'Til We Die escrita por Mrs Jones


Capítulo 17
Storybrooke & O Chapeleiro


Notas iniciais do capítulo

Antes de mais nada, dedico esse capítulo à minha querida Queenofvampires, que descobriu qual o segredo da vovó, e a Cherry_19, que se aproximou da resposta certa.
Bom, eu disse que a fic não ia ficar no só love e no humor por muito tempo, a partir desse começam as tretas que levam ao final bombástico. Espero que gostem. Lembrando que quem quiser entrar no grupo do wpp, só mandar o número com DDD por MP. É isso, aproveitem a leitura!



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Aparentemente, Gabriel nos pusera para dormir para confundir nossas cabeças. Todos acordamos em nossas camas, acreditando termos sonhado com o tal programa Once Upon A Time. Infelizmente, para o pobre August principalmente, mais tarde descobrimos termos tido o mesmo “sonho”. Ou seja, tudo realmente acontecera. Killian até encontrara uma plaquinha dourada à mesa de cabeceira: Gabriel Productions & Once Upon A Time – O Musical, parabenizam Killian Jones pelo 1° lugar de Personagem-Revelação-Da-Música.

Para nosso azar, o Brincalhão desaparecera. É claro, ele não era idiota de ficar no nosso caminho, não depois do que nos fizera passar. O maior prejudicado naquilo tudo fora August, que agora sofria bullying em nossas mãos. Sim, porque jamais nos esqueceríamos de Pinóquia (foi por causa dele/dela que começamos a chamar Gepeto de papi, quando, semanas depois, nos reunimos para comemorar meu aniversário). Acabamos rindo daquela história toda. Gabriel era um filho da mãe, mas temos de concordar que era criativo. Ah, isso ele era!

E se você me perguntar se fiquei chateada pelo beijo entre Killian e Regina, a resposta é sim. Embora soubesse que eles não tiveram consciência do que estavam fazendo, não pude deixar de me sentir enciumada. Qualquer um se sentiria, não é verdade?

– Você sabe que esse retardado é como um irmão pra mim, não sabe? – me dissera Regina, rindo histericamente ao se lembrar do que acontecera – Que nojo! Não acredito que beijei esse idiota!

– Foi tão ruim assim, Rê? – Killian fizera biquinho – Ah é... eu esqueci, você prefere beijar o Leroy.

Killian recebeu um dedo do meio como resposta.

Regina estava hospedada em nosso quarto de hotel. Embora Gabriel tivesse colocado os outros em suas casas, não levara Rê de volta pra Storybrooke nem Killian e eu pra Seattle. Seria bom se ele tivesse feito isso, nos pouparia vários quilômetros de viagem. O que eu não conseguia entender era como um Brincalhão podia ser tão poderoso a ponto de transferir pessoas de um lugar para outro. Bem, mas isto é outra história!

Como eu ia dizendo, Regina estava hospedada em nosso quarto. A coitada ainda ficaria por muito tempo com o pé imobilizado, então, é claro, não poderia caçar. Foi isto que acabou levando Killian e eu a Storybrooke.

– Aconteceu alguma coisa? – perguntei, quando Gancho e eu retornamos para o quarto após almoçarmos num restaurante de comida japonesa. Regina expressava preocupação, sua mão direita segurando o celular.

– Vampiros. Em Storybrooke.

– Em Storybrooke?! – Gancho exclamou em surpresa – Quem lhe contou?

– Jefferson. Você não o conhece, ele é novo na cidade.

– Caçador?

– Muito inexperiente, mas sim, é um de nós. – ela levantou da cama, apoiando o pé imobilizado no chão. Fez menção de caminhar até a porta – Preciso ir pra casa. Jefferson precisa de mim.

– Ei, ei, ei! Espere aí, você não pode caçar! – a segurei pelo braço – Ficou louca?

– Gold pode ir em seu lugar – sugeriu Killian, ao que Regina balançou a cabeça.

– Ele e Jefferson não se dão bem. O trabalho não pode ser feito por apenas uma pessoa, é arriscado demais. Todo mundo sabe que não se entra num ninho de vampiros sozinho – lançou a Gancho um olhar acusatório.

– Ora, e todo mundo sabe que não se entra num ninho de vampiros com o pé imobilizado. É idiotice!

Ri, balançando a cabeça e prevendo o início de uma discussão entre os dois. Regina era uma espécie de irmã mais velha teimosa e Killian era o irmãozinho protetor. Imaginei que Milah tivesse sido mais ou menos como Regina, uma mulher forte e decidida, corajosa e teimosa ao extremo.

– É o meu trabalho! – insistia ela, vermelha por irritação – Se eu não fizer, quem fará? Aquela é a minha cidade! Não vou permitir que um bando de pálidos de dentes pontudos coloque em risco a população. A não ser que alguém queira fazer isto por mim...

– Está bem, está bem, eu vou! Está bom assim? Eu e o tal de Jefferson faremos o serviço, enquanto a senhorita repousa – apontou para Rê – e a senhorita faz companhia – apontou para mim.

– Aaaai que ótimo! – guinchou Regina, agarrando minhas mãos e quase dando pulinhos – Faremos a noite das garotas em minha casa! Teremos vinho, fondue e strippers.

– Não gostei da parte dos strippers – Gancho arqueou uma sobrancelha e cruzou os braços.

Arrumamos as malas e caímos na estrada. Se eu soubesse que as coisas sairiam do controle, não teria me animado tanto. Tudo começou em Storybrooke...

