'Til We Die escrita por Mrs Jones


Capítulo 19
O Stalker & outros casos


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoas! Um mês sem postar! Não me matem! Peço desculpas por isso, eu realmente não tive tempo e me faltou criatividade. Achei que esse capítulo poderia ter ficado melhor, mas decidi postar logo. Como eu já tinha avisado, as tretas estão vindo. Recomendo que releiam os capítulos anteriores, eles podem dar boas pistas. Creio que essa temporada termine lá pelo capítulo 26, mas pode chegar ao 30. Penso em fazer uma spin-off da fic, uma espécie de bônus pra incluir coisas que não foram e não serão mostradas aqui. Algumas leitoras pediram pra entrar na fic, não lembro de todas, quem quiser me avise nos comentários por favor. No mais, espero que gostem dessa porcaria que escrevi (é raro vocês não gostarem de algo que eu escreva). Ah, quem não sabe, estou escrevendo uma fic nova, a Lord Of The Seas, e não reclamaria nem um pouco se todas resolvessem acompanha-la. Enfim, por hoje é só, Postarei o próximo assim que possível.



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– Bom dia, querida! - sussurrou Gancho em meu ouvido, me puxando pra mais perto.

Soltei grunhidos em resposta, sonolenta demais pra conseguir abrir os olhos. O som de sua risada me fez cócegas por dentro. Como eu amava a risada daquele homem! Sorri, entrelaçando meus dedos aos seus. Ele suspirou e beijou minha bochecha, afastando meus cabelos do rosto.

– Dormiu bem? - perguntou.

– Uhum. - murmurei, minha voz pesada - E você?

– Eu também. Sempre durmo melhor quando estou com você...

Desde que fizéramos amor na noite de meu aniversário, nunca mais dormíramos em camas separadas. Espremíamo-nos numa única cama de solteiro, o que era um tanto desconfortável, mas acolhedor quando se estava com o homem que se amava.

– Bom dia, casal! - cumprimentou um Graham sonolento. Sorriu maroto ao nos ver abraçados e senti meu rosto corar. Pelo menos desta vez estávamos vestidos…

– Pelo menos estamos vestidos... - riu Killian, depois que Grammy entrou no banheiro.

Gancho e eu passáramos vergonha após sermos flagrados na manhã seguinte ao meu aniversário. Nossos amigos tinham vindo ao QG para dormir - todos de ressaca depois da bebedeira na festa -, apenas para descobrir que não havia mais camas no quarto e que Ruby e Killian tinham passado a noite juntos, à luz de velas. Claro, eu teria enfiado a cabeça num buraco se fosse um avestruz, mas já que não era, me limitei a me esconder sob o lençol (vermelho ainda por cima), enquanto Gancho ria e ficava muito envergonhado. Depois dessa, tivemos de aguentar as piadinhas por uma semana e eu fugia de Regina toda vez que ela vinha me perguntar se eu já usara o conjunto de lingerie que ela me dera de presente.

Gancho me deu mais um beijo e se levantou, livrando-se do cobertor. Me obriguei a me levantar para preparar o café dos garotos. Agora que Killian tirara o gesso do braço e voltara à ativa, mal nos víamos. Isso me irritava, embora soubesse o que seu trabalho representava. Eu só não ficava sozinha, porque Graham dera férias a si mesmo. Como não tinha uma casa, estava vivendo conosco no QG.

– Encontrou um novo caso? – perguntei a Killy quando ele surgiu na cozinha, inteiramente vestido de preto.

– Uhum. Casa assombrada. Os vizinhos juram ouvir sons de correntes à noite... – ele tomou um rápido gole de café – Pra mim isso é coisa de gente desocupada tentando assustar os outros.

– Mesmo assim, cuidado!

– Tudo bem, mamãe! – riu ele, antes de me beijar demoradamente – Pense com carinho naquela questão – e sumiu no elevador.

Aquela questão... Bem, eu não tinha o que pensar, já estava resolvido. Porque em se tratando de Killian Jones, não havia muita opção: você aceitava ou aceitava.

– Que pessoa pensativa! – riu Grammy, entrando na cozinha e notando meu olhar de preocupação – Aquela questão ainda não foi resolvida?

Suspirei, espetando a fatia de bacon com o garfo. Antes que pudesse responder, fui atraída pelos beeps do celular. Recebera um novo e-mail. Universidade de Seattle, estava escrito no remetente.

– Outra carta? – me surpreendi, clicando para abrir o documento em anexo. Grammy se aproximou para olhar.

Cara senhorita Lucas,

Parabéns pela sua admissão na turma de 2032 da Universidade de Seattle...

– Incrível! – exclamou Grammy, de olhos arregalados – Esta é sua décima admissão!

– Décima primeira – corrigi – Achei que Gancho estava brincando quando disse ter enviado cartas de aplicação pra dezesseis universidades.

Killian levara a sério aquela história de pagar por meus estudos. Quando a primeira carta de admissão chegara, da Universidade de Redmond, ficara surpresa, porque não enviara nenhuma carta de aplicação. Claro, Gancho fingira inocência, não por muito tempo.

– Eu sabia que você não enviaria uma carta de aceitação, então me fiz passar por você, expressando o quanto gostaria de ser admitida numa renomada universidade – confessara ele, rindo maroto – É claro que você vai ser aceita em todas as outras quinze universidades...

