'Til We Die escrita por Mrs Jones


Capítulo 21
Edna Moda & Por que não borboletas?


Notas iniciais do capítulo

Olá, postando na correria! Esse é o capítulo que muitas estavam esperando *---* Mais complicações pra Ruby-Loob. Nesse tem Klaus de TVD. A pedido de leitoras, coloquei ele e o Damon, mas como não assisto a série, tomei a liberdade de usar a personalidade deles como bem quis e acho que vão gostar (muitas gostaram do Damon no chapter anterior). Esse foi baseado no episódio 8X20 de Supernatural. Pac Man Fever. Bem, é isso, espero que gostem. Beijos e até a próxima



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– Tem certeza de que fará isso sozinha? – perguntou Éden pela centésima vez, sentada entre os destroços do que fora uma cama. O sangue que Damon lhe dera não saciara sua fome, de modo que ela sairia para caçar. – Nós iríamos com você, mas eu não estou tão ágil e forte, atrapalharia tudo. E agora, com esse caçador na área... você entende, não é? Não podemos ficar aqui.

– Tudo bem, Ed, eu me viro. Não temos tempo e Killian está fora da cidade, então... – preparava-me para ir ao resgate de Cherry. Não fazia ideia de como enfrentaria bruxas, se é que lidávamos com bruxas, mas sabia que não podia demorar muito mais. Uma vida estava em jogo. – Pra onde exatamente vocês vão?

– Pra floresta. Talvez eu encontre um cervo ou animal grande o suficiente pra me saciar até que eu encontre presa melhor.

– Você não disse que estava caçando ontem à noite?

– Sim, mas não encontrei nada que valesse a pena. Já disse, não ataco inocentes, não quero que pessoas boas carreguem o mesmo fardo que eu.

Por um momento, cheguei a pensar que talvez Éden e Damon tivessem matado aquelas pessoas e depois sumido com o corpo. Claro que ela não faria isso com a melhor amiga, mas eu vira do que ela era capaz quando saía do controle. Em todo o caso, a barriga explosiva não tinha relação com vampiros.

– Como vocês não se queimam no sol? – perguntei e ela segurou o pingente circular - feito de uma brilhante pedra azul escura – que sempre usava no pescoço.

– Essa pedra é uma lápis-lazúli.Foi enfeitiçada por uma bruxa, pra me proteger da luz do dia. – explicou – Se olhar o anel de Damon, vai encontrar a mesma pedra. Nem todos os vampiros têm uma, digamos que as bruxas não gostem muito de nós, então...

A porta se abriu e fechou bruscamente, assustando a ambas. Um Damon apressado jogou uma mochila a meus pés.

– Aí está! Vai ficar me devendo muito por isso, quase fui visto por seu amiguinho caçador! – ele se deixou cair no pufe cor-de-rosa de Cherry, que afundou com seu peso. Notei o anel de prata com uma pedra lápis-lazúli incrustada, que ele usava no dedo do meio. Havia um D gravado no centro da pedra.

– Ele não é meu amiguinho! Se fosse eu não estaria preocupada, estaria? – puxei o zíper da mochila, virando seu conteúdo no chão. Damon surrupiara itens de figurino do teatro da universidade, de modo que eu pudesse me disfarçar e caminhar pelo campus sem ser reconhecida por Jefferson. Devolveria tudo depois que salvasse Cherry, antes que os alunos de artes cênicas dessem falta de algo. – Por que estão tão temerosos, afinal de contas? Jefferson não saberia que são vampiros só de olhar pra vocês... apesar de Damon ser tão branquelo...

Damon fez biquinho e ficou muito sério, comportamento que raramente tinha, uma vez que estava sempre rindo e fazendo piadinhas.

– Digamos que... já tenhamos nos encontrado com aquele indivíduo uma vez e Éden quase tenha sido morta pelo desgraçado. Obviamente, ele nos reconheceria se nos visse, afinal, minha beleza é difícil de esquecer – ele abriu um sorriso de comercial de pasta de dente e piscou pra mim.

Revirando os olhos, fui ao banheiro. Vesti-me rapidamente, mal notando as peças aleatórias que escolhia: um vestidinho preto; meias-calças escuras de tecido grosso e piniquento (essa palavra existe? Se não existe, acaba de existir); sapatilhas gastas de cor cinza-chumbo; uma peruca preta de fios lisos e curtos, que chegavam a meus ombros, e óculos fundo-de-garrafa de aros redondos. Olhando-me no pequeno espelho sobre a pia, achei que estivesse ridícula o suficiente.

– E então? – saí para o quarto – Estou irreconhecível?

Damon caiu numa gargalhada histérica e Éden tentou se segurar, mas o acompanhou no riso. Esperei até que os dois se controlassem, as mãos na cintura. Empinei o nariz sem perceber, o que fez Damon rir mais ainda.

– O que foi?

– Você está igualzinha... igualzinha àquela mulher... – ele não conseguia falar, chacoalhava de tanto rir e dobrava-se pra frente – Como é o nome dela?... Do filme dos Incríveis...

– Edna Moda?

Levou uns bons cinco minutos pra que eles parassem de rir. De fato, estava me parecendo com a Edna Moda, a estilista dos super heróis de Os Incríveis. Uma ironia, já que eu própria seria estilista. Ao menos passaria despercebida caso topasse com o chapeleiro. Ou não... De qualquer forma, ele nunca me reconheceria.

– Já sabe como vai matá-las? As bruxas? – indagou Éden, lendo anotações que eu fizera com Cherry no dia anterior, quando fôramos à biblioteca – Escute, Ruby, elas são perigosas. Se houver mais de uma...

– Bem, espero que alguma dessas dê conta do serviço... – apanhei a valise preta que levara comigo, abrindo-a e revelando alguns revólveres, duas facas e a adaga que ganhara de Gold. Os outros dois arregalaram os olhos, impressionados. – Na verdade, não sei realmente o que vou enfrentar. Gancho fez uma lista de possíveis criat...

– Gancho? – Damon franziu a testa.

– Meu namorado. É como o chamam, codinome de caçador.

Ele revirou os olhos, me fazendo rir. Apanhei a lista que Gancho fizera e a examinei de cima a baixo, pensando. Metamorfos poderiam agir sem atrair desconfiança, uma vez que assumiam aparência de qualquer pessoa. Descartei a possibilidade de ser um deles, já que havia desaparecidos do sexo feminino e metamorfos geralmente assumiam aparência de um homem para engravidar uma mulher e gerar um metamorfinho.

Dragões (sim, eu disse dragões. Mas não dragões como os que estamos acostumados a ver em filmes) também sequestravam pessoas, mas apenas mulheres virgens.

Um Ghoul, pelo contrário, era uma das possibilidades. Essas criaturas se alimentavam de corpos mortos, escavando covas em cemitérios. Agora que as pessoas eram cremadas, no entanto, costumavam se alimentar de vivos. Ou seja, fazia sentido seqüestrarem pessoas da universidade, até porque, como os metamorfos, podiam assumir a aparência da última pessoa que comeram. Uma decapitação resolveria o problema, se eu encontrasse um Ghoul lá embaixo.

Também poderiam ser Djinns, criaturas que intoxicavam a vítima por toque, colocando-as numa simulação de vida perfeita e feliz e alimentando-se de seu sangue enquanto morriam aos poucos. Para se matar um Djinn era necessário usar uma faca banhada em sangue de cordeiro. Bem, eu tomara a precaução de trazer sangue de cordeiro engarrafado em minha valise, mas não acreditava que Ghouls ou Djinns pudessem fazer a barriga de uma pessoa se liquefazer e explodir.

