Premonição Chronicles escrita por PW, VinnieCamargo, MV, SamHBS, Felipe Chemim


Capítulo 1
Capítulo 01: O Sensato e O Realista


Notas iniciais do capítulo

POV João Victor escrito pelo mesmo. POV Vinicius escrito por 483ViniKaulitz.

Espero que goste e aproveitem!



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POV JOÃO VICTOR

Domingo – 9h30

Puf!

Esse é o som do gato que, pulando sobre mim, acorda-me instantaneamente, me fazendo abrir os olhos e admirar os raios de luz que invadem pela janela, e deitam sobre a cama,radiantes como aquela tia gordinha que te abraça e diz “Bom dia!” na maior alegria.

Hoje é um dia esperado. Ô se é!

Finalmente terei um tempo a sós com a Bia... Só nós dois,sem ninguém para encher o saco. Ah,hoje vai ser um baita de um dia.

Finalmente,após aquele momento Sócrates pela manhã, me levanto, faço a rotina diária e em 1 hora estou pronto pro que der e vier.

Me olho no espelho e vejo aquele rapaz de 19 anos, 1 metro e 80cm, branquelo (ir nesse tal de parque ia ajudar nisso), com o trabalho da academia a mostra e,afinal,um rapaz bem cuidado, por dentro e por fora.

Sou muito prezado pela minha lealdade e altruísmo, sempre colocando os outros na frente (tudo dentro do possível,claro). Também sou uma pessoa bem direta, sem enrolação,meu papo é reto,doa a quem doer! Mas ainda assim, prezo pelos meus amigos, que me aguentam, por as vezes ser tão teimoso!

É bom sair da rotina,viver estudando e calculando não é fácil. Num dia calorento desse, dar um bom mergulho é tudo que eu preciso.

Já são 10h36 quando decido ir.

No caminho, do meu simples Jaguar F-Typelounge vermelho, vejo duas garotas com roupas do filme “Em chamas”. Ah, tributos em todo lugar.

Chego ao parque em questão de meia hora, agora é só esperar pela Bia e por um dia que espero que seja... quente!

POV VINICIUS

Buzino pelo que parece ser a décima vez.

– Calma Vini.

Sem perder a atenção no volante, tateio até encontrar as pernas de Keth. Faço uma massagem calma, ela coloca a própria mão acima da minha. Olho pra ela, um beijo rápido. Ela sorri.

– Sabe que –

VRRRRRRRROOOOM!

Eu e Keth viramos para frente. O Jaguar vermelho que está a nossa frente ronca o motor pelo que parece ser a vigésima vez.

– Hoje é o dia. – Ela diz rindo.

Fecho os olhos. Sorrio. Concordo enquanto ela continua rindo.

– Hoje é o dia, - eu completo.

As últimas semanas tem demorado pra passar. Meu emprego, que já considerei algo fácil por constar de tarefas em que nunca tive muito trabalho em desenvolver, agora estão me matando. Somando a isso, minha faculdade. Engenharia Civil. Quem diria? O cara mais dinâmico da família entrando em exatas. Exatamente, onde é que eu dei o passo errado?

– Algum problema? – Keth me encara, séria. Percebo que ela me viu agarrando o volante com força.

– Não. Só tô pensando numas coisas.

Ela concorda. Ela sabe o que eu tô pensando. Liga o rádio. Ela pula todas as minhas músicas até alcançar a pasta de músicas eletrônicas. Ela começa uma dancinha e me balança junto. Eu caio na risada.

Não sei o que teria sido de mim sem Keth. Desequilibrado, desestruturado, errado. Quem disse que todo mundo precisa de um alicerce, está correto.

Conheci Keth numa fuga da faculdade, no primeiro semestre. Aqueles pubs careiros, meio alternativos, que gostam de parecer muito mais sofisticados do que realmente são e que existem em qualquer esquina de faculdade. Eu tinha tido um dia péssimo. Ela tinha tido um dia ótimo.

Ela estava com as amigas, também tinha fugido da faculdade. Extrovertida, brincalhona, humor ao nível máximo em todos os instantes possíveis. Rebelde, ainda sim fofa. Ela nunca para de falar. Keth é exatamente o contrário de mim, e curiosamente, talvez tenha sido esse fato em especial que roubou meu coração.

