Vozes ao Pôr do Sol escrita por Bacon


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Yay, eu estou num RP de Karakuri Burst no Facebook e fizeram um desafio de quem escreve a melhor história para o Leon e conseguir o personagem. Esta é a história que eu escrevi.
Peço que me desculpem se algum pedaço estiver mal configurado, é que, quando eu colei do Word, todos os espaços para parágrafo estavam desfeitos e as partes em itálico não estavam mais destacadas, e tive que fazer tudo de novo. Posso ter perdido alguma coisa, sinto muito ;-;

Boa leitura! ♥



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/525909/chapter/1

Leon puxou as pernas da moça para que elas se enlaçassem ao redor de sua cintura.

Os dois se beijavam com intensidade, passando as mãos pelos corpos um do outro sem pudor algum. Ela, apenas com a roupa de baixo; ele, ainda de calças. Sentada no colo do louro, a garota de cabelos castanhos ― que Leon deveria admitir não saber o nome ― soltava pequenos suspiros e palavras sussurradas, sensualmente mexendo os quadris em cima dele, provocando-o. Leon, então, com os braços ao redor do corpo da moça para segurá-la, levantou-se e jogou-a sobre a mesa, por cima de alguns papéis inúteis naquele momento. Apesar de a morena ter batido as costas com um pouco de força, nem ela, nem Leon se importaram, e não fizeram com que a parada para recuperar o fôlego fosse significativamente longa. Logo já se beijavam novamente, dessa vez com ainda mais voracidade.

Foi a garota puxar a mão de Leon, pousando-a sobre um de seus seios, que a porta se abriu com um estrondo e uma silhueta magra e razoavelmente alta apareceu.

― Chefe! ― chamou Klaus, o braço direito do Feldmarschall da Polícia Nacional Alemã. Ao perceber o que acontecia no cômodo, o rapaz deu um passo para trás e encostou a porta. ― D-Desculpe! ― ele pigarreou antes de continuar: ― Temos problemas, senhor!

Leon rosnou e se jogou de volta na cadeira, enquanto a moça fazia de tudo para esconder seu corpo seminu da visão de Klaus. Respirando fundo, Leon tentou acalmar a si mesmo.

Inspirou. Klaus era um idiota que nunca aprenderia a bater na porta.

Expirou. Ele não queria ter que mandar aquela garota embora. Leon estava adorando seu tempinho juntos.

Inspirou. Problemas. A polícia estava com problemas. Provavelmente não seria nada demais.

Expirou. Leon estava cercado de idiotas.

Ele não iria se acalmar. Não, não iria.

Impulsionando seu corpo para cima, Leon se levantou e coçou a barba rala, suspirando. Andou até o armário e escolheu uma nova camisa para usar. Nenhuma palavra foi dita naquele curto período de tempo. A moça de cabelos castanhos havia se sentado na cadeira, frustrada e envergonhada, cobrindo-se com algumas roupas que havia recolhido do chão.

Depois de ter passado seu paletó azul marinho por sobre os ombros, o louro recolheu as roupas que restavam e, sem se importar se eram dele ou dela, jogou-as todas sobre a mesa.

― Tome. Você pode ficar por aqui pelo tempo que quiser e, uh... ― ele esfregou os olhos, tentando se concentrar. ― Ah, tanto faz. Tem um refeitório no andar de baixo, virando à esquerda da escada e depois à direita. Pede alguma coisa pro Adam e sei lá.

Sem dizer mais nada, Leon saiu do quarto, batendo a porta atrás de si.

Klaus o esperava no corredor, inquieto. O rapaz de vinte e um anos era um bom oficial ― isso é, quando não estava invadindo quartos alheios ―, Leon tinha que admitir. Sempre se esforçando para manter o alto nível de seu trabalho, era de rápido raciocínio e sempre tomava decisões firmes. Mesmo assim, devido à sua pouca idade e relativa inexperiência, não ocupava um cargo muito alto. O fato de ser o braço direito de Leon não fazia dele superior a certos oficiais. Mas Klaus não via problema nenhum nisso, pois adorava seu trabalho, mesmo que fosse visivelmente intimidado por Leon.

E não era de se surpreender tal reação.

Leon era um homem alto, superficialmente musculoso, no auge de seus trinta e dois anos. Seus cabelos louros em conjuntos de frios, calculistas olhos azuis davam-lhe a aparência de um típico cidadão alemão. E ele era, exceto pelo “típico”. Leon era o renomado Feldmarschall da Polícia Nacional Alemã, como já podia ter-se inferido a partir dos acontecimentos anteriores. Para os desinformados, Feldmarschall, “marechal-de-campo”, é a designação para o mais alto posto hierárquico do Exército Alemão, responsável pelo comando de todo o Exército, basicamente. Apesar de jovem para o cargo, seu trabalho não dava a desejar. Foram poucas, quase nulas, as operações fracassadas em comando de Leon, e as bem-sucedidas contavam com um número ínfimo de baixas.

O louro também era bastante prestativo para interrogatórios. Sempre rodeado por uma aura sombria e postura que indicava superioridade, poderia facilmente amedrontar qualquer um com um simples franzir de sobrancelhas. Sua voz firme e controlada, ainda, ajudava-o a manter sua imponência.

