'Til We Die escrita por Mrs Jones


Capítulo 25
Uma Peça Teatral em Oito Atos


Notas iniciais do capítulo

OLÁ, MEU POVO! EU VOLTEEEEEI! Espero que não estejam me odiando muito pelo meu sumiço kkkk
Pelo amor dos Wendigos, espero que não tenham abandonado a fic. Sei que dessa vez demorei demais e teve até gente achando que eu não ia voltar mais. Mas como já disse várias vezes, jamais vou abandonar minhas fics, principalmente esta, que é meu amorzinho.
Milhões de desculpas não são suficientes. Mas quem me conhece sabe que eu entrei em desespero com esse capítulo. Não importava o quanto tentasse, nunca ficava satisfeita. Eu o reescrevi umas cinco vezes, no mínimo. Não sei ao certo porque fiquei tão travada nele, mas nos últimos meses perdi um pouco da confiança no que eu sei fazer de melhor (pelo menos eu acho que é o que sei fazer de melhor kkk) e isso influenciou muito no meu ânimo para escrever. Também fiquei muito sobrecarregada com a faculdade ano passado e por mais que eu tentasse, não conseguia escrever nada decente quando estava com o tempo livre. Eu passei por uma mudança muito grande em 2016, que não foi um ano muito bom para a maioria das pessoas, muito menos para mim. No fim das contas, deixei meu emocional influenciar a forma como eu vejo a minha escrita. Fiquei pensando que tudo que eu escrevia era uma porcaria e que vocês não mereciam ler um capítulo lixo só porque ele já estava muito atrasado. Então sim, eu demorei além da conta, mas espero ter conseguido fazer algo decente. Eu gostei do resultado final, embora saiba que poderia ter feito melhor em algumas partes do texto.
Torno a dizer que nem sempre vou conseguir atender aos pedidos de vocês. Parte da dificuldade desse capítulo foi porque havia muita gente nele e, consequentemente, alguns mal apareceram. De início, o Killian comemoraria o aniversário com pouquíssimas pessoas. Quando mudei isso, coloquei muitas dificuldades no enredo e acabei tendo que fazer muitas mudanças na ideia original. Outra coisa que aconteceu: lá na metade do capítulo tive várias ideias e precisei reestruturar tudo de novo, só porque queria investir nessas ideias. Sim, eu sou dessas kkkkk Mas, enfim, finalmente consegui colocar ordem em tudo e espero que gostem. Tive de dividir o caso em duas partes, pois precisei desenvolver o pano de fundo que levará a resolução do caso. Creio que a essa altura estão acostumadas aos meus capítulos enormes e excessivamente descritivos kkkk
Quero agradecer minhas amigas escritoras pela força e ajuda que me deram. Lara, Ana e Luana, vocês são demais! ♥ E, por fim, quero desejar a todas um ótimo ano. Agradeço muito por me acompanharem e gostarem do meu trabalho. Vocês são incríveis, nunca se esqueçam disso ♥
Boa leitura!

P.S.: me avisem se encontrarem erros de escrita, ok?



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Primeiro Ato: Um Cookie, Uma Manta

Posto policial - 01h17min

O senhor e a senhora Price discutiam em murmúrios o que seria melhor se uma cremação viesse a ser necessária. Ao contrário do marido, a senhora Price achava que os restos mortais do filho ficariam muito bem numa urna de porcelana.

— E por que faz tanta questão de guardar as cinzas? – questionou ríspido o senhor Price, digitando rapidamente no celular – Quer dar ao seu filho o descanso eterno ou transformá-lo em exibição para suas amigas?

A senhora Price contorceu o rosto pálido numa expressão exasperada. Murmurou o que me pareceu uma resposta atrevida a que o senhor Price não deu atenção, uma vez que se encontrava absorto em sua digitação acelerada.  

Dois metros à minha esquerda, a rechonchuda senhora Fox choramingava agarrada ao braço do marido, que parecia incrivelmente compenetrado na tarefa de eliminar de sua barba os farelos de biscoito de abóbora. Por mais que os dedos raquíticos do senhor Fox trabalhassem habilmente, não conseguiam remover do emaranhado de fios os pequenos confeitos que ali tinham se prendido.

— Creio que um pente o ajudaria, senhor Fox – observou o cabo Johnson, aparentemente agoniado pela visão daquela barba embaraçada e salpicada de estrelinhas de açúcar.

— O senhor não teria um aí, teria?

— Mas é claro! O tenente Walters tem uma fixação por pentes...

Mais ou menos um metro à minha direita, a senhora Delgado – que não falava uma palavra de inglês – vez ou outra suspirava um “mi pobre hijo”, balançando a cabeça. Ninguém sabia realmente onde se encontrava o senhor Delgado. Se é que havia um senhor Delgado. Nosso ínfimo conhecimento em espanhol dificultava a comunicação. O senhor Fox bem tentara perguntar a ela se viera ao parque sem o marido, mas no fim das contas a única resposta que recebeu foi uma careta de indignação, seguida de um dedo do meio.

— Mas o que foi que eu fiz de errado? – exclamara ele, tão vermelho quanto as unhas postiças da senhora Price.

— Acho que o senhor acabou perguntando a ela se é garota de programa – comentara o cabo Johnson, soltando uma risadinha.

Talvez fosse esse o motivo de o senhor Fox se concentrar em sua barba, afinal.

Quatro metros à minha frente, a pobre senhora Jones, tão cadavérica quanto um zumbi, era medicada por um socorrista. O senhor Jones se retirara com o grupo de buscas liderado pelo tenente Walters. Liam bem poderia ter se sentado ao lado da maca da esposa, pensei. Talvez Alexa se sentisse confortada se tivesse as mãozinhas trêmulas acariciadas pelo marido. Mas Liam, não estando disposto a aturar ataques histéricos, passara a responsabilidade a outra pessoa.

— Você não parece muito inclinado a participar das buscas – dissera ele a Graham, cerca de meia hora antes – Não quer ficar aqui e fazer companhia à Alexa? A Ruby se recusa a entrar numa ambulância.

— Por mim tudo bem – bocejara um Grammy não muito sóbrio – Vou tentar distraí-la.

— Obrigado, espero que ela não te chateie com o choro histérico.

 De onde eu estava podia ouvir os roncos de Grammy, em posição fetal na maca paralela à de Alexa, que, meio grogue pelos calmantes, acabara por também cochilar.

Nos encontrávamos à entrada do posto policial,  uma construção retangular e cinzenta bem no centro do parque. Um toldo plástico ao estilo de tenda cobria nossas cabeças, enquanto descansávamos em duras cadeiras de armar. Lamentava-me por não estar percorrendo o parque com os outros. Killian achava que eu não devia me esforçar, estando grávida. De fato, sentia minhas pernas endurecidas pelo esforço físico de caminhar naquele horrível chão de cascalho. Assim, ocupava-me em observar os outros pais e, de quando em quando, checar minha caixa de entrada de mensagens. Mas Gancho ainda não me dera notícias.  

Meia hora antes, o pequeno posto policial virara um pandemônio diante da queixa de quatro crianças desaparecidas. Os policiais de plantão – o tenente Walters e o cabo Johnson – bem tentaram apaziguar os ânimos dos pais, que, incrivelmente revoltados, os culparam pelo desleixo com a segurança do parque. O tenente não me pareceu muito confiante de que as crianças seriam encontradas. Mesmo assim, dividiu os voluntários em trios e quartetos e orientou cada grupo a cobrir uma área do parque. A notícia de que seqüestradores estavam à solta pareceu se espalhar porque, em menos de quarenta minutos, o parque esvaziou por completo.

Garoava e um vento distante zunia pela floresta encoberta pela névoa. Ian Jones adormecera agarrado à mãe depois de chorar pelo sumiço da irmã. Archie cochilava ao meu lado, sua cabeça pendendo para frente e para os lados conforme ele ria e murmurava no sono. Ninguém falava muito, com exceção do cabo Johnson, que tentava ser afável ao nos oferecer comida e mantas de aquecimento. Devo dizer que me sentia incomodada pelo excesso de cortesia.

— Vamos, pegue mais um biscoitinho, senhorita Lucas. – dizia ele, erguendo uma lata redonda e de estampa florida em minha direção – Gostaria de mais uma manta?

Apanhei um biscoito redondo por educação, agradecendo polidamente e recusando a manta.   

— Um cookie, senhora Fox? Uma aguinha com açúcar?

— Não quero coisa alguma! – soluçou indignada a senhora Fox, porque esta era a décima vez que o cabo lhe fazia as mesmas perguntas – Só quero a minha Courtney... Por que é que não voltaram ainda?

O cabo enfiou dois dedos na lata e catou um biscoito quadrado.

— Hum, ainda devem estar cobrindo a área... É um lugar bem grande...

  - Mi pobre hijo... – fungou a senhora Delgado – Dónde estás, mi amor?...

— Alguém sabe o que ela está dizendo? – o cabo fez um gesto vago na direção da frágil senhora. Ninguém respondeu – Como é que se oferece água em espanhol?

— O senhor não devia estar mais preocupado em entrar em contato com seu superior? – indagou o grosseiro senhor Price – Faz já meia hora que estão cobrindo a área. Por que é que não voltaram ainda?

— Como eu estava dizendo, é um lugar bem grande e...

— Não me interessa! Os senhores não deviam estar trocando informações via rádio? Ou a sua única tarefa é oferecer biscoitos e emprestar pentes?

As orelhas do cabo Johnson mudaram de tonalidade no mesmo momento. Até sua testa brilhosa e excessivamente grande ficou da cor de tomate maduro.

— C-claro que não, senhor Price. Vou entrar em contato a-agora mesmo... Mas onde é que eu pus meu rádio?...