– Você ainda tem o vídeo do Derick, Damon?

– É claro! Gosto de aterrorizar as garotas enquanto estão comendo, mostrando isso a elas – riu ele, tocando na tela do celular e virando-a pra mim em seguida.

– Idiota! – resmungou Éden, balançando a cabeça – Ainda fico nauseada só de me lembrar do cheiro daquele sangue... Uh, que nojo! Sangue de morto não nos faz bem, sabe?

– É, eu sei... – torci o nariz, vendo Derick filmado de perto. Da outra vez eu não pudera ver direito, com tantas cabeças na minha frente. Agora, porém, podia observar detalhadamente, com a imagem em Ultra HD. Tentei não vomitar quando revi a cena da enorme barriga explodindo – Sorte sua não ter sido atingido pelo sangue, senhor Salvatore. Ugh, que nojeira...

– Você viu as tripas pra fora? – ele apontava a tela, parecendo tão interessado quanto um aluno de medicina que estudava um corpo aberto – Olha, olha! Aquela coisa preta era um pedaço do fígado, tenho certeza.

– Ah, me poupe! Espera! Que é aquilo? – congelei a imagem. Havia uma marca azul na altura do pulso direito de Derick. Se parecia com uma tatuagem tribal – Esta marca! Ele não tinha uma tatuagem, tenho certeza!

– O que está dizendo? – Ed se aproximou para ver – Acha que isto apareceu depois de ele ter desaparecido?

– Não sei, talvez... Preciso mostrar a Jenna, ela vai se lembrar – fiz menção de sair para o corredor.

– Jenna não está no campus, foi à delegacia dar queixa do desaparecimento de Cherry – falou Damon.

– E por que vocês não foram junto? – arqueei a sobrancelha. Eles nem pareciam tão preocupados assim com a Cherry...

– Por que é inútil! Você sabe, a polícia só considera como desaparecimento depois de vinte e quatro horas. Além do mais, eles acham que pegaram o seqüestrador e são verdadeiros incompetentes, nunca vão descobrir que não se trata de um seqüestrador humano. – Éden, revoltada, caminhava de um lado para o outro – Damon, precisamos ir, não agüento mais...

– Você vai ficar bem, não é? – Damon pegou minha mão, me encarando no fundo dos olhos. – Eu não deixaria você sozinha se não precisasse. Não confio na Éden sozinha na floresta, não com esse caçador na área.

– Não se preocupem. Eu sobrevivi a um metamorfo, a um lobisomem, a um espantalho, a uma manada de elefantes... Eu vou ficar bem!

– Manada de elefantes? – ele arqueou a sobrancelha, divertido.

– Longa história, depois eu conto!

Os dois vampiros me desejaram sorte, antes de pular pela janela do terceiro andar. Sorte que não havia ninguém nos jardins pra ver aquela manobra. Olhei pra baixo e os vi correr em direção à floresta próxima da universidade.

Jenna não atendia o celular, de forma que precisei fuçar o perfil de Derick nas redes sociais para confirmar que ele não tinha uma tatuagem antes de desaparecer. A marca que eu vira se parecia com uma tatuagem tribal, que se assemelhava ao padrão das tatuagens de uma ilustração que eu vira de um Djinn num dos livros de Gancho. Um Djinn... Mas Djinns não deixavam marcas nas pessoas. Nem transformavam suas entranhas em Maria-Mole.

– Isso pede a ajuda de pessoas experientes... – murmurei comigo mesma, sentada no meio do quarto, com o tablet de Éden nas mãos. Liguei para Zoe e foi Dean quem atendeu. Expliquei rapidamente a situação e ele disse que nem ouvira falar daqueles desaparecimentos, uma vez que estava com Sam e Zoe na Pennsylvania. Mas reagiu quando falei da marca no pulso de Derick.

– Uma marca azul? – berrou ele do outro lado – As entranhas do cara viraram gelatina?

– Sim, e a barriga dele explodiu...

É um Djinn! Um dos malvados... não que os outros sejam bonzinhos, mas...

O que está fazendo com meu telefone? – guinchou uma Zoe irritada. Ouvi quando ela arrancou o celular das mãos do loiro, que protestou dizendo que eu precisava de ajuda com um Djinn malvado – Oi, Ruby-Loob! Que história é essa de enfrentar um Djinn sozinha? O Gancho sabe disso?

– Não e não diga nada a ele pelo amor de Deus! Escuta, eu preciso salvar uma amiga, me diz logo o que é esse Djinn malvado.

Ah eles são diferentes dos outros Djinns. Esses não colocam as vitimas numa simulação de felicidade, ao invés, as colocam numa alucinação onde elas enfrentam seus piores pesadelos. Não são tatuados como os outros Djinns, se assemelham a pessoas normais. Eles se alimentam de medo e deixam uma marca azul na pessoa infectada. E é claro, transformam a vítima em gelatina por dentro.

– Ah céus! – pus uma mão no coração, começando a me desesperar. Talvez Cherry já estivesse no estágio de virar gelatina... – Se a vítima morrer na alucinação acorda na vida real?

Não, não é como acontece com a simulação de felicidade. A vítima tem de enfrentar o que teme, só assim acorda. Melhor correr Ruby-Loob, antes que sua amiga morra de medo...

***

Precisei voltar ao QG para apanhar umas coisas e imaginem meu medo de encontrar Gancho. Felizmente, ele ainda não voltara pra casa, mas me ligara dizendo que estava bem. Quando voltei à universidade, topei com Jefferson no corredor. Ele nem pareceu me notar, uma vez que conversava com meus professores. Pelo o que entendi, daria uma palestra aos alunos de Moda. Dei graças a Deus por não estar assistindo aula nesse dia...

Um de meus professores não estava entre os outros. Minha mente deu um estalo! Liguei para Damon, que atendeu no segundo toque.

Ruby, tudo bem? – perguntou, seu tom era de preocupação.

– Estou bem – entrei no banheiro feminino, que estava vazio, e tranquei a porta, de modo que pudesse conversar sem que me ouvissem – Escuta, eu sei o que pegou a Cherry, foi um Djinn.

E o que seria um Djinn?

– Não tenho tempo pra explicar, mas não é coisa boa... – ajeitei minha peruca – Você viu pra onde Cherry foi depois que se encontraram no jardim ontem à noite?

No jardim? Ontem à noite? Espera... eu não vejo Cherry desde ontem à tarde, eu te disse...

– Ah céus...

O que foi?

– Eu sei quem a levou... Foi o Professor Midas...

***

Me esgueirando pelos corredores, alcancei o auditório de História da Moda, matéria lecionada pelo Professor Midas. Girei a maçaneta, mas a porta estava trancada. Um colega de classe ia passando na hora e empinei o nariz ao afinar a voz e perguntar:

– Poderia me dizer onde está o professor desta sala?

– Hum... acho que está assistindo à palestra no auditório 15, com os outros professores.

– Não, ele não está lá, já verifiquei! Em todo caso, obrigada, querido.

Esperei até que ele se afastasse, então tirei um dos grampos que mantinha a peruca no lugar e enfiei na fechadura. Sorte que não havia câmeras por perto, ou não poderia utilizar aquela manobra. A tranca se abriu com um clique e entrei para a escuridão da sala, fechando a porta atrás de mim. O vazio me deu uma sensação ruim, mas não me deixei abalar, apenas acendi as luzes e me encaminhei para a mesa do professor, que ele raramente usava.

– Tem que ter algo aqui – murmurava pra mim mesma, tentando preencher o silêncio. A sensação era de que o professor iria aparecer a qualquer momento e me levar com ele. – Alguma coisa... um esconderijo, uma pista...