Oh, e é claro que, como todo protagonista de histórias como esta, Leon era ridiculamente atraente.

Não que isso fosse uma desvantagem, muito pelo contrário. Devido à sua aparência jovial, que se assemelhava à de mais um rico ignorante, era frequentemente subestimado pelos criminosos que caçava. Não é necessário dizer que tal arrogância era um erro fatal para os fora-da-lei.

Bem, parece que desviamo-nos demasiadamente do foco da história. Deixemos as descrições para depois. Creio que os leitores estejam fartos de tanto puxa-saquismo do destino, se permitem-me dizer.

De qualquer forma, lá estavam Leon e Klaus no corredor. Leon encarava o mais baixo impacientemente, à espera de explicações. Klaus, por outro lado, jogava os olhos castanhos de um lado a outro, hesitante para começar a falar. Quando pareceu que ele continuaria dessa maneira pela eternidade, Leon desistiu de esperar. Seu tom, todavia, estava significativamente mais ríspido que o de habitual.

― Desembucha, Klaus. Não é como se você nunca tivesse ouvido falar de sexo na vida.

― Bem... É... ― Klaus coçou os cabelos louro-escuros, ainda sem saber como organizar as palavras.

― Você está surdo, Klaus? ― Leon pressionou a cabeça do rapaz para baixo, e o menor teve de forçar uma mesura para que não machucasse o pescoço. ― Aprenda a bater na porta para evitar este tipo de situação desagradável. Agora fale antes que eu perca a paciência e te castre.

Assustado, Klaus endireitou sua postura, aproveitando que a pressão que fazia a mão de Leon sobre sua cabeça havia diminuído consideravelmente. Engoliu em seco e começou a falar, sentindo-se perturbado com a imagem que lhe viera à mente. Bom. Leon não era de fazer ameaças vazias.

― Pegaram o Albert, senhor. E seu grupo.

― Como assim “pegaram o Albert e o grupo”? ― cuspiu.

― Os Männer aus der Hölle, senhor. Parece que descobriram a rota da patrulha e armaram uma emboscada. ― Klaus baixou a cabeça. ― Sete mortos, dois cativos.

― Tch. Dê-me um cigarro.

Klaus tirou um maço de cigarros do bolso e acendeu um isqueiro.

― Aqui.

― Obrigado. ― Leon pegou um cigarro e o acendeu. Deu umas tragadas, deixando com que a fumaça saísse lentamente por suas narinas. Isso o ajudava a pensar.

Todo cidadão alemão já devia ter ouvido falar dos Männer aus der Hölle, os Homens do Inferno, pelo menos uma vez na vida. Eram a maior organização criminosa do país, sempre presentes em incidentes envolvendo o tráfico de drogas, armas e pessoas, sem contar os inúmeros sequestros e assassinatos envolvendo o grupo. Muitos consideravam-nos uma máfia, mas não eram oficialmente classificados como tal. Isso devia-se ao fato de os Männer aus der Hölle não serem tão organizados como uma família mafiosa e nunca se importarem em agir ou não por detrás dos panos.

Leon exalou a fumaça dos pulmões e tirou o cigarro da boca.

― Onde está Linus?

― Na sala das armas, senhor.

― Venha comigo.

Linus era o melhor estrategista que a polícia nacional tinha o orgulho de ter como empregado. Tinha um corpo invejavelmente forte e saudável, apesar de fazer melhor uso de seu intelecto que qualquer outra coisa. Os cabelos de um tom louro queimado, frequentemente confundido com castanho, e os olhos azuis escuro davam-lhe um ar de serenidade e faziam com que Linus passasse a impressão sempre estar pensando. Apesar de que Linus realmente estava sempre pensando.

Quando chegaram à sala das armas, Leon e Klaus depararam-se com a figura de Linus sentada à mesa de ébano, com o tronco jogado sobre um mapa da Alemanha, a cabeça aninhada entre os braços.

― Linus! ― exclamou Leon, correndo até o companheiro. Klaus já havia disparado porta afora, à procura de alguém do departamento médico. ― Linus, está me ouvindo?

O estrategista grunhiu e levantou a cabeça. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, indicando que ele estivera chorando há pouco. Em sua mão, uma folha de papel amarelada e amassada.

― Desculpe-me, senhor. ― O grandalhão fungou e entregou a Leon o papel. ― Tome, foi encontrado no local do ataque. É deles.

Leon não precisava se perguntar a quem Linus se referia. Com um suspiro, o Feldmarschall pegou o papel e o abriu, examinando-o rapidamente à procura de algum descuido entre a sujeira e marcas de dedos que poderia levar a uma pista. Como não encontrou nada, restou-lhe apenas ler o que dizia a folha encardida:

“Pegamos seu capitãozinho e o ajudante dele. O resto vocês já devem ter achado. Queremos seu líder no local do ataque daqui a três dias, ao pôr do sol. Se mais alguém estiver com ele, morrem todos. E não pensem em nos enganar. Sabemos quem é Leon Goldschmidt.”

