'Til We Die escrita por Mrs Jones


Capítulo 30
Um Intervalo & Manifestações do Que Era Confidencial


Notas iniciais do capítulo

Hello, everybody! Retornamos again. Confesso que a participação nos últimos capítulos me desanimou um pouco, de modo que acabei por prolongar a demora em vir postar essa fic. Em todo caso, cá estamos nós outra vez.
Esse capítulo é um pouco menos tenso e eu achei que devia aproveitar para desenvolver um pouco mais os personagens, além de fechar algumas pontas que ainda estavam abertas. Espero que vocês gostem, apesar de eu não conseguir ser sucinta e trazer esses capítulos longos kkk
Para relembrar, porque talvez vocês já tenham se esquecido:
Nos capítulos anteriores, Killian sequestrou Finnian (seu primo), que anda mancomunando com Jefferson e aparentemente foi pago para sequestrar Ruby. Ele está próximo de ser torturado, mas enquanto isso, todos se recuperam da última caçada no QG. Lembrando que o carro de Killian sofreu uma falha e por isso eles não estão o usando.
É isso. Boa leitura!



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Os lábios de Mary Margaret se entreabiam levemente quando ela dormia. Hoje estavam pálidos. Fosse outra a situação, Regina aconselharia que ela usasse manteiga de cacau para evitar o ressecamento.

— Sempre uma princesa – murmurou ela, os olhos brilhantes de tristeza e os ouvidos indiferentes ao doutor Shepherd. Afagava os cabelos sedosos de Mary, que agora se encontravam opacos e quebradiços – Uma verdadeira Branca de Neve... 

O doutor Shepherd estivera falando em linguagem técnica. Trazia consigo uma equipe de cinco internos, que fizeram de Mary Margaret um estudo de caso. Com certa relutância, ele se dispusera a discorrer sobre o procedimento cirúrgico utilizado para remover a estaca. Poucos minutos depois, uma superior enxotou os internos do quarto, o que nos deu algum conforto.

— Por ora ela se encontra estável – esclareceu o doutor, ministrando anotações em um prontuário –, embora a gravidade da perfuração e a hemorragia interna tenham nos forçado a remover o rim atingido.

Regina assentiu. Na noite passada, sofrera com a notícia. Parecia um pouco menos abalada agora que estabelecia contato com a prima.

— Mary sobreviveu a muita coisa – sorriu forçadamente, sem desviar os olhos de Branca – Um rim a menos não vai matá-la. Em todo caso, eu ficaria feliz em ceder um dos meus a ela, se necessário fosse.

Shepherd fez que não com a cabeça, dizendo que a falta do órgão em nada prejudicaria Mary.

— Eu diria que é um milagre e que um ferimento de tal magnitude por pouco teria sido fatal – ele me fitava com uma expressão sisuda, porém compassível de empatia – No entanto, é cedo para fazer constatações do tipo. Eu diria para se prepararem. A hemorragia foi contida, mas ainda há chances de que prossigamos com a internação no CTI. Ajudaria se qualquer uma das moças me informasse como de fato ocorreu a perfuração com a estaca.

— Eu não estava lá – me dispus a dizer, antes que Regina o fizesse. Repeti a mentira contada por David – Nos foi dito que ela tropeçou e caiu durante uma trilha.

— Um terrível acidente – e Regina fitou o médico, abandonando seu posto ao lado de Mary para se aproximar do homem – Um erro no percurso e nada mais. A estaca que vocês removeram era uma ripa solta numa passarela de madeira. Simples assim.

Ela certamente o persuadira, como Zoe costumava fazer com Dean. Shepherd assentiu e nos deixou a sós com Mary, tão logo Regina assim ordenou.

— Eu espero que tenha funcionado, não precisamos de médicos fazendo perguntas – falou ela, reaproximando-se da débil Branca que, surpresa nossa, encontrava-se desperta.

— Eu vi a minha mãe... – murmurou ela, grogue pelo sedativo que pouco a pouco perdia efeito – Foi você, não foi, Regina?

Regina gentilmente acariciou as bochechas frias de Branca. 

— A Ruby ajudou. Eu sabia que você ia precisar de mais força do que eu dispunha.

— Ela estava bonita... exatamente como eu me lembrava. Obrigada... Foi essencial...

As palavras de Mary eram arrastadas, típico de quem perdia a linha de raciocínio ao oscilar entre o sono e a consciência.

— Vocês conseguiram... As crianças... David me disse que vocês as salvaram... Eu queria ter feito mais...

— Você fez mais do que o suficiente, minha querida Branca. Seu trabalho agora é consigo mesma – Regina me olhou com uma expressão difícil de desvendar; parecia se perder entre a preocupação e a culpa – Tenho certeza de que posso consertar as coisas, poupá-la da dor, mas preciso consultar fontes mais experientes. Zoe virá visitá-la, então saberemos o que fazer.

— Zoe... Todo mundo no QG, David disse...

— O que foi que David não lhe disse? – revirei os olhos – Devíamos poupá-la dos detalhes, é muito para a cabeça. 

Mary riu, suas pálpebras piscando delicadamente.

— Um rim a menos não priva a minha curiosidade... Eu gostaria que todos viessem e me narrassem as aventuras de dentro da pirâmide.

— O excesso de germes e egocentrismo a mataria – a Rê balançou a cabeça, bem-humorada – E, antes disso, nos mataria Shepherd. Nós lhe contaremos quando for apropriado. Até lá, muito terá se passado naquele QG.  

— Hum – fez Mary, entendendo ao que se referia a prima – Não deixe Killian manchar as mãos com o sangue de Finnian... Ele não é digno... Soquem a cara dele por mim, sim?

Regina arregalou os olhos, enquanto eu me pegava também surpresa.

— A doce Mary Margaret tem algo contra o gatão jornalista?

Mary hesitou em responder, fingindo lentidão mental. Mas sua capacidade de mentir era afetada pelo estado em que se encontrava. Nada do que dissesse convenceria Regina.

— Mary Margaret, se aquele homem lhe fez algo, eu tenho de saber!

— Ele fede a problema, é indignação suficiente – eu disse, de modo a poupar Branca de uma saia justa.

Ela por fim suspirou, completamente desperta. Passou uma mão pelo rosto, evitando encarar Regina.

— Assédio, ok? E não, não julguei levar uma denúncia contra ele, porque, de verdade, tenho medo do que ele é capaz de fazer – ela então fitou Regina, que parecia prestes a entrar em combustão espontânea – Não contem ao David, ele o mataria. E não ouse sujar suas mãos, Regina, um soco no estômago é suficiente.  

— Talvez fosse melhor que eu o chutasse entre as pernas – ela deu de ombros.

— Onde doer mais, por favor.

A porta se abriu de um rompante, a enfermeira Shirley adentrando o quarto sem cerimônia. Se encontrava sem sua fiel companheira de exercício, a barulhenta Brooke.

— Queridinhas, a visita acabou.

— Quê? – fez Regina – Nem bem se passaram cinco minutos.

— Tão aí há mais de dez, menina, doutor Shepherd vai me torcer o pescocinho.

Tentei agir por meio da súplica. 

— Ah, por favor, Shirley! Nós esperamos por mais de uma hora.

— Sem choro nem vela, mocinha, depois sou eu quem atura o blábláblá dos superiores. E vão andando, que já incomodaram demais essa pobrezinha, olha como tá jururu.