***

A cidadezinha era bastante acolhedora. Não havia um único arranha-céu, nem fábricas poluentes. As construções eram antigas, talvez da década de mil novecentos e alguma coisa. Minhas preferidas passaram a ser a biblioteca municipal e um restaurante muito popular, chamado Granny’s. Por um momento, pude entender o amor que Regina sentia por aquela cidade. O lugar parecia parado no tempo, até os carros eram antigos. Killian, é claro, se sentiu em casa.

– Ora, vejam só... nem todo mundo se livra das velharias – disse, quando um Rolls-Royce da década de 80 passou por nós.

Obviamente, ficamos hospedados na casa de Regina, que era uma mansão luxuosíssima. Fiquei encantada pelo lugar, que era mesmo muito glamoroso e acolhedor, mas morto. Ela vivia sozinha numa casa enorme. Se ficássemos em silêncio, a impressão que se tinha era de que estávamos isolados da humanidade. Eu só não me sentia assim em nosso QG porque os barulhos da rua me faziam companhia, mas para Regina a situação era um tanto deprimente. Não cheguei a perguntar nada, mas Gancho me contou que a Rê resolvera se isolar de tudo e todos quando perdera seu Daniel. Por mais que ela fosse bem humorada e nos fizesse rir com suas piadas, ficava quieta e solitária quando em Storybrooke.

Ela, no entanto, levava uma vida bem normal (tirando o fato de caçar criaturas sobrenaturais). Quando não estava cuidando de seus afazeres na prefeitura, estava caçando, e quando não estava fazendo nenhuma das duas coisas, virava dona-de-casa. Ela era uma ótima cozinheira, isso eu já sabia. Possuía sua própria macieira no quintal, o que lhe rendia frutos carnudos e adocicados, com os quais fazia suas famosas tortas.

– Eu já ganhei diversos prêmios com minhas tortas – exibia-se ela, toda orgulhosa – Não há no Maine quem faça uma torta de maçã melhor do que a minha.

E isto era verdade.

Depois de percorrermos toda a casa, sentamo-nos na cozinha, onde a Rê se ofereceu a nos preparar um lanche. Ouvíamos a história de como ela enfrentara seu primeiro espírito vingativo quando a campainha soou. Ofereci-me a ir atender e marchei até a porta. Quando a abri, do outro lado encontrei um príncipe.

– Oh... – ele me olhou de cima a baixo. Abriu um enorme sorriso – Olá!

Olhos claros, cabelos impecavelmente penteados (não havia um único fio fora do lugar), maxilar largo e destacado, barba por fazer e um sorriso de arrasar corações. Vestia-se com a elegância de um lorde e, no primeiro momento, aparentou ser alguma espécie de estilista. Trazia um chapéu coco na cabeça e uma echarpe xadrez enrolada no pescoço.

– Pois não? – perguntei, tentando ignorar o fato de que ele me encarava com aqueles olhos absurdamente azuis.

– Você deve ser uma das amigas de Regina... sou Jefferson!

Espera aí... AQUELE era o Jefferson? Um caçador? Engomadinho daquele jeito? Meu queixo deve ter caído, porque ele soltou um risinho.

– Hum, entre... – balbuciei – Regina está na cozinha...

Talvez estivesse enlouquecendo, mas quando ele passou por mim... senti como se algo de muito ruim transbordasse de seu corpo. No primeiro momento, não soube explicar. Eu apenas senti uma vibração estranha, um arrepio na espinha... Não era a primeira vez que algo assim acontecia. Mas era a primeira vez que eu era capaz de sentir uma vibração tão ruim...

Rê fez as apresentações necessárias, convidou o recém-chegado a se sentar conosco em seu escritório particular e acendeu a lareira que lá havia com magia, apenas para nos impressionar. Gancho comentou que ela estava ficando boa naquilo e Jefferson soltou um “uau!”, impressionadíssimo.

– E então, Jeff, o que tem a nos dizer sobre sua descoberta? – perguntou ela, apoiando o pé quebrado num pequeno apoio para pés.

– Bem... – ele segurava uma taça de um vinho que Regina nos servira. Fazia isso com o requinte de quem estava acostumado a freqüentar festas de gala. – Tudo o que eu sei é que os chupadores de sangue estão vivendo numa casa na região mais afastada da cidade. Eu os vi ontem à noite, pela minha luneta.

– E como sabe quem eram vampiros? – indagou Killian, muito sério.

– Ora, um bando de gente pálida e sem nenhum senso de moda... – bebericou o conteúdo da taça, os olhos pousados em mim - Estavam todos vestidos de preto, usavam capas e sobretudos... típico de quem quer se esconder da luz do sol...

– O que estes sanguessugas vieram fazer aqui? – Regina encarava a lareira, o vinho quase derramando da taça.

– Bem, Storybrooke é praticamente isolada do mundo, o lugar perfeito pra que não fossem descobertos – disse Gancho e Regina lhe lançou um olhar mortífero, pois não suportava que dissessem que a cidade era isolada. – Logo irá anoitecer, temos de agir logo.

– Seremos só nós dois? – questionou Jefferson, me olhando. Notei que ele estivera me observando quase o tempo todo. Talvez Killian tivesse percebido também, mas não podia dizer com certeza.

– Oh sim, não sou caçadora – fui logo esclarecendo.