— Está aí no seu coldre! – o senhor Price fez cara de desdém, provavelmente pensando na espécie de gente que aceitavam na polícia.

— Ah, mas é claro! Que cabeça a minha! – o cabo levou o rádio comunicador à boca – Tenente Walters?

Depois de uns segundos, a voz chiada do tenente veio do aparelho.

— QAP! – respondeu, que em Código Q significa “na escuta”.

— Algum sinal das crianças, tenente?

— Negativo! Ainda na busca! QSL (Compreendeu)?

— QSL! – o cabo se voltou para nós, como se não tivéssemos escutado a informação – Nenhum sinal das crianças ainda, senhores...

— Nós ouvimos! – retrucou o Senhor Price.

— TKS (obrigado), tenente! Câmbio, desligo!

A senhora Fox foi pega por um escandaloso acesso de choro (“Minha filhinha... minha Courtney...”). A senhora Delgado, presenciando a angústia da outra, desatou também a soluçar (“Mi pobre hijo... Mi pobre Miguel...”). E o cabo, mais do que depressa, providenciou uma caixa de lenços descartáveis cor-de-rosa. Observei a senhora Fox assuar o nariz energicamente, enquanto o senhor Price fazia cara de nojo e a senhora Price piscava com jeito de quem ia chorar.   

— Cabo, queira controlar estas senhoras antes que minha esposa comece também a demonstrar sentimentalismo – sugeriu o senhor Price insolentemente, sem desviar os olhos do celular. A senhora Price o encarou com desprezo, irritadiça.

— M-mas como é que vou fazer isto, senhor Price? Não posso impedir as mães de chorarem por seus filhos.

— Ora, pois dê a elas um calmante. Ninguém merece passar pela importunação de um pranto descomedido.

Fiz menção de lhe responder atrevidamente, mas fui impedida pelo senhor Fox, que tirou as palavras da minha boca.

— Ora, do mesmo modo, ninguém merece passar pela importunação de agüentar o senhor com toda sua arrogância.

Até a senhora Price lançou um sorriso de satisfação na direção do senhor Fox quando o senhor Price comprimiu os lábios. 

— Se minha preocupação é vista como arrogância e o desagrada, senhor Fox, sugiro que se retire com seu pente e sua esposa. Há no parque muitos lugares a serem explorados. A barraca de milho certamente lhe será satisfatória, uma vez que parece incrivelmente esfomeado.

As juntas do senhor Fox estalaram quando ele se mexeu bruscamente em sua cadeira. O cabo olhou alarmado de um para o outro, prevendo o início de uma briga. Para seu alívio, Regina brotou no segundo seguinte, roubando as atenções para si. Cambaleando e murmurando consigo mesma, reclamava de dor na coluna e prometia comprar uma cadeira massageadora assim que pusesse os pés em casa.

— Finalmente os encontrei! – ela praticamente berrou para nós, parecendo ainda mais bêbada do que da última vez que a vira – Fiquei perdida nessa merda de parque, girando em círculos entre a barraca de pretzels e o carrossel. Esse lugar é uma decadência em questão de sinalização! Não encontrei uma placa que apontasse a direção dessa merda de posto policial. Francamente! E por que é que estão me encarando com esses olhos esbugalhados? Nunca me viram?

Se a situação não fosse tão grave, eu estaria dando boas risadas. Acredito que as pessoas normais não estão acostumadas a ver uma doida de touquinha de renda e maquiagem borrada carregando uma perna sangrenta de plástico. O cabo fez menção de falar, mas não encontrou palavras. Segurei uma risada.

— Você está bem, Regina? – perguntei e ela me respondeu com uma ferocidade assustadora.

— É óbvio que não! Estou há horas caminhando nesse cascalho, procurando essa porra de posto policial! E como você espera que eu esteja bem com todas essas crianças desaparecidas? Francamente, Ruby, que pergunta idiota! – ela encarou o cabo Johnson, que a fitava sem reação – E o senhor, o que tanto olha?

— Acredito que ele esteja um tanto perturbado por esta perna amputada que a senhora está carregando – comentou o senhor Fox, parecendo divertido.

— Não se preocupe, é de plástico! – e tratou de acrescentar, notando nossas caras de interrogação – O que foi? Eu precisava de algo com que me defender caso fosse atacada. Uma mulher não pode andar desprevenida nos dias de hoje... E então, alguém vai me oferecer uma cadeira ou terei de me sentar no cascalho?

— Tem uma aqui, dona! – apontou o senhor Fox, para a cadeira à sua esquerda.

— De plástico?! Meu senhor, a minha coluna não agüenta!

O cabo, mais do que depressa, improvisou um assento melhor: uma cadeira giratória de escritório.  

— Aqui, senhora, é do tenente Walters, pode usar.

— Muito obrigada, cabo, que gentileza! – e ela se sentou fazendo um esforço quase teatral – Uuuuuuui! Parece que um boi sapateou na minha coluna, Deus me livre! Que ideia de usar brita para cobrir o solo! Não sei por que não colocam um asfalto nessa merda!

— Aceita um cookie, senhora? Um cafezinho? Um chazinho de hortelã? Uma manta de aquecimento?

— Aceito um analgésico, se o senhor tiver.

— Mas é claro! O tenente Walters tem uma fixação por analgésicos!

Não era engraçado o fato de o posto policial ser equipado com tudo de que precisávamos?

***

Segundo Ato: Regina Tem Um Insight

Posto policial – 01h33min

— O nome dela é Sonia Delgado, é tudo o que sabemos – disse o cabo Johnson, enxugando a careca brilhosa com um paninho.

— Como sabe o nome dela se não fala espanhol? – perguntou Regina, confortavelmente acomodada na cadeira de couro ecológico do tenente Walters.

— Vi na carteira de motorista, obviamente. Agora, se a senhora puder colaborar, agradeço.

— Claro, claro, desde que pare de me tratar por senhora. Francamente!

A senhora Delgado, enrijecida em seu assento, bebericava um copo de água com açúcar. Ela era uma atraente mexicana, esbelta e pequena, de olhos assustados e sorriso tímido. Incapaz de comunicar-se conosco, permanecera quieta e afastada. Agora, no entanto, conforme Regina lhe passava conforto e segurança, sentia-se mais à vontade em compartilhar o que de fato acontecera a seu filho e marido. Desatou a falar, enquanto a Rê traduzia rapidamente, colocando-nos a par dos fatos.

— “Estávamos de mãos dadas, eu e Ramon, meu marido, no show da Lady Gaga, quando começou um tumulto às nossas costas. As pessoas nos empurravam tão agressivamente que caí de joelhos no cascalho e por pouco não fui pisoteada. Na confusão, me perdi de Ramon e de Miguel, meu filho. Achei que Ramon tivesse ido atrás dele, no momento em que percebeu que tinha se afastado de nós. Procurei por eles, me esgueirando entre as pessoas, mas estavam todos muito agitados e não conseguia ver ao meu redor. Percebi que algo estava acontecendo uns metros mais à frente, mas não pude ver o que era. Só sei que estavam todos agitados, muito agitados. Depois, quando a multidão dispersou, vaguei pelo parque à procura de minha família; então topei com o tenente Walters e ele me trouxe para cá quando finalmente entendeu que perdera meu filho”.

— Entendi – disse o cabo, coçando a careca pensativo – Tudo leva ao show da Gaga... Os senhores por acaso notaram o que causou a agitação?

— Um bando de gente tentando sair ao mesmo tempo pelo mesmo lugar, o que o senhor queria? – retrucou o antipático senhor Price.

— Mas a confusão começou pouco antes de o show acabar – lembrou o senhor Fox, coçando a barba – Logo depois de distribuírem pedaços de bolo.

— Bolo? – o cabo franziu a testa.

— O bolo de aniversário do meu namorado – e expliquei resumidamente o que ocorrera durante o show – Confesso que, de cima do palco, não cheguei a notar agitação anormal na platéia. Duvido muito que um simples bolo tenha causado tanto tumulto.

— O senhor provou do bolo, senhor Fox? – questionou Regina, incrivelmente séria. Ela vincara a testa, como sempre fazia quando raciocinava.

— Sim, senhora! E estava muito bom, se quer saber minha opinião. Tinha pedacinhos de chocolate e cereja na massa...

— Sua filha Courtney provou do bolo?

Ele hesitou.

— Não, ela não... na verdade... foi quando notamos que ela tinha sumido, sabe... depois que comemos do bolo... Sabe, não estou entendendo onde a senhora quer chegar...

O vinco na testa de Regina se aprofundou.

— E vocês, senhor e senhora Price, provaram do bolo?

A senhora Price confirmou com um aceno de cabeça.

— Estava mesmo muito bom, mas meu marido não comeu, estava ocupado falando ao telefone...

O senhor Delgado também tinha provado do bolo, assim como Liam e Alexa. O senhor Fox continuava sem entender onde Regina queria chegar.

— Só quero saber se acertamos na receita – disse ela, forçando um sorriso, para em seguida me lançar um olhar aterrorizado. Subitamente, me dei conta do que ela estava pensando. “Havia alguma coisa no bolo!”, seus olhos berravam...

***

Terceiro Ato: Teorias Ilógicas

Barraca de algodão-doce a cem metros do posto policial – 01h40min

Gancho, Pinóquio e Gepeto retornaram da busca. Os dois primeiros, visivelmente exaustos, bocejavam a todo instante e lamentavam a falta de pistas que indicassem o paradeiro das crianças. O último, ainda meio avariado das ideias, batucava numa tampa de lixo cantando “Atirei o Pau no Gato”. E Regina, visivelmente perturbada, ia dizendo:

— ...um alucinógeno, alguma coisa... Foi isso! Drogaram os pais com nossa ajuda e roubaram as crianças!