– Você mandou cartas pra dezesseis universidades?! – arregalara os olhos, ainda descrente por ter sido aceita na Universidade de Redmond. Ele dera de ombros.

– Achei que você gostaria de ter muitas opções...

Desde então, e-mails de universidades das redondezas não paravam de chegar. Me surpreendia o fato de já ter sido aceita em onze delas. Minhas notas eram boas na escola, mas eu sempre fora uma aluna mediana. Pessoas mais inteligentes e esforçadas não eram aceitas tão facilmente, o que me levou a pensar que Killian mexera uns pauzinhos.

– Eu não fiz nada, o mérito é todo seu. – dissera ele - O fato de você ter obtido créditos extras ajudou, claro.

Era uma explicação plausível. Eu participara de alguns clubes durante minha vida escolar, o que me acrescentou créditos no histórico. Em todo caso, depois de Gancho ter tido tanto trabalho enviando aquelas cartas, seria ingratidão não iniciar meus estudos em uma das universidades.

– Já me decidi, Grammy, vou cursar Moda!

***

Em meio à preparação para o início de minha vida acadêmica, problemas surgiram em nosso círculo de amigos. Regina teve seu segredo revelado pela falecida tia Eva, mãe de Mary, que deixara escritos para a filha. Em meio a esses escritos havia antigas cartas, um diário e o Grimoire da família Mills (você deve se lembrar, um Grimoire é um livro de feitiços). Cora os selara num baú, que enterrara no jardim de sua casa, de modo que nem Regina nem Mary descobrissem a verdade sobre a bruxaria na família. O caso é que, não sei exatamente como, David encontrara o tal baú enquanto ele, Mary e Regina faziam uma limpeza na propriedade dos Mills. Regina, que herdara a casa, optou por vendê-la; não pisava naquele lugar há anos e as emoções ainda eram fortes: fora ali que Daniel morrera em seus braços, vomitando sangue.

David encontrou um baú enterrado no quintal – ela nos contou pelo telefone, mais nervosa do que nunca – Penso que minha mãe o enterrou para esconder os escritos de tia Eva. Titia nos deixou uma série de recomendações, para o caso de morrer cedo. Vocês sabem, as bruxas sempre foram perseguidas ao longo dos séculos, natural que titia quisesse se precaver. Ninguém nunca nos contou o fato de nossas mães terem fugido de Asgard, titia parecia esperar a hora certa pra isso.

– Mary descobriu? – perguntei, agitada.

Regina se esforçava muito em esconder sua condição. Seus poderes, antes adormecidos, descontrolavam-se quando ela vivia emoções fortes. Apenas Gancho, as Beauchamp e eu conhecíamos aquele segredo. Não sabíamos como Mary reagiria quando descobrisse que havia uma bruxa adormecida dentro dela.

Eu não pude fazer nada – continuou Regina, a voz ligeiramente esganiçada pelo nervosismo – Mary leu os escritos antes que eu pudesse vê-los. Quando se deu conta do que era, entrou em pânico. Podem imaginar o quanto ela ficou agressiva quando confessei já saber de tudo.

– Meu Deus, e onde é que ela está agora? – indagou Killian, alarmado.

– Se refugiou em algum lugar em que não possamos encontrá-la. Não quer vem ninguém, nem o David.

– Será que alguém pode me explicar o fato de a louca da Regina ser uma bruxa? – pediu Graham, embasbacado pela revelação. Ele estava por perto quando Regina começou a falar pelo viva-voz.

Ah, você está aí, Grammy? Não se preocupe, querido, não vou te enfeitiçar... embora eu queira muito – Regina soltou uma sonora gargalhada.

Explicamos a história resumidamente para situar Grammy e ele pareceu ainda mais pasmo, se é que era possível. No fim das contas, Regina resolveu procurar pela prima, enquanto Gancho contatou David, que disse que Mary precisava de um tempo.

– O próprio David precisa de um tempo pra absorver os fatos – falou Killian, ao desligar o telefone – Não é todo dia que se descobre que esposa e cunhada pertencem a uma família de bruxas.

– Espere aí, se elas são bruxas, como é que nunca descobrimos? – perguntou Graham do sofá – Elas não deviam, sei lá, fazer coisas explodirem ou coisa assim?

– Os poderes delas estavam adormecidos, sabe se lá por quê. – expliquei – Os da Mary nem devem ter aflorado ainda...

Grammy pensou por uns instantes, assumindo uma expressão preocupada. Sussurrou:

– Vocês acham que a Regina falou sério quando disse que ia me enfeitiçar?

Não conseguimos segurar o riso.

– Por mais que ela seja desequilibrada, jamais faria algo a você – Gancho se jogou num dos sofás, uma cerveja na mão – Você foi o caso mais emocionante que ela já teve.

Por pouco não engasguei com a água que acabara de tomar.

– VOCÊ E REGINA TIVERAM UM CASO?

– Obrigado, Gancho, muito obrigado mesmo! – Caçador fuzilou Killian com o olhar, antes de voltar-se para mim – Regina e eu namoramos por um tempo, nunca assumimos. Ela era orgulhosa demais pra admitir que tivesse sentimentos por mim. Eu nunca fui muito afetivo, por isso ela terminou comigo e saiu espalhando que eu era um péssimo amante.

– Não acredito que a Rê fez isso! – ah, as coisas que a gente descobre dia após dia...