Só depois de ler foi que Leon percebeu as manchas de sangue seco nas bordas do papel.

― Jurah estava naquela patrulha ― comentou Linus, taciturno, com a voz embargada.

Jurah era o irmão mais velho dois anos de Linus. Apesar de apenas serem vistos juntos na hora do jantar no quartel general, era impossível não notar como os irmãos se divertiam quando na companhia um do outro, sempre rindo alto e dividindo a história de seus dias. Mas Jurah não era Albert, o sargento que liderava a patrulha, nem Markus, seu primeiro-cabo.

Leon guardou a folha de papel no bolso e pousou uma mão consoladora sobre o ombro de Linus.

― Sinto muito.

― Obrigado, senhor.

Leon não tinha mais o que dizer, então decidiu deixar o estrategista sozinho em seu luto.

Assim que fechou a porta atrás de si, chegaram Klaus e um médico. Leon explicou a situação, dispensando o médico, e sugeriu que deixassem Linus sozinho por um tempo. Sem mais demora, o médico seguiu seu caminho de volta para a área hospitalar e Klaus voltou a acompanhar seu superior, em direção a seu escritório ― que, com sorte, já teria sido deixado pela moça de mais cedo.

Assim como o esperado, o lugar estava vazio, apesar de ainda um pouco bagunçado. Folhas de papel estavam espalhadas por todo o canto e a camisa que Leon estava usando anteriormente estava jogada ao lado da cadeira. Mesmo assim, nenhum dos dois homens ligou para isso, como se já nem se lembrassem mais do episódio acontecido ali.

Leon sentou-se em sua cadeira de carvalho e colocou os pés sobre a mesa bagunçada, enquanto Klaus sentou-se numa outra cadeira do outro lado da mesa, de frente para seu chefe.

― Você chegou a ver o bilhete? ― perguntou Leon.

― Não, senhor.

Leon tirou o papel amassado do bolso e o jogou para Klaus, que começou a ler.

― Os caras tão me querendo no local do crime no domingo. Acham que vão conseguir me matar fácil assim.

― O que o senhor planeja?

― Devolver a emboscada, talvez? ― disse Leon, com um suspiro. ― Não estou certo ainda. Precisamos deixar oficiais disfarçados pelo local, preparados para agir. O problema é Albert e Markus. Só um tolo teria a esperança de recuperá-los só com o tal encontro. ― O louro se recostou na cadeira, pensativo. Estendeu a mão para Klaus, que não precisou de nenhuma outra ordem para entregar o maço de cigarros para o chefe. Leon tirou um da caixa e colocou-o entre os dentes, procurando seu isqueiro pelos bolsos. ― Temos que encontrar a base mais próxima dos der Hölle e torcer para que os dois estejam lá.

Klaus assentiu.

― Mas como faremos isso?

― Não sei ― após ter finalmente encontrado o isqueiro, Leon acendeu seu cigarro e, depois de algumas tragadas, continuou: ― Queria conversar com Linus sobre isso, mas ele não está em condições.

Ambos caíram em silêncio lúgubre, permitindo-se lamentar a morte de Jurah, seu amigo e companheiro, assim como a morte dos outros soldados, com os quais não mantinham tanto contato.

― B-Bem... ― gaguejou Klaus, com um suspiro. ― Podemos juntar Linus, Lucia e Heinrich mais tarde. São os melhores estrategistas que temos.

― Sim, sim. ― respirou fundo, olhando para o relógio. ― Ainda são quatro horas...? Peça para que vão para a sala de reuniões às seis e meia, sem faltas.

― Sim, senhor.

― Pode ir.

Klaus se levantou e, com um aceno de cabeça, se dirigiu à porta.

― Ah, Klaus. Onde ocorreu o ataque?

― Na Avenida Gotze, em frente a um beco, a dois quarteirões daqui. Nossos homens ainda estão lá, examinando o local à procura de pistas.

― Certo, obrigado.

― O senhor vai até lá?

― Sim. ― e acrescentou rapidamente: ― Desacompanhado.

O rapaz bufou, descontente, e saiu do escritório.

***

Seria mais fácil guiar-se pela multidão e não pelo nome das ruas. Foi o que Leon fez.

Mesmo algumas horas depois do incidente, ainda havia dezenas de cidadãos curiosos cercando o local do crime. Era quase cômico ver a dificuldade que os policiais tinham em conter todas aquelas pessoas que tentavam se aproximar cada vez mais da cena.

Como não queria chamar a atenção ao puxar seu distintivo e ordenar para que abrissem caminho para ele, Leon teve de espremer-se entre as pessoas, empurrando aquelas que se recusavam a sair de sua frente. Quando chegou aos policiais, porém, teve de mostrar os distintivos, senão não o deixariam passar.

Quando conseguiu se livrar de toda a confusão, Leon passou a mão pelos cabelos para arrumá-los e respirou fundo. Foi até o oficial mais próximo e perguntou onde exatamente estavam os corpos. Depois de receber todas as indicações que precisava, Leon pôde finalmente iniciar sua coleta de informações.

