POV Hannah Shaw

Observo meu reflexo no espelho pendurado na parede. Vejo uma menina que parece ser muito frágil. Odeio que pensem que sou frágil, vulnerável. eu não sou.

Minha pele é pálida demais, os cabelos loiros ajudam a parecer mais ainda, sem corte, eles caem sobre minha cintura. Prendo-os em um coque e alguns fios escapam, eu não ligo.

Visto a roupa mais confortável que encontro, botas e saio.

– Já vai tarde! - ouço a voz de minha mãe gritar quando bato a porta.

Ignoro-a.

Visto o capuz de meu casaco e abaixo a cabeça para me proteger do forte vento e das pequenas gotículas que caem. Sigo todo o caminho assim.

No caminho até a cerca que divide o Distrito 11 da floresta, percebo detalhes que antes nunca notara: grãos, que devem ter caído dos caminhões, espalhados pelo chão, flores caídas das árvores, lixo jogado no chão...

Chego ao limite do Distrito e vejo que Johnny, meu melhor amigo desde que nasci, anda não chegou. Ouço a cerca elétrica estalar e jogo uma folha. Ela estala ainda mais. Droga, está ligada. Ela estragou há um ano. Concertaram justo no dia em que mais preciso me libertar deste lugar.

Ouço passos sobre as folhas secas. Sei que é Johnny. Viro-me e o abraço com toda a força, me sinto reconfortada em seus braços fortes. Sou levantada no ar.

– Porque esse amor todo, baixinha? - ele pergunta assim que me solta.

Ele me apelidou assim, mesmo sabendo que odeio. Dou um soco em seu braço.

– Não é amor! - faço careta - é apenas um abraço, não se anime!

Outro estalo de eletricidade.

– Essa droga foi concertada, J! - este é o apelido que eu dei para ele - Temos que passar de outra maneira, não por entre os fios! Vamos escalar a árvore e pular para o outro lado!

– Beleza! Vou primeiro, depois te ajudo do outro lado! - ele responde.

– Eu não sou uma garotinha retardada, não preciso da sua ajuda! - retruco já escalando e me preparando para saltar.

Salto e caio em cima de meu braço, ele dói, mas não demonstro fraqueza, fico quieta. Sou seguida por Johnny.

– E aí, vamos para a o meio do mato ou para o lago? - ele questiona.

– Lago! - respondo já começando a descer o morro em direção ao lugar das águas.

Chego. Retido e camiseta larga, ficando só de top, e pulo. Johnny fica parado, rindo.

– Vai ficar só olhando ou vai vir? - rio.

Ele faz o mesmo que eu. Nadamos por um longo tempo. Mergulhamos. Nos encontramos em baixo da água e emergimos com os narizes colados. Paramos de respirar por alguns segundos.

POV Johnny Grey

Nossos lábios vão se aproximando e nos beijamos intensamente. Sempre quis fazer isso e sei que ela também.

– Desculpe! - ela diz.

– Nós dois queríamos, não se desculpe! - digo.

Voltamos a nos beijar.

De longe ouço o primeiro sinal soar. Rimos e concordamos que temos que nos preparar.

Em nossas mochilas estão mudas de roupa e tudo que é necessário. Ela se esconde entre as árvores e volta linda, com seu vestido laranja. Não parece a Hannah de sempre. Gosto de como se veste normalmente, mas gosto mais de como está hoje, pois eu dei ele para ela em seu último aniversário.

Trocamos de lugar e eu visto minha camisa e calça, tudo preto.

– Vamos atirar um pouco? - pergunta ela pegando algumas pequenas facas, que normalmente usamos.

– Não vejo motivo para não! - respondo.

Ouvimos o segundo sinal e saímos em disparada, subindo o morro. Pulamos a cerca e os longos cabelos loiros de Hannah voam e são bagunçados pelo vento.

POV Hannah Shaw

Esperamos na fila por mais de uma hora e depois disso nos colocamos em nossos lugares.

Prendo o cabelo novamente e desamasso o vestido com as mãos.

A cerimônia passa e a representante chama os dois tributos de uma vez.

– Seus Tributos são Hannah Shaw e... - Sou eu, que droga, ela abre o outro papel - Johnny Grey!

Como assim? Ferrou!