— Não é incômodo, Shirley, eu preciso da minha família por perto – apesar da palidez e notável fraqueza, Mary parecia suficientemente forte para sustentar seus argumentos. Uma pena que, entre seus desejos e as recomendações de saúde, as ordens médicas prevalecessem.

A enfermeira a ignorou, aplicando com uma seringa uma dose de medicamento em sua bolsa de soro. 

— Descansa, filhinha, depois colocam a fofoca em dia – ela se voltou para mim com um ar distraído - O bonitão de olho azul tá te esperando lá fora, hein, menina. Faça-me o favor de cuidar bem desse nenê aí na sua barriga.

Mais cedo Gancho me forçara a passar por um check-up, apenas para assegurar que a nossa última aventura não fora prejudicial ao bebê. Apesar de nos encontrarmos protegidos pelo feitiço de Joanna, o aumento na minha pressão arterial demandava repouso. Era certo que o excesso de adrenalina me invadira até os poros. 

— Não comece, Regina – pedi, tão logo saímos para o corredor. Ela estava com expressão de quem ia debulhar uma ladainha.

— Eu não disse nada.

— Mas pensou.

E riu levemente, se denunciando.

— Tá bem, Ruby. Eu não apoio a prática de ter filhos, mas estarei aqui por essa criança. Por ora, faça-me o favor de não exercer atos heróicos.

— Eu não exerço atos heróicos por prazer, sabe – esclareci, avistando Gancho mais à frente no corredor, sentado ao lado de um David que cochilava – São as criaturas que insistem em me perseguir.

— Diz a garota que namora um caçador. Se procura estabilidade e segurança, sugiro que se case com um vereador. É infinitamente menos emocionante do que a vida de um caçador, mas eu lhe garanto, é igualmente interessante.

Gancho ouvira o suficiente e ergueu uma sombrancelha.

— E você por acaso andou namoricando seus vereadores, senhora prefeita?

— Quem é que fala namoricar? – a Rê depositou um beijo na cabeça de David, que abriu os olhos vagarosamente para escutar a conversa – Você certamente tem uma mente primitiva, Gancho.

— Não respondeu a minha pergunta.

— Não, eu não namoriquei nenhum vereador, seria anti-ético, onde já se viu? – ela cruzou os braços e estufou o peito, como quem se porta com decência; desfez a pose logo em seguida, examinando as unhas – Em realidade, eu ando paquerando um candidato a vereador. Devo dizer, discutir leis municipais nunca foi tão... agradável.

— Regina! – exclamamos Gancho e eu, minha expressão espelhando a dele. 

— O que foi? Não me julguem e eu não os julgarei.

— Mas nós incentivamos Graham a convidá-la a sair – expliquei. 

— Vocês o quê?!

— Foi ideia da Ruby! – Gancho acusou, me apontando um dedo.

— Ruby! Meu Deus, Gancho, mas será que essa menina não sabe de nada? – ela me fitou com a mesma expressão de censura que a vovó usaria ao me passar um sermão – Graham e eu tivemos um breve caso, fim da história.

— Ora, vocês claramente ainda se amam – contestei, e Regina se portou com um ar escandalizado.

— Nós o quê?! Ah, Ruby, Ruby, quão ingênua – ela me deu tapinhas no ombro – Está vendo, Gancho, está explicado porque ela o ama, é uma iludida.

— Cala a boca, Regina! Ruby-Loob apenas enxerga o que as outras pessoas não veem. 

A Rê gargalhou, apanhando a bolsa que Gancho lhe estendia, e nela a chave do carro.

  - Pois então enxergue isto: eu e meu candidato a vereador de boinha em um cruzeiro pelo Caribe. Visualizou? Pois é o que vai acontecer! – e saiu desfilando corredor afora, dando tchauzinho para Liam, que retornava com um copo de café para David.

Gancho riu, depositando uma mão nas minhas costas.  

— Quem é que fala de boinha?

***

Regina estacionou o Porsche ao lado da vaga ocupada pela motocicleta de August. O ar abafado era percorrido pelo ecoar da música alta de Dean Winchester. AC/DC, You Shook Me All Night Long. Metade do corpo do loiro estava enfiado sob o Impala de Gancho. Ele trabalhava na recuperação do carro, tão absorto que sequer notou nossa aproximação.

Chutei um de seus pés levemente, chamando sua atenção. Ele deslizou de sob o carro, erguendo o tronco.

— Não, ainda não terminei – esclareceu a Gancho, antes que o mesmo se desse ao trabalho de fazer a mesma pergunta pela centésima vez – Não tenho as peças necessárias e Sam não sabe diferenciar um pistão de uma biela, então não se apresse.

— Bobby ainda não deu retorno? – Killian vincou a testa, preocupado.

— Não e não estou surpreso – ele se ergueu e limpou as mãos sujas de graxa em um pedaço velho de estopa – Irritamos demais o velho, ele está nos dando uma lição. 

— Há de ter um ferro velho nessa cidade, vou verificar depois do almoço.

— Seu amigo motoqueiro já fez isso. Ninguém além de Bobby vai ter as peças, tenha paciência. Em todo caso, essa belezinha já teve seus dias de glória – ele alisou o capô do velho Impala, com um ar paternal e emotivo – Em breve não poderá fazer muita coisa por ele, aconselharia que o aposentasse.

Gancho, é claro, crispou os lábios em uma careta de indignação.

— Aposentar? Por que, se não aposentou o seu?!  

— Ele tem servido bem à sua causa – retorquiu o Winchester, orgulhosamente – Passou por muita coisa. É claro, uma bruxa talentosa sabe prover vida longa às coisas antigas.

Nós três fitamos Regina, que cruzou os braços.

— Nem olhem pra mim. Feitiços desse tipo não são de grande garantia. Vocês sabem, até mesmo o feitiço que Joanna colocou em vocês tem prazo de validade.

— Uma pena – Dean suspirou, enfiando a mão pela janela para desligar o rádio, o que gerou uma estranha sensação de vazio – Magia não pode fazer nada por vocês nesse momento, a Zoe se recusa a se preocupar com bens materiais...

— E faz muito bem! – a Rê se afastou em direção ao elevador, marchando com a compostura de uma rainha – Bom, tenho mais o que fazer, você vem, Ruby?

Assenti, com Gancho em meu encalço. Dean ainda se dirigiu à Rê, antes que a alcançássemos.

— Regina, convém tirar aquele coiso de dentro da Zoe. Ela enlouqueceu! Está lá em cima, conversando consigo mesma em egípcio antigo. É questão de tempo até que abaixe a guarda e permita que Toth tome controle outra vez.

— Sem drama, Winchester. Zoe é uma adulta, não um bebê.

Saímos no quinto andar, após lento desenvolvimento do elevador. Regina ia dizendo que Gancho devia implementar a capacidade das máquinas do prédio, mas parou em meio à frase quando topamos com a visão de Zoe em uma túnica branca, à vontade em meio ao espaço vago entre o elevador e a sala. Ela se sentara no chão com as pernas cruzadas, murmurando consigo mesma em egípcio antigo. Parecia ter gostado do novo corte de cabelo, pois não tinha pretensão em fazê-lo crescer novamente.

— Ora, se não são os mortais! – seu rosto se ergueu para nós, sua voz grave denunciando que não se tratava de Zoe, mas de Toth, que assumira o controle do corpo – O Grande Toth regozija em vê-los com vida.

— Mesmo? – retrucou Regina, pouco aprazível – Pois não foi o Grande Toth quem arrastou Seth das profundezas? Se estamos com vida foi porque superamos a sua inteligência, Íbis do Egito.