Os corpos dos sete cabos assassinados haviam sido arrastados para dentro do beco, que por algum tempo pareceu tê-los escondido. Uma trilha amarronzada indicava o “caminho”. Depois, os cadáveres foram empilhados e, pelo o que Leon conseguiu entender dos relatos dos oficiais que viram a cena, as entranhas dos mortos formavam um círculo ao redor da pilha. A nota que o Feldmarschall trazia no bolso fora encontrada entre os órgãos, de frente para a entrada do beco.

Leon sentiu náuseas só de imaginar a cena. Aquilo era brutal demais até mesmo para os Männer aus der Hölle. Aqueles caras eram cruéis, mas nunca antes haviam cometido atrocidades como aquela, e não seria da noite pro dia que mudariam seus padrões.

Havia alguma coisa errada.

― Ei, olhem aqui! ― gritou um dos médicos que examinava os cadáveres (que obviamente já haviam sido retirados de seu “monte” e jaziam deitados ao lado um do outro para exames). Seus colegas correram até ele e Leon se aproximou. Para ter sido encontrada após horas de observação do local, a tal descoberta deveria estar muito bem escondida. ― Vejam isto daqui ― o doutor estendeu a mão para a luz, revelando um colar de contas. ― Estava... ― o homem engoliu em seco. ― Estava no esôfago dele. ― apontou para um dos corpos.

Leon observou, com um egoísta alívio no peito, que não era o corpo de Jurah.

― Deixe-me ver ― ordenou o Feldmarschall, abrindo caminho até o médico. Este ofereceu luvas para seu superior e, depois de Leon tê-las colocado, entregou-lhe o colar. Era feito de barbante e de sete contas: três pequenas, uma maior no centro, e mais outras três menores. Estava todo coberto de sangue já seco, que formava uma grossa camada amarronzada sobre as peças. Leon percebeu que, na maior conta, estava impressa uma letra: β. ― Não faz sentindo... ― murmurou consigo mesmo.

― O quê, senhor? ― perguntou o médico.

― Esta letra. Os Männer aus der Hölle nunca usaram colares deste tipo, muito menos tal símbolo.

― Está sugerindo que...

― Estou. ― Num tom de voz mais firme e alto, Leon ordenou: ― Cerquem a área. Evacuem os moradores. Ninguém adentra este quarteirão sem meu consentimento. ― Virou-se novamente para o médico. ― Preciso levar isto comigo.

O doutor assentiu e pôs o colar num compartimento próprio para sua locomoção. Leon agradeceu, foi até onde os cavalos dos policiais estavam e pegou um “emprestado”. Queria voltar ao quartel general o mais rápido o possível.

Quando lá chegou, entretanto, não passava das cinco. Leon procurou Klaus por todo o canto, até que o encontrou vagando por um corredor.

― Convoque uma reunião de emergência ― disparou o maior.

― O quê...?

― Agora!

Klaus assentiu e, de cabeça baixa, saiu à procura dos membros mais importantes da Polícia Militar. Leon, indo na direção contrária, caminhou até a sala de reuniões e sentou-se em sua cadeira de direito. Sentia-se cada vez mais apreensivo à medida que o tempo passava. Sua quase certeza de que estavam lidando com um inimigo desconhecido perturbava-o de maneira indescritível.

Acendeu um cigarro para tentar se acalmar, o que não ajudou muito. Seu calcanhar, que batia no chão a todo o tempo, era um sinal de sua inquietação.

A primeira a chegar foi Lucia, uma estrategista. Depois vieram Günter e Hannes, general e coronel-general. Juntos, Linus e Heinrich, os outros dois estrategistas. Por último, Manfred e Konrad, tenente-general e major-general, e Klaus, que posicionou-se em frente à porta para guardá-la.

Assim que todos se sentaram, Leon tirou o cigarro dos lábios e foi direto ao ponto:

― Não estamos lidando com os Männer aus der Hölle.

Todos os presentes pareceram surpresos.

― Mas eles são os únicos que... ― começou Konrad.

― Não, não são. ― Leon mostrou a caixa que continha o colar de contas e passou-a para Hannes, à sua direita. Este, por sua vez, abriu a caixa, observou seu interior e passou-a para a próxima pessoa. ― O que vocês verão aí dentro é um dos objetos coletados da cena do crime. Creio que todos vocês estejam cientes de que nunca antes encontráramos um colar de qualquer espécie entre os membros da Männer aus der Hölle, muito menos objetos com um β marcado.

― Pode ser apenas...

― Não é coincidência, Sra. Lucia. O objeto foi encontrado no esôfago de um dos cadáveres, o que me faz supor que ele tenha sido forçado a engoli-lo quando ainda vivo. Além disso, os corpos foram encontrados empilhados, cercados por entranhas, junto desta nota, como vocês já devem saber. ― Leon pôs o bilhete no centro da mesa. ― Nossos falecidos companheiros foram assassinados de forma cruel demais até mesmo para os padrões dos Männer aus der Hölle, que, não obstante, não são de fazer contato direto conosco. Estou errado?

Ninguém respondeu.

Linus, que até agora estivera quieto, ouvindo, pôs em palavras, num tom sombrio, o que todos os outros tinham em mente:

― Quer dizer que estamos lidando com uma nova organização criminosa?