Tentava arrancar de Graham informações sobre sua vida. Vocês sabem, sou extremamente curiosa e Graham era extremamente reservado. Suas respostas eram vagas e a todo momento ele dizia não ter muito o que contar. Ia perguntar a ele sobre uma das ex-namoradas de Killian quando este saiu do elevador. Voltava da garagem trazendo um pacote. E não parecia feliz...

– É pra você! – disse ele irritado, me entregando a encomenda (eu nem percebera que o Toque da Correspondência soara pelo prédio) – Posso apostar que sei quem é o remetente...

Senti minha espinha gelar. Só podia ser do Jefferson, ou Fulano, como Killian passara a chamá-lo. Desde meu aniversário, não recebera dele mais nenhum presente. Esperava que o Fulano tivesse criado vergonha na cara quando Gancho gritara com ele pelo telefone (“Ela é comprometida, entendeu? Comprometida!”). Pelo visto, ele ainda precisava de uma grande dose de “desconfiômetro”...

Rasguei o papel pardo, que embrulhava uma caixa de tamanho médio. Encontrei um bilhete e, dobrado dentro da caixa, um vestido preto um tanto decotado.

Querida Ruby,

Meus parabéns! Soube que foi admitida em nada menos do que onze conceituadas universidades. Fico muito feliz por sua vitória. Grace manda um abraço. Espero que goste do vestido, é para você usar em sua estreia. Jeff.

Killian trancou as mandíbulas e franziu a testa, expressão que sempre fazia quando estava enraivecido. Arrancou das minhas mãos o bilhete, amassando-o e atirando-o na lixeira em seguida.

– Que cara de pau! – resmungou - Jogue fora esse vestido! Ou melhor, queime!

– Pensei que esse cara tivesse entendido o recado – falou Grammy – Ele deve gostar mesmo de você, Ruby...

Gancho ficou ainda mais bravo ouvindo a fala de Graham. Apertou os punhos, provavelmente controlando-se pra não socar alguma coisa. Prendi a respiração, esperando a explosão que estava por vir.

– Dá isso aqui! – ele arrancou das minhas mãos o vestido – A partir de agora, nada do que aquele indivíduo enviar por correio passa do portão desta casa. – atirou o vestido na lata de lixo da cozinha, derramou álcool e jogou um isqueiro por cima. As chamas engoliram o tecido, reduzindo-o a cinzas. Os estalidos do fogo quebravam a tensão que pairava na cozinha. Gancho massageava as têmporas, nervoso – Quer saber de uma coisa? Eu vou a Storybrooke confrontar aquele fulaninho.

– O quê?! – desviei meus olhos do fogo e olhei pra Killian, que já entrava no elevador. Fui atrás – Você não tem que fazer isso, só vai dar mais motivos pra ele querer competir...

Gancho apertou o botão da garagem.

– Não importa! Já que ele não tem desconfiômetro, precisa de alguém que o coloque no lugar dele. Ridículo! Deve estar na carência de sexo e por isso fica dando em cima de mulher dos outros.

– E vai fazer o quê? Demarcar território? – agarrei o rosto de Gancho, forçando-o a me olhar – Killy, ele é perigoso! Ele tentou matar você!

– Posso lidar com um babaca que desenha chapéus – ele segurou minhas mãos, tentando me tranqüilizar – Quem ele pensa que é?

As portas do elevador se abriram e Killy marchou em direção ao Impala. Corri para alcançá-lo.

– Não está pensando direito! Não faz sentido percorrer todo o caminho até o Maine apenas pra intimidar o Jefferson. É idiotice, Killian!

Ele não respondeu. Abriu o capô do carro, verificando se tudo estava certo com o motor. Continuei falando para as paredes, porque ele nem parecia se importar com meus argumentos.

– De que isso vai adiantar? Ele é um babaca! E provavelmente nem vai estar em Storybrooke, deve estar pela estrada, caçando. E além do mais, a Grace não sabe o pai que tem. Como acha que a menina iria se sentir se um doido começasse a xingar o pai dela?

– Você se apegou à menina! – bateu o capô com força, assustando-me – É por isso que não quer que eu vá até lá! Deixou que a garota alimentasse as fantasias de que teria uma mãe... Não devia ter feito isso, Ruby.

– Eu não fiz nada! Tudo o que eu fiz foi consolar a garota depois que o retardado do pai gritou com ela.

– Pra começar, você não tinha nada que ir àquela casa. Muito menos mostrar à menina o retrato da mãe.

– Ela tinha o direito de conhecer a mãe...

– Você não tinha nada com isso! Que mania você tem de se intrometer nas coisas! – ele agora verificava o porta-malas, certificando-se de que suas principais e mais importantes armas e ferramentas se encontravam ali. Não tive um bom pressentimento quando o vi mexendo em sua coleção de facas... – Foi inevitável termos nos envolvido com aqueles dois, não havia como sabermos que tipo de gente aquele chapeleiro era, mas você não tinha nada que se apegar à garota! Quer saber de uma coisa? Aposto como ela dá essas ideias malucas ao pai desequilibrado. Deve achar que vai conseguir uma mãe se te conquistar com presentes.

– Ela é uma criança, Killian!