O corpo belo, movimentos delicados e precisos. Morena, cabelos lisos e compridos. Lábios carnudos, olhos escuros, do tipo que carregam um mar de incertezas. Mulher de fases.

Eu me sentei do lado dela por acaso. Eu falei uma piada ácida e idiota pro bar tender. Ele me ignorou. Ela se virou e sorriu. Ela ouviu meus problemas. Naquela primeira noite, ela foi tudo que eu precisava.

E hoje, ela é tudo que corre em minhas veias.

Inclusive, foi essa safada que me arrastou para o Blue River Adventure Park. Eu me pergunto o motivo do nome gringo numa cidade onde o Português sequer é corretamente falado, mas beleza. Keth me contou que costumava vir com os pais para esse parque aquático. Eu nunca fui ao local, será minha primeira vez. Dizem que o local é enorme e incrivelmente foda, então, mesmo que eu não queira admitir, estou curioso.

Suor escorrega pelo meu rosto. O dia está perfeito pra tombar embaixo de umas cachoeiras artificiais e exóticas. Não sei bem ao certo em qual momento do passeio devo admitir para Keth que não sei nadar, mas por enquanto estou bem sossegado. Não acredito que ela vá me empurrar ou algo do tipo...

– Eu vou brincar de te afogar – ela ri.

Considero a situação por um instante.

– Vai ser louco.

– Ah vai. – Ela solta uma risada cabulosa, bem similar as risadas que ela emite durante TPM’s ou discussões. Eu suspiro.

– Obrigado por isso tudo. – Eu digo. Eu nunca saberei como agradecer o suficiente minhas namoradas por me aguentarem, esse é um fato.

– Por nada. – Ela sorri. – E qual é, não estou fazendo favor pra você. Eu vou me divertir também.

– Ok, - eu começo a rir novamente.

Ela dá um tapa de leve no meu braço e arranca meu óculos de sol. Ele escapa da mão dela e voa pela janela. Solto uma exclamação confusa enquanto observo pelo retrovisor o mesmo ser esmagado pelas rodas do meu Gol 2009.

Suspiro mais uma vez.

– Opa.

– Se isso não foi um sinal, - eu brinco - então eu não sei o que é um sinal.

Ela vira os olhos. Gruda na minha barba e puxa carinhosamente. Ela acha que é carinhoso, mas na verdade dói. Mas no fundo é carinhoso.

– Pode deixar que eu te compro outro.

Ela odeia que mexam no cabelo dela, então, ainda sem olhar pra ela, enfio a mão na franja dela e bagunço tudo. Com vontade.

Ela me bate novamente, começa a gritar.

Ah eu amo essa mulher.

XXX

Envergonhado, saio dos vestiários vestindo o que aparenta ser a pior roupa de banho que o parque aquático viu no último século. Estou usando um short de dormir. Com estampa de patos estrábicos. Keth acha muito engraçado. Me esqueci que viria para o parque aquático, então Keth encontrou em sua bolsa um dos meus shorts de dormir. Na teoria é melhor do que cuecas.

Ela ri demais.

Desengonçado, ando escorregando, sem camisa e ainda tapando minhas partes baixas com o short de patinhos, me direciono até Keth. Me apoio nela para não cair e dou mais uma olhada no parque.

Lotado de gente seminua. Os brinquedos são gigantes e coloridos, cheios de altas curvas. As piscinas são gigantes. Alguns dos canos lembram aquelas montanhas-russas cheias de espirais e loops. Por mais que eu esteja numa situação embaraçosa, estou feliz. Estou feliz por estar com ela. Beijo-a mais uma vez.

– Puta que pariu. Esse lugar é enorme.

– Eu disse que você ia gostar, - ela sorri. Ela usa um biquíni vermelho que valoriza todas as partes de seu corpo que já são perfeitas. Meio enciumado, abraço-a de novo. Quero escondê-la. Muitas ameaças por aqui.

– Vou te mostrar uma coisa. – Ela me pega pela mão e me arrasta em direção a um tobogã enorme. Escorregando, luto para continuar de pé enquanto a sigo.

Próximo a um tobogã, uma instalação enorme do tamanho de uma casa, com inúmeros pilares, encanamentos, pilastras e cabos emite um ruído sonoro de energia elétrica e exala uma fumaça fedida enquanto provavelmente bombeia água para o parque inteiro. Encaro aquela instalação esquisita, meus instintos de engenheiro civil entrando em pânico.