― Temo dizer que sim.

A tensão na sala era quase palpável. Assim como Leon, os outros oito membros presentes na sala ― Klaus incluso ― não queriam acreditar que tinham um novo inimigo, inegavelmente desconhecido, para enfrentar; mas, no fundo, algo lhes dizia que era verdade. Leon devolveu o cigarro a seus lábios, esperando que seus subordinados dissessem algo.

― Senhor, permita-me perguntar ― chamou Hannes. ― Como o senhor planeja encontrar-se com os criminosos no próximo domingo?

Os outros seis concordaram, preocupados.

― Admito ainda não ter nada em mente, General Hannes.

― O senhor não deixará Albert e Markus à mercê desses “outros criminosos”, certo? Comparecerá ao encontro?

― É mais do que claro que comparecerei, Heinrich. ― rosnou Leon. Não conseguia acreditar que pensavam que ele abandonaria os companheiros para salvar a própria pele. ― Teremos que deixar alguns soldados disfarçados pelo local e descobrir onde se localiza a base deste novo grupo ao final do encontro. Isso é, se não me matarem antes. ― Leon se recostou na cadeira, tragando o cigarro com um sorriso irônico no rosto. Ele tinha plena consciência de que alguns ali presentes adorariam vê-lo morto, e mirou cada rosto na sala, seus olhos frios desejosos de observar a reação de cada um deles.

― O senhor comparecer em pessoa é extremamente arriscado, senhor ― exclamou Günter. ― Deveríamos mandar um substituto.

― Eles parecem saber quem é nosso Feldmarschall ― objetou Linus. ― Também seria arriscado.

― Ameaças vazias! ― contrapôs Günter.

... E assim, os cinco oficiais e três estrategistas ficaram discutindo e bolando planos pelas próximas quatro horas.
***

Eram cinco horas da tarde de domingo, o dia marcado para o encontro entre Leon e os criminosos.

Como era verão, o sol se punha apenas lá pelas nove horas da noite. Leon, Klaus, Linus e Hannes estavam na sala das armas, dando os toques finais ao plano.

No final das contas, Leon iria, sim, ele mesmo para o encontro, algumas horas depois. Obviamente, o Feldmarschall estaria armado com sua pistola de confiança e, para emergências, levaria um punhal escondido entre suas roupas. Klaus iria acompanha-lo até a entrada do quarteirão, e Leon teoricamente continuaria o caminho sozinho. O louro já havia dado a ordem e o quarteirão estava novamente sendo habitado, assim não haveria problemas em disfarçar soldados como simples moradores da área para que ficassem atentos a qualquer sinal de perigo. O encontro não havia sido anunciado publicamente, então, não haveria por que os criminosos levantarem suspeitas dos “civis” que perambulavam pelas ruas.

Bem, este era a parte superficial do plano. Era óbvio que noventa por cento da responsabilidade estava nos ombros de Leon. Não que normalmente já não estivesse.

― Certo ― suspirou o Feldmarschall. ― Creio que não tenhamos mais nada a acrescentar? ― olhou para os outros três e acenou com a cabeça. ― Pois bem. ― se virou para o coronel-general Hannes. ― Os soldados já estão por lá?

― Sim, senhor.

― Ótimo. Vou para meu escritório descansar. Podem me chamar, qualquer coisa. ― se virou e andou em direção a seu escritório, com Klaus em seu encalço.

Quando chegaram, Leon despencou em sua cadeira, jogando a cabeça para trás com um alto suspiro. Klaus não se sentou como de costume e ficou em pé em frente à mesa.

― Você está bem, senhor?

― Sim ― resmungou Leon ―, só cansado de tentar descobrir quem são os idiotas da vez. E eu quero aquela garota de volta. ― Klaus pareceu desconfortável com o último comentário. ― Que é? ― Leon levantou a cabeça. ― Quer que eu arranje uma pra você também, é, rapaz?

― N-Não, senhor!

Klaus riu, constrangido, e Leon esboçou um sorriso.

― Pena. Já está na hora de você virar homem, moleque.

― Mas eu...!

Leon riu.

― Estou brincando.

E continuaram a jogar conversa fora por mais algumas horas.

Quando o sol já estava começando a descer no céu, lá pelas oito e meia, Leon se levantou de sua cadeira e acenou para Klaus, que assentiu. Encontraram Hannes e Linus esperando-os na porta do QG.

― Tudo preparado? ― perguntou Leon. Linus assentiu e os dois bateram as mãos, num cumprimento nada profissional de dois bons amigos. ― Valeu.

Cumprimentou Hannes com um aperto de mão e saiu; como sempre, com Klaus logo atrás.

Andaram os dois em silêncio, Leon apreciando o ar frio de fim de tarde e Klaus imaginando uma forma de socorrer seu chefe da maneira mais eficaz possível, se necessário. Quando chegaram na entrada do quarteirão desejado, pararam. Os dois se viraram, encarando-se, e Leon lhe deu um soco amistoso no ombro.

― Não se esqueça de bater na porta.

― Sim, senhor.