Como se enfrentasse uma oscilação brusca de humor, a expressão de Zoe mudou de zombeteira para insípida.

— Toth não arrastou Seth das profundezas – disse ela – Foi Ísis quem performou o ritual, Toth apenas manipulou as circunstâncias.

— E isso não faz dele igualmente culpado? – Gancho descalçou os sapatos – Não vá me dizer que agora está o protegendo.

— Se proteger é tirar proveito da situação, então sim, estou protegendo – e a expressão outra vez mudou, seu corpo se transfigurando nos trejeitos de um homem sábio e de olhar plácido –   Convém lhe dizer que  não é a mim que devem temer. Os Grandes Seth e Anúbis vagam pela esfera, à procura de corpos que os sustentem. Se Osíris e Hórus falharem em combatê-los, em pouco tempo a humanidade padecerá sob a ira do grande Deus do Caos.

— Eu não estou tão certa disso – Regina lavava às mãos à pia da cozinha, onde Belle já se encontrava em organização do almoço – Se bem ouvi, você passou décadas à procura de um receptáculo que comportasse Seth. Não confiaria que ele vá encontrar outro tão cedo.

Zoe deu ombros, erguendo-se.

— Toth disse a Seth o que era conveniente. Ele bem poderia tomar outra vez o corpo de Brendon. E eu vou me certificar de destruí-lo, assim que ele tiver um funeral.

— Nesse meio tempo, Seth poderia alcançá-lo antes de nós. Convém que façamos isso agora.

— Não. Horrorland está coalhada de policiais e investigadores. Além do mais, o Professor Alshayk precisa passar pela experiência do luto. Seth se encontra acovardado demais para sequer ousar tentar por agora. Nós temos tempo.

Eu não confiava muito nisso, mas não seria eu a retrucar. Fui me sentar entre Graham e Gold, que assistiam a TV confortavelmente. Pela primeira vez na vida, Gold usava bermuda e chinelas. Graham, por outro lado, se empacotara dos pés à cabeça; disse-me que estava com frio e que decerto apanhara um resfriado.

— Pessoal, os noticiários não falam de outra coisa – comentou ele, deslizando por entre canais. Os outros, curiosos, se sentaram em nossa companhia.

Embora houvéssemos consertado grande parte da bagunça, Gabriel sugerira que a pirâmide permanecesse intocada, como pista que levasse aos desaparecimentos das outras crianças. Agora, violada pela polícia, a construção se encontrava fechada por um cerco de federais, que continham a multidão de jornalistas e curiosos. Uma repórter do noticiário local se empertigava diante da câmera, em meio ao vaivém dos investigadores.

...um ritual satânico performado em um parque de diversões. Investigações policiais apontam Brendon Habib Alshayk como o líder do grupo de homens e mulheres que adoravam deuses egípcios. Segundo o chefe do Departamento de Polícia de Seattle, foi nesta pirâmide, a atração mais recente do parque, que o grupo religioso assassinou Ramon Delgado, consumindo o seu corpo em um ato canibal...

— Pobre, Sonia... – Regina balançou a cabeça, cujos cabelos envolvera em uma touquinha de cozinheiro – É uma pena que ela tenha passado por isso. Vou ao funeral simbólico mais tarde, há coisas que eu preciso perguntar a ela.

— Ela se recusou a ter as memórias apagadas – comentou Gancho, mais para mim do que para os outros – Achamos que ela sabe mais do que aparentava saber.

— Uma bruxa? – questionei, ao que ambas Regina e Zoe trocaram um olhar.  

— Não, nós saberíamos... – a Rê respondeu primeiro – Mas há algo sobre ela que me interessa. Não sei ainda o quê, mas eu apostaria que ela é das nossas.

Foi então que Toth resolveu compartilhar de seus segredos, o que não necessariamente nos surpreendeu.

— O mortal mexicano era caçador – confessou – E um especialmente interessante... Consideramos que o nosso senhor Seth faria bom proveito das forças de um descendente asteca.

Gancho se sentou ao meu lado, empurrando Graham para o canto.

— Vocês disseram a Liam que ele tinha presença de espírito. Que ele era...como é mesmo?

— Um verdadeiro filho do Egito.

— E o que significa? Uma ascendência egípcia?

Zoe revirou os olhos, o que a fazia se parecer mais como Zoe do que como Toth.

— Vê-se que você não sabe nada sobre si mesmo, mortal. A sua descendência é Medjai, protetores do Egito; uma longa linhagem de guerreiros, combatentes do mal.

Medjai. Eu já ouvira falar neles. E Regina também.

— Medjai? Como no filme A Múmia? – questionou ela, impressionada.

Toth assentiu com um meneio de cabeça, desfilando pelo espaço como um astuto professor que entretia alunos.

— Protetores do Faraó, patrulheiros do deserto. Liam Jones foi especialmente escolhido como protetor do Grande Seth. A Grande Ísis queria sacrificá-lo e verter sua carne em oferenda ao irmão. Eu disse que não era viável, que ele seria um grande soldado, ao invés. Quando o caçador mexicano se colocou em nosso caminho, eu soube que sua aparição nos era vantajosa. De fato, fluem em minhas veias as forças astecas.

Regina torceu o nariz.

— Eca, Zoe! Você se forçou a cometer canibalismo...

A ruiva retomou o controle do corpo, botando as mãos na cintura. Respondeu com a tranquilidade de quem informa que consumiu lombo no jantar.

— O que vocês queriam, que Seth me descobrisse? Foi Toth quem consumiu a carne, eu apenas observei.

Gancho era um estraga-prazeres quando se tratava de amenizar situações vexatórias e repugnantes.

— Dá na mesma, o corpo ainda é seu.

— Em todo caso, Gancho, é bom que vá pesquisar suas origens. – sugeriu ela, sem se abalar – Se vocês descendem desses Medjai, era seu destino tornar-se caçador. Você é protetor dos humanos.

— Liam não se tornou caçador...

— Ele é da Marinha, não é? Protetor dos mares; você, protetor da terra.

— Se é assim, Milah é protetora dos céus – brincou ele, mas estava com a voz embargada.

Gold sorriu, saudoso.

— Ela sempre foi meu anjo...

Nosso. Quase posso imaginá-la com longas asas e uma auréola – Killian fungou, esperou uns segundos e se ergueu de supetão, como quem quer fugir de uma situação complicada – Bom, vou verificar Finnian. Enquanto isso, senhorita, as recomendações médicas são de repouso.

Eu já esperava que ele fosse me oferecer aquele olhar preocupado. Imaginava que, pelos próximos meses, seus gestos protetores fossem apenas ficar mais constantes. Assenti com um revirar de olhos, embora de fato me sentisse exausta.

— Ruby, Alexa está lá em cima com as crianças – me disse Graham, depois que Killian e os outros dispersaram – Imagino que terão muito que conversar.

Tomei o elevador, apesar da minha preferência pela escada. Não me obrigaria a um esforço desnecessário apenas por uma sensação passageira de claustrofobia. Quando as portas se abriram, eu tivera tempo suficiente para me preparar. Psicologicamente, me encontrava um trapo.

As revelações de Ian sobre o Chapeleiro haviam implicado uma longa conversa entre Gancho e o irmão. Alexa tomara parte, mas eu me encontrava exausta demais para até mesmo cogitar falar em Jefferson. Embora nada tivesse dito a mim ou a Liam, quando seguimos de carro com Regina para o hospital, eu sabia que Killian estava com a pulga atrás da orelha. Naquele momento, ele era o cão mais pulguento do bando.   