– Sim, uma criança perturbada, como o pai dela... – bateu com força o porta-malas. Em seguida caminhou até a lateral do carro e abriu a porta do lado do motorista – Isso tem que acabar! Sinto muito, mas alguém tem que destruir as esperanças daquela menina.

– Você não vai fazer isso! – o segurei pelo braço, impedindo-o de entrar no carro – Não é assim que se resolve as coisas!

– É exatamente assim que se resolve as coisas! – ele se livrou de mim, já muitíssimo irritado.

– Está sendo babaca!

Num momento discutíamos educadamente, segundos depois gritávamos um com o outro, nossas vozes ecoando pela garagem. Não estava protegendo Grace, de forma alguma. Só não achava que cruzar o país fosse a melhor forma de se resolver aquele assunto. Confrontar Jefferson não era garantia de que ele ia se afastar. Eu não duvidava da capacidade intimidadora de Gancho, mas temia por sua vida. Sabemos do que aquele chapeleiro era capaz...

– ENTÃO VAI! FAÇA O QUE BEM ENTENDER, A VIDA É SUA! – me dei por vencida e saí pisando duro, desaparecendo no elevador. Tentando me acalmar, soquei a parede do elevador. Killian conseguira me transformar numa pilha de nervos. Eu precisava muito de um chazinho calmante. Se bem que nem chá teria poder pra amansar minha raiva...

O elevador parou com um estalo, entre o terceiro e quarto andar. Tentei fazê-lo voltar a funcionar, mas até o maldito estava contra mim. Respirei fundo, escorregando para o chão. O fato de Jefferson saber tudo sobre minha vida me assustava. Como ele soubera que eu fora admitida em onze universidades? Como é que ele parecia saber de minhas preferências? Eu amara o vestido preto, mas claro, nunca usaria, já que fora presente dele. Como ele poderia saber de tudo o que se passava comigo estando tão longe? Porque eu não acreditava que ele pudesse vir a Seattle sozinho. Ele era um designer talentoso, mas um caçador incompetente. Duvidava que pudesse cruzar o país com o propósito de salvar vidas. Pra mim ele era muito amador naquele lance das caçadas.

Depois de dois minutos o elevador voltou a subir e, um pouco menos tensa, saí na cozinha.

– Alguém tem que dar uma olhada nesse elevador – disse, até me dar conta de que Grammy não estava ali. Suspirei e fui preparar um chá.

Não conseguia controlar meus pensamentos, que me perturbavam. A idéia de Killian e Jefferson se confrontando não me agradava. O que o idiota do Gancho ganharia com isso? Que necessidade ele tinha de bancar o machão e intimidar o outro, marcando seu território. Arrependia-me por ter gritado com ele. Não devia ter permitido que a discussão virasse uma briga tão feia. Ele me chamara de intrometida e, irritada, rebatera ao chamá-lo de encrenqueiro. Duas crianças... Se algo acontecesse, jamais me perdoaria. Pensei em ligar e pedir desculpas, mas fui vencida pelo orgulho. Ainda estava com raiva dele e magoada pelas coisas que me dissera. Killian não costumava ser assim comigo. Na maior parte do tempo, ele era gentil e carinhoso.

Meu celular vibrou em cima do balcão da mesa da cozinha. Corri a atender. Não era Killian, número desconhecido.

– Alô!

Olá, querida, como vai? – veio a voz profunda do outro lado.

Era só o que faltava...

– O que quer, Jefferson? – bufei, controlando-me pra não desligar na cara dele.

Nossa... por que tanta agressividade? Não gostou do presente, amor?

– Olha, esquece que eu existo tá bem? Eu tenho namorado! Não quero saber dos seus presentes, não quero saber de cartas e bilhetes, não quero saber de você!

Meu amor, não fale assim. Dói-me o coração ouvi-la falar de tal maneira. Será que meus presentes não significaram nada para você? Não conseguiu reconhecer em meus gestos o amor de um homem? Querida Ruby... já lhe disse que estou apaixonado...

– Está obcecado! Aceite, eu amo outro homem! Desista desta fantasia que enfiou na cabeça!

Fantasia...– por seu tom de voz, sabia que estava sorrindo - Querida, minha única fantasia é ter você em minha cama, trajando apenas aquele par de sapatos vermelhos...

– O QUÊ? MAS QUE FALTA DE RESPEITO! – bem que aquele chapeleiro estava merecendo uns socos (no fundo, eu esperava que Killian quebrasse a cara dele).

Ele riu.

Desculpe-me se lhe pareci abusado. Mas é o que sinto, querida... Desde que botei meus olhos em você, quis tê-la pra mim... a esposa perfeita... a mãe que Grace tanto quer...

– Pare de dar esperanças à menina! Não vê que está iludindo a coitada?

Não, querida, não estou a iludindo. Depois de tanto tempo, minha filhinha finalmente terá o que quer. Eu posso ser um fracasso como caçador, mas ainda sou um competidor ávido! E acredite, meu amor, quando lhe digo que esta competição já está ganha.

– Não seja idiota! Eu não sou um prêmio a ser competido. Pelo bem de Grace, pare com essa perseguição ridícula!

Papai?– veio a vozinha infantil do outro lado. Senti pena da menina, que não sabia a espécie de pai que tinha.

Ah, aí está você, meu amor, chegou bem na hora! – dizia ele com carinho, provavelmente pegando a menina no colo – Adivinhe quem perguntou de você?