A convivência com caçadores me ensinara a procurar por esconderijos. Havia duas gavetas na mesa. Numa delas o professor guardara uma pilha de esboços, os mesmos que eu derrubara quando trombara com ele no corredor. Virei o conteúdo da gaveta sobre a mesa, procurando por um fundo falso. A virei ao avesso, de modo a olhar por baixo do fundo. Nada havia de anormal. Tornei a colocá-la no lugar, do jeito que a encontrara. Fuçando a outra gaveta, que continha alguns livros relacionados a vestimenta e costura, encontrei um CD de músicas clássicas e nada mais além disso. Olhei por baixo da cadeira e nada... Por baixo da mesa... No quadro branco...

– Merda! Não tem nada aqui!

Ouvi passos do lado de fora da sala. A maçaneta girou e congelei no lugar. O professor!

– Engraçado, achei que tivesse trancado essa porta – o ouvi dizer. Abriu a porta pela metade e parou ao conversar com alguém. Apressei-me a ir me esconder por trás da comprida mesa dos alunos, na primeira fileira de assentos. Um segundo depois, o professor entrou acompanhado de alguém - Agora que estamos sozinhos, querida, o que é que você queria me contar?

– Temos um problema e ele se chama Ruby Lucas.

Aquela voz me paralisou. Prendi a respiração, mais por estar em choque do que pra evitar denunciar minha posição.

– Ruby Lucas? – indagou o professor e o ouvi puxar a cadeira e se sentar – O que é que tem a senhorita Lucas?

– O namorado dela é caçador. Eu soube, no momento em que coloquei meus olhos nele.

– Acha que ela sabe de nós? – o tom de voz do professor parecia tranqüilo, mas pude sentir uma pontinha de temor no modo como fez a pergunta.

– Claro que sabe! Ela tem cara de sonsa, mas é esperta.

Como ela ousa?! Como ela ousa dizer...

– Ela esbarrou comigo no corredor, estava procurando a senhorita Moore. Acredito que ainda esteja... Acha que há chances de ela encontrar nosso pequeno lar?

Passos suaves pela sala. Ela parou perto de uma das janelas. Me atrevi a respirar baixinho, tão paralisada que meus membros formigavam pela posição encolhida em que me encontrava.

– Não. Ninguém descobrirá, papai. É o esconderijo perfeito! – riu – Quem iria imaginar que as pobres vítimas de seqüestro se encontram neste campus, no antigo abrigo antiaéreo?

O professor riu, depois suspirou.

– Muito em breve, teremos de arranjar outro lugar, minha querida. Não é prudente ficarmos aqui, já foi demasiado difícil nos livrarmos dos policiais. Uma hora descobrirão que aquele gordo nojento não foi responsável pelos seqüestros e quando isso acontecer...

– Quando acontecer, estaremos longe. – ela caminhava pela sala, os passos leves mal fazendo barulho – Me dê apenas mais algumas horas. Cherry Moore vai nos render uma boa refeição, mas antes, preciso me livrar daquela insuportável...

– Do que será que ela tem medo, meu amor?

– De perder o grande amor da vida dela, é claro. – imaginei que ela estivesse sorrindo, devido a animação com que disse aquilo – Ela ama aquele imbecil! Killian Jones, o caçador... Depois que eu matá-la, irei atrás dele...

Um arrepio me gelou a espinha.

– Um caçador não tem muitos medos, querida.

– Mas é claro que tem! – soltou uma risada de animação. Gostaria de poder lhe dar um tabefe na cara – Escute, papai, eles se amam! Têm medo de perder um ao outro. Ouça bem... teremos um banquete! - talvez seus olhos estivessem brilhando de excitação – Ruby Lucas como entrada, Killian Jones como prato principal e Cherry Moore de sobremesa!

– Ah meu amor, sua irmã vai adorar!

– É isso que eu chamo de tirar a barriga da miséria!

E os dois gargalharam malvadamente, antes de deixar a sala.

Antes de me erguer de minha posição dolorida, soltei a respiração e fechei os olhos. Apanhei o celular no bolso de meu vestido e enviei uma mensagem de texto para Éden.

Jenna é um Djinn.

***

Meu celular vibrou. Uma mensagem de Éden, digitada às pressas.

Jenna Djinn? Como assim? Cuidado! Klaus a caminho. Namorado Cherry. Vai ajudar. Soque ele por mim. Beijos.

Suspirei. Ajuda era bem vinda, só que eu não podia ficar esperando por um cara que nem conhecia. Praticamente agarrada à minha valise preta, atravessei a sala em direção à porta, apenas para descobrir que o desgraçado do professor a trancara e que não havia como arrombá-la por dentro. Ótimo! Era tudo de que eu precisava...

Olhei pela janela. Estava no primeiro andar e é claro, não era louca o suficiente para me aventurar a saltar pela janela. Cair de mau jeito poderia ser fatal ou, no mínimo, me renderia uma grave fratura exposta e eu não estava nem um pouco a fim de ir parar num hospital.

– Merda! Ah não...

Gancho estava me ligando e ignorar a ligação o deixaria preocupado, achando que eu fora sequestrada. Atendi no segundo toque e ele começou a berrar comigo antes mesmo de eu dizer alô.

RUBY LUCAS, QUE HISTÓRIA É ESSA DE IR ATRÁS DE UM DJINN?...

– Eu vou matar a Zoe...

–...SAI DAÍ AGORA! QUERO QUE VOLTE PRA CASA E SE TRANQUE LÁ, ESTÁ ME ENTENDENDO?

– Eu não vou permitir que uma vadia louca mate minha amiga! Quer você queira ou não, estou indo caçar Djinns!

DJINNS? MAIS DE UM? VOCÊ PERDEU O JUÍZO, GAROTA? SAI DAÍ AGO...

Desliguei e ele tornou a ligar, menos de cinco segundos depois. Falando calmamente, tentava me convencer a desistir daquela loucura.

Meu amorzinho, sei que está preocupada com sua amiga, mas sinto muito em lhe dizer, ela provavelmente já está morta.

– Não está! Eu vou acabar com aqueles Djinns, salvar a Cherry e provar pra polícia que o cara que prenderam é inocente. – conforme falava, analisava as cortinas de veludo vermelho. Parecia coisa de gente insana, mas eu estava pensando em me dependurar numa corda feita de tecido pra poder sair dali.

Não pode bancar a heroína e se aventurar numa toca de Djinns! – ele voltou a gritar, de modo que precisei afastar o celular do ouvido. Ao fundo, pude ouvir Grammy querendo saber o que estava acontecendo – Talvez tenha se esquecido, mas você quase foi morta por um lobisomem, um espantalho e uma manada de elefantes! Talvez não tenha tanta sorte desta vez!

– Não venha me dizer o que eu não posso fazer! Sou apenas uma assistente, querido, mas tenho conhecimento suficiente pra deixar certos caçadores no chinelo. Ah e talvez queira saber que estou em perigo apenas por estar em Seattle, porque acontece que uma de minhas amigas é um Djinn que quer me ter como prato de entrada, pra depois ter você como prato principal!

– O quê? C-como assim? Que amiga?

– Jenna, aquela traidora! Se fingiu de amiga pra nos apunhalar pelas costas...

Ruby, eu estou te implorando... Por favor, por favor, minha princesa, fique em segurança... Olhe, eu estarei aí dentro de duas horas, com sorte, chego em uma hora e meia...

Você não entende, Killian, eu preciso fazer isso. Demorou, mas agora eu descobri... Minha missão neste mundo é salvar vidas, como vocês caçadores. Eu vou honrar meu codinome!