– Hum... talvez eu devesse deixar a Grace com vocês duas?... É minha filha! – acrescentou, quando notou que eu faria menção de perguntar quem era. – Ela vai ficar sozinha, já que Astrid está fora.

Então ele era um cara casado e tinha uma filha, mas se interessava por outras mulheres. Encantador! Talvez eu estivesse o julgando mal, mas algo me dizia que ele não era lá tão boa pessoa, como Regina achava. Se eu soubesse o que iria acontecer, não teria aceitado o que veio depois. Mas se bem que já era tarde demais...

***

O sol estava para se pôr quando saí para caminhar por Storybrooke. Deixei que os caçadores se resolvessem e fui tomar um pouco de ar puro. Já tivera aventuras e desventuras demais nos últimos dias e enfrentar vampiros era a última coisa que eu queria.

Alcancei a avenida principal que cortava a cidade, observando as lojas. Avistei um vestido de noiva na vitrine de uma delas e, automaticamente, pensei no que as Beauchamp haviam me dito quando tiraram as cartas naquela noite. Mudanças estavam pra acontecer, será que isso envolvia um casamento? Killian pedira a mão de Emma uma vez, por que não poderia fazer o mesmo comigo? Talvez eu dissesse sim, considerando o quanto estava apaixonada...

Meus pensamentos foram varridos quando avistei uma pequena loja na esquina de um quarteirão. Letras grandes em uma placa sobre a porta diziam: Senhor Gold – Penhorista: Negociador de Antigüidades. O único senhor Gold que eu conhecia era Rumplestiltskin. Talvez fosse muita coincidência, considerando que Gold não tinha cara de penhorista. Ia entrando na loja para bisbilhotar quando um adolescente de cabelos fofos saiu esbaforido e quase me jogou no chão. E o adolescente não era outro senão Bae.

– Ruby! – abriu um sorriso – Você por aqui? O tio também veio?

– Oi, garoto! Estamos cuidando de uns troços... não vá me dizer que esta loja é do seu pai... – olhei pra dentro do estabelecimento e vi uma infinidade de coisas antigas.

– É... eu sei, ele não tem cara de penhorista.

Rimos e Bae me arrastou pra dentro, gritando pelo pai, que surgiu de trás de uma cortina estampada. Comecei a rir ao me lembrar de Rumple fazendo “buuu” no programa de Gabriel e Bae queria saber do que eu estava falando. Rumples resumiu toda a história e no fim estávamos rindo feito idiotas.

– Então vocês estavam num programa de TV e você era Chapeuzinho e o tio o Capitão Gancho? Essa eu queria ver!

– Hum, não foi tão legal assim... – enxuguei lágrimas de riso – Mas e então, quem vai me explicar o propósito desta loja? Gold, desde quando é penhorista?

– Há anos! – respondeu ele, por trás do balcão, onde lustrava objetos com uma loção fedida – Esta loja pertenceu a meu pai e ao pai dele. Os dois eram caçadores, passaram o legado a mim. A loja é na verdade um disfarce. Se passar pela cortina, vai ver o que realmente é vendido aqui, além destas velharias.

Passei pela cortina, que escondia uma abertura para outra sala maior. Ali, encontrei não apenas um enorme arsenal de armas, como também crucifixos de todos os tamanhos, estacas, facas e alicates, ferramentas e quilos e mais quilos de sal. Também havia uma estante lotada por frascos de sangue, água benta e poções estranhas. É claro, havia detectores de ondas eletromagnéticas (para caçar fantasmas) e uma série de outras coisas que eu já vira no arsenal de Gancho. A diferença é que Gold tinha tudo em maior quantidade.

Ele e Bae passaram pela cortina.

– Se caçadores precisam de alguma coisa difícil de conseguir, vêem até a mim – falou Gold, percorrendo a sala e apanhando objetos aleatórios.

– Ninguém nunca descobriu a verdade sobre você e Regina serem caçadores? – indaguei, observando os frascos e lendo seus rótulos.

– Não, ninguém além de Belle, Neal e a senhorita Swan sabe a verdade. Para as pessoas de Storybrooke, eu sou o ranzinza da loja de penhores e Regina a prefeita arrogante. Contanto que eu mantenha a loja em segurança, ninguém nunca irá descobrir. – ele apanhou uma adaga de prata e me entregou – Aqui, presente de aniversário adiantado. Já passou da hora de você ter uma arma.

Agradeci e examinei a lâmina, que brilhava à luz opaca que iluminava a sala. Havia um enorme rubi em formato de coração incrustado no cabo. Mais tarde essa adaga ainda salvaria minha vida...

Perguntei por Belle e me disseram que ela estava na biblioteca. Claro! Quando eu a conhecera ela já era uma bibliotecária, agora que recomeçara a vida, mantivera a mesma profissão. Gold lhe oferecera um emprego na loja, mas ela recusara: queria se manter afastada do negócio das caçadas.

Peguei Belle de surpresa quando ela já ia se organizando para fechar a biblioteca. Ficou feliz por me ver e me convidou a ir com ela ao Granny’s, que amava. Tive o cuidado de não falar sobre o Gastão, não queria vê-la triste. Ao invés, conversamos sobre sua mudança para Storybrooke, o novo emprego e seu relacionamento com o Gold.

– Ele tem idade pra ser meu pai – riu ela, envergonhada. Tomávamos chá gelado com torta de limão – Mas eu não me importo. Ele é diferente de todos os caras que já conheci. Mais maduro.