“Não se esquecer de bater na porta” era um código que os dois haviam planejado para o caso de estarem sendo observados pelo inimigo. Significava que Klaus deveria voltar ao QG e avisar que Leon já estava sozinho a caminho do beco. Depois disso, não haviam combinado o que Klaus deveria fazer.

Leon suspirou. Era agora ou nunca. Mesmo que nunca fosse admitir em voz alta, ele estava um pouco nervoso. Se fossem os Männer aus der Hölle, já saberia como lidar com eles ou, pelo menos, seu estilo de briga. Mas dessa vez, não. Dessa vez, Leon não sabia de nada. Absolutamente nada.

Quando chegou à entrada do beco, o sol já estava mais baixo, tingindo as paredes das construções com sua luz avermelhada. Mas era um avermelhado aconchegante, não amedrontador, e Leon conseguiu se acalmar um pouco.

Esperou por alguns minutos, mas ninguém apareceu. Era possível que houvesse alguma pessoa escondida mais para o fundo do beco, onde a luz do sol não alcançava, deixando-o numa escuridão quase total, mas Leon não era idiota o suficiente para adentrar o breu. Ao contrário, apoiou-se num muro, acendeu um cigarro e esperou, deliciando-se com os raios solares que batiam em seu rosto.

― Isso fará mal para seus pulmões ― comentou uma voz fina e fraca de velho, vinda do nada.

O coração de Leon saltou um batimento com a voz repentina, mas ele não deixou que o susto transparecesse em sua expressão, que continuava serena. Apoiou discretamente a mão no coldre de sua arma e disse:

― Meus pulmões são o que menos me importam agora.

A voz riu. Sua risada era seca e desagradável de se escutar.

― Certamente. Deixe-me perguntar, Sr. Leon Goldschmidt, por que acha que capturamos seu sargento?

― Apareça para que eu possa te ver, aí conversaremos. ― ordenou o louro, dando uma longa tragada no cigarro.

Assim como o ordenado, saiu das sombras a figura de uma criança esquelética, vestindo um saco de pano sobre a cabeça. Dois buracos haviam sido recortados para os olhos e, onde deveria ser a boca, havia uma longa linha curvada, num sorriso que se tornava macabro devido à tinta escorrida.

Leon franziu o cenho ao ver a criatura, mas não disse nada. Estava esperando que a “coisa” fizesse o primeiro movimento.

― Aqui estou, Sr. Feldmarschall. Agora responda minha pergunta, por favor. ― A voz agora havia mudado e encaixar-se-ia perfeitamente na boca de uma criança, Leon percebeu.

Provavelmente havia mais pessoas escondidas na escuridão do beco.

― O que é você?

― Creio que eu tenha feito a pergunta primeiro, senhor.

― Creio que você não esteja na posição de me fazer perguntas, criança ― rebateu Leon com falsa arrogância. Era um movimento arriscado, mas ele deveria tentar tomar o controle do diálogo.

― Ora, pois estou, sim. Você está aqui por causa de seus homens, certo? Ou quer vê-los mortos como os outros?

A voz mudara novamente, agora a de uma mulher. A criança continuava no mesmo lugar, imóvel, com seus pequenos olhos fixos em Leon.

O sol ia se pondo.

― Vocês sequestraram meus oficiais para tentar chamar a minha atenção, ou não teriam me chamado aqui.

― Certo! E por que matamos o resto?

― Sua vez de responder minha pergunta.

― Eu sou apenas um informante ― disse novamente a voz do velho. A criança continuou parada. ― Nada demais. Agora você.

Leon grunhiu, impaciente.

O sol já estava no fim de sua luz.

― O que você... O que vocês querem, exatamente?

― Que o senhor responda minha pergunta.

Leon jogou o cigarro no chão, irritado, e se desencostou da parede, se aproximando do garoto para parecer mais alto e intimidador.

― Escute aqui, moleque, é melhor parar com estes seus joguinhos. Onde estão Albert e Markus?

O menino apenas levantou a cabeça e continuou a fitar Leon, sem dizer palavra. E eles permaneceram nas mesmas posições, como se brincassem de jogo do sério. O único som que Leon conseguia ouvir, além de sua própria respiração e a do garoto, era o vento e o arrastar de algumas folhas no chão. Mesmo as conversas de outras pessoas estavam muito distantes e abafadas para que pudessem ser adicionadas na lista.

E o sol se pôs.

― Ufa, já era hora ― suspirou o garoto, com o que Leon pensou que fosse sua própria voz. ― Sabe por que te queremos? ― O menino pôs-se na ponta dos pés, ficando perigosamente próximo do rosto de Leon. Agora, sua voz era grossa e firme de um homem, deixando-o assustador: ― Porque precisamos de pessoas fortes para tornarmo-nos fortes também.

Antes que Leon pudesse pensar em perguntar “O quê?”, outra criança apareceu por detrás do menino e atingiu Leon entre as costelas com um pedaço de madeira.