Percorri o largo corredor que separava as baias com camas no dormitório. Alexa ocupara a penúltima baia da fileira esquerda, bem ao lado das crianças. Ainda inconscientes, Clem e Ian eram poupados do que ocorria. Diante da ameaça que era Jefferson, não cogitávamos que fosse seguro que Liam e a família retornassem a Everett. E, bom, não havia como explicar às crianças a história que envolvia o prédio sem mencionar o que realmente se fazia ali.

Alexa compreendera muito bem a situação. Talvez mais até do que Liam. Era por isso que ela ainda conseguia ler um livro, enquanto suas crianças se encontravam em uma espécie de coma induzido.

— Ei, como estão as crianças? – perguntei e ela se sobressaltou, pois não notara minha aproximação.

— Sabe, se Gabriel não fosse um arcanjo, eu temeria. Eles nunca dormiram tanto... me pergunto se é um risco.

Me dei conta de que ela não sabia realmente quem os colocara para dormir. Se a responsabilidade pelo ato fora atribuída a Gabriel, Zoe cogitara que fosse melhor Alexa não saber até onde suas habilidades mágicas se estendiam.

— Depois de tudo que se passou, eles precisam recobrar as energias – me sentei ao lado dela na cama, quando ela pôs o livro de lado e abriu espaço, já imaginando que tipo de conversa eu buscava – Eu dormi por trinta horas, há alguns dias, quando quebrei o pulso e levei um tiro. Meu corpo foi curado enquanto eu estava no sono.

 - Trinta horas?! Mas foi um sono induzido?

— Foi. Por uma bruxa, Joanna Beauchamp. Ela curou meu corpo e me pôs um feitiço de proteção. Foi por isso que eu escapei da nossa aventura sem um arranhão sequer.

Talvez eu devesse cogitar segurar minha língua. Ao mesmo tempo, achava que devia sinceridade à Alexa. Ela me encarou embabascada, antes de soltar uma risada nervosa.

— Céus! A cada minuto vocês ficam mais interessantes.

—  Não tenho certeza do contexto em que usa essa palavra – sorri – Devo levar como elogio?

— Uhum. No bom sentido. Sabe, quando eu conheci Liam Jones, não imaginei que pudesse conhecer alguém mais esquisito. Isso foi até Killian Jones me revelar certas coisas sobre si mesmo e seus amigos. Ah, Killian... – ela balançou a cabeça, um sorriso divertido brotando de seu rosto – Eu sabia que Killian não podia ser muito normal... Vou presumir que nenhum dos Jones era...

— Por que diz isso?

Alexa pensou por um instante, como quem procura as palavras certas ou tenta recobrar a memória. Ela se acomodou melhor no colchão antes de me fitar e dizer:

— Porque eu os conheci. Todos eles. E nenhum deles, nem mesmo Liam, era um ser humano ordinário – ela ajeitou o cabelo num coque, afastando as mechas soltas que lhe caíam no rosto – Sempre me perguntei o que é que havia de tão apaixonante nos Jones. No modo como as pessoas os respeitavam, escutavam e seguiam. Quando eu era mais nova, me pegava pensando nas razões que faziam Killian e Milah populares e Liam um excluído. Até ontem, eu achava que era a beleza, o carisma, a rebeldia... Mas é algo tão mais simples...

— A esquisitice?

Ela negou com a cabeça, rindo.

— A aceitação.

Denunciei minha falta de compreensão com um vincar de testa e Alexa prosseguiu antes que eu solicitasse uma explicação.

— Conheci os Jones na escola quando minhas irmãs frequentaram as mesmas aulas que Milah e Liam. Lembro-me de como elas se sentiram quando Milah completou quinze anos e convidou metade da escola à festa. Eu, é claro, não a conhecia tão bem quanto Alyssa e Amber, então pouco importava não ter sido convidada. Por dias, tudo que se dizia era que Milah Jones ia dar uma festa. E não importava que ela fosse uma jovem de pais bem-sucedidos, bonita e autoconfiante. Ela não era nada disso... – ela suspirou pesadamente, como se lidasse com um sentimento pesaroso – Ela era desejada por todos os garotos, mas se envolveu com um homem com o dobro da idade dela, alguém que Liam diz não ser bonito, nem envolvente, nem ao menos engraçado, como eram os garotos daquela escola. Milah não se achava bonita, nem digna. Foi por isso que ela se envolveu com Gold.

— Ela o amava – contestei. Não achei que ela estivesse sendo justa com aquele julgamento, mesmo conhecendo mais de Milah do que eu conhecia.

— Não quando se conheceram. Ela transou com ele porque achava que não era digna de melhor. Ela sequer se olhava no espelho. Ela não era nada do que aparentava ser. Não era inteligente, nem respeitada por ser inteligente. Não era boa aluna, nem tentava ser. Ela se detestava. Milah era uma fracassada; e do fracasso ela tirou uma criança – ela lançou um olhar na direção de Baelfire, que dormia esparramado na cama oposta – Quer saber por que a amavam? Porque ela se aceitava.

De repente, eu sabia do que ela estava falando. E sabia, porque se aplicava a Killian.

— E você acha que Killian se aceitava? – questionei, ainda tendo as minhas dúvidas sobre quem ele era na infância. O Gancho de agora parecia muito distante de quem fora aquele menino traquinas filho de pais empresários.

— Plenamente. Killian lançou um grandessíssimo foda-se no ar quando entrou naquela escola. Ele e Milah eram uma dupla icônica. E nenhum dos dois era tão esforçado quanto Liam. Liam era como eu, invisível... O velho Amos nunca o valorizou. Liam era o xodó da Helen, mas não porque fosse esforçado e responsável, nem porque fosse bom filho. Em algum aspecto, ela se espelhava nele... Era por isso que ela o amava... E eu era como Liam... nada influente – ela riu como se achasse graça de si mesma, de sua própria insignificância – Sabe por que éramos invisíveis? Não porque nos enfurnássemos na biblioteca, cada qual numa pilha de livros... Nenhum de nós se aceitava. Até ontem, sabe...

Percebi que ela parecia prestes a cair no choro. Mas, tão rápida quanto surgira, sua vulnerabilidade desapareceu. Alexa fungou, afastando dos olhos qualquer sombra de lágrima que tivesse se formado.

— Por anos eu tentei ser como Milah... por mais que Liam me dissesse quem eram verdadeiramente seus irmãos. Como eu podia ser a Alexa, mãe de dois filhos, e ser notada? Quando nem eu, nem meu marido nos dispúnhamos a abrir mão da máscara que construímos juntos? – ela fez uma pausa, antes de prosseguir tranquilamente – E então, nossa filha foi sequestrada. E a mãe dela ainda era incapaz de compreender como é que Killian Jones lidava tão bem com a situação. Como é que Killian Jones movia os esforços dos amigos em encontrar uma criança que eles apenas conheciam pelo nome. “Devem ser pessoas muito boas”, eu pensei. E eis que Killian Jones, na ocasião do sumiço do irmão, olhou nos meus olhos e disse: “Alexa, eu e meus amigos somos caçadores. Sua filha foi levada por deuses antigos e nós temos o dever de matá-los”. E então, sem mais nem menos, o mundo virou de cabeça pra baixo. E lá estava Killian e seu bando, trazendo de volta a minha filha. E Liam não era mais a mesma coisa, nem eu...  