– Então você está amando? – tomei um gole do chá e ela riu, afirmando.

– Sim, estou! Ah... nunca pensei que fosse superar o Gastão... ele foi maravilhoso pra mim... – suspirou. Percebi que segurava as lágrimas. Mudou de assunto – Mas e você e o Killian? Me conta!

– Hum... nós estamos juntos...

– Verdade? – Belle ficou surpresa. Talvez ela não esperasse que tivéssemos nos resolvido tão rápido – Eu sabia que havia algo entre vocês dois. – ela segurou minhas mãos por cima da mesa – Já era hora de você e eu recomeçarmos. Eu espero que seja feliz, você merece.

Só então notei o quanto éramos parecidas. Perdêramos nossos amados. Antes mesmo de podermos nos casar com eles. Sim, Peter me pedira em casamento no dia anterior ao acidente. Foi o que tornou o luto ainda pior...

Mal percebemos o tempo passar, havia tanto a ser conversado. Não tive a oportunidade de contar minhas últimas aventuras, não em um lugar tão público. Aquelas pessoas não sabiam da existência do sobrenatural, não queria que me vissem como louca caso me ouvissem. Disse a Belle que precisava ir embora, Killian e Jefferson já deviam estar prontos. Eles invadiriam o ninho dos sanguessugas depois que a cidade dormisse.

– Rumple me contou sobre eles – sussurrou Belle pra mim – Estão vivendo perto da floresta, na parte mais afastada da cidade. Eu vivo com medo, desde o dia do metamorfo... Tenho pesadelos horríveis, o Gastão sempre está neles... E agora esses vampiros... Temo que teremos de deixar a cidade. Todos nós.

– Não se preocupe, Gancho e Jefferson têm um plano pra acabar com eles. Você sabe, quando o Killian mete algo na cabeça, não desiste! Fique tranqüila.

A acompanhei até a loja de penhores, que Gold já ia fechando. Bae, o pai e sua namorada fizeram questão de me acompanhar até a casa de Regina, pra assegurar que eu ficaria em segurança. No caminho passamos por um rapaz pálido, vestido inteiramente de preto. Um vampiro. Nosso cheiro deve tê-lo atiçado, porque ele parou e ficou nos encarando, respirando profundamente. Fingimos não perceber. Ele desapareceu em seguida, nos deixando amedrontados. O próprio Gold, tão experiente, os temia.

– São mais do que criaturas cruéis e malignas, são verdadeiras pragas. – disse ele, em voz baixa – Há registros de vampiros vivendo em todos os países do mundo. Caçadores lutam contra eles todos os dias, sem que a população mundial saiba. Se as pessoas imaginassem a quantidade de sanguessugas que há por aí... seria o suficiente para causar um caos.

E o suficiente pra me deixar paranóica.

Jefferson e Rumples trocaram um olhar de repulsa quando se viram. Jefferson e Killian preparavam o carro deste último, colocando no porta-malas as armas de que iriam precisar. Regina estava parada à entrada da casa, uma taça de vinho na mão. Ela não parecia muito sóbria. Depois que Gold, Bae e Belle se foram, Gancho, que notara a tensão entre o cunhado e Jefferson, perguntou:

– Vocês dois têm uma rixa ou algo assim?

– Hum... vamos dizer que eu não vá com a cara daquele senhor arrogante. – respondeu ele, olhando pra mim ao invés de para Killian – Nós não gostamos um do outro, só isso... Senhorita Lucas, fico feliz que tenha chegado. Regina não parece muito sóbria, fico feliz pela senhorita ser responsável o bastante para cuidar de Grace.

– Como sabe que sou responsável? – questionei e minha voz soou um pouco esganiçada. Aquele homem estava me assustando com seus olhares penetrantes. Sentia como se ele pudesse me despir com os olhos.

– Killian estava me contando como a senhorita faz seu trabalho com eficiência. Tenho certeza de que se entenderá muito bem com a Grace, que, a propósito, deve estar explorando o quintal da Regina.

– Ela está falando com as árvores – Regina fez uma tentativa de mancar até onde nos encontrávamos. Apoiou-se a uma cerca-viva quando se desequilibrou - Maluquinha, maluquinha, maluquinha... Fala com as plantas – e gargalhou, deixando a taça virar e o vinho derramar em sua roupa – Ei, Ruby, sabia que a Grace... uh, quase que eu caio... Sabia que a Grace conhece o Menino... – gargalhou – o Menino-Dumbo? Ela o conhece... Ei, Graaaace! Onde está o Menino-Dumbo?

– Hum, melhor eu levá-la para dentro – disse Jefferson, achando graça. – Venha, Rê, você vai acabar caindo...

Os dois adentraram a mansão e, no momento em que fiquei sozinha com Killian, o abordei com perguntas. Para minha surpresa, ele achara Jefferson uma ótima pessoa, um cara bacana, como ele disse.

– Eu não fui com a cara dele – disse eu, observando enquanto Killian fechava o porta-malas e abria a porta do lado do motorista – Eu não sei... eu não acho que ele seja confiável, por favor, tome cuidado.

– Por que está dizendo isso, amor? – ele ficou confuso, me olhou com a testa franzida.

– Não sei... minha intuição me diz que devemos tomar cuidado com ele... Não teve essa sensação? Às vezes eu sei dizer se uma pessoa é legal ou não. É quase como se pudesse sentir a energia que emana de cada um... e neste momento, a energia que sinto em Jefferson não é boa...