– Esse lugar é perigoso – eu digo, mais pra mim mesmo do que pra ela.

– Relaxa, - ela me puxa mais uma vez. – Vem.

– Tenho que contar uma coisa, - eu paro mais uma vez.

Ela se vira para mim, agora impaciente, o sol refletido no óculos de sol, o olhar curioso.

– Que foi agora Vini?

– Eu não sei nadar.

Ela parece séria por um instante.

– Desse tamanho você não sabe nadar?

– Não. – Estou oficialmente envergonhado.

Ela considera aquilo por um instante. Cai na risada mais uma vez.

– Então alguém vai ter que aprender a nadar primeiro, antes de irmos para o tobogã hardcore. – Ela conclui mais para si mesma. Ela sequer vai me ouvir. Ela acredita que em quinze minutos vai me ensinar o que eu não aprendi em vinte anos.

Keth me pega pela mão outra vez e está me arrastando de volta para as piscinas repletas de crianças pentelhas. Vai ser um dia louco, eu concluo, o coração já nervoso só de pensar no “tobogã hardcore”.

XXX

– Você vai ser a criança mais barbuda e tatuada da piscina, - Keth diz sorrindo, a mão grudada na minha como apoio, enquanto desce lentamente as escadinhas da piscina de cinquenta centímetros de profundidade.

Noto que as crianças – e seus pais – observam um pouco curiosos enquanto nós dois, o casal de namorados, vinte anos nas costas de cada um, se aproximam do território deles. Não é uma cena comum.

– Alá o Wolverine – um pivete zoiúdo aponta pra mim e mostra para os amiguinhos. Cinco mini cabeças olham para mim. Tapo minhas partes baixas mais uma vez. – Wolverine não sabe nem nadar. – E então o moleque desaparece no fundo da piscina, uma habilidade assustadora para nado. Os amiguinhos do zoíudo dão risada, e fazem o mesmo gesto. Onde essa pivetada aprende a nadar assim tão bem?

Aceno da maneira mais gentil possível.

– Vem! – Keth me chama, os dois braços abertos, a água na altura dos joelhos. – Eu te seguro.

Ok, eu penso. Aqui vamos nós.

Keth olha um pouco confusa para além de mim. Eu me viro, observo uma confusão aumentando num dos quiosques.

Me viro de volta pra Keth. Ela me encara de volta, franze a testa.

– Algum idiota bêbado, - ela conclui virando os olhos e batendo na água. – Vem logo Vini.

Eu dou de ombros. Ok, então, finalmente, aqui vamos nós.

– VAI TER UM ACIDENTE!

Minha perna praticamente trava no meio do início do salto.

Ah merda, eu conheço essa frase.

XXX

Keth vira a cabeça numa expressão de: não dá né meu caro, mas eu a chamo outra vez. Dez anos como fã de Premonição te ensina muita coisa.

– Vem logo, - eu digo. – Nunca vi isso acontecer, não vou perder isso não.

Ela coloca as mãos na cintura. Um gesto sexy.

– Por favor? Desce aqui!

Eu balanço a cabeça. Fico de cócoras na beira da piscina e estendo a mão.

– Vem.

Ela suspira com ódio. Finalmente, estica os braços. Ajudo-a a sair da piscina.

– Cinco minutos! – Ela ordena.

– Tá bom – eu digo rindo.

Meus passos em direção a confusão são os mais lentos o possível. Chego de leve, como quem não quer nada, quero apenas observar.

– Você! – o cara que estava agitando a confusão aponta para mim subitamente. – Vinicius!

Todos me olham. Eu processo aquele instante curioso na minha mente. Aquele instante em que alguém desconhecido sabe o teu nome e te diz que você irá morrer.

– Você vai morrer! Eu te vi na minha visão!

Eu lanço um olhar confuso para todo mundo. Dou uma risada.

– É pegadinha?

Refaço meus passos naquele dia. Seria uma pegadinha? Lanço um olhar safado para Keth, tentando encontrar alguma risadinha no rosto dela.

Então, tento me concentrar onde é que eu já vi aquele rosto que, desesperado, suando pra caramba, aponta para mim.

Alto. Esguio. Alto. Cabeça oval.

Pedro Oliveira. Pedro Lanza. Ou como quiser chamar.