— E não acha que eles teriam dito aos policiais que foram drogados? – Gancho esfregou os olhos, sonolento - Não acha que nós teríamos ficado drogados?

— Bem...

— Na verdade, eu me senti um pouco tonto quando comi do bolo – comentou August, olhando feio para o pai, que agora ensaiava uns passinhos de dança –, mas pode ter sido efeito da música alta retumbando nos meus ouvidos.

— Eu fiquei agitado, mas como não ficaria? Era a Lady Gaga dividindo um palco comigo! – falou Killian.

— Bem, eu acho que Regina pode estar certa – opinei – Talvez nem tenhamos notado que o bolo causou algo em nós. Os pais se esqueceram das crianças e elas foram levadas antes de entender o que estava acontecendo.

Gancho trocou o peso do corpo de uma perna para a outra.

— E ninguém teria notado? Não havia bolo suficiente para drogar tanta gente. As pessoas que estavam mais atrás teriam visto as crianças sendo levadas. E como é que foram seqüestradas, afinal? Não teriam gritado quando fossem agarradas e arrastadas para longe?

— Eu não sei, Killian, mas como você explica o fato de o bolo ter sido exatamente como eu tinha imaginado? Era idêntico ao que visualizei na minha cabeça, sem tirar nem pôr.

— E você não suspeitou nem um pouco? – esganiçou-se Regina, esbugalhando os olhos – Você comeu sem desconfiar da procedência do bolo?

— Ora, eu estava tão entusiasmada com o show da Gaga que sequer pensei nisso...

— Isso está muito estranho... – Aug coçou a barba – Onde foi que Liam encomendou esse bolo?

— Eu não sei, teremos de perguntar a ele – Gancho puxou o celular e se afastou alguns passos, porque Gepeto estava fazendo uma barulheira infernal.

— Quer parar com essa batucada, papai?! Que coisa! – ralhou August, antes de se voltar para Regina – Olha, Rê, eu meio que acredito na sua teoria, mas nós não teríamos notado se fossemos drogados?

Ela pensou por uns instantes, vincando a testa.

— Bem... eu acho que não né, talvez essa fosse a intenção, a engenhosidade do plano, fazer com que não notássemos...

— Mas quem faria isso, Regina? – perguntei, encolhendo-me de frio quando uma ventania repentina passou por nós – Duvido muito que pessoas normais bolassem um plano desses...

— Duvido muito que criaturas bolassem um plano desses – replicou ela – Aliás, não sei por que estão todos achando se tratar de uma criatura. Tudo bem, é Halloween e não há cortina separando o mundo físico do submundo, mas uma criatura teria de deixar uma pista, um rastro qualquer.

Pinóquio e eu concordamos com um movimento de cabeça. Gepeto, parecendo ter finalmente se cansado de sua batucada, largou a tampa de lixo no chão e se aproximou um tanto cambaleante.  

— Ei... Vocês não acham estranho a Lady Gaga vir fazer um show num parque de diversões? – perguntou, com a língua meio enrolada pelo excesso de álcool.

Balancei a cabeça.

— Não, considerando que esse parque é famoso e uma espécie de Disneyland sobrenatural. Por quê?

— É mesmo, meninas – Aug e o pai trocaram um olhar, o primeiro coçando a barba – Ela me parece uma pessoa muito engajada no que faz. Não é de se estranhar que tenha tempo e disposição para cantar em parques de diversões?

Enruguei a testa.

— Não sei o que estão pensando, mas era a Lady Gaga real. Killian teria notado se fosse uma sósia.

— Até um jegue teria notado se fosse uma sósia! – acrescentou Regina.

Gepeto espantava moscas imaginárias.

— Talvez não fosse a Gaga real, já pensou nisso? Talvez fosse um metamorfo...

— Ah pelo amor de Deus, Gepê! – Regina revirou os olhos – Um metamorfo se passando pela Gaga?

— Mesmo que fosse – eu disse -, não explica o fato de as crianças desaparecerem sem ninguém presenciar a ação dos seqüestradores. E também não explica o bolo com alucinógeno.

— Vai saber! – retrucou Gepeto, apanhando a tampa de lixo – Talvez as crianças desaparecidas sejam filhas de metamorfo. Daí ele se fez passar por uma celebridade e as seqüestrou.

— Ah, mas é claro! – a Rê gargalhou escandalosamente – E então foram embora de limusine! Pelo amor de Deus, você nunca caçou um metamorfo? Eles não sequestram crianças em idade avançada, recuperam os filhos quando recém-nascidos. E você não acha que os pais notariam se parissem um bebê monstro esquisito que troca de aparência?

— Vai ver os metamorfos evoluíram e mudaram o padrão... – e ele retomou a batucada – Fui na fonte do Itororó beber água e não achei...

Pinóquio pegou Gepeto pelo braço e o arrastou em direção ao posto.

— Já chega, papai! O senhor está passando dos limites!

Regina revirou os olhos e balançou a cabeça. Gancho se aproximou, suspirando em desolamento.

— Nada ainda! Simplesmente não há pistas, nem sobrenaturais nem humanas. Coitado do meu irmão... Se algo acontecer àquela menina... Em todo caso, ele disse que encomendou o bolo na barraca de tortas do parque. A dona da barraca é especialista em confeitaria, ela fez o bolo. E o Liam disse que era exatamente como ele especificou: pasta americana preta, trinta e uma velinhas e a cara da Dora no topo.

— Isso tudo está muito estranho! – exclamei. Não havia meios de eu ter materializado um bolo idêntico ao que visualizara. A não ser que eu tivesse lido a mente de Liam e visto o bolo, o que achava bastante improvável, para não dizer impossível. – Não faz sentido!

Gancho massageou meus ombros, percebendo a tensão em que me encontrava.

— Já que acredita na teoria do alucinógeno, Regina, nos explique como Ruby foi capaz de visualizar o bolo antes de tê-lo visto.

— Intuição, talvez? Eu não sei, Gancho... – ela murmurou, irritadiça– Foi só uma teoria...

— Me desculpe, Rainha, mas você não está em condições de formular teorias.

Ela ia retrucar, mas interrompi quando questionei:

— Okay, mas e o senhor Delgado? Por que levaram apenas ele e não os outros pais? E Ian? Por que levaram Clem e não Ian?

Os dois me encararam sem expressão. Dera a eles algo em que pensar.

***

Quarto Ato: A Chorona de Guadalajara

Posto policial – 01h55min

Não pude entender mais do que algumas palavras da conversa em espanhol acelerado, mas o suficiente para presumir que Sonia Delgado acreditava no sobrenatural. Gritando sem parar, a mexicana tentava convencer Regina de que as crianças haviam sido levadas por uma entidade.

— La Llorona! – berrava ela, afoita e de olhos esbugalhados, se descabelando (literalmente) em desespero – La llorona!

— La Llorona? – repetiu Regina.

— Sí! La Llorona! La Llorona!

— Mas o que é que ela está dizendo? – suando de nervosismo, cabo Johnson exalava um forte odor que incomodava nossas narinas – Pelo amor de Deus, senhora Mills, faça o favor de acalmá-la!

— Não! Deixem que ela se expresse! – disse Gancho – O que ela está dizendo, Regina?

— “A Chorona levou nossos filhos! Eu a vi com estes olhos que a terra há de comer! Estava bem ali, ao lado da ambulância, observando...”.

O cabo enrugou a testa.

— Eu juro que não estou entendendo mais nada! De quem ela está falando?

— Ela está em choque, não sabe o que está dizendo. Pobrezinha! É melhor que tome uns calmantes... – e Regina bem ia conduzindo a mulher em direção a ambulância, mas foi impedida pelo cabo, que segurou Sonia por um braço. 

— Não, não! Ela está realmente aterrorizada! Preciso saber o que ela está dizendo.

— Ela não está em condições, cabo! Está pirando em desespero! Está alucinando!

— O que ela acha que viu?

— Bem... uma entidade! Mas é claro que foi uma ilusão de ótica!

— Quero saber o que ela está dizendo. Traduza, por favor!

Regina revirou os olhos, impaciente ante a insistência do homem. Tornou a se acomodar na cadeira de couro ecológico do tenente Walters – depois de remover do assento a horrível perna de plástico que encontrara sabe se lá onde – e traduziu rapidamente o que Sonia ia dizendo.

— “Conheço a história desde criança, foi meu irmão mais velho quem me contou. Dizem que houve, certa vez, uma mexicana muito formosa que vendia flores em Guadalajara. Abandonada pelo marido, era mãe solteira de duas crianças: um menino e uma menina. Eram as crianças mais bonitas de Guadalajara! Porém, por trás de suas belas faces, escondiam a realidade de miséria e fome em que viviam. A mãe, com suas flores, nem sempre conseguia alimentar os filhos. Dizem que vez ou outra as crianças furtavam para sobreviver. Numa dessas, adentraram a propriedade de um rico fazendeiro, que incapaz de lhes dar um pedaço de pão, castigou-as brutalmente, afogando-as num riacho caudaloso. A mãe, tendo descoberto o homicídio, passou por cima do fazendeiro com um trator. Depois, sufocada pelo arrependimento, suicidou-se por remorso. Desde então, seu fantasma vaga por aí, choroso, atrás dos espíritos dos filhos, com os quais quer se reunir. Dizem que a aparição da Chorona significa que a morte está próxima. Ela seqüestra crianças como vingança pela perda de seus filhos. Dizem que quem vê o fantasma da Chorona passa o resto da vida atormentado por visões terríveis da morte e do inferno! E eu a vi! Tenho certeza de que a vi!”.