Quem? – pude perceber a excitação em sua voz.

Pegue o telefone e descubra por si mesma.

Desliguei. Não devia alimentar as esperanças da menina. Óbvio, o pai diria que tinha sido eu ao telefone e ela acreditaria que havia algo entre nós. Maldito! Joguei longe o celular e ele foi cair num dos sofás, o que impediu que a tela espatifasse. Maldito chapeleiro! Maldito stalker! Por que é que ele tinha de aparecer num momento tão bom da minha vida? Justo quando as coisas estavam indo no caminho certo...

O microondas me assustou ao ligar sozinho. Graham deixara restos de alguma coisa lá dentro, para comer mais tarde. O problema é que havia papel embrulhando o alimento, e ele começou a pegar fogo do nada. Gritei e corri a abri a porta do aparelho, que desligou, mas o papel continuou a pegar fogo, de forma que precisei correr em busca do extintor. Apagado o fogo, pude respirar com calma. O interior do microondas estava chamuscado, mais um pouco e uma tragédia poderia acontecer. Joguei fora os restos cinzentos e esturricados de comida, perguntando-me onde estava Graham, que não ouvira meus gritos.

Encaminhava-me em direção às escadas quando uma pequena explosão se fez ouvir. Uma das lâmpadas estourara em cacos, enquanto as outras piscavam insistentemente, talvez denunciando a presença de algo sobrenatural. Estaquei no lugar, tão perturbada que mal conseguia me mexer. Chamei por Graham, que provavelmente não me ouviu. Dali a pouco as janelas trincaram, não todas, mas a maioria. Sentia algo de estranho no ambiente, como se pudesse rastrear os passos da criatura. Sabia que as bocas do fogão iam se acender antes que acontecesse. E, quando aconteceu, gritei e me afastei, temendo uma explosão.

O cheiro de gás vazando empesteou o ar. Tentei apagar as chamas azuis com o extintor, mas elas voltaram a se acender. Chamando por Graham, corri até as escadas. Venci os degraus com a velocidade de uma gazela, gritando pelo homem, que nunca respondia. Fui encontrá-lo no banheiro do penúltimo andar. Ele acabara de tomar banho e, só de cueca box, veio ver por que eu gritava. Berrei algo ininteligível ao mesmo tempo em que corria para o elevador. Ele foi atrás e, quase um minuto depois, saímos na cozinha. Grammy fez cara de susto e correu a pegar o extintor. Desligou o gás e apagou as bocas do fogão que ainda estavam acesas. Com minhas pernas trêmulas, me deixei cair no primeiro assento que vi pela frente.

– Que aconteceu aqui? – perguntou Graham, notando os cacos de vidro da lâmpada que estourara e em seguida aproximando-se das janelas – Os vidros estão trincados? Que aconteceu Ruby?

– Tinha alguma coisa... – balbuciei, tão trêmula que gaguejava – a-alguma coisa... a mesma criatura que me assombrou na casa da Regina...

– Espera... – ele coçou a cabeça, pensativo. Enrubesci ao notar seus músculos definidos, uns poucos fios escuros em seu peito e gotículas de água em sua pele bronzeada. Ele nem parecia se importar com o fato de estar seminu na minha frente. – Há sal por todo o prédio... o QG é todo protegido, Ruby, criatura nenhuma entraria aqui sem que soubéssemos.

– Eu sei, mas... Ah Grammy... – caí no choro.

Odiava o fato de as coisas virem todas ao mesmo tempo. Minha briga com Gancho, a perseguição de Jefferson, agora aquela assombração... Chorei no ombro de Grammy, que me abraçava, passando uma mão por minhas costas pra me acalmar. Para alguém que não costumava ser afetivo, ele até que estava sendo bem carinhoso. Murmurava palavras tranqüilizadoras e aos poucos fui me acalmando. Nem precisei fazer aquela pergunta: “O que mais falta me acontecer?”.

Ouvimos o som do elevador.

– QUÊ ISSO?

Puta merda... Gancho chegou bem a tempo de me encontrar abraçada a um Graham seminu. Nos afastamos e Killian olhou de um para o outro, enrubescendo por raiva.

– MAS QUE DROGA É ESSA? BASTA EU VIRAR AS COSTAS POR UNS INSTANTES PRA VOCÊ AGARRAR MINHA MULHER?

– Killian, não é nada disso... – tentei dizer, mas ele e Graham já começavam a bater boca.

Basicamente, Killian acusava o amigo de traidor, dizendo que Grammy se aproveitara de mim (tudo isso porque estava apenas de cueca!). Graham tentava se explicar, mas Gancho não deixava. Interferi, berrando pra Gancho calar a boca e me deixar explicar, mas, irado, ele não permitia que nenhum de nós falasse, preferia apontar falsas acusações. Mal tive tempo de absorver todos os fatos. Numa hora estávamos berrando e no segundo seguinte Graham gritava que ia embora, desaparecendo no elevador. Voltei-me para Gancho:

– Seu idiota! Grammy e eu não temos nada!

– Ora, veja só, está tão íntima que o chama por apelidinhos fofos – retrucou ele, visivelmente enciumado. Eu teria rido da cara dele se não estivesse com tanta raiva – Grammy pra lá, Grammy pra cá... Imagino o que teriam feito se eu não tivesse voltado pra casa.