– É aquele cara do Premonição da Depressão, - Keth me cutuca, repentinamente interessada. – Engraçado ele né.

Engraçado ele né.

– É uma pegadinha? – eu pergunto.

Mas sei que não é uma pegadinha. Eu nem sou grande coisa para receber um telegrama legal do domingo legal.

– Eu juro que não é, - ele diz rapidamente. – Puta que pariu, eu juro que não é. Não tô entendendo.

Ele abre caminho na multidão e anda em direção a mim. Eu encaro.

Entre as pessoas que o seguem, começo a reconhecer dúzias de rostos familiares.

João R.C.

João Victor.

Márcio Vinícius.

Encaro aquela coincidência macabra por um instante.

– Encontro de Reapers? RPG? Cês são foda hein. – Eu solto. Descrente. – Nem pra me avisar seus troxa.

– Eu não tô entendendo, - Peeh diz mais uma vez. – Eu vi um acidente acontecendo. Eu vi o negócio explodindo, tudo caindo, sangue por todo lugar.

Eu encaro. Coço o queixo.

– Eu poderia ter trazido a filmadora.

– PUTA QUE PARIU – ele me dá um empurrão. Eu finalmente escorrego e caio de bunda no chão. A coisa tá fora de controle. Eita. Minha mente começa a girar. Mindblowing.

– QUE PORRA É ESSA? – eu grito de repente.

– EU NÃO TÔ MENTINDO CARALHO.

Keth me ajuda a levantar. Sou paz e amor.

– Desculpa, - ele diz rapidamente – eu não quis te derrubar. Tô falando sério, eu vi um acidente acontecendo na minha cabeça!

– Não derrube meu namorado – Keth diz indignada e empurra Pedro.

– Desculpa desculpa.

Ele está descontrolado. Ele sai andando. Ele volta. Todos os Reapers começam a falar alguma coisa.

– Eu tô falando sério – ele diz olhando no meu olho. Ele volta a chorar.

Ele sai andando em direção a saída. Um grupo de pessoas, o de Reapers, especificamente, o segue. As pessoas olham curiosas. Ele passa gritando para elas saírem da piscina. Todos o encaram, julgando.

Se ele está jogando, eu quero participar.

Eu o sigo. Keth não reclama dessa vez.

XXX

Encontro Pedro na saída do estacionamento. Ele está recostado contra uma das grades, bufando e hiperventilando. Um grupo de pessoas o cerca. Ele está confuso. Típico.

– Cara, que que foi isso? – eu pergunto. Subitamente esqueço que estou usando apenas um short de dormir de patinhos estrábicos, e que estou usando isso perto de pessoas que um dia me consideraram relevante.

– Eu comecei a perceber aqueles sinais estranhos dos filmes – ele me diz. – Eu juro que vi um acidente acontecendo.

– Você tá bêbado? – eu pergunto tentando soar o mais calmo possível. Eu de fato estou calmo.

– Não tô cara. E também, não sei porque isso tá acontecendo comigo!

– Você nem se esforçou pra tirar outras pessoas de lá – Márcio concluiu.

É. Aquilo era verdade.

Pedro o encarou.

– Pois eu não sei o que tá acontecendo. Pode ser alguma coisa a ver com os filmes... Não sei se vai acontecer...

– Você toma algum tarja preta? Algum medicamento? Pressão alta? Fumou?

– Não e não – ele conclui.

Ele parece sério.

Eu não entendo essas coisas. Eu não sei lidar com pessoas.

Os Reapers voltam a tagarelar mais uma vez entre si mesmos e Pedro. Eu observo aquilo e me afasto com Keth.

No mesmo instante, um estampido nos atinge e eu caio no chão de susto. Outro estampido, e de longe, observo faíscas chovendo sobre a metade dos brinquedos do parque aquático. Um poste de metal desaba em um dos brinquedos, outra explosão ensurdecedora. E os gritos. Ah, os gritos. Keth grita também.

Eu não sei o que dizer. Eu não sei o que pensar. Isso tudo é tão real. No meu ouvido fica apenas um PIIIIII agudo, esquisito. Errado.

Congelado, bunda no chão, a única coisa que consigo fazer é me virar para Pedro.

E ele me encara de volta. Muito confuso. Chorando.

Deu merda – eu concluo.


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Notas finais do capítulo

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