O Véu Da Bruxa escrita por Thalita Moraes


Capítulo 10
O Corvo


Notas iniciais do capítulo

Anjos, me perdoem pela demora de vinte dias.
Como vocês podem perceber, a situação ficou um pouco mais tensa na história. Eu fiquei receosa ao escrever esse capítulo e acho que vou ficar um pouco mais no próximo. :x Mas enfim, eis o capítulo. Espero que gostem e que não fiquem bravos pelo delay.



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—Eu não achei que ele faria algo do tipo com sua própria filha. — Christian murmurou, sua voz tremendo. Lágrimas desceram de seus olhos. — Se eu soubesse, eu... — Ele apertou a própria mão, suas unhas penetrando a própria carne. Um filete de sangue escorreu de suas mãos. Catherine o olhou, preocupada. - Eu teria feito algo.

—Não foi culpa sua. — Ela tentou confortá-lo. Catherine passou a mão em seu ombro acariciando. — Você não sabia que ele se tornaria em um monstro.

Havia se passado uma semana após o funeral de Joshua, o dele, porém, tinha sido de caixão fechado. O caixão mais barato que Christian se pôs a pagar para ele. E, quando o caixão desceu para o buraco no chão, Christian se sentiu tão aliviado por saber que sua sobrinha seria finalmente livre. Mas ao mesmo tempo, tão culpado porque suas preces tinham sido atendidas. Mas mas principalmente, sentia-se culpado pelo que tinha acontecido à Lacey.

A polícia tinha ido até a casa de Lacey naquele dia e questionara os machucados de seu corpo. Lacey disse nada mais do que a verdade. De que seu pai tinha abusado da pobre garota. A história foi parar aos jornais. Christian e Catherine tiveram de esconder a criança dentro de sua casa por alguns dias até que as pessoas finalmente esquecem-se dela e a deixassem em paz. Ela era apenas uma criança de dez anos que tinha perdido a mãe e o pai.

As especulações sobre a morte de Joshua eram muitas, porém não haviam respostas. Não havia sinais de invasão na casa deles, não havia sinais de quaisquer animais de pena preta nem na casa e nem no quintal.

Eles simplesmente declararam o caso como encerrado. Consideraram uma vitória terem colocado o molestador à sete palmos debaixo da terra.

Então a fazenda foi à leilão. Christian oficializou o contrato e nunca mais ouviu falar daquele lugar.

Lacey foi, então, morar com a família Viana.

E ela foi muito bem tratada. Mimada. Cuidada. Alimentada. Em apenas pouco tempo, Lacey tinha engordado cinco quilos. Seu pequeno rostinho magro havia se tornado rechonchudo. Catherine a vestia com roupas novas, cheias de babado e laços. Christian comprava bonecas. E as filhas deles, Mona, Samantha e Martha, de 17, 15 e 8, tratavam Lacey tão bem como se fossem imãs, o que, de certa forma, era verdade.

Lacey simplesmente não estava acostumada com aquele tipo de tratamento. De fato, demorou um certo tempo até acostumar. Para ser mais preciso, cerca de cinco anos.

E era aniversário de Lacey novamente.

A festa que faziam era tão grande que fazia Lacey se perguntar porquê eles se esforçavam tanto. Havia um padrão escondido em seus aniversários que Lacey se perguntava se eles nunca tinham percebido.

A forma como Martha quebrou o tornozelo no aniversário de onze anos de Lacey. Como Samantha quebrou o braço no décimo segundo aniversário. Como Mona tinha perdido a voz no décimo terceiro e como Catherine tinha ido parar no hospital devido à um problema de intestino no décimo quarto aniversário.

No entanto, não era como se aquilo os parasse.

A alegria naquela família era enorme.

Com um sorriso em seus lábios e em seus olhos, Lacey olhou para cada um dos membros daquela família. Era sortuda. Era sortuda porque seus familiares se conformavam com o azar de cada um dos aniversários. E aquilo a fazia se perguntar porquê.

Num bolo queimado, Lacey assoprou uma vela. Era seu décimo quinto aniversário. Algo ruim ainda iria acontecer e Lacey apenas esperava.

Naquele momento, Lacey fez um pedido.

Ela apenas perguntou porquê.

E recebeu a resposta na mesma noite.






Aquela noite, Lacey acordou de um pesadelo. Acordou grudada na cama, paralisada, de olhos arregalados e um grito entalado na garganta. Ela demorou até conseguir se mexer. E quando conseguiu, se assustou com o vulto que viu na janela.

Um corvo.

E ele tinha aparecido para lhe contar uma história.









Uma vez, eu fui humana.

Isso já faz um certo tempo. Foi antes de voce nascer.

Foi uma época um pouco sombria. Quando as árvores secavam e as folhas caíam. A cidade parecia morta. Mas talvez, isso seja apenas uma consequência de ser uma bruxa. Eu não via vida em nada, eu já estava, tecnicamente, morta há anos.

Eu tinha duas aprendizes. Elas tinham nove anos quando as conheci.

Apenas nove anos e já tinham morte em seus olhos.

O que aconteceu com você apenas uma vez, Lacey, aconteceu minha pequena Olivia e Ruby. Se uma vez já foi o suficiente para você, tente dezenas, centenas de vezes.

Elas foram abusadas por seus próprios pais. Se tem alguém pior para perder a confiança, é esse. Elas não confiavam em mais ninguém.

A dor e o sofrimento delas estava cravado em suas almas, eu podia ver suas auras eternamente marcadas.

Elas vieram a mim, buscando assistência. Compreensão. E o que o pai delas não lhes pode dar, eu dei.

Mas elas queriam vingança.

Havia uma maneira, mas era muito doloroso, eu tinha dito isso à elas. Até hoje eu não me esqueço do que a pequena Olvia me disse.

"Nada é mais doloroso do que não poder amar meu próprio pai." Ruby não disse nada, mas concordava.

Então, eu as ajudei. Mesmo sabendo que elas perderiam sua alma.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Novamente, perdoe-me pela demora.