Gancho parou em meio ao ato de girar a chave pra ligar o carro. Me encarou assustado, apoiado à porta aberta. Eu podia dizer que ele estava preocupado.

– Você acha que Regina se enganou com ele? – perguntou baixinho, me puxando mais pra perto. Falava com a boca colada a meu ouvido, como se temesse que alguém fosse nos escutar – Acha que devemos ficar com o pé atrás?

– Claro! – sussurrei – Acredite, Killian, eu raramente me engano com as pessoas. Lembra da Cora? Eu sentia uma energia estranha nela, mas depois passei a gostar dela e minha desconfiança se foi. Mas eu não tinha me enganado, ela não prestava e de alguma forma eu senti isso. E você, Regina, todos os outros... eu sinto essa energia em vocês, é uma coisa boa... Mas o Jefferson... talvez seja loucura, mas eu sinto algo de muito maligno nele.

Gancho ficou paralisado por uns instantes. Me olhou com preocupação, como se eu fosse alguma espécie de aberração por dizer aquilo. Afinal, como é que eu conseguia perceber isso nas pessoas? E por que Jefferson despertava em mim aquela desconfiança? Eu não o conhecia, não podia afirmar que ele fosse um cara mau.

– Podemos ir? – ele caminhou pelos cascalhos que levavam da porta até a calçada, ainda tendo tempo de ver Killian e eu abraçados.

– Claro – Killian me lançou um olhar tranqüilizador – Vai ficar tudo bem, amor.

– Cuidado!

– Não se preocupe, senhorita, vamos ficar bem – falou Jefferson, sorrindo pra mim, antes de se sentar no banco do carona.

Gancho e eu trocamos um último beijo. Segui o carro com os olhos até ele desaparecer na esquina.

***

Ao contrário de Regina, que roncava em seu quarto, eu não conseguia dormir. Temia por Gancho, que já não tinha um bom histórico com vampiros. Talvez aquele bando fosse outro, um grupo menos forte do que o que havia em Redmond. Mas não havia como saber.

– Ruby? – a pequena Grace apareceu ao pé da escada, vestida num camisolão branco. Tinha o cabelo loiro escuro dividido em duas tranças, que eu fizera antes de ela dormir. Agarrada ao ursinho de pelúcia que ganhara do pai, caminhou até onde eu estava, sentada na escuridão da cozinha. – Cê tá bem?

– Estou, pequena, apenas preocupada. Não conseguiu dormir também?

– Não, tive um pesadelo – a garotinha subiu para meu colo. Ela tinha apenas cinco anos. Era uma coisa tão fofa! Por um momento, quis roubá-la de Jefferson. – Quando eu tenho pesadelos, meu pai me dá um copo de leite com açúcar.

Ri, ela era uma garotinha esperta, parecia uma criança mais velha falando. Levantei-me para acender a luz e caminhei até a geladeira para apanhar a caixa de leite, o tempo todo com a menina no colo. Grace não usava mais a mamadeira, ela mesma me dissera, já era uma mocinha crescida. Tomou o leite morno direto da caneca, enquanto eu tentava ligar pra Killian pela milésima vez.

– Por que cê tá tão preocupada? – perguntou ela, sentada no banquinho que Regina usava para apoiar os pés. Balançava as perninhas. – O que meu pai foi fazer?

– Hum... ele e o Killian foram cuidar de uns problemas e ainda não me ligaram – disse, tentando disfarçar o nervosismo pra que a garota não ficasse também preocupada – Mas deve estar tudo bem, eles é que estão ocupados demais. O Killian sempre se esquece de ligar...

– Cê vai se casar com o Killy?

Ri, ela não conseguia falar Killian, por isso o chamava de Killy, o que passou a ser meu apelido pra ele.

– Não sei, por enquanto somos apenas namorados.

– Eu queria que cê se casasse com meu pai pra ser minha mamãe...

Gelei. Não soube o que dizer, as palavras ficaram entaladas na garganta. Ela sorriu pra mim, mostrando os poucos dentinhos que tinha.

– Aposto que cê seria uma boa mãe – e abraçou minhas pernas. Olhou pra cima, erguendo os bracinhos e pedindo colo – Dorme comigo?

Claro que eu jamais recusaria um pedido desses. Fomos para um dos muitos quartos da casa, nos quais os amigos de Regina dormiam quando estavam caçando pelas redondezas. Coloquei a menina na cama, apagando a luz e acendendo um abajur em seguida. Ela me pediu pra lhe contar histórias e assim o fiz, inventando narrativas fantasiosas para mantê-la entretida até que o sono viesse. Em certo momento, notei seus olhos marejados.

– O que foi, querida? – preocupei-me. Ela não disse nada, apenas se agarrou a meu pescoço, onde senti suas lágrimas caírem – Está com saudades do papai?

– Eu queria... eu queria ter uma mãe... todos têm, menos eu – murmurou, com a vozinha abafada.

– Ah... bem... você tem um pai, não é? E aposto que tem um monte de amiguinhas.

– Não tenho amigos. Ninguém gosta de mim, dizem que sou esquisita.

– Você não é esquisita... – Como lidar com aquilo? É claro que eu a entendia. Também era a órfã esquisita que não tinha pais e fora criada pela avó.