– Nada teria acontecido, seu babaca! Quem pensa que é pra duvidar de minha fidelidade?

E voltamos a gritar um com o outro, o que terminou com uma Ruby estressada deixando um Killian enciumado falando com as paredes. Fui ver onde Graham fora se meter. Ele estava no quarto, enfiando os pertences na mochila.

– Gram, não ligue pro Gancho, ele só está nervoso – me aproximei, eu mesma controlando minhas emoções pra não fazer besteira.

– Pra mim já deu! Se ele é idiota o bastante pra não querer me ouvir, azar o dele. Já estava mesmo na hora de minha estadia acabar.

E foi isso. Grammy foi embora pedindo desculpas.

Suspirei e me joguei na cama compartilhada com Gancho, esquecendo-me de que já havia alguém lá: o cachorrinho que ganhara de Killian no meu aniversário. Déramos a ele o nome de Ruppy, junção de Ruby com puppy (filhote). Ele soltou um grito quando amassei seu rabo sem querer.

– Ruppy! Desculpe, bebê! – o peguei no colo, acariciando seu pêlo macio. Ele soltou uns gemidos característicos dos husky siberianos e voltou a adormecer.

Desci com o filhote pelas escadas. Pude ouvir Gancho e Graham ainda discutindo na cozinha. Passei por eles despercebida e saí do prédio pela garagem. Fui passear com Ruppy pra esfriar a cabeça. Um dia tranqüilo em um lugar verde era tudo de que precisava.

Caminhei até a pracinha mais próxima, a umas três quadras de distância. Senti-me incrivelmente tranqüila. Uma brisa suave, cheiro de natureza, uma fonte que jorrava, pessoas tirando um tempo pra relaxar a mente... Tudo de que eu precisava! Sentei-me a um banco sob a sombra quando Ruppy se cansou e gemeu pedindo colo. Comprei uma casquinha de um sorveteiro que ia passando e ignorei as centenas de ligações de Gancho. Ele com certeza estava arrependido, mas decidi dar um gelo.

Um carro passou por ali com o som no último volume, tocando uma música da Three Days Grace. So what if you can see the darkest side of me? (E se você pudesse ver meu lado obscuro?)/No one would ever change this animal I have become (Ninguém nunca mudaria este animal que me tornei)/Help me believe it's not the real me (Me ajudar a acreditar que este não sou eu realmente)/Somebody help me tame this animal (Alguém me ajude a amansar este animal). Achei que combinava bem com o Gancho. Eu nunca o vira agir com tanta brutalidade antes. Reconhecia que não era culpa dele: o ciúmes era maior do que sua capacidade de autocontrole.

Ruppy gemeu e me olhou com olhinhos tristes, como que implorando pra voltar pro aconchego da minha cama. Preparava-me pra voltar pra casa quando ouvi um grito.

– RUBY!

Puta que pariu!

– Ruby! Ruby! – Grace veio correndo e abraçou minhas pernas, felicíssima por me ver. Eu estaria na mesma animação, não fosse avistar o pai caminhando em nossa direção.

– Ora, ora, que surpresa boa! – exclamou, abrindo um largo sorriso.

– Esse cachorro é seu? – perguntou Grace – Papai, eu quero um cachorrinho!

– O que estão fazendo aqui? – minha voz não deixou de soar meio agressiva. Se Jefferson tivesse um pingo de desconfiômetro, entenderia que sua aparição não me agradava.

– Que fofo! – exclamava Grace, encantada pelo filhote, que erguia as patinhas e brincava com ela.

– O que estão fazendo aqui? – tornei a perguntar, impaciente.

– Grace e eu estamos viajando pelo país atrás de inspiração. Vou criar uma nova coleção de chapéus para o outono – respondeu o irritante chapeleiro, sorrindo afetadamente – Você sabe, Storybrooke é bem pacata e eu precisava tomar novos ares.

– Sei...

Ele me pegou pelo braço, me levando para longe de Grace. Falando em voz baixa, me deu bronca por desligar o telefone bem quando a menina iria falar comigo. Cruzei os braços e arqueei uma sobrancelha (minha expressão para “Quem você pensa que é pra me dar bronca, meu filho?”)

– Escuta aqui, meu filho, não sou obrigada a atender suas ligações. Por que não pega sua filha e cai fora da cidade?

Ele me encarou com aqueles olhos azuis penetrantes. Droga! Não sei por que me atraio tanto por olhos dessa cor. Pisco constantemente quando estou falando com outro homem que não Killian. Corro o risco de ficar hipnotizada por olhos azuis... E, pensando bem, Jefferson até que é bem bonito. Tem um maxilar bem marcado; um sorriso encantador, que devia, provavelmente, arrancar suspiros e deixar mulheres (e até homens) de pernas bambas; e aquele cabelinho... aquele cabelinho fofo de fios bem penteados, que nem o vento conseguia tirar do lugar... É, ele era um homem e tanto, confesso.

– Você me odeia mesmo, não é? – parecia entre triste e decepcionado – Pensei que pudesse te agradar com os presentes... pelo visto não gostou de nenhum deles...

– Queria me comprar com os presentes. Não é que eu não gostei... você sabe que eu tenho namorado... Se tivesse o mínimo de decência, nem estaria mandando presentes a uma mulher comprometida.

Ele torceu o nariz para a palavra namorado. Olhou para a filha, que ria e segurava Ruppy pela coleira. Quando voltou a me encarar, sua expressão era dura.

