Alizée et Chermont escrita por Velvet


Capítulo 9
Neuf


Notas iniciais do capítulo

Quem é vivo, sempre aparece, minhas pessoas maravilhosas! Sabe, eu fiquei feliz com o rumo que o capítulo tomou e as ideias que eu tive, tô em um bom mood! Quero agradecer muitíssimo todo mundo que tá lendo e comentando, vocês são as jujubas da minha vida, de verdade, parece que toda vez que eu tô triste aparece alguém maravilhoso pra me mandar um comentário encorajador.
Não deixem de ler as notas finais, plis.



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Olhei para o vestido preto e caro, para os finíssimos saltos e para as joias e pensei sobre o que eu estava fazendo. Fingindo ser outra pessoa: rica, elegante e comprometida com Chermont. Não que eu quisesse nada daquilo, me deprimia ver que eu estava mentindo por algum capricho ou situação familiar complicada demais, mas eu havia me comprometido com aquilo por impulso, e agora tinha que ir até o fim.

– O táxi chegou – Chermont bateu na porta do meu quarto com os nós dos dedos.

– Estou indo – peguei a clutch em cima da cama e lancei um último olhar triste para o espelho enquanto saia.

O semblante preocupado de Chermont refletia o meu, mas ele não poupou um comentário sobre minha aparência:

– Você está muito bonita.

– E você aprendeu o que é uma escova, Rimbaud– um sorriso lambeu nossos lábios e ele me deu o braço para sairmos. Mas a verdade é que eu nunca o vira tão bem arrumado, o terno bem talhado parecia valorizar tudo que havia de melhor nele e o cabelo bem penteado não competia com os traços do rosto, seus olhos pareciam brilhar, verdes, verdes.

Ele continuava mergulhado naquela aura de romântico do século XIX, pronto para se embebedar com vinho e escrever um poema desiludido.

Frustrada, surrupiei olhares, que era só o que eu podia fazer. Eu só poderia estar ficando doida, eu ainda tinha o sabor de Vougan na minha boca e uma mensagem ainda não aberta minha caixa de entrada me lembrando do que eu havia feito ontem.

Nós pegamos o elevador lento e antigo do prédio, mas eu preferiria ter arriscado um pescoço quebrado tentando descer a escada de salto, ao tempo prodigiosamente longo que o elevador levou para chegar ao térreo.

O esperado nos esperava: o taxista mal-humorado arrancou antes mesmo que todas as partes do meu corpo estivessem dentro do carro. Chermont devia ter dado ao motorista ou a cooperativa o endereço previamente, porque o homem mal-humorado sabia exatamente aonde ir, ao contrário de mim. O carro seguia o fluxo até a ponte e serpenteou em direção a Champs-Elysées, mas no sentido contrário ao do arco, subindo a avenida.

– Minha avó se chamam Amelie e Pierre – Chermont rompeu o silêncio, me tirando os olhos da avenida.

– O quê? – Perguntei, minimamente irritada com minha própria confusão.

– Os nomes dos meus avós: Amelie e Pierre. É de se esperar que você saiba o nome deles, como minha namorada, mas você só deve chama-los de Sr e Sra. Chevalier, O.K.?

– O.K. – falei. E alguma coisa estalou na minha memória, finalmente. – O nome daquele banqueiro que financiou a campanha do Presidente não era um Pierre Chevalier?

– Seus conhecimentos político-econômicos me impressionam cada dia mais – Chermont passou a mão no rosto, rindo da minha cara, mas tinha alguma coisa de artificial no deboche. – O neto do maior banqueiro do país morando na sua casa e você não sabia. Você acha que tem mais alguma coisa que precisa saber sobre eles? – Ele perguntou preocupado.

– O que a sua avó faz?

– Nada, basicamente – ele olhou pela janela do táxi para as mansões e prédios que apareciam, ao chegarmos à parte residencial da avenida. – Mas ela corre umas instituições filantrópicas do banco e dos hotéis.