Antes de trazer Grace pra casa de Regina, Jefferson nos contara que perdera a esposa, por isso pagava uma babá pra cuidar da filha. Claro, não era a mesma coisa de uma mãe, mas ainda era uma presença feminina. A pobre Grace era uma criança solitária: não tinha amigos, brincava sozinha. Seu pai era seu melhor amigo, ela me contara, eles até brincavam de tomar chá (não conseguia imaginar um homem tão refinado brincando de chazinho com uma garotinha). Vendo-a chorar daquele jeito, senti um aperto no coração.

– Eu sei como é... – disse, tentando conter as lágrimas, mas falhando – Eu também não tenho mãe, nem pai. Fui criada por meus avós maternos, até que o meu avô morreu e a vovó cuidou de mim sozinha... Eu também fico triste às vezes, mas lembro que alguém me ama e volto a ser feliz.

Ela me olhou com o rostinho molhado e os olhos brilhantes de lágrimas. Fungou.

– Você é quase igual a mim... – enxugou as lágrimas com a manga da camisola – Posso te pedir uma coisa?

– Claro.

– Eu queria que cê convencesse meu pai a me mostrar uma foto da mamãe. Ele escondeu todas depois que ela morreu.

– Você não sabe como era sua mãe? – arregalei os olhos. Que absurdo! Ele era um idiota por esconder aquilo da menina. Ela balançou a cabeça e novas lágrimas se formaram – Não chore. Eu vou pedir a ele, está bem? Não fique triste, sua mãezinha está no céu, cuidando de você.

– Eu também quero ir pro céu pra ficar com ela.

– Mas o céu é só pra quem já não vive na terra. E você deixaria seu pai aqui sozinho?

Negou com a cabeça.

– É... não posso deixar o papai sozinho...

– Pois então. – soltei um bocejo, finalmente o cansaço me pegara – Por que não tenta dormir até seu pai voltar?

Ela assentiu e se acomodou, deitando a cabeça no meu peito. Dormiu em questão de segundos. Pude ouvir Regina resmungar no quarto ao lado. Um vento forte chacoalhava as árvores lá fora e os galhos se chocavam à janela. Meu celular vibrou com uma mensagem de Gancho: Está tudo bem, Ruby-Loob, durma tranqüila. Senti meus olhos pesarem em seguida.

***

– Regina! – eu a cutucava insistentemente – Reginaaaa! Acorda! Acorda!

– Que fooooi? Ah, é você! – ela escondeu a cabeça com o travesseiro – Me deixa dormir!

– Não, olha, eu preciso de ajuda, tem algo de estranho acontecendo na casa. Regina! Por favor.

– O que é? – a voz dela soava distante, típico de quem está em estado de sonolência.

– Eu acho que tem um espírito na casa, por favor, me ajude.

– Jogue saaal – ela soltou um longo bocejo – nas portas e janelas... – e voltou a roncar.

Corri ao quarto de Grace, ela ainda dormia. Eu acordara um tanto perturbada e podia jurar ter ouvido a TV ligar e desligar sozinha. O controle remoto estava sobre a mesinha de cabeceira, não havia chance de eu ter esbarrado no botão de ligar sem querer enquanto dormia.

Temi deixar a menina sozinha enquanto corria na cozinha pra buscar sal. E se algo a atacasse enquanto eu não estava por perto? Se eu a acordasse, a assustaria. Pobrezinha, ela custara a conseguir dormir...

– Talvez não seja nada – murmurei pra mim mesma, parada no meio do quarto semi-escuro. Acendera uma das luzes do corredor, que lançava uma iluminação fraca no quarto.

Voltei a me deitar ao lado da garotinha, que murmurava no sono. Tive medo de dormir, mas meus olhos não me obedeciam. Malditos! Mandava que ficassem abertos, mas estavam pesados demais. Cochilei por uns instantes, até acordar com a luz do abajur no meu rosto. Sentei-me enrijecida, olhando todos os cantos do quarto, à procura de alguém ou alguma coisa. Não havia nada. Então como a luz se acendera?

– Mamãe... – Grace choramingou, sonhava.

– Shhh... estou aqui, querida. – apaguei o abajur. Tateei debaixo do travesseiro, procurando pela faca de prata que Gold me dera. Talvez fosse hora de usar. Me enfiei sob os cobertores, como se assim fosse conter a tremedeira. – Tá tudo bem... tá tudo bem... eu posso lidar com isso.

O abajur piscou uma vez e se acendeu. A TV ligou em seguida. Assisti, trêmula e amedrontada, enquanto os canais mudavam. Talvez fosse um pesadelo... é, um pesadelo. Me belisquei, não acordei. Era real.

– Q-quem está aí? É você, Gabriel? Se for, pare com essa brincadeira.

A TV parou de mudar canais. Em compensação, o abajur começou a piscar. Um espírito, eu tinha certeza. Ou um poltergeist com um péssimo senso de humor. Então agora eu estava sendo assombrada... ótimo, era tudo que eu precisava.

Meu celular acendeu, achei que fosse Gancho me ligando. Não... alguma coisa fez aquilo. A TV desligou, o abajur parou de piscar. A luz do corredor piscou algumas vezes e queimou. O despertador digital soou o alarme, que desliguei rapidamente antes que Grace acordasse.

Tirei a garotinha da cama, tendo o cuidado de não acordá-la. Ela abriu os olhinhos e voltou a fechá-los, envolvida pelo calor de meus braços. Atordoada, calcei minhas sapatilhas de qualquer jeito. Corri pelo corredor, acendendo todas as luzes que encontrava pelo caminho. Desci a escada quase correndo, alcancei a cozinha. A respiração de Grace era quente em meu pescoço. Desesperada, revirei os armários à procura de sal. Por sorte, encontrei um pacote quase cheio.

