Desvenda-me escrita por Mariii


Capítulo 7
Capítulo 7




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/525783/chapter/7

A renovação dos votos chega alguns dias depois da nossa visita ao parque. Nós saímos de Baker Street mais algumas vezes depois daquele dia e Sherlock estava cada vez mais seguro quanto ao que fazer e como fazer. Eu comemorava silenciosamente cada vitória dele porque sabia o quanto era importante não só para ele, mas para nós dois ainda que não disséssemos abertamente. Às vezes eu o pegava sorrindo quando conseguia fazer algo sozinho, porque ele se esquecia de que eu podia vê-lo. Essas pequenas cenas enchiam meu coração de algo além da felicidade.

Sherlock vestiu-se com louvor para a festa. Apenas o ajudei com a gravata, mas desconfio que ele nunca soube arrumá-la nem mesmo quando enxergava. Como sempre, estava lindo com os inseparáveis óculos escuros e eu, por outro lado, não me arrumei tanto quanto deveria. Coloquei apenas um vestido preto, o mais básico que eu tinha. O fato de Sherlock não poder me ver causava uma espécie de desmotivação, afinal, não importava como eu estava vestida, mas sim o que eu dissesse e como o tocasse.

– Nossa, para quem não queria ir você está até que bem ajeitado. - Muito mais do que isso. O perfume que ele usa chega até mim enquanto dou o nó de sua gravata e me atordoa. Acho que me aproximei mais do que deveria de Sherlock nesses dias enquanto o ajudava.

– Sou seu acompanhante, Molls. E já estou com defeito, não posso piorar tudo ainda mais. - Bato de leve no braço dele e vejo que ele está sorrindo. Ainda que ele não possa ver, eu também sorrio.

Nós vamos de táxi para a festa e eu confesso que me sinto tensa pelas reações das pessoas. Exceto John, Mary e Mycroft, Sherlock não deixou mais ninguém entrar, nem mesmo Lestrade. Ele me proibiu, ameaçando nunca mais sair na rua, se eu aprontasse mais alguma coisa quanto a visitas. Respeitei ao menos isso, sabia que ele já estava se esforçando além do limite.

Quando chegamos no salão, eu prendo a respiração e agradeço pela primeira vez durante todos esses dias por Sherlock não estar vendo nada. O motivos é que todos os rostos se viram em nossa direção quase que de uma só vez. O silêncio é constrangedor e não há uma só pessoa que não olhe para mim e Sherlock de braços dados.

– Virei o centro das atenções, não virei? - Ele cochicha para mim enquanto eu procuro John e Mary pelo salão.

– Na verdade não, todos estão olhando para o meu enorme decote. Eu já falei que meus cabelos platinados fazem sucesso? - Mais uma vez lanço mão do bom humor para esconder que estou desconcertada. Sabia que seria algo novo, mas não que chamasse tanta atenção assim.

– Droga, estou perdendo isso. - Para minha surpresa, Sherlock parece se divertir. Não sei se ele decidiu que se estava na chuva iria se molhar ou se ele queria mostrar para as pessoas que estava superando. Não acho que ele algum tinha tenha precisado provar algo para alguém, mas talvez ele tenha me escutado e decidido que podia sim mostrar que ainda era o mesmo de sempre.

Finalmente encontro John e caminhamos até ele, nos sentando na mesma mesa em que estão todos que conhecemos na festa. Começa a me irritar todos olharem de forma insistente para Sherlock, mas eu tento não demonstrar. Não quero de forma alguma estragar nossa noite, que fora difícil de conseguir.

Conversamos com naturalidade na mesa em que estamos e eu fico atenta o tempo todo para situações que possam ser constrangedoras, mas tudo corre normalmente. A parte mais complicada é quando Sherlock precisa ir ao banheiro e eu tenho que acompanhá-lo em meio a todas as pessoas, mas fazemos isso de forma discreta e o momento passa sem que ele perca o bom humor.

Alguém surge a mesa. O clima muda quando piadas e comentários com os verbos ver, observar, enxergar, etc são ditas. Por quem? Donovan, é claro. Sinto primeiro o sangue sumir do meu rosto e depois ele acelerar com força total com o ódio que sinto dela no momento. Sherlock apenas sorri com indiferença, mas minha mão procura a dele quase que instintivamente por baixo da mesa e eu a aperto. O auge do que quase se transformou em uma tragédia vem quando Donovan se aproxima de mim.