O Feldmarschall caiu de joelhos, tossindo, abraçando o próprio corpo com um dos braços. Com a mão livre, alcançou sua arma no coldre e atirou para cima, sinalizando para os soldados disfarçados que estava com problemas. Entretanto, logo depois de ter puxado o gatilho, a criança atingiu sua mão com a tábua de madeira, e Leon não precisou olhá-la para ver que estava quebrada.

Levantando a cabeça para olhar para frente, viu que mais várias figuras com o rosto escondido pelo saco de pano de sorriso macabro apareciam da escuridão do beco: um senhor, uma mulher, um homem, e mais crianças. Os donos das vozes.

Leon tentou apontar a arma com a mão esquerda para eles, mas foi facilmente desarmado pelo homem grandalhão, que pisou em seu pulso e o forçou a soltar a arma. Depois, enquanto o grandalhão pegava a pistola, o garoto da tábua de madeira passou a bater inúmeras vezes na cabeça de Leon, deixando-o com apenas um fio de consciência. O louro quase não sentiu quando o homem com saco na cabeça puxou-o pela gola de sua camisa e começou a arrastar Leon para a escuridão do beco.

Com o que ainda lhe restava de consciência, Leon estava extremamente irado. Não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Ele fora facilmente enganado por aquele garoto, por aquelas vozes, e caiu na conversa fiada, fazendo com que o ambiente ficasse escuro o suficiente para que a outra criança se esgueirasse pelo beco e o desorientasse. E, agora, estava desarmado, com sua mão útil quebrada. Aquilo só poderia ser um pesadelo.

― Chefe! ― A voz de Klaus o despertou.

O rapaz chegara correndo até a entrada do beco, seguido de outros três soldados ― com mais a caminho, rezou Leon. Klaus atirou no garoto com a placa de madeira, que gritou e caiu, com o ombro sangrando.

Só então Leon se lembrou do punhal que trazia escondido.

Mas não iria usá-lo. Não agora. Com sua mão esquerda e cabeça girando, tudo o que conseguiria fazer seria entregar mais uma arma para aqueles doidos encapuzados. Se tentasse livrar-se do punhal, provavelmente dá-lo-ia para aqueles loucos da mesma forma. Então, deixou com que a arma continuasse em seu lugar, rezando para que não o revistassem depois.

― Estão com minha pistola ― murmurou Leon para os soldados que lutavam e atiravam contras as crianças e homens que apareciam em cada vez mais quantidade. Em sua cabeça, ele gritava. ― Estão armados...

Mas, mesmo que ele realmente estivesse sendo ouvido, seria tarde demais.

Leon ouviu o estrondo da arma sendo disparada logo acima de sua cabeça e a figura de um dos policiais despencou no chão.

Onde estavam os outros soldados?!

― Klaus! ― conseguiu gritar, ignorando a terrível pulsação em sua cabeça. ― Klaus, saia!

Mas o rapaz pareceu não escutá-lo.

Leon não pôde ver ou ouvir mais nada depois disso. Outro garoto ― ou garota? Ele não tinha como afirmar ― assumira a tábua de madeira e voltou a espancar a cabeça de Leon. O último vislumbre que ele teve da realidade, antes de desmaiar, fora a figura de Klaus encurralada contra uma parede por três homens de saco na cabeça.

Nenhum outro soldado apareceu.

***

Leon acordou com sua cabeça parecendo que iria explodir.

Estava deitado no chão frio de alguma coisa que parecia ser o porão de uma casa. O lugar tinha um odor fétido que queimava suas narinas. Havia uma única lâmpada ligada acima de seu corpo e ele pôde fazer um reconhecimento básico do local: muitas caixas, ratos passando entre elas e agulhas. Centenas de agulhas espalhadas pelo chão.

Quando conseguiu finalmente se sentar, entretanto, foi surpreendido por dois pares de mãos, cada um segurando-lhe por um dos braços.

― Acordou ― cantarolou a voz de criança.

Um garoto ― o mesmo de antes? ― apareceu em seu campo de visão, ainda com um saco sobre a cabeça. Seu sorriso, entretanto, estava pintado de forma diferente desta vez: pelo o que Leon conseguiu assimilar, tinha uma grande língua para fora e vários dentes serrilhados. Leon engoliu em seco.

― O que foi? Está pálido.

O fato de a voz ser de criança era ainda mais perturbador.

Olhando rapidamente ao seu redor, Leon encontrou dois corpos jogados no canto do porão, vestindo roupas do Exército. Albert e Markus, provavelmente.

Leon estava começando a sentir falta de ar.

― Buhn ― chamou a criança, com o tom de voz sério e firme agora. O grandalhão apareceu das sombras. ― Comece ― ordenou, e entregou o punhal de Leon para o homem.

Droga, foi a única coisa que o louro conseguiu pensar.

Rapidamente, um dos homens que segurava Leon pôs um saco sobre sua cabeça e amarraram a boca ao redor de seu pescoço, dificultando ainda mais sua respiração. Havia dois buracos para os olhos. Através dele, Leon podia ver que o grandalhão se aproximava. O punhal em mãos.

Ainda imobilizando-o, os homens que o prendiam rasgaram a camisa do louro, deixando seu peito exposto.