“Que hotéis?”, quis perguntar, mas calei, o tom de voz dele ficara perigosamente frio na última palavra, e eu não queria começar nada agora.

O silêncio tomou seu lugar e nós passamos os minutos seguintes olhando pela janela. O taxista diminuiu a velocidade perto do portão descomunal de um muro cheio de trepadeiras. Dois armários em forma de seguranças vieram checar quem nós éramos, e liberaram a passagem depois disso.

O caminho até a casa era de pedra, com canteiros de begônias nos lados. Havia árvores altas dos dois lados também, e postes de luz com aparência antiga aqui e ali, já acessos, mesmo com o dia ainda claro.

Desci do carro e Chermont me seguiu, após acertar com o motorista a corrida. A porta se abriu antes mesmo que galgássemos os degraus de entrada, Chermont parecia tenso ao meu lado, os ombros duros de tensão.

Uma senhora loira passou pela porta ao lado de um senhor de cabelos completamente brancos, vestido em um terno azul marinho. Chermont escorreu sua mão até a minha, entrelaçando seus dedos entre os meus, e meu estômago afundou de um modo que eu não sabia dizer se gostava ou não.

Sorria. E. Acene.

Eu queria tatuar aquelas três palavras no meu cérebro, porque o que se seguiu foi uma recepção superficialmente calorosa da Sra. Chevalier, que me tomou as mãos e me disse como era bom finalmente me conhecer, que Chermont havia falado muito sobre mim e como minha pele era boa. O Sr. Chevalier parecia saído do caderno de economia do jornal: sério, introspectivo, a boca levemente franzida em reprovação. Ele inspirava medo, me arrepiava a ideia de crescer às sombras desse homem. A presença dele tinha algo de... Agourento.

A Sra. Chevalier nos conduziu até uma sala de estar confortável, com algumas poltronas e várias janelas para o fundo da propriedade, já com grama verde, esperando o verão.

Chermont sentou ao meu lado, em um sofá para dois, e seus avós tomaram cada um uma poltrona em frente a nós. Eu não havia ouvido mais palavras saírem da boca de Pierre Chevalier do que a cortesia pedia, e seu olhar de falcão me gelava de medo até a medula.

– Então você faz artes liberais na universidade? – Perguntou a Sra. Chevalier. Olhei de soslaio para Chermont, esperando alguma cola, mas ele só olhava para ela com a mão apoiada no queixo, as feições irritadas, mas nada surpresas.

– Fotografia, na verdade – uma mentira boa é a que é recheada de verdades, se ela sabia que eu fazia algo relacionado a artes, o que mais ela podia saber? E por que mentir mais que o necessário? Mesmo que a ideia daquele casal de aves de rapina soubesse sobre a minha vida me desse arrepios. – Mas eu li bastante sobre o seu trabalho filantrópico, é louvável – cara de cupcake, Alizée, cara de cupcake.

Ela, para minha sorte, se deliciou com a nova pauta, mesmo tentando não demonstrar. Chermont brincava nervosamente com meus dedos, enquanto eu fingia prestar a maior atenção do mundo.

A conversa prosseguiu com assuntos relacionados à alta sociedade a qual eu teoricamente pertencia em minha cidade natal, as perguntas de Amelie sempre pareciam contar um duplo sentido, o propósito secreto de me humilhar, talvez tentando encontrar qualquer falha na minha história.

O avô de Chermont, a certo ponto, se desculpou e saiu para atender uma ligação, e eu não reclamei nadinha, até porque o clima na sala pareceu melhorar um pouco, ele aparentava ficar mais irritado a cada palavra que ouvia. Alguns minutos depois, uma senhora veio nos avisar que o jantar já iria ser servido.

– Onde é o banheiro, por favor? – Perguntei, e Amelie pediu que a mesma senhora me acompanhasse até lá e que também me indicasse a sala onde serviriam o jantar.

