentamente, deixando os três encharcados.

— O que estão esperando, entrem logo! — Alisson gritou.

— O cenário… MERDA! — João falou. — Eu falei do cenário, não falei?

— O que vai…

A pergunta de Mylla foi respondida com a chegada de mais de um dos bandidos, e logo todos perceberam que se tratava de um arrastão. Chegaram com armas, e apontaram para a cabeça de Keth e Alisson, rendendo assim também Pedro, João e Mylla.

O bandido só não esperava que recebesse uma cotovelada de Peeh, que se virou numa velocidade fulminante, esperando atingir a cabeça dele em cheio, mas nesse momento, ele e Mylla tentavam fugir.

Três tiros saíram da arma do primeiro, que foram, como se fosse em câmera lenta, na direção de ambos, que agora corriam do lado da passagem de pedestres. Enquanto Pedro corria, ele sentiu algo respingando em seu rosto. Quando se virou, viu que Mylla havia parado, e da sua boca saía sangue. Mais de um bandido vinha correndo na direção da garota, e atirou, atingindo a cabeça da garota em cheio, fazendo uma explosão de sangue sair de sua cabeça. Ela não sentiu absolutamente nada, simplesmente estava ali em um momento, e no outro nada mais. Apenas um clarão e a escuridão.

O corpo de Mylla tombou para o lado, caindo do viaduto, e foi na direção do rio que passava abaixo do viaduto. Ao chocar-se contra a água, ele afundou um pouco, até retornar à superfície novamente. Totalmente estirado sobre a água.

Pedro levou as mãos à boca, chocado com a cena que acabara de ver. E percebera agora que a mancha que deslizava não era de Marllon, quanto menos de Vini. A mancha era de Mylla, e também entendeu como ouvira um outro tiro antes de atirar, no macabro sonho que tivera dias atrás.

Ele falhara mais uma vez, e dessa vez com alguém que nunca tivera nada a ver com a lista. No fundo, desconfiara que Mylla é quem estivesse na lista, a partir daquele comentário em sua casa, mas colocara em sua mente de que era Marllon quem estava.

Ela também teve o caminho desviado. Na morte do Lucas, ela estava lá. Sem a morte do Lucas, ela não deveria estar naquele local, estava em outro, e isso pode ter interferido em todo o processo de sua morte. — Pedro pensou, rapidamente. No mesmo momento, voltou à pista, tentando fugir dos meliantes, que haviam chegado no garoto. Mas não corria como MV, e como sua perna ainda estava se recuperando, parou para respirar, e eles finalmente alcançaram o garoto.

— Então foi você que deu a cotovelada? — Um deles perguntou, passando a mão pelo pescoço do garoto, o enforcando. — Muito engraçado da sua parte.

Peeh não deu tempo para respostas. Outra cotovelada atingiu o bandido em cheio, que se desorientou. O outro conseguiu dar um soco no rosto de Pedro, que tentou responder com outro soco, que atingiu a mandíbula do bandido. No canto dos olhos, Peeh pode ver uma figura se aproximando correndo, em meio aos carros. Quando tentou apertar os olhos para ver quem era, recebeu um soco no meio destes, fazendo sua cabeça girar por um instante. Piscou os olhos, e finalmente se encheu de ódio. Desferiu um grande golpe na cabeça do bandido que havia socado seus olhos, e ele caiu no chão, desmaiado.

Não teve tempo para respirar, até sentir algo penetrando sua carne pela frente. Mas não sentiu nenhuma dor, o estado de choque do garoto era maior que tudo, apesar de a bala ter atingido o seu estômago em cheio, produzindo uma estranha sensação. Ele não podia fazer absolutamente nada, e viu, como em câmera lenta, quando a segunda bala foi na direção do seu pulmão, perfurando-o. Aí sim, ele sentiu o ar sendo puxado de sua respiração, e percebeu que muito sangue vazava do seu peito. Ele ainda não tinha caído, mas tinha a visão totalmente turva. Repentinamente, uma figura apareceu na frente de Pedro, empurrando o garoto para o lado. Então, tudo aconteceu rápido demais. A figura recebeu diversos tiros na parte de trás do corpo, e um na cabeça, e então caiu, junto com Pedro.

O garoto caiu contra o chão, enquanto ouvia as sirenes de polícia, e a figura arquejando ao seu lado. Fechou os olhos, enquanto a chuva caía sobre ele, incessante. Se fosse para morrer, estava preparado. Em um momento, sentiu a dor excruciante, no outro nada mais.