Houve um breve momento de silêncio, em que o cabo fitou a senhora Delgado com a expressão de quem não sabe o que dizer. Aliás, com exceção do senhor Price, que não desgrudava os olhos do celular, todos exibiam a mesma expressão.

— Eu lhe disse que ela estava alucinando. – Regina passou um braço pelos ombros da mexicana. Tentou poupá-la dos julgamentos alheios ao puxá-la gentilmente em direção à ambulância, mas a própria Sonia não se ajudava. Tremendo e guinchando como quem vira o capeta, pôs-se de cócoras, abraçou os joelhos e escondeu a cabeça entre as pernas.

— LA LLORONA! LA LLORONA! AYÚDAME!

— Meu Deus do Céu, ela realmente está vendo uma entidade! – exclamou perplexo o cabo, enquanto Regina, Gancho, August e eu olhávamos ao redor, em estado de alerta. Mas se realmente havia uma entidade presente, não estava visível.

— Não seja tolo, cabo! – disse o senhor Price, balançando a cabeça e, como pude ver, curtindo fotos de comida refinada – Não percebe que esta senhora está emocionalmente desequilibrada?

— É, ele está certo. Ela está emocionalmente desequilibrada! – repetiu Regina, tentando erguer Sonia de sua posição vergonhosa, enquanto esta guinchava em desespero – Me ajude aqui, Gancho, leve-a para a ambulância.

O cabo estava com jeito de quem ia borrar as calças.

— M-m-mas e se ela estiver certa?! E se houver um fantasma por perto?! Pelo amor de Deus, sempre me disseram que este parque é mal assombrado.

— Vá rezar se está com medo, cabo! – retrucou Regina, fingindo indignação – Francamente! Uma entidade, era só o que me faltava... 

***

Quinto Ato: Consultamos Um Especialista (Que Dessa Vez Não Sabe Explicar Porra Nenhuma) 

Proximidades do posto policial – 02h05min

— Dada a minha experiência, acredito que seja possível – Gold espanou a poeira que se acumulara entre os vincos de seu paletó - Sabemos como funcionam os hábitos comportamentais dos espíritos vingativos.

August mordeu uma das pontas de uma estrelinha de gengibre.

— Eu diria que há uns 90% de chance de estarmos errados. A senhora Delgado foi a única a vislumbrar a entidade. Se ela realmente existisse, todos teríamos visto.

— Ou não. Espíritos nem sempre ficam visíveis para todos.  – lembrou Regina – Em todo caso, não acho que Sonia estivesse alucinando. Vocês viram como ela reagiu.

— E por que A Chorona pegaria quatro crianças ao invés de duas? – perguntou Gancho, se entupindo de cafeína – Não faz sentido. Se o espírito quer se vingar, duas crianças bastam.

— Ora, Gancho, os espíritos agem como bem entendem! – retrucou Regina, falando mais alto do que deveria – Não vai querer padronizar os atos de uma entidade, não é?

Gold acenou com a cabeça.

— Concordo com Gancho. Dada a minha experiência, acredito que os espíritos vingativos têm metas bem delimitadas. A Chorona não pegaria quatro crianças de uma vez se quer vingar a morte de apenas duas.

— Talvez Sonia tenha visto um espírito qualquer que cruzou a barreira entre mundos e o associou à lenda que já conhecia. – teorizei – As pessoas costumam ver o que querem quando estão assustadas.

Os quatro acenaram em concordância, mas não chegaram a dizer mais nada, pois Dean Winchester veio para nosso lado. Parecia incrivelmente sóbrio para quem passara a maior parte da noite no bar.

— Tudo limpo! – disse ele, erguendo um aparelho leitor de freqüências eletromagnéticas capaz de denunciar o rastro de fantasmas – A dona mexicana deve ter ficado de miolo mole. Verifiquei a área em que ela disse ter visto a aparição. Sem ectoplasma, sem rastros!

— Essa porcaria de leitor deve estar quebrada! – Regina arrancou o aparelho das mãos do loiro, que o tomou de volta fazendo cara feia.

— Coisa nenhuma! Eu mesmo o configurei, funciona perfeitamente bem!

Refreei uma risada ante o comportamento infantil e exagerado da Rê, que realmente detestava que contrariassem suas hipóteses.

— Regina, por que não dá o braço a torcer e admite que Sonia não sabe o que viu? – perguntei.  

— Porque ela é teimosa e todos sabemos disso. – respondeu August, projetando farelos de biscoito na direção de Gold, que fez cara feia e tornou a espanar o terno.

Dean afagou uma das bochechas da Rê com o polegar.

— Você ficou apegada à mexicana, foi? Não imaginava que tivesse atração. Eu normalmente entenderia, sabe... Anahí, Dulce Maria... gostosas! Mas essa aí...

Ela afastou a mão do Winchester com um tapa, enfiando o indicador na cara dele. 

— Para a sua informação, eu tenho ascendência mexicana! Aquela mulher é praticamente minha irmã de sangue!

A raiva de Regina desencadeou um ligeiro descontrole de seus poderes. Não intencionalmente (pelo menos foi o que ela disse), ela mandou uma tampa de lixo voando na direção do Winchester, que se abaixou bem a tempo de ter o nariz atropelado.

— QUE MERDA É ESSA? – berrou ele, protegendo a cabeça com os braços - NÃO VÁ ME DIZER QUE VOCÊ TAMBÉM É UMA...

— Bruxa? – e a Rê gargalhou com satisfação – Com muito orgulho! E vou matá-lo com sua própria saliva se não sumir daqui agora!

Dean levou bem uns dez segundos fitando a mulher enfurecida à sua frente.  Eu diria que, no fim das contas, eram olhares calorosos que eles estavam trocando, porque o Winchester sorriu descaradamente quando sugeriu:

— Que tal me matar com sua saliva, ao invés?

— Vá se foder, Winchester!

Três minutos depois, vi os dois se agarrando por trás de uma estátua de gnomo.

***

Sexto Ato: Estardalhaço no Posto (ou Agora a Porra Ficou Séria!)

Posto policial – 02h12min

Desabando em cadeiras dobráveis, Mary, David, e Zoe limitaram-se a balançar a cabeça quando os pais amontoaram a sua volta perguntando pelas crianças. A compaixão estampava seus rostos marcados pelo cansaço. Suas bocas não precisavam pronunciar palavras quando seus olhos já diziam “Eu sinto muito”.

A senhora Fox suspirou e abaixou os olhos para o chão de cascalho. Não mais chorava. Parecia adentrar um estado de conformismo. O senhor Fox ergueu os olhos para o céu. Orava silenciosamente, presumi. Ergueu uma mão trêmula para enxugar uma lágrima que lhe escapara e em seguida envolveu a esposa num abraço delicado.

 A senhora Price finalmente perdeu a compostura. Deixou de lado a pose de emocionalmente estável e se debulhou em lágrimas, fungando discretamente. Para minha surpresa, o senhor Price largou o celular quando ela buscou aconchego em seus braços, escondendo o rosto em seu pescoço.

Alexa e Sonia haviam se dado as mãos, cada uma estirada numa maca. Embora não se entendessem, choramingavam em conjunto.  

Por mais que detestássemos a ideia, era preciso admitir que, pelo menos dessa vez, não tínhamos respostas. A resolução do caso não cabia a caçadores, porque, conforme ficara claro para nós, não se tratava de uma criatura. Pela primeira vez, lidávamos com um mal maior: humanos.

— Cadê o Liam? – perguntou Gancho, ao se aproximar e não encontrar o irmão.

— Obstinado na procura. – Mary piscava excessivamente, tentando espantar o sono – Se recusa a aceitar que a menina foi sequestrada.

A senhora Fox saltou da cadeira.

— Então é isso que eles acham?! Que as crianças foram seqüestradas?!

A cor do rosto de Mary se esvaiu.

— Eu não devia... Não há como dizer com certeza...

A senhora Fox tornou a se sentar, mais pálida do que a luz da lua.

— Deus não faria isso conosco, não é, querido? Ele não nos tiraria nossa Courtney...

— Nós estamos passando por uma provação, chuchu – murmurou o senhor Fox – Deus quer nos ensinar a dar mais valor à nossa filha...

Quando o restante do grupo de buscas retornou ao posto, porém, ficou claro para os pais que não havia mais nada a ser feito. O tenente Walters, um policial encorpado que mais parecia um barril de óculos, declarou as crianças como oficialmente desaparecidas, o que ocasionou um caos dos diabos. Todos falavam ao mesmo tempo, mães soluçando, Alexa desmaiando, os pais berrando palavras desconexas, o cabo Johnson prestes a sair correndo chamando pela mamãe...

— ACALMEM-SE! – bradou o tenente Walters, em alto em bom som, gesticulando fervorosamente – Olhem, nós tentamos, okay? Reviramos o parque de ponta-cabeça e temos de ser realistas: crianças desaparecem todos os dias. Na maioria das vezes se perdem por uma distração dos pais e na maioria das vezes são encontradas. Elas não podem ter ido longe sozinhas, a não ser que tenham sido levadas contra sua vontade.

— Quem seqüestraria crianças num parque de diversões sem que ninguém visse? – histérica, a senhora Price tivera de se sentar antes que também desmaiasse. Sua voz trêmula esganiçava-se – Eu quero dizer, há uma multidão aqui dentro, alguém teria que ter visto alguma coisa.

— Exatamente, uma multidão. – assentiu o tenente – E a senhora há de concordar que crianças são iscas fáceis. Ingênuas, muitas vezes destemidas, não conhecem os perigos do mundo. Qualquer um aqui dentro poderia tê-las atraído. Qualquer um teria se passado por pai ou mãe delas, enquanto as levava pela mão. Quem é que desconfiaria? Foram atraídas por um doce ou brinquedo...

