Alizée et Chermont escrita por Velvet


Capítulo 12
Douze


Notas iniciais do capítulo

Eu sei que vocês nem lembram mais quem eu sou, mas é isso aí, voltei. Serião, não vou nem me explicar porque é o mesmo blablabla de bloqueio criativo que vocês conhecem, então tá aí, desculpem por não postar desde fevereiro e se restar algum leitor aqui quero dizer que amo muito todos vocês mesmo fazendo essas coisas.



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Chequei a hora no celular e me virei na direção contrária a da universidade, olhando para o chão enquanto andava apressado. Peguei o primeiro táxi que passou vazio, e um endereço em Bobigny que eu dei não me era estranho. O táxi passou por Paris até fora do círculo da cidade e parou em frente ao prédio acabado do subúrbio.

Entrei no lobby e toquei a campainha antiga e meio enferrujada do apartamento 221. Uma estática e o chiado alto avisaram que haviam atendido.

─ Chermont. Estou subindo ─ eu anunciei sem esperar resposta.

A porta automática velha destravou com um estalo alto e eu entrei no lobby escuro e vazio, sujo até. Subi os lances de escada, até o terceiro andar e encontrei a primeira pessoa naquele prédio: um homem alto e intimidador, sentado em uma cadeira ao lado da porta de entrada do 221. Ele acenou para dentro com a cabeça e me acompanhou com olhos preguiçosamente inteligentes, e aquilo me fazia sentir desconfortável até os ossos.

Dei duas batidas na porta antes de entrar, o apartamento ainda com sua tendência à inconstância. Todo cheio de mobília velha e nova, e nenhum dos móveis que eu havia visto da última vez que estive lá, estavam lá outra vez. O apartamento havia sido completamente remobiliado, mas eu tinha certeza que ninguém morava lá, estava no ar.

─ Que bom te ver, Chermont ─ o homem tomando café e lendo o jornal do dia em uma mesa perto da janela me disse. ─ É sempre sinal de boa sorte ─ e ele guardou o jornal ruidosamente, sorrindo.

Ele vestia uma curiosa mistura de um terno de tweed claro, com uma gravata borboleta lavanda. A imagem tão imaculada que beirava a afeminação. Ele já partia o castanho muito claro dos cabelos para os lados como se se preocupasse com a calvície.

─ Pierre me mandou pegar os papéis dele, disse que eram três envelopes dessa vez ─ me aproximei e sentei na cadeira em frente à dele, mesmo sem ter sido convidado à mesa.

─ Está servido? ─ Ele apontou para o desjejum e eu me lembrei do meu próprio café da manhã, abandonado na pressa, quando declinei, o homem continuou, imperturbavelmente, insistindo em falar como um tio que quase não visitava, mas que mandava cartões de aniversário na data certa ─ Como anda a faculdade?

─ Eu estou atrasado para a aula, Monsieur Tibauld, se eu puder somente pegar a papelada ─ eu queria esfregar o rosto em frustração, cansado do papo furado de sempre daquele homem.

Tibauld sorriu fino levando a xícara do pires até os lábios, bebendo do chá.

─ Li que seu primo vai casar, as coisas devem estar emocionantes ─ ele continuou fazendo comentários sociais aleatórios mas se curvou para a gaveta da mesa de canto, tirando de lá de dentro todos os envelopes.

Peguei os assim que Tibauld os colocou na mesa,levantando logo em seguida, as desculpas jorrando apressadas da minha boca.

─ Eu sinto ter tão pouco tempo mas eu tenho que passar para entregar esses antes de ir para a faculdade. Até, monsieur.

Saí do olhar invasivo do contrabandista para o corredor macabro, descendo as escadas com pressa de sair daquele emaranhado de paredes com infiltrações e tinta descascando.

O táxi me esperando lá fora foi a melhor coisa que eu poderia ter visto naquele momento, considerando que o taxista poderia simplesmente ter cansado de esperar para fazer a corrida de volta. Não foram nem dez minutos dentro do prédio, mas foi suficiente para o homem estar mais mal humorado que qualquer um que eu já tivesse visto, e juro que um dia vou descobrir por que taxistas em Paris são absurdamente mais grossos que em qualquer parte do mundo.

A mensagem de Pierre na caixa de entrada do celular era clara: ele queria os envelopes, queria agora e eu tinha que sair do meu caminho para resolver isso. Guardei o celular no bolso e encarei o caminho que o táxi fazia para ir de Bobigny até La Défense, o maior centro financeiro da cidade, onde o arranha-céu de vidro e aço do banco de Pierre estava convenientemente localizado.

Eu não queria nem encarar o taxímetro quando passava o dinheiro pro taxista, que estava mais do que feliz de finalmente se ver livre de mim. Entrei na matriz do banco esperando que alguém me impedisse de chegar aos elevadores executivos, mas o segurança ao lado do elevador segurou a porta aberta e me chamou de senhor, o que indicava que todos eles lembravam bem demais da última vez que eu havia estado ali.

Quando finalmente atravessei a maldita porta do escritório de Pierre, depois de quinze minutos de chá de cadeira, minha paciência estava no limite.

─ Aqui, os papéis ─ joguei os três envelope em cima da mesa dele e virei para sair, voltando sem perder tempo, aproveitando a porta escancarada que eu tinha deixado as minhas costas.

─ Feche a porta e sente ─ estanquei no meio da sala, fechando os olhos e contando até dez, tentando me lembrar exatamente por que eu não tinha dado descarga nos malditos documentos só para irritar Pierre. Engoli parte da raiva e fechei a porta antes de dar meia volta e me sentar na cadeira.

─ Eu não sou seu garoto de recados, você não pode me deixar esperando como se eu não tivesse nada melhor para fazer do que lhe ajudar a brincar de Deus!

─ E não posso por quê? ─ Pierre perguntou completamente controlado, inclusive parecendo enfadado com minha explosão. Ele continuou depois de satisfeito com minha mudez humilhada ─ Eu tenho coisas mais importantes para resolver do que lidar com sua birra, você vai esperar quanto tempo eu achar necessário e não vai me incomodar ainda mais.

E foi isso que ele fez. Pierre abriu envelope por envelope e olhou página por página, como ele não havia me dispensado e meu ego não estava muito ansioso para levar mais algumas escarradas, só fiquei onde estava, contando até dez e mentalizando espaços abertos, bem longes daquele lugar.

─ Sobre essa garota que você levou para o jantar ─ ele falou, arrastando os olhos de rapina sobre mim ─ não pense que está enganado alguém.

─ Eu não sei do que você está falando ─ menti, o sangue gelado, mas sem nem piscar antes de me fazer de desentendido.

─ Sua avó vai comer essa menina viva amanhã ─ ele deixou as palavras pairarem no ar como fumaça. ─ E você acha que eu sou cruel ─ Pierre sorriu pela primeira vez naquela conversa ─ , e no entanto é você quem está trazendo ela pro meio disso.


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Notas finais do capítulo

Capítulo tá curto mas to com uma dor de cabeça lascada e é a vida, minha gente, me desculpem outra vez, essa parte do Tibauld tá escrita desde o começo do ano e eu não sabia como continuar.



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