Chermont largou minha mão relutantemente, e eu sabia por que: até ali, eu havia sido o assunto principal da discussão, quando não estávamos ouvindo sobre obras de caridade. Agora a onda iria quebrar sobre ele.

A senhora não disse nenhuma palavra enquanto me conduzia por um corredor longo, meus saltos batendo no chão e o barulho ecoando. Ela indicou uma porta à esquerda e, antes de ir embora, me informou que a sala de jantar ficava no fim do corredor, dobrando à esquerda também. O banheiro era muito iluminado e com um espelho grande sobre a cuba de porcelana da pia, era decorado com bom gosto. Encarei meus olhos no espelho com tristeza, também não era eu, eu não reconhecia jovem tão bem vestida. Não era nenhum falso moralismo ou culpa, porque conhecer os avós de Chermont não pesou nada na minha consciência, acho que só me deu razões para que levar isso à diante – eu não conseguia imaginar totalmente o inferno que havia sido crescer aqui -, mas aquela não era eu e eu só estava constatando isso.

Lavei minhas mãos e deixei a água correr pelos meus pulsos, desejando estar em casa, ou em qualquer outro lugar. Fechei a torneira e lanceei meus olhos uma última vez ao redor, enquanto enxugava minhas mãos, um sentimento inquieto dominando meus nervos.

O corredor que a senhora havia me indicado seguia infinitamente, todas as portas fechadas. O silêncio sepulcral foi interrompido por uma foz ríspida, abafada pelas paredes:

– Mande o malote para o escritório, não para o banco, eu não quero nenhuma vinculação. A secretária vai se encarregar de transferir para algum paraíso.

Eu teria continuado andando, mas as palavras eram curiosas demais para que eu não me interessasse, diminui o passo e joguei minha bolsa no chão com cuidado para não fazer barulho, além da porta de onde vinha o som, para ter alguma desculpa caso alguém me surpreendesse.

A voz parecia ser do Sr. Chervalier, era o tipo de voz que, mesmo você tendo ouvido duas ou três vezes em frases curtas, você conseguiria lembrar e identificar através de paredes. Era aço.

– Eu não quero saber se é legal ou não, você tem até amanhã. Nada que ligue ao meu nome ou ao de Course.

Meus olhos se abriram de uma vez, assustados. Course? Vernon Course? O presidente?

Peguei minha bolsa no chão com pressa ao notar que nenhuma palavra a mais vinha através das paredes, daquilo que era, presumivelmente, uma ligação, tentei caminhar normalmente e esvaziar meu rosto, mas minha cabeça parecia que ia estourar.

O que eu havia acabado de ouvir?

A conversa estranha não era destinada aos meus ouvidos, as palavras ameaçadoras faziam minhas pernas bambearem, enquanto caminhava na direção ao salão, tentando colocar ordem e nível de gravidade naquilo.

Ideias conspiratórias se formavam entre uma negação e outra. Me parecia lógico que a menção a “paraíso” só poderia ser sobre paraísos fiscais, era explícito o suficiente... Mas não podia ser o presidente, por Deus, haviam outros Courses!

As ideias se chocavam na minha cabeça, me atordoando, o avô de Chermont era um homem influente o suficiente para ter ligações estreitas com Vernon Course... Que tipo de coisa ilegal Pierre Chevalier poderia estar planejando com o presidente?

E o mais importante: o que eu deveria fazer disso tudo?

Eu dobrei à esquerda, estranhamente agradecida por ver que aquele corredor realmente tinha um fim, surpreendida pela realidade após meu mergulho em uma história de Sherlock. No fim daquela sala onde desembocara, meus olhos cruzaram com os de Chermont e ele soube imediatamente que havia alguma coisa errada.


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Notas finais do capítulo

Eu tenho um ask e vocês podem me dar amor por lá se quiserem! Ou me aperrear porque eu ainda não postei nessa encarnação! :D
http://ask.fm/infrangivel



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