Você não está pensando em... RUBY LUCAS, VOCÊ NÃO VAI SE TORNAR CAÇADORA!

– Não me diga o que não posso fazer! Te vejo em duas horas!

***

Se funcionava com lençóis, por que não funcionaria com cortinas? Tendo atado uma cortina à outra, fazendo uma corda, amarrei a mesma ao pé da pesada mesa do professor. Esperava que aquilo fosse agüentar meu peso. As janelas davam para os fundos da universidade, onde ninguém além dos funcionários costumava ir. Avistei uma pilha de lixo lá embaixo. Com sorte, amorteceria uma possível queda. Atirei primeiro a valise, que caiu com um baque surdo, e em seguida me sentei no parapeito da janela, deixando minhas pernas balançarem no ar. Senti uma vertigem e precisei fechar os olhos por uns instantes. Quando os reabri, me agarrei à corda de tecido e me deixei escorregar pela mesma.

– Calma, Ruby, você consegue! – disse pra mim mesma, agarrando-me à corda com tanta força que os nós de meus dedos ficaram pálidos. Minha cabeça girava e meus pés formigavam por estarem no ar. Meus braços doíam pelo esforço, mas logo aliviei a carga de peso que suportavam ao abraçar a corda com os joelhos – Você consegue! Você é uma moça forte e corajosa! Não precisa de ninguém neste momento! Você vai descer por esta corda e salvar sua amiga.

E, num piscar de olhos, escorregando agarrada ao tecido (já estava me sentindo uma artista de circo), me vi lá embaixo num instante. Não fora assim tão difícil, mas a pouca altura era de assustar. Apanhei minha valise e fui em busca do tal abrigo antiaéreo, que eu nem sabia que havia naquele terreno. Damon dissera que o cheiro de Cherry desaparecera quando ele chegara perto da Faculdade de Direito, o que o fizera presumir que ela estava em algum lugar no subsolo. Tomando essa informação como ponto de partida, me encaminhei para o imponente prédio de Direito, apenas para parar no meio do caminho, atraída pelos gritos histéricos de algumas alunas.

– Querem, por favor, se acalmar? – um professor veio ver o motivo de tanto escândalo.

– Há um corpo na floresta! – guinchou uma delas – Igualzinho ao outro, com a barriga inchada!

Foi o suficiente pra que um bando de desocupados corresse para ver o infeliz cadáver. Avisei a Éden que ela e Damon tomassem cuidado pra não serem pegos enquanto se alimentavam. Depois, com o campus praticamente vazio, tive a liberdade de dar à volta ao prédio da escola de Direito, procurando pela entrada do tal abrigo. Não encontrei.

Meu celular vibrou. Mensagem de Jenna.

Onde você está? Preciso lhe contar uma coisa.

Vadia! Óbvio que ela só queria me atrair para um lugar ermo, onde pudesse me capturar. Respondi.

No barzinho da esquina. Me encontre aqui.

Menos de um minuto depois, a vi atravessar o campus, acompanhada do pai. Vibrei. Com os dois fora do caminho, teria tempo o suficiente para encontrar Cherry e, quem sabe, tira-la de lá antes que a família Djinn voltasse. Abordei um aluno concentrado num livro de Direito Penal, perguntando se ele fazia alguma ideia de onde ficava o abrigo antiaéreo. Sem nem desviar os olhos da leitura, ele me disse que não sabia de nada e que eu procurasse um aluno de Engenharia.

– Espero que fique míope de tanto ler, mal educado! – marchei pra longe, de nariz em pé, e trombei com uma massa alta que vinha na direção oposta.

Você é a Ruby? – perguntou um rapaz de sorriso debochado, olhando-me com a testa franzida e uma sobrancelha arqueada.

– E você, quem é? – estreitei o olhar, desconfiada.

– Klaus Mikaelson.

Ah ele era mais bonito do que eu imaginava! Ótimo, agora eu tinha um parceiro de caçada...

– Como foi que me encontrou?

Ele mostrou o casaco vermelho que eu estivera usando antes de trocar minhas roupas pelo disfarce.

– Pelo faro. Confesso, não imaginei que você fosse tão horrorosa!

Como ele se atreve?!

– Era só o que me faltava... Um vampiro debochado na minha cola.

– Híbrido, pra sua informação. Vampiro e lobisomem. Sabia que não devia usar casacos vermelhos? – atirou o casaco pra mim – Atrai lobisomens...

Vermelho atrai lobisomens... Estava explicado por que eu quase fora morta por um lobisomem, na noite em que conhecera Killian. Na ocasião, eu usava aquele mesmo casaco vermelho.

Fiquei com um pé atrás com Klaus. Saber que Éden e Damon eram vampiros já era por si só preocupante, mas saber que o namorado da amiga que eu tentava salvar era um híbrido que poderia me matar facilmente, me aterrorizava mais ainda. Em todo caso, ainda preferia lobisomens e vampiros a Djinns comedores de medo.

A floresta nos fundos da Universidade de Seattle delimitava o campus da mesma. O centro universitário não era assim tão grande, mas a floresta era vasta o suficiente pra que várias pessoas a percorressem sem encontrar umas as outras. Considerando que Éden e Damon caçavam, que policiais e médicos legistas examinavam o cadáver encontrado e que não topamos com ninguém durante nossa caminhada pela trilha de Cherry, supus que seria fácil um Djinn andar por ali seqüestrando pessoas. Quero dizer, as árvores eram muito juntas umas das outras. E além do mais, ninguém se aventurava por ali sozinho. Jenna devia ter arrumado um jeito de atrair as vítimas até ali.

– Espere – disse Klaus, depois de uns dez minutos de caminhada – Ela está por perto.

Me encolhi, incomodada pela atmosfera sinistra do lugar. Ainda nem era hora do almoço, mas a floresta estava tão escura que parecia fim de tarde.

– Por que Damon não conseguiu rastreá-la até aqui?

Klaus soltou uma gargalhada baixa.

– Acha que Damon é tão bom quanto eu? Damon e Éden são praticamente crianças, nem se comparam a mim. Por aqui...

– Você também é do time dos bonzinhos?

– Como é? – arqueou uma sobrancelha, o que lhe dava um ar arrogante como o de Gancho.

– Você caça pra sobreviver ou...

Quer saber se eu mato? – Ele girou o corpo pra me encarar, sorriu de lado e se curvou até ficar com o rosto quase colado ao meu. Seus olhos claros brilharam – Vou deixar você descobrir... – riu, endireitando o corpo – Não tem medo de andar sozinha pela floresta com um híbrido?

– Tem um facão na minha valise, só pra você saber... E eu tenho sangue de morto!

Depois disso, ele passou a me observar pelo canto dos olhos.

– Aqui! O cheiro dela ficou mais forte!

– Verifique o solo. Tem que ter algum alçapão...

– Você gosta de mandar, não é?

– Quer salvar sua namorada ou não? Aliás... Cherry sabe sobre você?

Ele demorou a responder. Pigarreou, evitou me olhar.

– Vou contar assim que tirá-la lá de baixo! Espero que ele aceite bem... quer dizer, ela aceitou a Éden, então...

Me abaixei de modo a afastar as folhas secas do chão, procurando por uma porta oculta em algum lugar. Dez segundos depois, Klaus soltou um grito de animação. Encontrara. Uma portinhola redonda e metálica meio enterrada no solo. Estava enferrujada e trancada por um cadeado com senha.

– Merda! – exclamei – E agora?

– Uh, ela fala palavrão!

– Klaus, sem gracinhas. Por que não arrebenta essa droga de cadeado?