– Graças a Deus...

O microondas acendeu. Vi o visor piscar. Água jorrou pela porta da geladeira. Os seis suspiros do fogão se acenderam sozinhos, assim como o forno.

Corri escada acima, fui me refugiar no quarto de Regina, que ainda roncava. As luzes piscavam. Todos os eletrônicos pareciam reagir sob uma presença sobrenatural. Coloquei a garotinha na cama e ela imediatamente foi se aninhar no pescoço da mulher que roncava. Dormiam tão profundamente que sequer percebiam a agitação na casa. Fiz um círculo de sal em volta da cama, rezando pra que isso nos mantivesse seguras. Agarrei o celular que Regina largara na mesinha de cabeceira e procurei o número de Gold.

– Regina? – ele atendeu no quinto toque, com a voz distante – Algum problema?

– É a Ruby! Tem alguma coisa... alguma coisa na casa... Você tem que vir! – as palavras saíram atropeladas e baixas, não queria acordar a Grace – Por favor, venha agora.

– Tudo bem, calma! O que está acontecendo?

– As luzes, a geladeira, o fogão... tudo está ligando sozinho...

– Fique calma, eu estou indo!

Ele acordou Belle e Bae, colocou Belle pra falar comigo no telefone, enquanto dirigia até a casa. Sorte que ele não morava longe. Belle conseguiu me acalmar. Estava com meus olhos fechados, uma mão sobre o corpinho de Grace, como que para assegurar que ela e Regina não sairiam de perto de mim. Quando reabri os olhos, tudo voltara a ficar escuro.

– Chegamos, Ruby! – disse a voz de Belle do outro lado e corri a destrancar a porta da frente. Os três vieram de pijamas, cobertos por roupões felpudos. Seus cabelos estavam bagunçados e eles pareciam lutar para manter os olhos abertos. Na pressa, Bae esquecera um dos chinelos e Gold viera descalço.

– Fiquem juntos, vou verificar os cômodos – disse Gold, acendendo todas as luzes. Trouxera um detector de ondas eletromagnéticas. Revirou a casa toda e não encontrou nada além de uma porca que roncava – Eu sabia que não podia ser um espírito. Há sal por dentro das paredes, a casa é toda protegida, incluindo o teto e o solo.

– Bem, havia alguma coisa – disse, já mais calma. Bae dormia com a cabeça no meu colo e Belle me preparara um chá.

– Seja lá o que tenha sido, já foi embora. – disse ela, me passando uma xícara fumegante – Não se preocupe, dormiremos aqui.

Ouvimos passos na escada. Grace apareceu esfregando os olhos, piscou.

– É festa do pijama?

***

Corria pelos corredores feito louca. Quase derrubei uma enfermeira que vinha na direção oposta, mal parei pra me desculpar. Alcancei a ala ortopédica e o vi sentado sobre uma maca. Uma enfermeira engessava seu braço e Emma Swan fazia perguntas.

– ...e, querendo ou não, você infringiu leis do trânsito...

– Eu não tive tempo de me preocupar em ser um bom cidadão, estava mais preocupado com minha vida – bradou ele, muito irritado.

Adentrei o quarto e o sufoquei num abraço, mal me importando com o olhar da loira.

– Pelo amor de Deus, não me assuste assim! – falei esganiçada, meus olhos me traindo ao expulsar as lágrimas. – Tá tudo bem? – me voltei pra enfermeira, uma mulher de sorriso simpático – Ele tá bem?

– Só fraturou o braço, mas fora isso está bem. – sorriu ela – Pode ir, senhor Jones, se cuide.

– Ei, ei, ei, não vai se livrar de mim tão fácil – disse a Swan e precisei respirar fundo pra não perder a paciência. Ela se dirigiu a mim – Ele ultrapassou um sinal vermelho e bateu contra uma caixa de correio, vai levar multa.

– E daí? – ele deu de ombros, descendo da maca com minha ajuda – Tenho dinheiro, posso pagar.

– Vai levar pontos na carteira – ela avisou, antes de alcançarmos o corredor.

Levei um susto quando me ligaram do hospital dizendo que meu namorado estava machucado. Achei que fosse encontrá-lo espancado, como da outra vez, mas ele apenas quebrara o braço ao rolar de uma escada. Jefferson tinha uns hematomas no rosto. Falava com a filha pelo telefone e fingiu não nos ver caminhando em sua direção. Antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, Killian o agarrou pela echarpe xadrez, que ainda usava.

– Da próxima vez que tentar me matar, enfio uma estaca no seu coração – ameaçou em voz baixa, o que soou tremendamente sexy e assustador ao mesmo tempo.

Jefferson ficou mais branco do que papel.

Já no carro, Killian me contou o que acontecera. Na noite anterior, quando os dois invadiram a casa na qual os vampiros estavam vivendo, Jefferson jogara Killian da escada quando os dois estavam numa luta contra os sanguessugas. Jefferson fizera isso pra conseguir uma vantagem pra fugir, porque era muito provável que os dois estivessem mortos antes que pudessem gritar por socorro. Felizmente, mesmo com o braço quebrado Killian conseguira lutar. Matara mais de seis vampiros e ainda perseguira um deles pela cidade, dirigindo com uma mão só. Na pressa, ultrapassara o sinal vermelho e se chocara com a caixa de correio. Não conseguira alcançar o vampiro, que fugira. Ao menos ele estava bem, mas muito bravo.