“Agora eu sei porque Killian e Milah foram tão influentes: é que eles aceitavam a realidade muito bem, mais do que eles acreditavam aceitar. Sabe de uma coisa? Killian é tão verdadeiro que é por isso que você o ama. Eu achava que era por ele ser bonito e carismático – ela soltou um risinho –  Jefferson nunca vai ser como Killian e ele sabe disso. É por isso que ele tenta comprá-la com presentes e abusos. É por isso também que Amos Jones nunca valorizou Helen. Eles distoavam, e ele sabia que ela seria sua ruína... Eu não a conhecia com intimidade, tudo o que sei sobre Helen vem de uma observação minha. Claro, Liam tem uma visão menos apaixonada do que Killian, ele me contou certas coisas sobre a própria mãe. Ela amava Liam porque era tão calcada nas aparências quanto ele. Talvez eu o ame pela mesma razão, não sei...

— Você quer dizer que Liam é menos verdadeiro do Killian? – indaguei, apenas para ter certeza de que acompanhava o raciocínio. Talvez Alexa estivesse sendo um tanto injusta demais consigo mesma e com o marido. Ela fez que sim, encarando as próprias pernas, que cruzara sobre o colchão.  

— Ele sempre se esforçou em aparentar normalidade. Mesmo quando a mãe dele se atirou de um prédio. E olhe quantos anos se passaram até que eu soubesse o real motivo disso. E a morte de Milah, que ele me disse ter sido um acidente de carro – Alexa parecia mais consternada do que indignada. Ela me olhou, seus olhos brilhando com as lágrimas que se formavam – Ele deixou Killian se virar sozinho... Tudo por uma família feliz... feliz e falsa... Eu não devia dizer isso, mas me parece que o que aconteceu a Clem foi para o bem maior. Deus sabe por quanto tempo eu estaria cega para as coisas que envolvem os Jones, que envolvem você, Ruby... Se eu tivesse qualquer noção de quem você e Killian eram realmente, jamais teria permitido que Jefferson se aproximasse da nossa família.

— E isso o torna pior do que qualquer uma de nossas falhas. Ele ia usar vocês para atingir Killian. Nós permitimos que ele fosse longe demais... – parte de mim se frustrava com o comportamento nocivo de Jefferson e eu não conseguia entender porque, se essa frustração vinha de uma necessidade de que ele fosse menos imperfeito. E se, no fundo, o amor que ele tentava me oferecer me agradasse? – Ele diz me amar, mas continua agindo de uma forma reprovável. Se qualquer coisa acontecesse a vocês, eu o mataria.

Alexa se mexeu desconfortavelmente, como se alguém lhe cutucasse uma ferida aberta.

 - Ruby, assim você me subestima, sabe? Se eu tivesse qualquer sombra de desconfiança com Jefferson, ele sequer atravessaria meu quintal. Você sabe, eu protejo as minhas crianças. E Liam, desconfiado como é, saberia identificar um inimigo. Há algo que nenhum de nós dois entende em toda essa história: como é que Jefferson entrava em nossa casa com toda amabilidade do mundo sem que nenhum de nós visse através da máscara?

— Ele é manipulador. Diria até que é um psicopata, mas não tenho certeza. Não tenho dúvida de que vocês saberiam, mas Jefferson é muito bom no que faz. Da primeira vez que nós o vimos, Killian se deixou enganar e Jefferson o largou para morrer. A própria Regina, inteligente como é, não se atentou ao perigo.  

— Difícil acreditar que um homem tão gentil pudesse nos manipular com presentes e palavras de amizade. Killian me disse que Ian lhe contou coisas sobre Grace – ela me fitou com um olhar de questionamento, ao que eu assenti, repetindo em detalhes o que o pequenino me contara no parque – O mais estranho nisso tudo foi Clem não ter me contado. Nós temos um relacionamento aberto, de confiança. Se algo a perturbava, ela teria me dito. Se provar para Grace... não soa como algo que Clem faria...

— Alexa, Clem é uma criança. Crianças crescem e se moldam a padrões. Você mesma disse que você e Liam se escondiam atrás de uma máscara. Clem apenas seguiu o que era esperado dela.

— Tem razão... Mas eu me enganei com Grace como me enganei com o pai dela.

— Eu também – tentei confortá-la, demonstrando minha fraqueza perante a menina – Da primeira vez que a vi, senti pena. Senti que ela não era culpada pelos atos do pai. Mas hoje sou obrigada a reconsiderar. Jefferson está criando um monstro e eu tenho medo do que esse monstro pode se tornar...   

— Você acha que Grace, tão pequena, tem noção de como agir perante os outros? Eu quero dizer, aquela menina tem algo de nobre. Antigamente eu diria que era por ser filha única de um homem rico e imponente que a trata com todos os mimos possíveis, agora eu tenho de repensar... talvez ela seja tão manipuladora quanto o pai.

— Talvez ele a use de acordo com seus próprios interesses – sugeri, eu mesma tão perdida que não sabia que espécie de pensamento formular – Como você diz, ela é muito pequena e o mal tem de ser ensinado. Só não entendo que objetivos ele esperava alcançar se aproximando de vocês.

— Killian acha que ele pretendía nos arrancar informações, sabe, porque... bom, às vezes Liam bebe pouco mais que uma taça e fala além da conta. Ele não tem passado da conta, na verdade, eu fico de olho. Mas quer saber? Se Jefferson é um hacker, não necessariamente ele precisaria arrancar informações de Liam... Killian disse que ele sabe um montão de coisas sobre vocês.

— Mais do que eu gostaria... – assenti, meu estômago embrulhando pela lembrança marcante de Jefferson e seu altar de culto. A conversa enfim findou com a aparição de Grammy, que caminhava em direção ao banheiro com um termômetro na boca.

— Gram, você está horrível! – me ergui de um pulo, indo avaliar suas condições físicas. Além do fato de ele usar roupa de inverno em dia de clima quente, exibia olheiras profundas e uma palidez de assustar.

— Aquela tempestade me adoeceu – ele estremeceu, todo encolhido dentro do pijama – Vou tomar um banho frio, acho que estou com febre.

Alexa, a mãe hipocondríaca, prontamente lhe examinou o termômetro, logo depois checando a temperatura em sua testa.

— Está queimando! Melhor prestar uma visita ao hospital, quando Zoe e os outros forem visitar Mary.

— Ah não, tenho medo de jalecos – ele se afastou apressadamente, como se preocupado com a possibilidade de o arrastarmos em direção ao hospital – É só um resfriadinho de nada.  

Ri. Graham se mostrava mais aberto do que nunca, expondo seus medos e pensamentos sem se importar com o que pensariam dele. Alexa se voltou para mim, após checar as crianças.

— Ruby, você concorda com o que será feito a Finnian?

— De modo algum! Mas o que posso fazer? Killian está determinado.

— Eu não tenho estado no meu normal, desde tudo o que se passou naquele parque. Sabe, eu acho que Finnian merece. Não devia pensar dessa forma, mas quero ver justiça.

Concordei com um aceno de cabeça, embora não quisesse que Killian cedesse à tal violência.

— Você tem algo contra Finnian? – perguntei, curiosissíma.

Era estranho que Finnian causasse um sentimento tão odioso na maioria das pessoas. Mas como é que eu podia julgar? A minha experiência com o jornalista fora breve demais para que eu o odiasse. Mesmo quando ele se prestava ao serviço sujo de Jefferson, me seguindo para cima e para baixo com uma câmera, meu ódio não vertia em sua direção. Talvez porque, no momento, o Chapeleiro fosse a única fonte de descontentamento. E era suficiente para superar todas as outras.

A expressão de Alexa se transfigurara em um misto de rancor e indignação.