— Minha filha não é tão ingênua assim! – vociferou a senhora Fox, salpicando gotículas de saliva no ar – Tenho certeza de que, assim como eu, estes pais orientaram suas crianças a não falar com estranhos.

Os outros confirmaram com acenos de cabeça e exclamações.

— Se elas se perderam durante o show, podem ter ido com um adulto, acreditando que seriam retornadas aos pais – opinei, antes que pudesse refrear a língua – Há muita gente fantasiada, quem é que não confundiria um policial falso com um verdadeiro?

E os olhares se voltaram para mim. Dera a eles algo em que pensar, agora exibiam expressões aterrorizadas.

— Ela está certa... – o senhor Fox tremia dos pés a cabeça, enxugando os olhos num lencinho – Os telejornais têm noticiado inúmeros casos de tráfico humano e exploração sexual... Deus... nossas crianças...

E seguiu-se outro rebuliço. Alexa tornou a desmaiar, a senhora Fox teve queda de pressão, a senhora Price surtou de tal maneira que agarrou os próprios cabelos e começou a berrar o nome do filho. Os socorristas correram a distribuir pílulas calmantes, que os pais recusavam atrevidamente. O tenente bem tentou conter o rebuliço, berrando num megafone, mas sua atitude apenas serviu para nos deixar ainda mais irritados.

— Eu vou processar esse lugar! – gritava Liam, perdendo a compostura – Uma multidão de gente num espaço que não comporta super lotação e sequer há câmeras de segurança espalhadas pelo perímetro!

O senhor Price se ergueu energicamente, por pouco não derrubando a esposa, que se amparara nele.

— E vocês, policiais, por que não estão fazendo seu trabalho em notificar os departamentos de polícia das cidades vizinhas? Por que não estão verificando as câmeras de trânsito para encontrar os possíveis seqüestradores?

— Já notificamos as cidades vizinhas, senhor, mas vocês precisam ter paciência... – ia dizendo o cabo.

— Os senhores claramente não estão preparados para situações como essa. Eu vou ser sincero, tenente, estou muitíssimo desapontado! Quatro crianças desaparecidas e vocês agem com a tranquilidade de quem toma um café! Querem saber o que vou fazer? Prestar queixa no Departamento de Polícia de Seattle. Com certeza estão bem mais preparados do que um bando de policiais obesos e relapsos.

— O senhor está preso por desacato à autoridade! – berrou o tenente, e, agarrando um par de algemas, prendeu as mãos do senhor Price para trás – Leve-o para cela, Johnson!

— Isso é inadmissível! Que absurdo! – indignou-se o senhor Price, queimando de vergonha. A senhora Price se agarrou ao marido, tentando impedir que o cabo o levasse. Enquanto isso, o senhor Fox tentava apaziguar a situação.

— Senhores, não há razão para isso! Há coisas mais importantes...

Mas o tenente se manteve inflexível.

— Este homem desacatou um funcionário a serviço da lei. Deve, portanto, permanecer detido. E quanto às crianças, agora cabe às autoridades locais. Prestem queixa no Departamento de Polícia de Seattle quando amanhecer.

O senhor Fox estava entre a indignação e a fúria. 

— E o senhor, cabo Johnson, não vai fazer nada?

O cabo, que, como denunciava seu suor, estava prestes a entrar em pânico nervoso, parou em meio ao ato de conduzir o senhor Fox à cela e atrapalhou-se todo nas palavras.

— N-n-não posso fazer nada, s-senhor. Sou subor... subordinado ao tenente e sigo à-à-às ordens dele. Agora, tudo o que podemos fazer é aguardar.

— Aguardar? – guinchou a senhora Fox, entre o pranto e a cólera – Aguardar o quê? Nossos filhos serem mortos? Ou pior, traficados, abusados, ou...

O cabo interrompeu, visivelmente irritado.

— Olhe, eu sei que é difícil, mas vocês devem ter esperança!

— Esperança... esperança...

E então, como se a situação não estivesse caótica o suficiente, uma voz se pronunciou. Era Belle, colocando mais lenha na fogueira.  

— Foi o que vocês disseram aos pais dos outros desaparecidos antes de as crianças serem dadas como mortas?

— Que outros desaparecidos?! – guincharam os Fox e a senhora Price ao mesmo tempo.

— Houve mais crianças raptadas neste estabelecimento? – perguntou Regina, incrivelmente séria.

O tenente lançou ao cabo um olhar desesperado, como que pedindo ajuda. O cabo fingiu não perceber e, mais do que depressa, saiu de fininho arrastando o senhor Price. Belle sorriu levemente, aparentando satisfação ao deixar o tenente sem palavras.

— Seis crianças das redondezas desapareceram na última semana. – ela disse – Como não encontraram pistas que apontassem o paradeiro das mesmas, as deram como mortas. Fizeram buscas a um raio de cinco quilômetros, à procura de corpos, mas por algum motivo a investigação foi encerrada.  E, é claro, alguém subornou as autoridades para que mantivessem o bico fechado e não prejudicassem a imagem do parque.

Gold olhou para ela com uma expressão de encantamento, provavelmente perguntando-se de onde a esposa tirara aquelas informações.

— Tenho contatos na polícia estadual... – ela esclareceu, decifrando o olhar do marido.

Diante daquela revelação, a senhora Price entrou em tal estado de cólera que precisou ser contida e sedada. Berrando ensandecida, ela tentou atacar o tenente com as unhas. Os outros pais, embora não chegassem a tanto, recomeçaram a balbúrdia, gritando com os policiais.

— EU SABIA! SABIA QUE HAVIA ALGO DE ERRADO, SABIA QUE ESTAVAM MENTINDO PARA NÓS. SEUS MALDITOS, POR QUE NÃO NOS DISSERAM A VERDADE?!

— NOSSA FILHA ESTÁ MORTA! – guinchava a senhora Fox, fora de si – NOSSA FILHA ESTÁ MORTA, JERRY, ELA ESTÁ MORTA!

E o senhor Fox sequer tinha forças para acalmá-la.

O tenente apanhou o megafone, soltou um berro e quase ensurdeceu a todos.

— ACALMEM-SE! SEM DESORDEM, POR FAVOR!

— Meu ouvido não é penico para o senhor gritar nele! – reclamou Regina, com as mãos cobrindo as orelhas.

— Desculpe, senhora! – o tenente desligou o megafone e encarou um por um – Queiram se acalmar, por favor! Ou teremos de contê-los com sedativos? Francamente! Sou trabalhador como vocês e não mereço ficar ouvindo desaforos.

— Desaforo é o que fizeram conosco! – Alexa saltou da ambulância e veio cambaleando, Liam atrás, tentando levá-la de volta à maca – Fomos enganados com falsas esperanças de que as crianças se encontravam no parque quando os senhores já sabiam que se tratava de seqüestro!

Algumas pessoas exclamaram em apoio. O senhor Fox limpou o nariz na manga laranja de sua fantasia de Luke Skywalker. 

— O senhor não pensou em nos contar sobre os outros desaparecimentos? – questionou sem expressão – Acharam que ocultar a verdade nos traria mais esperança?

O tenente suspirou, passando a mão pelo sedoso topete.

— Achamos sim! Não queríamos colocar conclusões precipitadas na cabeça de vocês. Olhem, nada foi concluído acerca dos desaparecimentos nesta área. As outras crianças foram dadas como mortas porque era mais fácil mandar os pais para casa com um caixão branco do que gastar dinheiro público com investigações sem fim. Mas se querem saber minha opinião, não acho que estas crianças estão mortas.

— E onde poderiam estar? – perguntou Gold, que até então estivera muito quieto.

— Gostaria de saber... Olhem, eu vou ser bem sincero com vocês. Os departamentos de polícia das redondezas vão acreditar ser perda de tempo procurar pelos filhos de vocês, levando em conta que elas desapareceram como fumaça, do mesmo jeito que as outras. Estes seqüestradores, ou seja lá o que forem, estão um passo a frente de nós. Nem temos como prever o destino dessas crianças. Tudo o que podemos fazer é rezar...

Regina soltou um bocejo, estivera caminhando de um lado para o outro para se manter acordada.

— E por que a porcaria do FBI não está investigando os outros desaparecimentos? O que estão esperando?

— O FBI tem casos mais importantes para resolver.

— Como o quê?

O tenente silenciou. Ajeitou o topete e, visivelmente desconfortável, tornou a procurar apoio no cabo Johnson, que se ocupava em chutar pedrinhas. O cabo deu de ombros e nada disse. E então, como ninguém falasse ou fizesse menção de tomar atitude...  

— Querem saber de uma coisa? – o senhor Fox se levantou, extremamente irritado – Pra mim já chega! Vou procurar quem possa resolver essa situação. Quem quiser vir comigo será bem vindo!

Os caçadores se entreolharam. Por suas expressões, eu podia dizer que estavam todos pensando a mesma coisa: não podíamos contar com a polícia. Killian achava perda de tempo prestar queixa em Seattle, mas foi consultar o irmão, que concordou:

— Eu iria com o senhor Fox, sabe, mas não espero ter a atenção da polícia de Seattle a esta hora da madrugada. E tenho de ficar com a Lexy, ela não está nada bem.  

Gancho suspirou, abaixando os olhos.

— Gostaria de poder fazer alguma coisa, irmão...

— Você pode! Seu trabalho! Tenho motivos para acreditar que esse é um dos seus casos.

— Que motivos? – perguntei.   

Ele hesitou por uns instantes, então abaixou a voz.

— Olhe, eu não tenho certeza do que vi, pode ter sido impressão, mas eu achei... achei que tivesse visto uma sombra alongada ao lado da barraca de salsichas... Parecia uma figura esguia, mais alta do que um ser humano comum e de braços bem longos... Faz algum sentido?