– Com sua licença! – ele puxou o cadeado com força, espatifando-o nas mãos. Arregalei os olhos, ele tinha força o suficiente pra quebrar uns ossos... Talvez fosse útil.

Abriu a portinhola com um rangido, revelando um buraco escuro e fétido, parecido com um poço. Uma escada de metal presa à parede do buraco levava até o fundo, que não ficava muito distante da borda. Apanhei um facão, que mergulhara em sangue de carneiro antes de me aventurar na floresta. Com a ajuda de uma lanterna, desci seguida por Klaus. Lá embaixo, outra porta. Esta era quadrada e pequena, tinha uma posição meio torta na parede circular. Girando uma alavanca, abri a porta e passei pela abertura.

– Incrível... Todo esse tempo, havia um abrigo por baixo da floresta e ninguém descobriu... – disse Klaus, passando pela porta depois de mim.

Era um túnel horizontal, largo e alto. Levamos uns instantes esquadrinhando o lugar. A iluminação precária era feita por lâmpadas fluorescentes tubulares no teto. Havia algumas camas de metal, com colchões finos e aparência de mofados. Alguma coisa apodrecera ali dentro e o olfato apurado de Klaus protestou.

– Ah que horror! – exclamou ele, tapando o nariz. Sua voz ecoando pelas paredes – Alguma coisa morreu aqui dentro?

– Shhh, quer calar a boca?

– Incrível como as pessoas são insistentes! – a voz de Jenna me gelou a espinha. Eu literalmente pulei de susto. Ela estava parada a um canto escuro, de braços cruzados. Estivera ali o tempo todo, imóvel, apenas nos observando. Fechou a portinhola, que fez um ruído alto e oco ao bater. – Vejam bem... bastou uma pista falsa pra vocês caírem direto nas minhas mãos.

– Cadê a Cherry, Jenna? – gritei, erguendo o facão.

– Você pode berrar o quanto quiser – riu ela. Abriu os braços – Está vendo Cherry aqui?

– O QUE FEZ COM ELA SUA VAGABUNDA? – berrou Klaus, tão vermelho e irritado que as veias do pescoço estavam saltadas.

Ela riu. Caminhando com seus passos suaves, apanhou um frasco de perfume que pertencia a Cherry. Apertei os punhos. A meu lado, Klaus ficava cada vez mais rubro.

– Berrem o quanto quiserem – mostrou o vidro de perfume – Ela nunca esteve aqui... Sabe, esse esconderijo é realmente brilhante! Ninguém sabe dele, a não ser nós e o reitor da universidade. Sim, Albert Spencer é um de nós... Foi ele quem nos ofereceu este pequeno lar no meio da floresta. E devo dizer que papai e eu ficamos... como posso dizer? Com um pé atrás... – sorriu, largando o perfume sobre uma mesinha de pé quebrado – Vejam vocês, Djinns necessitam se alimentar regularmente. Albert disse: “Eu tenho o lugar perfeito! Um lugar em que teremos uma bela refeição por dia”. Oh e ele estava certo!

– Mataram pessoas inocentes! – condenei.

– Ah, querida Ruby... Lei do mais forte... Ou, nesse caso, lei do mais esperto! – deixou-se cair numa poltrona velha e manchada, que algum dia devia ter sido azul – Aaaah quem desconfiaria da doce Jenna? Foi tão fácil atrair nossas presas pra cá! Seduza um rapaz e ele a seguirá feito um cachorrinho. Ah Derick... ele estava caidinho por mim. Não era pra você que ele olhava durante as aulas, sabe. – suspirou, apoiando as mãos entrelaçadas sobre o colo – Quanto às garotas... umas tolas! Bastou que eu dissesse a elas que estavam sendo traídas pra que quisessem conferir com os próprios olhos. Bobinhas! E pensar que ainda tinham um futuro brilhante pela frente...

Klaus avançou nela com a rapidez de um raio. Quando vi, os dois já estavam se atracando e destruindo tudo que encontravam pelo caminho. Puxa, como os vampiros são intensos! Ele estava ganhando, então, é claro, me mantive à distância, apenas assistindo abobada enquanto ele socava a cabeça dela no chão. Mas aí, a doce Jenna o esfaqueou...

– AAAAAH DESGRAÇADA! SUA PUTA!

– Olhe a boca, garotinho! – ela se ergueu cuspindo sangue. Klaus se contorcia no chão. Fora envenenado por sangue de morto – Eu lhes disse, queridinhos, lei do mais esperto! – ela avançou ara mim, que ergui o facão. Não a mataria ainda, precisava saber de Cherry. – E então, querida Ruby, o que vai ser? É assim que vai se tornar uma assassina? Matando sua amiga?

– Você nunca foi minha amiga! Sua fingida!

Ela gargalhou. Caminhou até a cama mais próxima, onde apanhou alguma coisa. O revólver brilhou com a pálida iluminação. Um pedaço de destruição, era o que ela segurava. Ou morte. E, cá entre nós, eu não estava a fim de morrer daquele jeito...

– Isso é jogo sujo! – falei, encarando amedrontada o cano da arma apontado pra mim.

– É mesmo? – caminhando em minha direção, me fez recuar – Eu não atrai você aqui para matá-la desse jeito. Mas assim farei se me obrigar. – sorriu, os olhinhos brilhando – Como você é burra! Achou mesmo que seríamos tão amadores a ponto de sair falando sobre nosso esconderijo numa sala de aula?

Não acredito...

– Sim, querida... Nós sabíamos que você estava lá. Eu sabia de cada passo seu e de Cherry. Achou que esse disfarce ridículo pudesse te encobrir? Achou que eu e meu pai fossemos idiotas de não saber que você estava lá, ouvindo nossa conversa? Ah não, queridinha... seu medo fede! E seu fedor me atiça... Eu vou adorar me alimentar de você!

– Você rastreou meu celular!

É claro! Só assim ela poderia saber de meus passos. Sabia que eu não estava no bar da esquina, sabia que eu estava indo direto para a armadilha. Estivera me vigiando desde a primeira vez que nos viramos. Como eu fora idiota! E ainda arrastara Klaus para o perigo.

– Você me subestimou, querida – ela gargalhou, histérica, a arma balançando perigosamente na mão – Achou que fosse mais inteligente do que eu. Coitadinha de você! Sei que seu namorado está fora da cidade, mas não importa... quando ele vier salvá-la, eu o matarei! – lambeu o lábio inferior, que sangrava – Agora sugiro que largue esta faca. Não vai querer competir com uma arma, vai?

– Ah vou sim! – num movimento rápido, arranquei o revólver que escondera no bolso de meu vestido. Atiramos ao mesmo tempo. É claro, um tiro não a mataria, mas causaria distração suficiente. – AH! FILHA DA MÃE!

Quando caiu pra trás, ela apertou o gatilho e me acertou na batata da perna. Desabei, a dor me cegando por breves momentos. A adrenalina correndo por minhas veias me deu forças. Chutei a arma dela para longe e rolamos pelo chão, atracadas. Tentei enfiar a faca de prata banhada em sangue de cordeiro entre suas costelas, mas ela era forte e agarrou minha mão, torcendo-a para trás. Senti meus ossos estalarem e gritei. Ela com certeza quebrara meu pulso. Mas não me envenenara.

– Sabe de uma coisa? – falei entre dentes, lágrimas de dor escorrendo por meu rosto – É hoje que realizo meu desejo, faz algum tempo que estou querendo quebrar o nariz de alguém e essa sua cara só estimula mais esse desejo. – rolei para o lado, pegando Jenna de surpresa. Ela caiu de costas e a prensei contra o assoalho frio de cimento, estapeando sua cara em seguida. – Gostou disso? Eu também sei bater com a mão esquerda!