— Finnian colaborou fortemente na ruína dos Jones. Muito antes da morte de Helen, ele já fazia questão de enfernizar a vida de Amos. Liam tem muitas mágoas, principalmente porque realmente cogitou que Finnian fosse irmão dele. No fim das contas, não importa que ele não seja. Aquele vigarista teve tudo o que queria e um pouco mais.

— Eu não entendo. O que ele queria de Amos? Até onde sei, os Jones ainda são um império. Killian me contou que os pais de Finnian são podres de ricos. Não vivem mais aqui, mas certamente poderiam prover a ele o mesmo que Amos.

— Não acho que Finnian estava atrás de dinheiro. Voltamos ao assunto da qual falávamos antes. Finnian invejava Killian e Milah porque, como eu e Liam, e como Jefferson, não estava disposto a desapegar da máscara que vestia.

— Ele queria a imponência – Grammy retornava do banheiro e eu duvidava que tivesse tomado um banho tão rápido, já que ainda usava o mesmo pijama – Sabe por que Finnian se tornou caçador? Porque ele queria ser como o Gancho. Um pensamento absurdo, mas de algum sentido.

— Claro – Alexa concordou, como se conhecesse Finnian intimamente –Ele era um jarro vazio. Achou que uma vida como a de Killian fosse suprir suas falhas.

— O pai dele era irmão de Amos, não era? – perguntei e Graham respondeu.

— Era. Mas Amos sempre inspirou mais poder que os irmãos. Todos tinham grande admiração por ele. De onde é que vocês acham que vem a popularidade dos Jones? De um nome e uma fortuna? Ah, não, é do carisma! É só olharem para o Gancho; com Amos era o mesmo.

De fato, era como se Gancho dissesse “a” e toda uma nação o seguisse. E, bom, ele até mesmo me convencera a deixar que torturassem Finnian. Talvez ele não fosse muito distante de Jefferson, com todo aquele carisma encantador. Mas se havia algo que eu não compreendia, era a motivação de Finnian.

— Vai me dizer que Finnian, um jornalista, cogitou seguir carreira nas caçadas por pura inveja de Killian? – perguntei a Grammy, pouco confiante de que ele dissesse a completa verdade. Quem haveria de saber se Finnian tinha outros motivos? – O que ele achava, que era uma profissão de glamour?

— Não, Ruby – Grammy riu, me forçando a rir junto pelo absurdo do que acabara de sugerir – Não que ele cogitasse se tornar caçador, mas, se quer saber, eu acho que a experiência tinha como objetivo aproximar-se de Killian. Ele queria entender como Gancho e Milah podiam ser tão fortes em meio a desgraça que se abateu sobre eles. Finnian jamais terá tanto apoio como tem o Gancho. E você não o conhece, sabe? Ele queria caçar um Wendigo, não por necessidade, mas porque queria expor o mundo sobrenatural. E que estupidez a minha, não sei porque me deixei levar pela doidice daquele cara.

— Ahn... – fez Alexa – o que exatamente é um Wendigo?

— Vai por mim, não vai querer saber – ele estremeceu outra vez, parecendo ainda pior do que estivera há uns minutos.

— Ei, você não ia tomar banho? – perguntei, preocupada.

— Não consegui entrar na água, estava gelada! Em todo caso, não tenho muito o que fazer... – ele deu de ombros, voltando-se na direção da qual viera – Disseram que o almoço está quase no ponto, encontro vocês lá embaixo.

Antes que ele desaparecesse, julguei oportuno perguntar algo que andava doida para saber.

— Grammy, você e Gancho fizeram algo a Finnian, o que foi?

Ele riu sem nenhuma sombra de arrependimento, quase como se orgulhasse de seu feito.

— Bom, ele me largou pra morrer na toca do Wendigo, então nós retribuímos: o usamos de isca para atrair um Ghoul. Ele quase morreu por nossa causa. Controlamos a situação a tempo, mas não com agilidade suficiente. Quer saber porque ele nos odeia? Não é por ter sido usado como isca, é porque perdeu os cinco dedos do pé direito para o Ghoul.

Alexa arregalou os olhos, assombrada.

— Eu, definitivamente, não quero ser inimiga de vocês.

***

Embora Regina insistisse que deixássemos por sua conta, Alexa e eu ajudamos com o restante do almoço. Enquanto a loira picava com destreza os legumes, eu auxiliava Belle com a finalização da cheesecake, que logo depois colocamos para gelar.

Rindo feito adolescentes, ouvíamos Regina contar suas peripécias como caçadora. Não era comum, ela nos disse, que saísse para caçar em grupo, de modo que terminava em situações desesperadoras sempre que se aventurava sozinha. Ela bem ia destrinchando a história de como se convencera de que caçava um poltergeist quando, na verdade, lidava com um ladrão de fiações, quando Graham retornou de um banho demorado.

— Outra vez essa história, Regina? Nós já sabemos de cor e salteado e ao contrário – ele provocou em ar de escárnio, apenas para irritá-la.

— E quando foi que o chamaram na conversa? – retrucou ela, gesticulando com uma faca em mãos – Vá com esse seu resfriado para lá, não estou a fim de entrar em contato com seus germes.

Quando se tratava de importunar a Rê, Graham não conhecia limites. 

— Ora, bem que você não se importou em lidar com os germes de Finnian, quando ele lhe transmitiu candidíase.

— GRAHAM! – Regina guinchou, suas bochechas queimando instantaneamente, conforme lhe oferecíamos olhares horrorizados.

— Regina! Com quantos babacas você transou? – me esganicei, recusando-me a acreditar que, não bastasse Jefferson, ela também tivesse se envolvido com Finnian.

— Ora... é que...eu lá ia saber que ele não prestava?

Grammy estava se divertindo à beça com o embaraço que causara na Rê.

— É compreensível que você tenha um dedo podre, Rê, não se envergonhe... afinal de contas, você também cogitou pegar o Amos.

No segundo seguinte, um tomate verde atravessava toda a extensão da sala, indo se esborrachar na parede. Graham se afastara a tempo e tratou de sair do caminho da mulher tresloucada, que fez menção de persegui-lo com a faca.

— Seu filho da puta, é melhor nem dormir essa noite, eu vou acabar com a sua raça!

Alexa se colocou entre os dois, incrivelmente austera.

— Jefferson, eu consigo compreender. Finnian, posso até perdoar. Mas AMOS? POR QUE DIABOS VOCÊ IA QUERER AQUELE ENERGÚMENO?

— Bom, é que... ai, Alexa, não é da sua conta e não é da conta de ninguém! Ora essa, eu durmo com quem eu quiser!

— Regina, seu gosto para homens ainda vai lhe trazer problemas – avisou Belle, ignorando a fúria que poderia ser vertida em sua direção.

— Ah não, depois de Jefferson, aprendi a lição. Você por acaso está familiarizada com o sobrenome Cavanaugh em Storybrooke? – ela se inflara de confiança, exibindo um sorriso vaidoso.

— Cavanaugh? – Belle franziu a testa – Drake Cavanaugh? Candidato a vereador?

— O próprio! Como eu disse à Ruby, ando o paquerando. É certo que ele me convidará para um jantar.

Grammy, é claro, correra às redes sociais em busca do nome. Em alto e bom som, declarou sua opinião sobre o homem.

— Regina, esse homem tem o dobro da sua idade! E ainda por cima é gordo e careca e provavelmente tem herpes.

— Sabe, Graham, nem todas procuram um modelo de cueca.   