Gancho e eu nos entreolhamos.  

— Wendigo...

***

Sétimo Ato: A Entidade do Espelho & A Filha do Mago  

Posto policial – 02h32min

O céu armava tempestade. Fazia um frio dos diabos e nem era inverno ainda.

— Quer uma manta de aquecimento, senhorita Lucas?

Aceitei. Bem gostaria de uma cama também, mas todas as macas da unidade de primeiros socorros estavam ocupadas.  A senhora Price adormecera com os sedativos; Alexa choramingava com o marido, enquanto um socorrista a examinava, certificando-se de que ela não estava sofrendo um infarto (ela afirmava estar sentindo uma dor forte no peito e desesperava-se ao pensar na morte); a senhora Delgado parecia ter entrado em transe e fitava um ponto qualquer enquanto era hidratada por soro intravenoso; e Regina ocupara a quarta maca disponível, queixando-se de dores na coluna e inchaço nas pernas.

Sentada sob a tenda do posto policial, executava a tarefa da qual haviam me encarregado: tomar conta do pequeno Ian, que, depois de passar algum tempo enroscado no pescoço da mãe, dormira confortavelmente acomodado na cadeira de couro ecológico do tenente Walters. Bae e Gepeto roncavam ali perto, cada um envolto numa manta. Entediada, tentava ordenar as informações de que dispúnhamos, mas nada fazia sentido. Por mais que o sumiço misterioso das crianças apontasse para a esfera sobrenatural, não conseguíramos chegar a uma hipótese que explicasse como elas haviam sido levadas sem que ninguém visse. Porque, convenhamos, mesmo um monstro invisível chamaria atenção quando arrastasse uma criancinha consigo. 

Bufei, extremamente irritada com aquele complicado caso. Podia ouvir os risinhos do tenente Walters, que preparava um café e tagarelava com o cabo Johnson sobre sua aposentadoria, enquanto o senhor Price reclamava do catre duro em sua cela. Bem gostaria de ter acompanhado o resto do grupo, que procurava por pistas sobrenaturais no local de desaparecimento das crianças. Gold tinha certeza de que haviam deixado passar algo, mas, dessa vez, ele parecia tão perdido quanto os outros.   

Grammy veio para meu lado, chutando o cascalho. Regina o expulsara da maca em que estivera dormindo e agora ele cambaleava desnorteado pelo sono.

— Regina é tão má comigo – resmungava ele, emburrado – E eu nunca fiz mal a ela... Cadê todo mundo, hein? Cochilo por quinze minutos e todo mundo toma chá de sumiço.

— Você dormiu por mais de uma hora, Grammy – ri e resumi o que acontecera em todo aquele tempo - ... e pela descrição do Liam, achamos que ele possa ter visto um Wendigo.

Graham estremeceu, provavelmente se lembrando da vez em que Finnian o abandonara para morrer na toca de um Wendigo.

— Um Wendigo seqüestraria crianças sem que ninguém visse? – ele balançou a cabeça – Que idiotice! Você já viu um Wendigo? Aquela coisa é enorme e feia! Tenho certeza de que todos notariam um Slender Man seqüestrando crianças no meio de um show. A não ser que os Wendigos tenham aprendido a se disfarçar de humanos, o que eu acho muito improvável.

— Exatamente! E duvido muito que um Wendigo deixasse a floresta pra se aventurar num parque de diversão, mas os outros se agarraram a essa nova pista. E como explicar a sombra que Liam viu? Acho improvável que tenha sido ilusão de ótica e ele não estava bêbado nem nada.

— Não faz sentido! Ora, bem poderia ser um metamorfo ou a tal entidade que a senhora Delgado viu. Eu apostaria no Wendigo também, mas não faz sentido, faz? Por que qualquer uma dessas criaturas agiria fora do padrão? Ora, um metamorfo bem poderia se disfarçar de Gaga e nos manter entretidos enquanto crianças são seqüestradas, mas por quê?

— Tem que ter alguma coisa, Grammy... Mesmo que fossem traficantes de órgãos ou algo do tipo, teria que haver uma pista. Alguém teria que ter visto algo, não é?

Ele assentiu, então vincou a testa, do mesmo modo que Regina fazia quando raciocinava.

— Lembra quando Alexa se afastou com as crianças, quando discutíamos sua gravidez? Nós só tornamos a vê-la depois do show... E se Clem desapareceu antes do show e não durante?

 - Clem desapareceu durante o show, como as outras crianças. Pelo menos foi o que Lexy e Liam relataram aos policiais.

— Mas podem ter mentido, não podem?

Fiquei sem resposta por breves segundos. Graham sorriu levemente.

— Ninguém pensou nisso, mas eles bem podem ter mentido. Imagine só, talvez estivessem envergonhados por terem perdido uma criança, daí usaram o show como desculpa... “Ah, o lugar estava lotado, o que eu podia fazer?”.

Neguei com um movimento de cabeça.

— Não, Grammy, eles são muito corretos. E você sabe como é a Alexa, extremamente protetora. Ela não perderia uma criança, a não ser por distração. E que distração foi essa? O tumulto da multidão.

— O tumulto não explica nada, Ruby, essa é a questão. Não foi uma criança, foram quatro. E então, como é que durante o empurra-empurra alguém conseguiu levar quatro crianças sem que ninguém percebesse? Uma pessoa só não poderia ter feito isso, poderia? Não, teriam de ser quatro seqüestradores no mínimo.

Respirei fundo, já extremamente aborrecida.

— Grammy, a questão não é o número de seqüestradores. A questão é: como é que levaram as crianças sem que ninguém visse?

— Mas é exatamente isso que eu estou tentando lhe explicar! – ele bateu na própria perna, irritado – As crianças não foram levadas durante o show!

— Okay, digamos que Liam e Alexa tenham mentido. Isso explicaria o sumiço de Clem. Talvez pudéssemos arrancar deles a verdade, mas e as outras crianças? Todos os pais estariam mentindo dizendo que os filhos desapareceram durante o show?

— Eu não sei... – ele suspirou, então apoiou o queixo em uma das mãos – Que merda, não há explicação, simplesmente...

— Eu lhe disse, estou tentando dar sentido a todas essas pistas, mas parece não haver ligação entre elas.

Nos calamos por alguns instantes. Ian se mexeu na cadeira quando o tenente Walters soltou uma sonora gargalhada, mas não despertou. Me assustei quando Grammy exclamou repentinamente.  

— As luzes se apagaram antes da entrada da Gaga!

— Okay... mas isso não elimina o fato de que os pais disseram que as crianças sumiram durante o  show.

— Bem... talvez uma criatura desconhecida tenha levado as crianças nos breves segundos de escuridão... e então as substituiu por cópias, que desapareceram durante o show...

— Ah pelo amor de Deus! Não basta Gepeto e a teoria do metamorfo, não basta Regina e a teoria do bolo, vem você com mais essa loucura!

— Ora, faz mais sentido do que acreditar que um Wendigo as levou. Se Liam descrevesse um Leprechaun, Gancho acreditaria que as crianças estão no mundo dos duendes.

De fato... Tenho de admitir: meu namorado tinha tendência a acreditar em todas as possibilidades, não importava quão absurdas fossem.

Graham soltou um longo bocejo, me deu um beijo na bochecha e se ergueu.

— Você vai ficar bem sozinha, não vai? Eu preciso cochilar outra vez, minha cabeça está girando.

E ele foi se deitar ao lado de Regina, que resmungou egoisticamente para não dividir a maca, mas acabou por ficar com pena. Ela permitiu que ele se deitasse com a cabeça apoiada em sua barriga e fiquei pensando que no fundo eles ainda se amavam, só não conseguiam admitir.

Voltei meus pensamentos para o que Graham teorizara há pouco. Será que eu devia levar em conta o absurdo que ele dissera? Crianças substituídas por cópias... Ora, não era de todo impossível... Pelo visto, teria de pesquisar mais a fundo. Apanhei o celular para contatar Gancho, mas nesse momento Ian acordou chorando de um pesadelo com a irmã. Agarrando-se ao meu pescoço, perguntou se havia algum espelho por perto.

— Não que eu saiba... – enruguei a testa, confusa ante a pergunta – Por quê?

Ele me encarou por uns instantes, os olhinhos tristes e o corpinho trêmulo. Tornou a enfiar o rosto no meu pescoço.

— Se eu contar uma coisa você promete não contar pra ninguém?

— É um segredo?

— Promete?!

— Eu... tudo bem, eu prometo. Diga, pequeno!

Ele hesitou. Tornou a me encarar, parecendo se decidir se eu era confiável e se falava sério ao prometer guardar segredo. Me impacientei.

— Vamos, pequeno, o que tem para me contar?

— Eu sei o que levou a Clem... – e novamente se debulhou em lágrimas, soluçando copiosamente. Afaguei suas costas de maneira maternal, murmurando-lhe palavras afetuosas e calmantes.

— Não chore, tudo vai se resolver. O que você acha que levou a Clem?

— Eu não acho, eu tenho certeza...

— Diga! Eu acredito em qualquer coisa!

— Foi a Bloody Mary, tia Ruby! – ele soluçou baixinho – A Bloody Mary levou a Clem!

Gelei. Mas não podia ser, não é? A não ser que as quatro crianças a tivessem invocado na mesma noite, o que era um tanto improvável.

— Clem chamou a Bloody Mary três vezes no espelho do banheiro – continuou o menino, fungando e enxugando as lágrimas – Eu vi! E agora a Bloody Mary levou ela!