Ela me jogou para o lado. Fui cair perto da faca e estiquei a mão dolorida para apanhá-la. Jenna soltou um grito e foi bater a cabeça no pé metálico de uma das camas. Klaus conseguira se levantar e pulara para cima dela, mas acabou por desabar de novo, o veneno o queimando por dentro.

– Isso é o melhor que podem fazer? – gritou ela pra mim, erguendo-se e correndo em minha direção. Estava de pé, com a faca estendida ao lado do corpo. Quando Jenna tentou me derrubar, brandi a faca contra ela, rasgando seu braço esquerdo com um longo corte. Ela guinchou e saiu correndo em direção à saída.

– Vai fugir agora, vadia? – provoquei.

Por sorte, a bala me pegara de raspão. Apesar de minhas meias grossas estarem encharcadas de sangue e minha perna doer como se lhe enfiassem agulhas a cada vez que eu dava um passo, consegui correr atrás dela e a puxei por um pé quando ela ia subindo a escada. Jenna gritou e soltou um palavrão quando caiu.

– CADÊ A CHERRY? – coloquei a lâmina da faca contra seu pescoço.

– Eu não vou dizer! Vamos, me mate! Minha família ainda vai estar aí pra honrar meu nome!

– ONDE VOCÊS A ESCONDERAM?

– Ah, querida, não se incomode com Cherry. Vá pra casa enquanto ainda há tempo...

– ONDE ELA ESTÁ?

– Morta! Eu a matei! – gargalhou loucamente - Cherry era tão lesada! Nem vai fazer falta. Sabe que ela se preocupava com você? Disse a ela que precisava de ajuda pra levá-la a um hospital, porque estava se sentindo mal. Aaaah toda aquela história do bebê... – e sorriu maliciosamente.

Perdi o fôlego. Jenna gargalhou outra vez.

– Está se perguntando como eu sei... É simples, querida, eu sinto o cheiro do medo. E você sabe... sabe que isso não devia ter acontecido. Sabe que vai expor uma criança a esse mundo cheios de riscos e sofrimento. E tem medo de contar ao seu grande amor que está carregando uma pessoinha dentro de você.

– Não! Não, era só uma suspeita!

– Não seja boba! Você sabe, só não quer acreditar. Bem, queridinha, vou lhe poupar de gastar dinheiro com um teste de gravidez... O erro está aí, aceite!

– CALE A BOCA! – a puxei pelo cabelo, batendo com sua cabeça na parede de concreto – ME DIZ ONDE ESTÁ CHERRY! EU SEI QUE ESTÁ MENTINDO!

Ela emitiu um gemido de dor, mas não deixava de lado o ar debochado e o jeito provocador nem quando estava perdendo.

– Por que eu mentiria? Sabe que há outros três Djinns além de mim. E, neste exato momento, estão se alimentando de sua querida Cherry. Foi realmente uma pena ter levado um tiro e quebrado o pulso por nada. Mas sabe, você ainda pode contar pro seu filho a história de como a mãe dele tentou se aventurar numa caçada e acabou se dando muito mal. Fazer o quê? Amadores... AAAAH!

Enfiei a faca em seu pescoço.

***

Talvez os Djinns sentissem quando entes de sua família morriam, porque eu me vi cara a cara com o Pai Djinn, mas conhecido como Professor Midas. Dali a pouco o Reitor Djinn também apareceu e os dois homens partiram pra cima de mim. Ao invés de tentar me matar, queriam me infectar. Eu sabia que pra acordar de uma simulação de um Djinn Comedor de Medo (apelido “carinhoso” que dei a eles) precisava me desligar do medo durante a alucinação para acordar em minha vida real. Bem, não tinha tanta certeza de que poderia fazer isso, caso infectada. Talvez não tivesse consciência de que se tratava de uma alucinação e aí... viraria gelatina. Junto com o feto em meu útero.

Felizmente, com uma pequena ajudinha de um Klaus envenenado e quase desmaiando, consegui dar cabo do Djinn Pai, enfiando a faca entre suas costelas, enquando o vampiro o agarrava pelo pescoço. O Reitor Djinn fugiu com o rabinho entre as pernas. Podia jurar que ficara com medo da minha cara de Matadora de Djinns Comedores de Medo. Com isso, achei que tivéssemos nos livrado deles, até me lembrar de um pequeno detalhe.

– Ah que merda!

– Que foi? – resmungou Klaus, um corte no abdômen e a pele em volta em tom arroxeado.

– Jenna tinha uma gêmea...

– Bem lembrado! – rosnou a voz de Jenna, que não era Jenna, mas a gêmea idêntica. Ela segurava Cherry na mira de uma arma – Um movimento e estouro a cabeça da sua amiguinha.

– Cherry! É melhor nem tocar nela, sua desgraçada! – Klaus caiu entre as folhas mortas no chão, agarrando a barriga. Quando Jenna o apunhalara com uma faca banhada em sangue de morto, o envenenara o suficiente para deixá-lo muito nauseado.

– Ah, por favor... olhe só pra você! – debochou a Gêmea Djinn – Mal se agüenta em pé. Vê isso, Cherryzinha? Ah é assim que ele chama você, não? Patético! Eu vou adorar me alimentar de você enquanto seu namoradinho e sua amiguinha assistem. Se bem que eles não estão melhores do que você. Como eu adoraria vê-la sangrar até a morte, Ruby – olhou para minha perna, na qual eu amarrara um pedaço da camisa de Klaus pra parar o sangramento. – Seria quase poético, não? Os três morrendo juntos, no meio da floresta... Mas o que estou dizendo? Seria não... será! Por Deus, preciso parar de usar os verbos no passado...

Resolvi me pronunciar.

– Escute aqui, Jenna Dois, ou seja lá qual for seu nome! Eu não vim até aqui pra vê-la infectar minha amiga! Não tomei um tiro, nem quebrei o pulso pra vê-la se alimentar de Cherry enquanto ela vira Maria-Mole. Acho que é hora de fazermos um acordo!

Ela soltou uma gargalhada estridente e rouca, ainda pior do que a risada da falecida Jenna. Me olhou como quem olha um louco.

– Ah, meu bem, você enlouqueceu, não é? Djinns fazendo acordos... essa é boa! – bateu a arma na cabeça de Cherry, que choramingou – Pra trás, Ruby, ou teremos sopa de miolos!

– Deixe Cherry ir e eu lhe arrumo outra presa.

– Está blefando! – apontou a arma na minha direção, rosnando ameaçadora – Acha que sou idiota? Ah você me subestima... Eu logo soube reconhecer o seu tipinho. Conviver com você me ensinou a enojar garotas como você.

– Do que está falando? Você nem me conhece!

– Ah meu bem – riu – E todas aquelas vezes em que precisei substituir minha irmãzinha? Você nem notou a diferença. Você mal nota as pessoas a seu redor, não é mesmo? Só veio salvar Cherry pra ser vista como heroína. Isso não vai aumentar suas notas, sua fracassada!

Balancei a cabeça, o que apenas aumentou o giro que ela estava fazendo. Tentava me manter estável pra não desmaiar.

– Você não me conhece!