E aquilo findou o assunto. Cerca de dez minutos depois, reuníamo-nos à mesa. Killian acabara de retornar da garagem e a conversa se pautava no novo meio de transporte que devia ser adotado por ele.

— Cara, uma lambreta! – Grammy ia sugerindo, conforme enchia o prato de batatas – Ia ser demais hein, Aug?

— Não imagino Gancho em uma lambreta – August fez uma careta de desaprovação – Que coisa mais obsoleta!

— Por isso mesmo, Killian é das antigas.

Regina debochou, dirigindo-se a Gancho. 

— Se quer um meio de transporte antigo, eu lhe dou a bicicleta da minha avó.

— Ah, Regina, eu aceito, viu? – Graham não podia achar que ela estava falando sério. Ou será que achava? – Lembra daquela minha bike? Uma pena que a tenham roubado...  

— Se lembro? Como eu poderia esquecer, a minha pessoa na sua garupa naquela chuva torrencial de março! – ela revirou os olhos, balançando a cabeça –  Meu Deus, que capacidade!

— Ora, você bem que se divertiu!

— Os padrões da Regina subiram quando ela se tornou prefeita, Graham – Gancho piscou para ele, ao que Regina confirmou:  

— Não aceito menos do que um jatinho de quem me levar para sair.

Ora essa! Dessa forma Graham ia se sentir desmotivado em convidá-la a sair. Ele disfarçou o desânimo com uma pergunta atrevida.

— Ah, então Jefferson tem um jatinho?

— Deve ter. À minha casa ele ia a pé.

— Então gastou muitas solas de sapato.

— Cala a boca, Graham! Não que eu lhe deva satisfações, mas nós não nos encontramos muitas vezes.

— Apenas o suficiente para que ele instalasse câmeras no seu banheiro quando você não estava olhando.

— Melhor mudar de assunto, já tivemos problemas demais com aquele irritante chapeleiro – falou Gancho e notei seu olhar em minha direção.

Baelfire brotou do elevador, sua cara amassada de um lado, enquanto seu cabelo macio formava redemoinhos.  

— Mas vocês já estão no almoço? Por que é que não me acordaram?

Gancho riu.  

— Adolescentes precisam dormir para crescer, garoto, não sabia?

— Quer umas panquecas, Menino-Bae? – Regina se ergueu sem ter terminado sua refeição, disposta a prover a Bae a comida de que ele mais gostava – Aposto como o seu pai não sabia que você detesta as panquecas dele.

— Regina!

— O que foi? Estou lhe fazendo um favor... E sabe de uma coisa, Rumple, acho que o Bae já enjoou da comida enlatada.

— Culpado! – Gold ergueu as mãos em rendição – Não sou bom cozinheiro e a Belle detesta a cozinha.

— Bom, se quiser eu lhe ensino umas receitas,  ao menos para isso a minha mãe serviu – ela começou a dispor a farinha em um recipiente, Bae espiando a ordem dos ingredientes para aprender a fazer ele próprio as panquecas – Vou levar para Mary a torta de maçã de família, vai alegrá-la um pouquinho.

— Não é justo! – Graham berrou de boca cheia – Por que Mary ganha uma torta de maçã inteirinha e Bae ganha panquecas quando eu só ganho desaforos?

A resposta que recebeu de Regina não podia ser menos atrevida.

— Aquela garota é praticamente a minha irmã e Bae já é meu filhinho de coração. Você? Bom, eu não lhe devo nada, meu filho.

— Viram? Viram como ela é malvada comigo? É por isso que só gosto da Ruby, se ela não fosse comprometida eu bem que me casaria com ela.  

— Epa, que é isso? – Gancho fez cara feia para o braço de Graham em meu ombro – Basta o Excêntrico do Laquê desejando a minha mulher.

— Brincadeirinha, Gancho. Todo mundo sabe que o amor da minha vida é Aug.

— Que engraçado, achei que o amor da sua vida fosse a cachaça.

E logo Graham estava pegando Aug pela mão. 

— Ah não, com a cachaça eu não posso discutir o sentido da vida. Você aceita ser meu esposo?

Marco acabava de sair do elevador com Archie, bem a tempo de ver o gesto.

— Que é isso?! Esse bebum vai ser meu genro? E eu achando que você soubesse escolher alguém decente, August.

— Papai, não fale assim de Grammy! Você escolheu o Grilo e eu nem me opus.

Archie enrubesceu, como sempre acontecia quando sugeriam que ele e Gepeto tinham um caso. Esse último tratou de esclarecer:

— Acontece que o Grilo tem pretensões na vida, Grammy sequer tem moradia.

— Ele não tem nem uma bicicleta – acrescentou Regina.

— Eu não tenho uma família também e o que isso importa? – Grammy se ergueu de um rompante, ajoelhando-se aos pés de August – O amor preenche tudo!

Zoe, que sabe se lá onde se metera, subiu com Dean pelo elevador.

— Declarações de amor à mesa? O que eu perdi?

— Só o Grammy se declarando ao Aug – eu ri.

— Ah, que bonitinho! Certifiquem-se de me convidar para o casamento.

— Isso me lembra que Rumplestiltskin está nos devendo uma festa rave – lembrou a Rê e Gold suspirou profundamente.  

— Ai, ai, o que fui prometer...

— Por que Gold nos deve uma festa rave? – Dean se largou no assento ao lado de Baelfire, que esperava pacientemente suas panquecas.  

— Você não está incluso, Winchester, sua presença aqui é uma mera passagem!

— Regina! – ralhei – Dean e Zoe se arriscaram por nós, lembra?

— Ai, não precisa me lembrar, Ruby!

O loiro sorriu para mim, em ar de agradecimento.  

— E então, por que Gold nos deve uma festa rave?

— Esses dois se casaram sem nos convidar e não comemoraram – informei, indicando Gold e Belle com um gesto.

— Comemoramos sim – essa última se pronunciou – Em Miami, na nossa lua-de-mel.

— Enquanto o pobrezinho do Bae foi deixado para trás. Mas não importa, nos divertimos muito hein, garoto?

— Se divertiram? – Gold guinchou – Você quase matou o menino, Regina!

— Ele levou um golpe de caratê de uma jaguatirica – gargalhou Grammy.  

— E não foi divertido? – a Rê se dirigiu a Bae, que confirmou com um aceno de cabeça – Nós invadimos uma mansão, somos espiões autênticos.

— Que história é essa? – perguntou Alexa – Eu não sabia que Bae era espião.

E Regina narrou mais uma de suas peripécias, com intervenção de Graham e Gancho, que desmentiam suas descrições exageradas. Alexa não conseguia entender o excentricismo de Jefferson.

— Por que uma jaguatirica e não um cão de guarda?

— Eu sei lá, essa gente rica gosta de bichos exóticos – Regina deu de ombros. Ignorava o fato de que ela própria se encaixava naquela afirmação.

— A Regina quer se dedicar à criação de tatus – Bae comentou, o que gerou em Marco uma reação que beirava o pavor.

— Tatus?! Cruzes! Que ideia, Regina!

— Mas são tão fofinhos, Gepê. Em todo caso, a minha intenção foi por água abaixo: ia importar um tatu do Brasil, mas pelo visto é ilegal.  

— Não se souber com quem tratar – Aug mordiscava uma coxinha de frango e estendeu um dedo gorduroso na direção de Regina – Eu tenho um amigo que trafica qualquer coisa, desde cocaína até lápis de cor.

— Não sabia que a importação de lápis de cor era ilegal – ela franziu a testa.