  - Ah não, querido! Não foi a Bloody Mary. É só uma lenda, não existe de verdade – como era adorável ter de mentir para uma criança...

— Tem certeza? Mas eu vi, tia Ruby!

— É claro que eu tenho! Não existe, é lenda urbana. Apenas uma história que inventaram para assustar criancinhas.

— Mas... Mas se não foi a Bloody Mary, quem foi?

— Ninguém sabe dizer com certeza, pequeno. Mas sei que sua irmãzinha está sã e salva.

— É mesmo... Não foi a Bloody Mary, não. Eu esqueci que a Bloody Mary não seqüestra pessoas, ela mata fazendo os olhos sangrarem, quando a pessoa vê ela no espelho.

Estremeci ao ouvir uma criança de três anos falando daquele jeito. Um tanto precoce para a idade.

— Foi Clem quem lhe disse isso?

— Não, foi a amiga dela, Grace.

Grace... Fui logo me lembrando do chapeleiro e do sorrisinho cínico dele.

— Essa Grace gosta de assustar as pessoas, não é? – indaguei, afagando-lhe o cabelo – Por que Clem chamou a Bloody Mary no espelho?

— Porque Grace a desafiou! E a Clem sempre faz coisas pra provar pra Grace que não é medrosa. Grace disse que não acreditava na Bloody Mary e que não tinha medo de chamar ela. Ela chamou a Bloody Mary antes de virmos pra cá, só pra mostrar pra gente como é corajosa. Daí ela desafiou a Clem, pra ver se a Clem era... como é mesmo a palavra?... Ah, lembrei! Pra ver se a Clem era digna de ser amiga dela. Daí a Clem chamou a Bloody Mary, mas não aconteceu nada. Quer dizer que ela não existe mesmo, não é? Mas o homem do saco existe!

— Quem disse? Essa tal de Grace?

— É – ele riu –, essa tal de Grace. Ela disse que o homem do saco ia me pegar de noite se eu não me comportasse.

— Ah querido, essas coisas não existem. Monstros não existem, foram criados pela imaginação das pessoas.

— Tem certeza? – ele me olhou desconfiado – Mas... e o bicho-papão no meu armário?

— Você tem um bicho-papão no armário?

— Tenho... A Grace disse que eu tinha que dar bolinhos pra ele, pra não ser devorado à noite. Coloquei os bolinhos antes de dormir e no outro dia só havia farelos.

Precisei conter uma risada. Lembrei-me da vez em que perguntara a Killian se bichos-papões existiam, na noite em que o conheci. Se Gancho nunca topara com um deles, talvez não fossem reais.

— Ah querido, acho que Grace lhe pregou uma peça.

— Só porque sou pequeno e inconveniente... – murmurou ele, choroso.

Me indignei.

— Ela lhe chamou de inconveniente? Você por acaso sabe o significado dessa palavra?

— Sei! É uma pessoa indesejada, que ninguém gosta de ter por perto. Você me acha inconveniente, tia Ruby?

— Claro que não, querido. Ora, não dê ouvidos a essa tal de Grace! Ela não parece uma pessoa legal, por que seus pais deixam Clem brincar com ela?

— Porque ela é nossa vizinha e é da sala de Clem. E nossos pais são muito amigos.

— Hum... Ela vai sempre na sua casa?

— Vai! Todo dia, todo dia... Se a Bloody Mary matasse ela eu nem ia sentir falta.

— Ian!

— É verdade, tia Ruby! Ela é muito malvada! Eu odeio ela! Ela é uma pessoa muito ruim, muito mesmo! Uma chata de galocha! Sabe o que ela disse, tia Ruby? Que o pai dela é muito mais rico que o meu e que por isso eu tinha que respeitar ela.

— Ah, meu bem, ela só estava querendo se exibir, não ligue para o que ela diz.

— Isso mesmo, ela é uma exibida! Ela fica se exibindo porque o pai dela é um costureiro famoso.

PUTA. QUE. PARIU. ISSO NÃO ESTÁ ACONTECENDO!

— C-costureiro! Que tipo de roupas ele faz?

— Roupas de todo tipo, mas ele gosta mais de fazer chapeus. Ele deu um chapeu lindo pra mamãe no aniversário dela.

Bem, coincidências existem, não existem? Quantos chapeleiros com filhas chamadas Grace existem no mundo?

— Como é o nome desse chapeleiro? – questionei, só para confirmar.

— Jefferson... Tia Ruby, os bruxos também são invenção da imaginação das pessoas?

Eu dizia a mim mesma: “Ruby, mantenha a calma!”. Mas meu corpo era incapaz de obedecer. Senti meu estômago revirar, enquanto minha visão anuviava e eu respirava fundo para me manter consciente.   

— S-são sim, querido, por quê?

A voz do menino parecia distante, como vinda de um buraco muito fundo.

— A Grace mentiu de novo! Que menina mentirosa! Sabe o que ela disse, tia Ruby? Que o pai dela é um bruxo e que tem uma cartola mágica.

— Uma cartola mágica como a que os mágicos usam nos espetáculos?

— Não sei... Ela disse que é uma cartola muito poderosa... Ele também tem uma tesoura mágica. Grace nos mostrou na escola, mas a magia não funcionou com ela. Ela disse que é uma bruxa e tentou me enfeitiçar, mas não deu certo. Ela é muito mentirosa... Você tá bem, tia Ruby?   

***

Oitavo Ato: A Cruz Ansata (ou Rainha Má e Caçador Descobrem a Porra Toda ou Um Fim Para Nossos Questionamentos ou Puta Que Pariu, Agora é Que Fudeu Tudo Mesmo!)

Pátio de carga e descarga – 02h55min

Deixara Ian com os pais, após me acalmar e decidir que não me deixaria abalar por minhas recém descobertas. Por alguma razão, caminhar por aquelas pedras roliças me impedia de entrar em pânico. Talvez fosse o som de meus passos em atrito com os seixos. Ou talvez fosse o simples ato de focar minha atenção em preocupações mais imediatas.

Desloquei-me rapidamente em direção ao pátio de carga e descarga do parque, no qual Killian dissera estar com os outros. Avistei a cabeleira de Zoe quando virei numa curva e me deparei com quatro ou cinco caminhões de abastecimento e recolhimento de lixo. Gancho ralhou comigo, dizendo que eu não devia ter ido ao encontro deles sozinha, sem sequer um pedaço de pau para me defender. Ignorei a bronca, limitando-me a questionar o que faziam ali. Gold respondeu que eles tinham pensado que talvez as crianças tivessem sido arrastadas até ali, de onde seria mais fácil enfiá-las num caminhão e seqüestrá-las sem despertar desconfiança.

— Foi o que fizeram com Finnian? – indaguei cruzando os braços, porque desaprovava totalmente aquele ato. David e Gold lançaram a Gancho um olhar reprovativo, porque ele não devia ter me contado que Finnian fora seqüestrado.

— Finnian foi outra história. Nós o pegamos de surpresa no estacionamento sem que ninguém visse. – explicou David – Não há segurança nenhuma nesse parque, exceto pelo detector de metais na entrada principal. E por isso nós pensamos: não seria difícil entrar armado pela entrada de carga e descarga, uma vez que não há medidas de segurança nesse portão. Assim como não seria difícil apontar uma arma ou faca nas costas de uma criança e obrigá-la a vir até aqui sem fazer escândalo.

— Então é isso? – perguntei, ainda mais confusa do que antes – Foram levadas num caminhão e estão a quilômetros de distância, enquanto giramos em círculos seguindo pistas falsas? 

 Todos eles me olharam embasbacados, como se eu tivesse acabado de descobrir a fórmula secreta da Coca-Cola. Gancho me sufocou num abraço, erguendo-me do chão.

— É isso! É isso, Ruby-Loob, você é um gênio! Estivemos seguindo pistas falsas!

— Okay... mas por quê? Eles já têm as crianças, qual a necessidade de nos distrair?

Dean recostou contra a lateral de um caminhão.

— Seja lá quem foi, não quer caçadores em sua cola, o que significa...

— Que é um dos nossos casos! Eu disse! – gritou Killian, em excessivo entusiasmo.

— E ainda assim não faz sentido, Gancho – disse Mary, encarapitada numa pilha de caixotes vazios – Não me parece ser obra de nenhuma criatura que conhecemos. E não, não me venha com a ideia absurda de que vampiros levaram crianças num caminhão!

Arqueei uma sobrancelha para Gancho.

— Obcecado com vampiros outra vez?

— Culpa minha! – confessou Zoe, erguendo uma mão – Eu contei a ele a teoria que venho estudando com os garotos. Que vinha estudando com os garotos. Achamos que o sangue de uma criança possa ser mais poderoso do que o de um adulto. Não chegamos a conclusões, é claro, porque um loiro imbecil me expulsou de casa por racismo, o que ocasionou a separação do trio Winchester-Singer.

— Racismo uma ova! – cuspiu Dean, batendo o pé – Não sou racista!

— Ah não? – e ela lhe apontou o indicador, por pouco não lhe enfiando a unha na cara – Você me negou um teto por causa da minha condição, da minha raça... se é que a bruxaria pode ser considerada uma raça... E então venho a um parque de diversões e o encontro de agarramento com a Regina, que além de irmã de raça é minha prima em qüinquagésimo sexto grau. Me expulsou de casa por ser uma bruxa, mas nem se importou em beijar uma. Só posso acreditar que o problema é comigo e não com a raça, não é mesmo?

— A raça não é problema! – esclareceu ele, um tanto envergonhado, pois todos o encaravam com expressões de julgamento – Acho um máximo você sair explodindo bueiros e invocando feitiços para dar vida a abobrinhas, mas você escondeu isso de mim, Zoe. Esse é o problema! E o Sam sabia de tudo e não me contou! Esse é o problema!  E quer saber o que mais é problema? Você não ter me contado que o Bobby é um aborto de família bruxa! Um aborto! E sabe do que mais? Eu tinha todo o direito de saber que estava transando com uma bruxa!