― Sabe por que precisamos de homens fortes? ― perguntou a criança, com a voz infantil inacreditavelmente poderosa. ― Porque é a partir da força que obtemos poder.

Antes que Leon conseguisse recuperar as forças para conseguir se debater, sentiu o punhal perfurando sua carne.

A região de seu estômago pareceu explodir de dor. Leon gritou e tentou se soltar. Porém, isso apenas fez com que a dor se alastrasse por todo o seu corpo. O grandalhão passava lentamente o punhal pelo corpo de Leon, que sentia cada centímetro de sua pele ser rasgada, dilacerada.

― Sabe de onde vem a força, Leon? ― exclamou a criança por cima dos gritos do louro. ― Sabe?

Leon conseguia sentir o sangue quente escorrendo por seu corpo, por seu umbigo, por suas coxas. Não apenas isso, onde quer que a lâmina ou o sangue tocassem, era como se a região explodisse em chamas. Uivando de dor, Leon voltou a se mexer, num misto de contorsão e resistência. Entretanto, suas pernas e braços pareciam feitos de lama fria. O homen continuava a lentamente, lentamente deslizar o punhal sobre o corpo do louro. Num curto momento de lucidez, Leon imaginou com o que a lâmina estaria envenenada.

― Sabe?! ― gritou a criança, sua voz ribombando na escuridão.

O homem afundou ainda mais o punhal em seu abdômen, perfurando um órgão. Leon não resistiu.

***

As luzes brancas queimavam suas retinas. Quando o mundo finalmente tomou forma, Leon percebeu que estava num hospital. Tentou se sentar, mas dores excruciantes na região de seu estômago o impediram.

― Vejo que está acordado, Sr. Goldschmidt. ― disse alguém à sua direita. Leon virou a cabeça para ver quem era.

O presidente da Alemanha.

― S-Senhor Presidente... ― gaguejou, a voz extremamente fraca.

― Não fale, deixe-me explicar a situação para o senhor. O grupo que enfrentou parece se auto intitular Gesichter, os Rostos. Descobrimos centenas de túneis sob a cidade, os quais eles usavam para se locomover em segredo e praticar magia negra. Foi assim que surgiram tantos atacantes no dia em que o senhor foi capturado, e assim que eles inutilizaram nossas tropas.

A menção do ataque fez com que Leon se lembrasse de uma coisa.

― Klaus...!

O presidente baixou os olhos.

― Foi um rapaz honrado que lutou até o fim. Sinto muito.

Leon afundou a cabeça nos travesseiros, sentindo como se agora tivessem lhe dado uma facada no peito

Klaus. Seu melhor amigo. Leon nunca mais poderia conversar com ele, ou provoca-lo sobre coisas banais como mulheres. Nunca mais ficaria irritado pela negligência do garoto em anunciar sua chegada.

Leon falhara em sua missão.

E o preço de seus erros fora absurdamente alto.

― Bem ― o presidente pigarreou ―, encontramos uma das bases dos Gesichter, na qual o senhor estava sendo mantido. Creio que já deva saber sobre Albert e Markus.

Leon assentiu.

― Pois bem. ― O presidente inclinou-se em sua cadeira, aproximando-se um pouco de Leon, e respirou fundo. ― O senhor... tem consciência do que fizeram a você?

Imagens de seus últimos minutos consciente voltaram à mente do louro: o grandalhão com o punhal, a criança de máscara perturbadora, a sensação do sangue escorrendo por sua pele. As dores no abdômen de Leon pareceram se intensificar.

― O que quer dizer, senhor?

― Aqueles bárbaros... ― o presidente grunhiu, desconfortável. ― Eles removeram seu baço, apêndice e um pedaço do fígado, Sr. Goldschmidt.

Leon sentiu náuseas. Que diabos...?

― O senhor será enviado ao Japão para repousar. Será encarregado do comando dos Manji, a polícia local de uma cidade chamada Karakuri. Acredito que o senhor entenda o idioma japonês, de acordo com seu currículo.

Leon precisou de alguns segundos para processar todas as informações.

― Está dizendo que estou sendo rebaixado...?

― Parece-nos que o senhor não está qualificado para o cargo de Feldmarschall. O Japão, contudo, será um bom jeito de continuar com sua carreira.

― Ora, não me venha com essa... ― rosnou Leon, sem se importar com o fato de estar se dirigindo ao presidente. ― Eu sou o melhor que vocês já tiveram até hoje! Não podem simplesmente me rebaixar assim!

O presidente se levantou.

― Até a próxima oportunidade, Sr. Goldschmidt. Procure por Len Kagamine quando chegar à base dos Manji ― e saiu do quarto.

Leon permaneceu imóvel sobre sua cama. Não tinha mais seu amigo. Não tinha mais seus órgãos. Não tinha mais sua reputação e credibilidade.

E, em breve, estaria se dirigindo à terra do maldito sol, que, para ele, não seria nascente, e, sim, poente.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí, gostaram? ♥
Eu não curti muito o final, mas foi o único jeito que consegui encerrar D: E também foi pra se encaixar na história do RP HDFCNFDJCJDNS

Enfim, espero que tenham gostado e, por favor, mandem reviews :3
É isso, bye~