— E não é, só estou exemplificando.

— Ora, quanto é que ele vai me cobrar por um tatu?  

— Regina, não vá arrumar um tatu ilegal! – Killian lançou a Aug um olhar de desaprovação.

— Ora, e de que outra maneira posso conseguir um? Já li tudo sobre tatus e estou apaixonada! Já até escolhi o nome: Tatu-Grace.  

Alexa desatou a rir, o que levou a um cenário de riso coletivo.

— Regina, que maldade!

— O que foi? É uma homenagem! Pode não parecer, mas eu adoro a Grace. É uma pena que eu não possa dizer o mesmo do pai dela.

— Ah, que engraçado! Você bem que o adorava quando ele visitava a sua cama – acusou Graham.

— É claro, Jefferson não é de se jogar fora. Eu diria pra Ruby experimentar, mas não vale à pena...

Killian, nem preciso dizer, arqueou a sobrancelha numa demonstração de nojo. Dali a pouco, um solo de guitarra preenchia o ar da cozinha. Dean rapidamente enfiou a mão no bolso, atendendo o telefone.  

— Bobby! Graças aos céus, onde foi que se meteu? – pausa. Todos nós o encaramos, curiosos – Ásia? O que diabos foi faz... Zoe!

Ela arrancara o celular da mão dele sem cerimônia.

— Tio! Por onde andou? – pausa – E não podia ter esperado por mim?! Francamente! – pausa. Zoe concentrara o olhar no monte de batatas assadas em seu prato – AH, SEU TRAIDOR! BOBBY FOI CAÇAR O IÉTI SEM A GENTE!

E, de repente, todo mundo estava falando ao mesmo tempo.  

— Quê?! Bobby, seu traíra!

— O Iéti existe?

— É claro que sim!

— O Abominável Homem das Neves? Sempre achei que fosse uma lenda.

— ...da próxima vez é melhor nos avisar, não precisávamos acreditar nas baboseiras de um ventríloco. Não ria, por muito pouco teríamos morrido...

— Quase fomos mortos, enquanto aquele velhote se divertia no Tibete!

De fato, seriam dias agitados no QG...

***

Mais tarde naquele dia, parte da nossa gangue se aprontava para sair. Killian e eu namorávamos – ou namoricávamos, como ele diria – na sala, enquanto as pessoas iam e vinham pelo espaço.

Regina, conforme dissera, ia ao funeral simbólico do senhor Delgado. Trajava um vestidinho preto formal, que quase parecia ter sido preparado para a ocasião.

— Por que diabos você anda com um vestido desses na mala quando sai para caçar? – questionou Dean, examinando-a de cima a baixo.

— Sou prevenida, Winchester, nunca se sabe quando haverá um funeral e eu vou aos funerais das vítimas que tento salvar.

— Por quê?!

— Não vá me dizer que tem uma fixação por enterros, Regina – Grammy se enrolara como uma bola em um par de cobertores, enquanto aguardava o pessoal que ia ao hospital visitar Mary. Alexa o convencera a se consultar com um médico e agora tirávamos sarro de seu medo de jalecos.

— Ao contrário de alguns, Graham, eu tenho empatia com as pessoas.

— Mas não comigo. Veja só como me trata.

— É porque você não merece menos do que o meu desprezo – pelo visto, ela não ia perdoá-lo por ter revelado seus casos.

Sentada no braço do sofá, Zoe alisava a careca diante do olhar de Dean, que parecia estar se acostumando ao seu novo visual. Os dois iam ao hospital em companhia de Alexa, Graham e August. Este último ia substituir Liam, fazendo companhia a David.  

O restante concordara em prestar uma visita no dia seguinte, já que o doutor Shepherd não permitiria uma comoção de gente no quarto. Archie se sentara na sala conosco, sua perna coberta de pontos apoiada na mesinha de centro. Gold fora checar Finnian, enquanto Belle verificava as crianças para Alexa. Enquanto isso, Marco levara Bae para tomar sorvete, os dois entediados demais para permanecer no QG.

O timer do fogão apitou, o cheiro de assado seduzindo nossos estômagos. Regina retirou a torta do forno, envolvendo-a em um pano de prato.

— Onde é que está a Alexa? Até o caminho ao hospital a torta vai ter esfriado.

— E você espera que o doutor Shepherd permita a Mary comer torta? – Gancho franziu a testa.

— Zoe pode persuadi-lo. Não ouse tocar nessa torta, Graham! Você muito menos, Winchester.

Alexa acabava de sair do elevador, após dar uma série de recomendações a Belle.

— Estão dormindo feito anjos! Vamos?

— Até que enfim! – ironizou Zoe, erguendo-se energicamente – Achei que ainda fosse ensinar Belle a passar talco depois de trocar as fraldas.

— Não julgue, um dia você terá filhos... Graham, estamos indo, não ouviu?

— Hum...vão vocês, eu me viro com meu resfriado.

— Ah, mas o que é isso, não pode estar com medo de uns antibióticos – Aug o ergueu de um só puxão, forçando-o a se livrar dos cobertores.

— Você segura a minha mão se me derem injeção no bumbum, Aug?

— Ah, mas que pena que eu não vou ver essa cena – Regina passava a torta para Alexa – Alguém faça o favor de filmar, eu vou postar na internet.

Graham se foi em companhia dos outros cinco, choramingando feito um bebê. Gancho e eu nos entreolhamos. Archie não parecia ter pretensão de nos deixar a sós, então fizemos nosso caminho até o terraço.

Nem bem eram quatro da tarde e o céu escurecia. Pelos padrões de formato das nuvens, eu podia apostar que em poucos minutos uma tempestade ia sacudir Seattle. Gancho me puxou para um demorado beijo, no qual me perdi pelos minutos de sua duração.

— Vou sentir falta de ter o espaço só para nós – comentou ele, depois que nos separamos pela falta de ar. Nem bem falou isso e seu celular vibrou com uma ligação de Freya. Ela e Ingrid haviam chegado à estação de ônibus – Bom, agora temos um adicional de duas bruxas.

— Ah, Killian, não reclame – o abracei – Devíamos aproveitar enquanto podemos. Há séculos não tínhamos tanta companhia.

— Tem razão – ele me deu um último beijo e retornamos ao elevador – Você devia descansar, eu volto em uns instantes.

— Que nada! Vou ficar entediada aqui.

Ele riu, me prometendo comprar um lanche numa das lanchonetes da estação. No entanto, nossos planos ainda iam ser bruscamente mudados. Outra vez o celular vibrou, mas desta vez era Liam.

— Ei, mano! August vai rendê-lo, então você pode vir... Quê? – com horror, ele encarou o próprio reflexo na parede metálica do elevador – Ele o quê?! Liam... Mas nós não temos a obrigação... Liam! Liam!

Quando o irmão desligou, ele me olhou com uma expressão de dor, ódio e descontentamento, tudo ao mesmo tempo.

— O que foi?! – tomei uma de suas mãos entre as minhas e vagarosamente ele respondeu:

— Liam acaba de ter uma inconveniente surpresa no hospital... Nosso pai sofreu um enfarto e recorreu a nós dois para pagar pelo tratamento...  


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Notas finais do capítulo

Acho que já podemos teorizar quanto aos objetivos de Jefferson ao se aproximar de Liam... O que será que o velho Jones vai provocar no meio dessa confusão toda?
Em breve retornarei com o próximo. Enquanto isso, leiam a fanfic Orquídea Vermelha, que escrevo em conjunto com a minha amiga QueenOfVampires



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