– Você estava certa, ele não presta! – dizia, sentado no banco do carona – Desgraçado! Ele teria me deixado morrer. Lembra quando Regina disse que ele é inexperiente? Bem, ele não pareceu tão inexperiente assim. Quer saber? Esse cara não é gente direita.

Quando voltamos à casa de Regina, encontramos zumbis de pijamas. Ficaram preocupados quando acordaram e não me encontraram e arregalaram os olhos ao ver o braço engessado de Gancho. Regina fez um escândalo e Gold a acusou de ter sido relapsa por não me ajudar quando eu a acordara no meio da noite. Enquanto Belle e Bae preparavam o café da manhã, Gancho começou a contar a aventura da noite, até que Grace apareceu na cozinha e ele teve que interromper a narrativa. A garota queria que eu a levasse pra casa. Lembrei o que prometera na noite anterior e torci o nariz ao sequer pensar em ver aquele maluco do Jefferson de novo. Killian não queria me deixar ir e os olhinhos de Grace se encheram d’água.

– Mas cê prometeu que ia pedir a ele...

– Prometeu o quê? – indagou Killian, irritadíssimo.

– Eu prometi uma coisa, Killy, não posso quebrar a promessa. Não vou demorar, fique tranqüilo.

Ele apenas me olhou. Seus olhos diziam: “cuidado!”.

Não foi difícil encontrar a casa de Grace, ela foi me guiando, era muito esperta. Meu queixo caiu. Eles moravam numa mansão imensa, maior até do que a de Regina. A entrada fora toda construída por pedras cinzentas e o jardim era muito bem cuidado, com flores e arbustos de dar inveja. Toquei a campainha e ninguém veio atender. A babá de Grace só voltaria dali a dois dias e pelo visto Jefferson ainda não voltara pra casa. Para minha surpresa, a porta estava destrancada.

– Vem! Ele não tá em casa! – ela correu pela casa, me deixando pra trás. Mal tive tempo de absorver os detalhes, mas vi que a escolha dos móveis e o design dos cômodos era de muito bom gosto. Segui a garotinha sapeca, que já subira a escadaria. Ela entrou num quarto grande e bem arejado. – Olha, é aqui que meu pai trabalha.

Olhei em volta. Havia uma mesa de trabalho e uma cadeira giratória revestida de couro. A um canto havia uma mesa inclinada, daquelas feitas especialmente para desenhistas. Lápis de cor e materiais de desenho estavam perfeitamente arrumados sobre uma mesinha de vidro. Havia uma exposição de chapéus de vários modelos, tamanhos e cores. Sobre a mesa de desenho, o esboço de um chapéu de mulher, com plumas brancas saindo do topo. Finalmente entendi: ele era design de chapéus.

– Seu pai é um chapeleiro! – que surpresa! Por que será que ele também era caçador?

– É, que nem meu vô! E eu vou ser igualzinha a meu pai quando crescer, quero ser design de moda. – ela riu, correu para o canto mais escuro da sala. Havia uma lareira apagada e acima dela uma cortina de veludo, que parecia esconder uma pintura. Grace queria saber o que havia por trás da cortina.

– Não, Grace, não posso – recusei, sentindo um aperto no coração. Tinha certeza de que era um retrato da mãe dela, por isso ele escondera – Seu pai não gostaria...

– Por favor... ele nunca vai me mostrar se eu pedir...

Droga! Não suporto ver uma criança de olhos marejados! Que foi? Tenho coração mole. Puxei a bendita cortina. Por trás dela, uma pintura a óleo de uma mulher. Olhos claros, sorriso misterioso, rostinho de boneca, cabelos escuros e cacheados. Ela fora muito bonita e a garota se parecia um pouco com ela.

Grace chorou, emocionada. Segurei sua mãozinha, pensando no que dizer.

– É minha mãe...

– MAS QUE MERDA É ESSA? – Jefferson adentrou a sala, furioso ao avistar a pintura. Tratou de cobrir o quadro novamente, extremamente bravo comigo – POR QUE MOSTROU ISTO A ELA? COM QUE DIREITO INVADIU MINHA CASA E MEU ESCRITÓRIO?

– Grace me pediu...

– EU NÃO QUERO SABER! GRACE, PRO QUARTO AGORA!

– Mas, papai...

– AGORA!

A menina saiu aos prantos e morri de pena. Dei uma bofetada em Jefferson e ele cambaleou pra trás.

– Isso foi por ter tentado matar o Killian – saí porta afora. Virei para encará-lo, antes de procurar por Grace – Da próxima vez que tentar machucá-lo, eu mesma te mato!


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Notas finais do capítulo

Algumas já sabem, então vou revelar: o Jeff vai ser o grande vilão dessa temporada! E, eu acho que perceberam, ele vai se apaixonar por alguém. É, cabeças vão rolar e tretas are coming.
NÃO LEIAM A PARTIR DAQUI SE NÃO QUISEREM SPOILERS:


1. A Vovó é capaz de qualquer coisa pra proteger a Ruby.
2. Um namoro vai se tornar oficial (preciso nem dizer de quem neh?)
3. No próximo teremos o aniversário da Ruby
Bem, people, espero que tenham gostado, não esqueçam de comentar. Kisses



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