– Como é se arrumar para alguém que não te vê, Molly?

Sinto-me como uma chaleira prestes a explodir e quase quebro os dedos do Sherlock de tanto que o aperto. O silêncio em nossa mesa é denso e todos praticamente param de respirar.

– Como é se arrumar para um mundo que não te vê, Donovan? - As palavras saem com mais raiva do que eu gostaria de ter colocado. Queria fingir um desdém que não sentia, mas mesmo assim a mesa explode em risadas aliviadas e Donovan me encara com um odiável sorriso cínico nos lábios. Ela ainda fica ali por alguns minutos, até perceber que ninguém irá conversar com ela, então finalmente nos deixa em paz.

– Pode parar de esmagar meus dedos agora? - Percebo que ainda não o soltei desde o momento em que quis fechar meus dedos em volta do pescoço dela.

– Desculpe. Você está bem? Quer ir embora?

– Se eu soubesse como essas festas podiam ser divertidas, teria vindo em outras. - Seguro a mão dele com carinho agora e ele passa os dedos por ela, retribuindo. Logo nossa mesa volta ao clima em que estava antes dos comentários maldosos de Donovan e eu me esqueço da raiva que senti. Quando a música começa a tocar eu tento resistir, mas é mais forte do que eu.

– Dance comigo, Sherlock. - Falo baixo para não chamar atenção das outras pessoas e ele se vira para mim espantado.

– Como... Não, Molly. Não é algo possível.

– Eu guio você. Por favor.

– Odeio quando você pede por favor. - Ele diz suspirando.

Sorrio e levanto-me, puxando-o pela mão.

Começo a dançar e levar Sherlock comigo. Não é tão difícil quanto parece e nós logos conseguimos definir um ritmo. Nossos corpos se unem de forma natural quando começamos a nos mover juntos. Quando olho em volta sinto meu rosto pegar fogo, novamente todos estão nos encarando e isso me faz hesitar por um momento.

– O que foi, Molly?

– Nossa...

Sem que eu explique o que está acontecendo, ele parece deduzir e canta junto com a música, me fazendo rir.

– Se eu conseguisse achar um jeito de ver isso melhor, eu fugiria.

– Idiota! Eu não posso fugir disso.

– Sinto muito por você, Molly. Nunca me senti tão bem por não estar vendo nada. Mas... - Ele faz uma pausa e eu sei que o que ele vai dizer irá transformar tudo. É aquele sentimento que nós temos um milésimo de segundo antes de tudo mudar, como se de repente a atmosfera fosse outra. - Eu queria poder ver você, só você. Mais do que tudo.

– Sherlock, não... - Mas ele não me escuta e me puxa mais para perto. Nós ficamos apenas balançando vagamente ao som da música.

– Shhh... Lembro-me dos seus cabelos, de como você fica linda com eles soltos. - Os dedos dele deslizam por meus cabelos, acompanhando suas palavras. - Queria poder olhar para você uma última vez e gravar tudo aquilo que nunca dei atenção. Dez segundos, Molly, era tudo que eu pediria se pudesse. É meu último pedido. Ver você da forma que eu deveria ter feito. Apenas isso...

Quase escuto meu coração se partindo. Minhas mãos estão firmemente fechadas em torno do pescoço dele e minha cabeça apoiada em seu ombro. Viro-me e começo a beijá-lo ali, subindo até seu rosto e percorrendo a linha de seu maxilar.

– Molly...

– Não me provoque e depois peça para parar, Sherlock.

– O que eu vou pedir é para que você não pare.

Então eu chego aos seus lábios e nós nos beijamos da forma mais apaixonada que podia ser, refletindo tudo que sentíamos um pelo outro agora. Naquele beijo estava toda a amizade, cumplicidade e paixão que desenvolvemos de maneira inimaginável. Todos esses dias ao lado dele trouxeram esses sentimentos que eu não estava esperando, e de forma exponencialmente maior. Era diferente da paixão adolescente que eu havia tido. Agora, eu estava apaixonada pelo Sherlock de verdade. Por suas qualidades e suas fraquezas.

Eu o amava completamente, até mesmo em suas imperfeições.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Até o próximo! :D



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Desvenda-me" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.