– Conheço bem o bastante. Conheço seus temores. Sei que neste momento teme pela vida de sua amiga. Ah... devia temer por sua própria vida. E a dessa criatura nojenta aí dentro de você! – sorriu. Teria sido um sorriso meigo, não fosse sua expressão endiabrada. Fechou os olhos, aspirando o ar. – Aaaah! Seu medo tem um cheiro tão bom! Quase supera o do Derick. Sabia que ele tinha medo de água salgada? As pessoas temem coisas estranhas... Eu o coloquei numa simulação de afogamento. Coitado! Mas era esperto, sabia que estava alucinando e acordou. Nós o deixamos fugir, só pra ver no que ia dar. Já brincou de polícia e ladrão? Nós brincamos disso com Derick pela floresta - gargalhou. Que louca! Chegava a ser pior do que a Jenna – Uma pena ele ter virado gelatina antes de conseguir pedir socorro. Achei inspiradora a cena da barriga explosiva... Será que seu bebê vai sair inteiro quando sua barriga explodir?

– Ninguém mais vai virar gelatina, Jenna Dois.

– Que engraçadinha... Que tal se eu fizer isto? - ela agarrou um dos pulsos de Cherry. Tatuagens surgiram por sua pele pálida, mas somente por um breve momento. Cherry gritou, a voz abafada por uma mordaça. Caiu no chão, inconsciente. Uma marca azul apareceu em sua mão. Gêmea Djinn gargalhou – Gostou? Chegou tarde... Não se preocupe, nem vão gastar com a cremação de sua amiguinha...

Quando eu pensava que não podia me surpreender mais com Klaus...

– CALA A BOCA, PUTA! – Ele se jogou em cima dela, atirando-a longe, tão rápido que eu nem tive tempo de entender o que acontecia. Pisquei e Jenna Dois batia as costas numa árvore. A arma caiu de sua mão. Klaus berrou pedindo pela faca. Pisquei. Atirei a faca de prata, que girou pelo ar, cortando a distância entre mim e ele. Klaus a apanhou ainda no ar. Pisquei. Agarrando a Gêmea Djinn pelo cabelo, enfiou a faca em sua testa. Sangue esguichou, respingando em seu rosto e molhando sua roupa. Ele largou a gêmea, que caiu inerte no chão – GOSTOU, PUTA?

– Cherry! – corri a socorrer minha amiga. Klaus veio em seguida e começou a sacudi-la – Isso não vai adiantar, ela tem que acordar na simulação.

– E se ela não souber que está numa alucinação? – grunhiu ele, começando a se irritar. Notei que suas presas estavam aparecendo e seus olhos estavam vermelhos.

– Bem... – suspirei – Vai ter que ser de outro jeito. – apanhei minha valise. Tirei de lá de dentro um frasco – Acha que consegue nos manter seguras até eu voltar com Cherry?

– Consigo! Vai fazer o quê? – franziu a testa para o frasco.

– Isso é chá de Raiz Africana do Sono. Ou dos Sonhos, sei lá... Quando eu tomar isso, vou poder entrar no sonho de Cherry. Vou tirar ela de lá!

– Isso vai dar certo? E se não saírem? – ele se sentou no chão e apoiou a cabeça da namorada no colo.

– Confie em mim! – arranquei um fio de cabelo de Cherry e joguei dentro do frasco. Virei tudo de um gole só, tentando não sentir o gosto - Argh! Que horrível!

– Você sabe do que ela tem pavor, não sabe?

– Não... – algo me dizia que eu não ia gostar... Apaguei antes de saber a resposta.

***

Abri os olhos. Bem, a coisa funcionou mesmo. Já não estava mais na floresta, mas em uma sala mal iluminada. Hum... Não parecia tão aterrorizante. Não tanto quanto descer numa Djinn House (se é que se pode chamar aquilo de casa...).

– Cherry?

Alguma coisa se moveu. Eu diria que eram pernas. Sim, no plural, porque seres humanos têm duas pernas... Mas quando a coisa se moveu outra vez, tive a impressão de que era mais de duas pernas. E se formos pensar nas coisas que têm mais de duas patas... Na pior das hipóteses, podia ser um leão ou tigre.

– Cherry? Estou aqui! – chamei, mais alto desta vez.

A iluminação era mais precária do que a da Djinn House. Uma única lâmpada presa a um fio balançava no centro da sala. Tive medo de prosseguir, estava escuro nos cantos da sala e eu não sabia o que ia encontrar. Mas aí me lembrei de que era tudo alucinação. Nada estava acontecendo de verdade, meu corpinho repousava, enquanto minha mente vagava.

– Cherry? Onde está?

A coisa se moveu. Não parecia um leão ou tigre. Parecia uma coisa com mais patas. E o que tem mais de quatro patas? Formigas... Abelhas... Aranhas...

PUTA QUE PARIU!

– Sério, Cherry? Aranhas? Ah Deus... por que não borboletas?

Tic tic tic (isso é o som das quelíceras batendo).

– Cherryyyy?

Tic tic tic.

– Ah meu Deus, não me deixe aqui sozinha! Onde é que você está?

Tuc tuc tuc tuc (isso é o som da coisa andando em assoalho de madeira).

– AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!

– CHERRY?!

– SOCORRO! SOCORROOOO!

Saí correndo em direção ao som (e trombando em tudo pelo caminho, porque não enxergava nada). Estava em uma casa, cheguei à conclusão. Uma casa caindo aos pedaços e com uma porcaria de iluminação. O quarto ao lado tinha uma cama de casal. Um abajur aceso e... E um móbile de aranhas sobre a cama. Só que as aranhas eram vivas. E do tamanho de maçãs.

– SOCORRO! SOCORRO! EU SOU MUITO JOVEM PRA MORRER!

Segui os gritos. Ela estava na sala de estar, no térreo. Precisei atravessar um corredor, adivinhem, cheio de aranhas. E descer uma escada, adivinhem... No escuro e cheia de aranhas. E pensam que eram poucas? Não... parecia um formigueiro... ou aranheiro (acabei de inventar essa palavra). Saía esmagando algumas, conforme descia os degraus. Plec, Plec, Plec (isso é o som das coisas sendo esmagadas). PUTA MERDA! Cherry estava no centro da sala de estar, presa a uma teia enorme, que descia do teto e se prendia às paredes.

– RUBY?! RUBY, PELO AMOR DE DEUS, ME TIRA DAQUI!

– Calma, é só um pesadelo... – me aproximei e peguei nas mãos dela. Mãos? Não havia mãos, apenas duas aranhas do tamanho de melões, peludas, olhudas e pernudas. – Ah meu Deus! Suas mãos...

– Arrancaram minhas mãos, Ruby... – ela desatou a chorar – ... e meus pés...

De fato. Duas aranhas olhudas, pernudas e peludas no lugar do pés. E do tamanho de melancias. Ela chorava feito um bebê. Pra mim não parecia um pesadelo (tirando as coisas feias e peludas). Aquilo não fazia sentido nenhum. A começar pelo fato de ela ter aranhas no lugar das mãos e pés...

– Cherry, se acalme! – agarrei seu rosto – Você vai acordar, basta controlar o medo!

– AAAAAAAAAAAAH! ELAS VÃO ME MATAR, VÃO ME MATAR! – ela se contorcia, tentando se soltar da teia, mas a coisa era muito grudenta.

Aranhas, aranhinhas e aranhões lotavam a casa. Estavam pelo teto, pelas paredes, pelo assoalho. Eu odiava aranhas, odiava com todas as minhas forças. Mas a consciência de que estava num pesadelo me tranqüilizava. Elas não podiam nos machucar. Quero dizer, não eram reais! Mesmo que tentassem, nada podiam fazer.

– AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH!

– O que foi?!

– ELA VAI NOS MATAR, VAI NOS MATAR, VAI NOS MATAR, VAI NOS MATAR!