– Sabe o que faz quando me trata desse jeito? Acaba com a felicidade de uma criança! Está destruindo o amor que ela tem por você. Sabe o quanto ela ficou decepcionada por pegar o telefone e não ouvir sua voz do outro lado? Não dói apenas nela, dói em mim! – disse enraivecido, com a mão sobre o próprio coração.

– Jefferson...

– Está crescendo sem a mãe. Não tem uma figura feminina em quem se espelhar. Como acha que eu me sinto fazendo papel materno? Dando banho... vestindo, penteando os cabelos...brincando de boneca – soltou uma risada seca – E fico pensando: “Será que ela vai confiar em mim quando crescer? Como vai ser quando der o primeiro beijo ou ficar a fim de um cara? Ela vai me contar? Vai pedir conselhos?”...

– Olha...

– E como vai ser quando ela for pra escola e sofrer bullying por não ter uma mãe? E eu vou saber lidar com a chegada da primeira menstruação? Como vou explicar o que acontece no corpo de uma garota quando ela vira mulher? E ela vai ficar constrangida quando o pai tocar nesses assuntos?

– O que isso tem a ver comigo? Pelo amor de Deus, eu não posso ser mãe dela!

– E por que não? Ela ama você... Eu amo você! – num movimento rápido, ele segurou meu rosto, numa tentativa falha de me beijar. Me afastei tão logo percebi a manobra.

– Que pensa que está fazendo? – minha voz soou esganiçada. Minha respiração estava falha ante meu nervosismo. Mantive o tom de voz inalterado para não chamar a atenção de Grace – Eu já disse: não quero nada com você.

– Mas eu quero! E eu vou conseguir! – A confiança em seu sorriso convenceria um monte de telespectadores se estivéssemos num comercial de pasta de dente – Eu já lhe disse: sou um competidor ávido. Uma hora vai perceber que sou melhor do que aquele panaca. E quando isso acontecer, querida, vou te esperar de braços abertos – aproximou a boca de meu ouvido – Sempre haverá espaço pra você na minha cama.

Fui embora tão atordoada que um carro quase me atropelou quando atravessei sem olhar. Ele nunca ia desistir... era isso que me assustava.

Com medo da reação de Killian, decidi não contar nada. Ele não precisava saber que Jefferson estava na cidade. E eu nunca ia contar o diálogo que tivéramos na praça, muito menos a tentativa de um beijo, que por pouco não acontecera. Disfarcei minhas emoções quando o encontrei sentado à sala do QG. Me esperava com uma garrafa intocada de uísque do lado.

– Eu estava pronto pra beber a garrafa inteira – disse ele, me vendo sair do elevador – Pensei que a bebida pudesse preencher o que estou sentindo aqui dentro.

– Você sabe que o álcool nunca é uma boa opção – coloquei Ruppy no chão e ele foi se aninhar num dos sofás – Por que render-se a uma bebida quando se tem uma mulher?

Ele sorriu. Não parecia mais tão zangado.

– Talvez essa mulher não queira me ver nem pintado de ouro, devido às circunstâncias. Acho que ela quer me espancar até meu nariz sangrar. E acho que mereço isso por ter permitido que o ciúme me cegasse.

Tomei um copo d’água na cozinha. Olhei pra ele com um meio sorriso.

– Então admite que agiu sem pensar? O ciúme falou mais alto?

Ele afirmou com a cabeça, contra sua vontade, claro.

– Pensei que... talvez você pudesse me perdoar? Só desta vez...

Fizemos as pazes na cama.

***

Acordei com alguma coisa fazendo cócegas no meu pé. Ruppy tentava subir para a cama e não conseguia. A meu lado, Gancho murmurava no sono, um braço caído na minha cintura e um sorriso fofo estampando seu bonito rosto. Beijei sua bochecha e me levantei, ajudando o filhote em seguida. Killy gemeu sentindo minha falta, mas suspirou quando Ruppy se embolou sob seu pescoço. Ri e me enrolei num roupão, caminhando em direção ao banheiro. Topei com alguém que vinha na direção oposta e quase gritei de susto.

– Mary! Quer me matar do coração, mulher? – botei uma mão no peito.

– Desculpe... – ela fungou. Estivera chorando, pois seus olhos estavam inchados e seu nariz vermelho. Olhou de mim, usando apenas um roupão, para Gancho, coberto apenas por um fino lençol. Soltou um risinho – Parece que algo aconteceu aqui... Não quero incomodar, só passei pra descansar um pouco, David e Regina ainda estão me procurando.

– Mary... por que sumiu desse jeito? – segurei seu braço antes que ela se afastasse – Ficamos preocupados...

– Preciso de tempo pra lidar com tudo isso. – ela balançava no lugar, de braços cruzados – Ainda não acredito que minha mãe... que eu... que eu sou essa coisa...

– Coisa? Assim vai ferir os sentimentos da população bruxa! – brinquei, tentando apaziguar os ânimos de minha amiga. Ela parecia realmente assustada. E eu nunca vira Mary com um pingo de medo no olhar – Não devia ver sua condição como algo ruim.

– Eu não quero ser isso! – ela se encolheu e foi se sentar a uma das camas – Quero ser normal, como sempre fui. Não quero o legado que me foi deixado! E Regina... ela parece ter aceitado bem... mas eu não estou lidando tão facilmente com todas essas informações sobre minha família.