Just listen to your friends

Trusted that fair look in their eyes

Just listen to your friends

They only care and hope you're alright

I can feel the draw

I can feel it pulling me back

It's pulling me back

It's pulling me

I can feel the draw

I can feel it pulling me back

It's pulling me back

It's pulling me

Chemim piscou os olhos, e percebeu que alguém olhava para ele. Marina.

Seu primeiro instinto foi colocar a mão sobre onde tinha queimado seu rosto com a cera fervente, percebendo que existia um grande curativo sobre ele, confirmando que o machucado tivera sido feio.

— Ela vai voltar, se você está perguntando isso. Sua pele vai voltar, mas você não será mais como antes. Nada mais será como antes, Felipe. — Marina falou, com lágrimas nos olhos. Mas eram lágrimas de ódio, lágrimas de pena.

— O que aconteceu?

— Eu te pergunto. Pensa um pouco no que você fez. Bem que mereceu estar assim. — Ela falou, mostrando todo o seu nojo ao antigo namorado.

— Mocinha, por favor, saia. — A enfermeira falou, entrando na área da UTI do hospital onde ele estava. O mesmo hospital onde Marina tinha ficado internada.

Imediatamente, Marina obedeceu a senhora, que entrou no bloco onde Felipe estava. Ele perguntou novamente.

— O que aconteceu?

— Hum… Digamos que você foi encontrado a um passo da morte no museu desabado, junto com outros dois corpos. O zelador e outro garoto, se não me engano. Enfim, você ficou com 50% do corpo queimado por causa do incêndio. Cheio de cicatrizes também e…

A partir daquele momento, ele não escutou mais nada. Apenas estava imerso nos seus pensamentos. Ele tinha sobrevivido, mas a que custo? Agora ele seria uma pessoa totalmente deformada? E agora, pelo que percebera, Marina não gostava mais dele.

Apenas fechou os olhos, esperando que tudo passasse o mais rápido possível. E caiu no sono novamente.

Dois dias depois.

Pedro abriu os olhos, de repente. Acabara de ter mais um dos terríveis sonhos que o assolavam. Mas ao contrário do que poderia pensar, estava deitado sobre uma cama na UTI de um hospital, mas que rapidamente percebeu que não era o hospital onde Marina ficara.

Keth estava observando o garoto solenemente, e sorriu quando ele acordou.

— Pedro!

Ele tentou sair da cama, então finalmente percebeu os tubos no seu nariz, e a dor que passava por sua barriga.

— Graças a Deus, você acordou!

Pedro gaguejou por um instante até finalmente falar:

— Ke… Ke… Keth, foi verdadeiro então?

— Sim. Mylla está morta mesmo — Keth deu uma pausa. — E você realmente levou aqueles tiros dos caras.

— Mas como eu fiquei vivo? Eu senti... Algo me puxando para a morte, e de repente, os tiros pararam. Er… Eu não lembro o que…

— Depois que você levou os tiros… — Keth deu uma pausa, e Pedro percebeu que ela estava chorando. — Alguém te ajudou, alguém levou os tiros no seu lugar.

— Quem é esse alguém, Keth? — Pedro perguntou, tentando arrancar o máximo de informações da morena. Mas ele já sabia quem era.

— Ele apareceu no nosso carro, falou tudo o que tinha acontecido, logo depois que vocês saíram. A teoria tinha falhado. Ele foi atrás de você e… Levou os tiros.

— Quem, Keth?

— O Vinicius. Ele levou todos os tiros, e foram bem na coluna dele. Afetaram todo o sistema nervoso. Ele tá vivo mas… — Keth desatou a chorar.

— Mas o que?

— Ele entrou em um coma profundo, e não tem previsão pra sair. Ninguém sabe quando ele vai acordar novamente, se acordar. Tá respirando por ajuda de aparelhos, e o pior é que, se ele acordar… Ele estará paraplégico, perdeu todos os movimentos da perna.

Pedro não conseguiu articular nenhuma palavra, apenas ficou olhando Kethellen chorar placidamente na sua frente. Vinicius havia se sacrificado pra salvar Pedro, levando todos os tiros que ele era pra ter levado, e agora, estava paraplégico e em coma profundo, e poderia continuar assim pelo resto da vida. Ele sentiu algo escorrendo por seus olhos, e deixou que escorresse.

Eram lágrimas.


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Notas finais do capítulo

Por MV:

"Queria primeiramente agradecer a todos que acompanharam a Chronicles, e continuam acompanhando. Foi muito bom escrever essa fic, vocês não tem nem noção, apesar do meu personagem ter morrido cedo demais u.u

Mas enfim, agradeço a todos os leitores e também aos meus amigos Reapers, que estão envolvidos nesse projeto. Amo vocês



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