Ela era uma aranha enorme. Não, vocês não têm noção do quanto era enorme! Era do tamanho de um táxi. Não, de um helicóptero! Estava lá, no topo da escada. Nos encarando com aqueles oito olhões brancos. Que bicha feia! As pernonas eram arqueadas e tortas. Ela nem era graciosa como as outras. Já viram barata tonta? Pois então, a coisa andava descontrolada, trombando em tudo (que nem eu, desastrada).

– AAAAAAAAAAAH! SOCORRO! SOCORRO! RUBY! PELO AMOR DE DEUS! PELO AMOR...

– CALE A BOCA, CHERRY! ISSO É UM PESADELO!

– NÃO! NÃO! NÃÃÃÃO! EU VOU MORRER! EU VOU MORRER!

– Eu mereço...

A coisa vinha caminhando. TUC, TUC, TUC, TUC (como ela era gigante, o som dos passos era ampliado mil vezes. A casa até tremia com o impacto). TIC, TIC, TIC, TIC (as quelíceras gigantes, do tamanho de bastões de baseball batiam com força). PLEC, PLEC, PLEC, PLEC (esmagou as aranhas menores, passando por cima delas). Cherry gritava que nem louca, enquanto tentava acalmá-la. Se ela morresse de medo, não haveria nada que eu pudesse fazer. A gigantona estava descendo a escada, suas pernas tortas batendo na parede do canto e no corrimão. De repente, a coisa escorregou e rolou escada abaixo, caindo de pernas pra cima, numa posição muito estranha. Desatei a rir. A aranha balançava as perninhas, tentando desvirar.

– EU VOU MORRER! EU VOU MORRER! EU VOU MORRER!

– QUIETA, CHERRY! É SÓ UM PESADELO!

É, era o que eu pensava...

– Ruby!

– Killian? O que está fazendo aqui?

Ele estava descendo a escadaria, esmagando o resto das pernudas. Uma bolsa de lona jogada sobre o ombro, cara de bravo, o cabelo bagunçado. Não estava nada feliz.

– O que eu falei pra você?! Eu disse que não devia bancar a caçadora!

– Killian, você não entende, eu precisava...

– VOCÊ NÃO É CAÇADORA! VOCÊ É UMA PESSOA NORMAL E MERECE UMA VIDA NORMAL!

A gigantona conseguira se erguer. Agarrou Killian com as quelíceras do tamanho de bastões de baseball e o devorou inteiro. Soltei um grito esganiçado, vendo o sangue dele jorrar. A aranha veio na minha direção e eu sabia que ia me matar. Cherry ainda estava berrando, chorando um rio.

– Eu não mereço morrer assim...

Desespero, frio, escuridão. Um frio paralisante na espinha, uma terrível sensação de solidão, pernas trêmulas, o grito entalado, o corpo quase desabando, prestes a desmaiar... E então, um estalo.

– Isso não é real! Não é real, Cherry! Está me ouvindo? – voltei-me para ela. Arrebentei a teia que a prendia com a facilidade de quem corta o fio dental em dois. Suas mãos já não eram aranhas do tamanho de melões. Os pés já não eram aranhas do tamanho de melancias – Não é real, Cherry! É uma Djimulação! Uma simulação de Djinn. Você foi infectada e eu entrei no pesadelo pra te salvar.

– Me salvar? Mas...

Tic tic tic tuc tic tuc tic tic tuc tuc tuc plec plec tic tuc tuc tic tuc tic tuc.

Desatei a rir. Cherry também, ao se dar conta do que acontecia. A barulheira na casa, ao invés de assustar, fazia rir.

– Parece escola de samba!

E com o riso, burlamos a Djimulação (junção de Djinn mais simulação, caso não tenha notado), o que nos fez acordar. Quando acordei na floresta, vi dois enormes olhos azuis me encarando. Assustei.

– Damon! Quer me matar do coração?

– Graças a Deus, está viva! – Éden me sufocou num abraço – Você foi incrível, garota, matou dois Djinns!

– Não teria conseguido sem o Klaus – olhei na direção do vampirinho raivoso. Ele e Cherry se agarravam loucamente.

– Tô tão orgulhoso de você! – fui sufocada novamente, desta vez por Damon – Foi imprudente, isso foi! Mas foi incrível! Agora tira essa peruca ridícula!

***

É claro, Gancho brigou comigo. Não tanto quanto imaginei que brigaria, mas brigou. E eu mereci.

Hospitalizada, recebi visitas de amigos da faculdade, todos impressionados por meu feito. Contamos à polícia tudo que acontecera. Bem, não tudo, mas o suficiente pra que acreditassem em nossa história. Jenna, sua gêmea, o pai delas e o reitor da universidade haviam seqüestrado e assassinado os alunos. Por que nós não sabíamos, mas eu salvara Cherry antes que Jenna matasse a ela e a mim. Depois Klaus chegara, nos ajudara, matando a irmã de Jenna por legítima defesa. O reitor fugira, mas já fora pego tentando sair da cidade. Arquivos com fotos, informações pessoais e detalhadas descrições sobre os desaparecidos foram encontrados entre as coisas de Jenna, no quarto que ela tinha no dormitório para manter as aparências. Minha foto estava entre as outras, o que convenceu as autoridades de que eu seria a próxima vítima. Minha foto acabara nos noticiários, junto com a de Éden, Damon, Cherry e Klaus. Os jovens que foram mais espertos do que a polícia e desvendaram crimes. Ah se eles soubessem...

É claro, vovó entrou em choque quando soube. A bronca dela foi pior do que a do Killian. Se eu fosse uma adolescente, ela dissera, ficaria de castigo por um ano. Apesar de tudo, ela estava orgulhosa.

Óbvio, todos os caçadores souberam e me parabenizaram. Alguns deram piti e vieram me dar bronca. Nem me importei. Estava viva e era o que importava.

Jefferson também soube e me mandou flores. Gancho ficou com raiva e jogou o buquê na privada, que entupiu e inundou o banheiro. Dei boas gargalhadas com a bronca que ele recebeu das enfermeiras.

Meu pulso quebrado levaria um tempo pra cicatrizar. O tiro de raspão fora uma sorte, nem precisei operar. Ficar de molho no hospital só tinha uma vantagem: os sedativos me faziam dormir sem ter pesadelos. Depois da escola de samba de aranhas, ter pesadelos bizarros era rotina.

Quanto a Jenna, esta tivera razão...

– Teve sorte, senhorita Lucas! – disse o médico que estivera cuidando de mim, antes de me dar alta. Fazia anotações em minha ficha – Se o tiro tivesse pegado na barriga, o feto não sobreviveria.

Empalideci. Gancho me olhou sem dizer nada. Depois que o doutor saiu, no entanto, me abordou.

– Quando ia me contar? – de braços cruzados e expressão séria, me encarava com seu típico olhar intimidador.

– Eu...

– Há quanto tempo sabe?

– Não tinha certeza. Acho que o anticoncepcional falhou... Desculpe, Killian, eu...

– Ei! – ele me pegou pelo queixo, acariciando meu rosto. Me abraçou. Me controlei pra não desabar – Eu gostei, Ruby-Loob! – abriu um sorrisão – De verdade.

– Não conta pra ninguém ta? A vovó vai me matar!

– Por quê? Ela devia ficar orgulhosa! – sorriu de lado, todo orgulhoso – Eu que fiz, vai ser um gênio como o pai!

Não pude deixar de rir.

– É sério! Não to preparada pra contar.

Meu celular vibrou. O apanhei sobre a mesa de cabeceira.

– Oi, Gina! Novidades?

Ruby, não vai acreditar no que descobri!

– Pelo seu tom de voz, não parece coisa boa.

Jefferson é um hacker...


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