Zoe enrubesceu fortemente, seu rosto assumindo quase o mesmo tom do cabelo.

— Dean!

— Eu podia ter engravidado você, caramba!E ainda assim você não me contaria a verdade... e imagine só, a criança ia nascer balbuciando encantamentos e... e... sei lá, dando vida a pôneis de pelúcia!

— Não seja imbecil, seu idiota! Devo lembrá-lo de que você teve uma filha com uma amazona? E não pode falar nada das bruxas, ouviu? Nada! A culpa não é minha se não procura saber quem está levando pra cama, seu racista!  

— Cacete! Eu não sou racista!

Soltei uma risada discreta antes de me assustar com os berros de Killian, que, aborrecido, apertava os punhos.

— CALEM-SE! A MINHA SOBRINHA ESTÁ CORRENDO RISCO DE VIDA ENQUANTO VOCÊS SE CONCENTRAM EM BATER BOCA! CONCENTREM-SE EM SALVAR A VIDA DELA, CARAMBA!

— Desculpa, é que eu me desviei do assunto. – Zoe veio para meu lado, ajeitando o cabelo – Do que eu tava falando mesmo?... Ah é! Eu comentei com o Killian aqui que eu e os Winchesters temos uma teoria sobre o sangue das crianças. Nós salvamos três de um ninho de vampiros nas proximidades e achamos que eles pretendiam testar o sangue delas, porque, é claro, é sangue puro e inocente. Achamos que sangue jovem possa dar mais força a eles, então, é claro, minha teoria é a de que vampiros tenham seqüestrado Clem e os outros.

Até que fazia sentido, mas Gold discordou prontamente, agitando a cabeça em negação.

— Que idiotice! Vampiros num parque de diversões... Eles não são idiotas! Saberiam que somos caçadores pelo cheiro e fugiriam quando notassem que estamos em grande número. Eles sequer chegariam perto dessas crianças. E acham mesmo que manteriam o controle no meio de uma multidão de gente? Milhões de artérias e centenas de corações bombeando nos ouvidos deles, acham mesmo que manteriam o controle sem atacar ninguém em público? Ah não, meus queridos, em questão de autocontrole eles são extremamente fracos.

— Além do mais, não faria sentido levarem o senhor Delgado se estão atrás de crianças – acrescentou Mary.

— Ora, Rumple, se não foram vampiros, nem um Wendigo, nem A Chorona, não sei mais o que pensar – falou Gancho, coçando a cabeça.

— Vamos pensar – disse Pinóquio – Que criatura levaria crianças e um adulto enquanto planta pistas falsas para nos manter ocupados?

Isso eu não sei – Belle se pronunciou, um tablet em mãos -, mas me concentrei em fazer buscas na internet enquanto vocês discutiam.

— Ela trocou os livros mofados por um tablet! O que você fez com a Belle, seu monstro? Belle, querida, está aí dentro? – Pinóquio fez toc toc em sua testa e Belle lhe deu um tapa na mão, indignada.

— Não seja ridículo, August! Vejam o que encontrei! – ela virou a tela para nos mostrar as páginas abertas no navegador de internet – Notícias antigas de tragédias ocorridas no parque. Há dezesseis anos uma menina de três anos morreu afogada numa poça d’água. Ninguém soube formular uma explicação plausível. Menos de dois anos depois, os vagões da montanha-russa descarrilaram e se chocaram a alta velocidade. O dono do parque afirmou que os brinquedos haviam sido vistoriados uma semana antes e que ninguém sabia explicar a falha técnica nos vagões.  Depois, em 2019, um homem foi lançado de um brinquedo que girava. Diz aqui que ele voou por quarenta metros até aterrissar numa árvore da floresta. O brinquedo foi retirado, o que salvou o parque do risco de falência por interdição, mas, novamente, ninguém soube explicar o ocorrido. Foi o último registro de acidente que encontrei. Há treze anos nada de anormal acontece por aqui.

Todos se entreolharam. Gold colocara uma mão no queixo, pensativo.

— Bem, não restam dúvidas de que este lugar é uma esfera de atração sobrenatural. Talvez seja carregado negativamente. Teríamos de descobrir mais sobre a procedência do terreno. Mas por que anormalidades voltariam a ocorrer depois de treze anos pacíficos?

— O parque quase foi à falência há alguns anos. – contei, lembrando-me de algo que lera ao pesquisar sobre Horrorland – Daí, milagrosamente se recuperou da crise e se transformou num dos lugares mais visitados da região. Eu não sei vocês, mas depois do Vanir desconfio de qualquer coisa que esteja dando bons frutos por um longo tempo.

— O que é um Vanir? – perguntou August.

— Um deus pagão que enfrentamos. – expliquei – Garantia boa colheita e terra fértil a um vilarejo inteiro. Usava um espantalho para recolher os sacrifícios que lhe eram oferecidos. 

— Credo em cruz! – ele estremeceu.

— Está sugerindo que alguém possa ter feito uma espécie de pacto com um deus, garantindo bons lucros ao parque? – me perguntou David.

— Por que não? Já vimos isso antes.

— Faz sentido! – concordou Mary – As crianças podem estar sendo usadas como oferta.

— Meu Deus, que doentio! – guinchou Zoe, um tanto aterrorizada – Sacrificar crianças para manter um parque infantil em funcionamento. Que horrível!

— Tá bem, digamos que realmente seja um deus pagão, Ruby. – disse Gold – Como é que vamos encontrá-lo? Como é que vamos matá-lo?

— Eu lá vou saber? Você é o especialista do grupo, sou apenas uma pesquisadora.

E um silêncio sepulcral se estabeleceu, enquanto quase fundíamos nossos cérebros, botando nossos neurônios para raciocinar. Cerca de um minuto se passou, até que Regina brotou repentinamente, berrando feito louca.

— ACHEI! ESTÃO AQUI, GRAMMY! – ela por pouco não caiu de cara no cascalho, quando derrapou no mesmo.

— Que escândalo! – Gancho revirou os olhos – O que foi agora?

— NÓS DESCOBRIMOS UM PADRÃO! – Regina parou encurvada com as mãos nos joelhos, sem fôlego. Grammy brotou logo em seguida, os cabelos revoltos pela afobação de nos alcançar.

— Descobrimos a razão de terem levado Clem e não Ian! – ele foi logo dizendo, enquanto a Rê tentava respirar – As crianças desaparecidas são todas primogênitas! E Regina perguntou à senhora Delgado, o marido dela é primogênito também!

— Okay, e por que levaram apenas o senhor Delgado? – questionou Gancho, franzindo a testa – Liam é primogênito também.

— A questão é: por que não me levaram? – Regina se apoiou a Grammy, ainda recobrando o fôlego. Então puxou a alça do vestido para baixo, virando-se de costas e nos mostrando a pequena tatuagem em sua omoplata esquerda. Era uma espécie de cruz ovalada na ponta superior. Não era um símbolo que eu já tivesse visto antes. – Vejam o que Grammy descobriu... Estou marcada! E sou primogênita também!  

David arregalou os olhos e arrancou a camisa, voltando-se para Mary com um ar mandão:

— Veja se eu tenho um símbolo igual!

— Tem sim!

E então houve um pequeno rebuliço, enquanto verificávamos nossas omoplatas.

— Marcaram todos os primogênitos! – guinchava Regina, claramente assustada.

— Ruby não tem uma marca – disse Killian, ajeitando a alça do meu vestido – O feitiço que Joanna colocou em você é realmente poderoso.

Eu nunca duvidei disso.

— Eu também não tenho uma marca – falou Grammy. Notei que seus olhos estavam marejados. Ele sorriu – E fui abandonado por meus pais biológicos. Sabem o que isso significa?

Regina ainda se apoiava nele. Se eu não a conhecesse, diria que estava com medo.

— Vocês entendem a gravidade da situação?! Sabem aqueles primogênitos da Bíblia?

— Os que foram mortos no Egito? – perguntou Gold – Acha que fomos marcados por uma praga bíblica?

— Bíblica não. Egípcia! – guinchou ela, histérica – Nós pesquisamos o significado desse símbolo, é uma cruz Ansata. Simbolizava a vida eterna para os egípcios. E adivinhem só, tem uma porra de uma pirâmide egípcia no meio do parque!

Gancho e eu exclamamos ao mesmo tempo.

— Puta que pariu!

E foi então que, pra fechar nossos problemas com chave de ouro, Grammy fez mais uma revelação.

— Não eram atores na van! Eram deuses egípcios de verdade!

PUTA QUE PARIU!


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Notas finais do capítulo

Pro caso de o link com a foto da cruz não ter funcionado: https://static.dicionariodesimbolos.com.br/upload/fc/22/cruz-ansata-1_xl.jpeg
Olha aí, odiaram tanto a Grace que eu resolvi transformá-la numa menina detestável kkkk Me aguardem, ainda tem muita treta nessa história!
Para quem ainda não sabe, eu criei um site dedicado às minhas fanfics. Lá tem um blog, no qual pretendo postar com frequência. Ainda está em construção e ainda não tem versão específica para celular (eu preciso formatar tudo em formato mobile e vai levar um tempinho), mas espero que acompanhem as novidades lá também. Tem spoilers e informações que não entraram para as fics. Não deixem de conferir, segue o link:
http://autoralehjones.wixsite.com/fanficsmrsjones
Postarei o próximo o mais rápido possível. Mais uma vez, muito obrigada por tudo! Eu amo vocês ♥



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