Me sentei a seu lado, colocando uma mão sobre a sua.

– Regina ficou assustada no começo, mas depois se deu conta de que não podia mudar nada. Ou melhor, podia. Não pode se livrar dos poderes, mas pode usá-los a seu favor. Ela está tendo aulas com as Beauchamp. Não estava preparada para revelar o segredo, mas agora já não tem escolha. Apenas saiba que nos aceitamos vocês da maneira como são.

– Obrigada, Ruby! – sorriu ela, enxugando uma lágrima que escapara – É bom ter amigos tão valiosos. Não sabia como iam reagir quando soubessem...

– Acredite, foi um susto descobrir que Cora era uma bruxa e que Regina herdou seu legado. Mas já nos acostumamos a isso. Duas bruxas na família! Só espero que não saiam bancando o Harry Potter.

– Não seja boba! – Mary segurou uma risada – Eu nem saberia desses poderes se não encontrasse os escritos de mamãe. Regina disse que meus poderes estão adormecidos por falta de uso. Ainda estou com raiva dela por ter me escondido a verdade.

– Eu entendo... – suspirei – Regina ainda está lidando com isso. Ela não queria jogar essa bomba sobre os seus ombros ainda, estava pensando na melhor forma de contar. Mas você tem todo o direito de ter raiva, eu também teria se me escondessem algo tão grandioso...

As duas voltaram a se falar no mesmo dia. Claro, Mary ainda estava chateada, mas entendeu o lado da prima. No fim das contas, lidaram juntas com o fato de serem feiticeiras. Os poderes de Mary ainda levariam muito tempo para aflorar. Até lá, ela levaria uma vida normal. O que, para um caçador, tratava-se de matar coisas e salvar vidas...

***

Minhas aulas se iniciariam em primeiro de setembro. Optei por cursar Moda na Universidade de Seattle, a mais próxima do QG.

Quando Gancho e eu fomos à universidade para um tour guiado, uma semana antes do início das aulas, não consegui esconder minha animação. Tudo era lindo e acolhedor. Tive a honra de conhecer alguns professores, que pareceram realmente felizes por me terem como aluna. Conversei com alunos veteranos e conheci alguns calouros. Logo fiz amizade com três garotas: Éden, Cherry e Jenna. Elas me pareceram ótimas pessoas e fiquei feliz por encontrar criaturas tão divertidas.

– Só espero que não arranje outro namorado e se esqueça de mim – disse Killy, quando nos sentamos no gramado da faculdade de moda – Me parece que aqui há concorrentes à minha altura.

De fato, havia belíssimos espécimes de homens por ali. Nenhum deles me interessava.

Gancho e eu estávamos desenvolvendo um companheirismo que não se via em todas as relações amorosas por aí. Apesar de ambos sermos ciumentos, confiávamos um no outro. Ele sabia que eu não o trairia, mesmo que meia dúzia de veteranos dessem em cima de mim (imaginem vocês, eles fizeram isso bem na cara de Killian). E eu o conhecia bem o suficiente para saber que não se envolveria com desconhecidas nos lugares pelas quais passava (parecia exatamente o tipo de coisa que Dean Winchester estava acostumado a fazer).

Se Jefferson ainda estava na cidade, não tinha conhecimento disso. Talvez ele tivesse desistido, porque não me procurara mais, muito menos enviara presentes.

Engano meu...

O vi me observando de longe quando Gancho se afastou para ir ao banheiro. Tentei me esquivar e me misturar aos visitantes e alunos, mas ele foi mais rápido. Me pegando pelo braço, forçou-me a lhe dar atenção.

– Vou ser breve, porque está acompanhada. Só vim lhe dizer que fico feliz por ter escolhido esta universidade, é uma das melhores do país. – sorriu afetadamente, como sempre fazia quando estava falando comigo.

– Como soube que eu vinha pra cá? – indaguei, muito séria. Ele me assustava com toda aquela perseguição.

– Minha querida, eu sei tudo sobre você. Sei de coisas que sequer imagina.

Livrei-me de sua mão, que ainda me segurava. A fúria tomando conta de mim.

– Pois então esqueça tudo o que sabe! Não tem coisa melhor pra fazer além de me stalkear? Não importa o que você pense, eu jamais amarei você!

– É o que vamos ver – ele teve a ousadia de pegar meu rosto entre as mãos – Sabe, eu fico pensando... sua mãe deve ter sido muito bonita. Você tem que ter herdado essa beleza de alguém.

– Não toque em mim! – afastei-me bruscamente, dando lhe as costas em seguida – Adeus, Jefferson!

– Adeus? Pra mim isso é só o começo!

Maldito! Caminhei depressa, à procura de Killian. O avistei vindo na minha direção, ao mesmo tempo em que os beeps do celular anunciavam um novo e-mail. Só podia ser o maldito chapeleiro outra vez... Surpreendi-me, porém, ao ler a mensagem. Gancho me segurou antes que eu caísse, tonta pelo susto.

– Que foi? – perguntou, alarmado.

– Uma mensagem do meu pai... mas meu pai está morto...


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Notas finais do capítulo

Antes que se animem, o e-mail não é do pai da Ruby. A partir de agora começam as tretas, preparem-se kkkk Beijos e até a próxima!



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